Royals escrita por vanprongs


Capítulo 2
cuidado, as paredes têm ouvidos.




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A vida de uma princesa não é como se vê em filmes. Desde que aprendera a falar Lynx tinha aulas de Francês, Italiano, Alemão e Latim — para que pudesse estar a frente de qualquer líder político que a desacatasse, já diria sua avó. A partir dos oito anos e meio a princesa começou a aprender a se sentar direito, colocar a quantidade certa de comida na boca para não parecer um criceto  com as bochechas cheias de comida. E pouco antes do acidente ela estava aprendendo a acenar para as pessoas e manter sempre o sorriso nos lábios, mesmo que não quisesse. Monarcas precisavam passar uma imagem de poder, classe e calma. E Lynx Vel McKinnon-Black não era nada disso.

Ainda mais com o pai no hospital.

O acidente havia sido terrível, e claro para uma criança que tinha seus dez anos completos em algumas horas ver o pai ser levado totalmente imobilizado (e sangrando) por uma ambulância deixava tudo pior. Com toda a confusão Marlene adquiriu apenas uma fratura no braço e a pequena constelação, por sorte, havia saído ilesa. 

Sirius agora estava no hospital mais renomado de Londres, em uma ala apenas para membros reais. Sua mulher e filha iam o visitar todos os dias, trocavam suas flores e rezavam para que ele acordasse do coma induzido. A vida sem o homem era triste, e o castelo se tornava ainda mais perigoso em momentos como aquele. Não sabiam em quem confiar depois de Regulus comentar que o acidente parecia ter sido encomendado para eles, para o irmão mais velho.

Poucas eram as crianças que viam seus pais naquele estado. Os olhos castanhos de Black estavam concentrados no pai quando seu tio a colocou sentada na maca, engoliu seco e respirou fundo ao virar a cabeça para encarar a mãe na poltrona.

— Mama. - a chamou com um sussurro — Você acha que ele pode realmente sair dessa? Estava lendo e pacientes em coma induzido estão vivos pelo simples motivo de que somos egoístas demais para deixá-los ir. Já têm três meses e papa nem mesmo parece forçar a expressão.

O quarto ficou em silêncio. Regulus moveu o peso do corpo de uma perna para a outra, observando o irmão deitado, quase como se soubesse de algo que elas não sabiam. Franziu o nariz ao levar o olhar até a cunhada que tinha os olhos virados para a filha.

— Quem naquele castelo ousou te deixar chegar perto dos livros médicos?

— Mama.

— Lynx Vel, você tem dez anos de idade. - a mulher ralhou ao se levantar, caminhou até a pequena na maca e colocou as mãos sob o rosto de sua pequena estrela — E você vai viver como uma criança. 

— Ela é uma monarca, Lene. - a voz de Regulus soou pela primeira vez no quarto particular de hospital — Aos dez anos de idade nós já somos introduzidos para a sociedade de uma forma diferente. Ela está fazendo o que se é esperado dela. Saber, entender e questionar.

McKinnon encarou Regulus como um felino encara sua presa, o canto esquerdo do lábio superior dela se levantou, quase como se ela rosnasse e Black se aproximou. 

— Sabe que estou certo, não adianta rosnar. - comentou com a cabeça inclinada para ela — Princesa.  - murmurou ao observar a sobrinha — Esse é o protocolo para famílias reais. Seu pai fica aqui até que os médicos digam que o coma foi induzido por tempo demais. Mas ainda há esperança, se agarre nessa pequena luz no final do túnel. - beijou a lateral de seu rosto quando se curvou e virou para então ver o irmão de mais perto.

Era imperceptível para elas, e talvez fosse isso o que poderia salvar a coroa dali uns anos. O segredo que carregava consigo faria tudo mudar, mas Regulus teria que saber como traze-lo a tona.

[...]

O tempo passava ainda mais lendo para Lynx quando ela não podia visitar o pai, mas os protocolos haviam mudado. Assim como sua agenda. 

As segundas ela tinha aula de esgrima, latim, geopolítica e passava ao menos duas horas com a prima Bellatrix aprendendo algo sobre a família Black.

Terça-feira era o dia em que a pequena Black tinha aulas dobradas de alemão, podia passar duas horas lendo qualquer livro da enorme biblioteca e aprendia sobre a história da monarquia de toda a Europa.

As quartas eram guardadas para aulas de dança, costura, etiqueta e uma vez ao mês para fazer suas unhas, sobrancelhas e depilação. E ao fim da tarde a professora de italiano chegava com seus imensos livros, deixando-a sorridente.

Quinta-feira ela tinha aula de canto, francês com a mãe de  Fleur, Gabrielle e Baptiste Delacour, Ia visitar o pai durante quarenta minutos e voltava a tempo para o chá com sua mãe e prima Andromeda, juntamente com Nymphadora e Edward. 

Sexta-feira geralmente era seu dia para algumas horas de sol na ala norte, ajudar a mãe a cuidar dos jardins juntamente com prima Narcissa e mimar o emburrado e chorão Draco. Além da sessão de filmes da barbie. 

Aos sábados e domingos a maioria de suas horas eram livres, tendo que comparecer aos eventos reais quando eles existiam e ir a costureira para que tivesse sempre novos vestidos - passava um tempo em frente a tela de seu tablete, aprendendo penteados e como lidar com seus cachos. 

Dois meses tinham se passado com toda essa rotina corrida. E o pequeno segredo de Marlene, Regulus, Lynx e até mesmo Sirius, não poderia mais ser escondido. O futuro bebê real estava crescendo protegido dentro da barriga de McKinnon e a irmã mais velha queria contar para todas as pessoas do mundo que logo teria um irmão mais novo para irritar, amar e ensinar. 

[...]

As caminhadas de Lynx aos domingos pelos corredores do imenso castelo eram sempre algo que a deixava um tanto quanto feliz. Desvendava o local e anotava em seu pequeno mapa do lugar, desenhando as passagens secretas que achava e usava, deixando anotado em uma folha ao lado onde elas davam e quais eram os melhores horários para as usar.

Naquele domingo então não seria diferente, acordou antes de Winky bater na porta para o café. Deixou um beijo na bochecha da mulher que ajudou sua mãe a cuidar dela, já usando uma calça de ginástica e uma camiseta antiga do pai, com o que precisava para seu mapa enfiado em uma bolsa que carregava em seu ombro. Viu o olhar avaliador da avó quando se juntou a todos para o café e deu de ombros.

— Irei me exercitar depois. - disse, esticou o braço para pegar um pãozinho de mel e sorriu para a mãe que estava ao seu lado — Não vi motivos para colocar um vestido já que tenho intenção de ficar suada, vovó.

— Uma princesa sabe como se portar, meu amor. - a voz de Orion se fez presente quando o rei entrou no local. Sorriu para os presentes e deu alguns passos até a neta, deixando um beijo no topo de sua cabeça — Precisa entender isso antes de tentar matar sua avó do coração.

Ela riu baixo e encarou Walburga com as sobrancelhas levantadas. Parecia muito com Sirius, todos ali pensaram, questionava e desafiava toda e qualquer lei, criava suas próprias regras e não se importava. 

Lynx queria ser feliz, sem se importar se sabia ou não qual garfo era correto para comer um dos pedaços deliciosos de bolo vindo da Dedos de Mel. 

— Os Prewett virão hoje. - a matriarca disse com seriedade — Tente ao menos não trombar com um deles estando vestida assim, ou te confundirão com a criadagem.

A mais nova da mesa segurou a careta, mas seus olhos rolaram em uma intensidade tão grande que poderiam ter visto por dentro de sua cabeça - e ela sabia que veriam seus divertidamente revoltados com a avó. 

— Comporte-se como uma criança de dez anos.

— Eu me comporto como uma criança de dez anos. Vocês que me ensinaram que eu deveria ser mais. -  a morena resmungou baixo.

— Basta! - a senhora Black disse ao se levantar — Eu aguentei as desonras de seu pai, mas não vou aturar você falando comigo como bem entende. Sou a rainha, Lynx Vel. A sua rainha. E o que eu falo é lei. Para a nação e para você.

— Tem sempre que passar pelo primeiro ministro. - McKinnon-Black murmurou, se lembrando de uma das aulas de geopolítica. 

Walburga puxou o ar pelas narinas e levantou as mãos, como se desistisse de discutir com ela hoje. Lynx conseguia ter a teimosia de Sirius em fusão com a teimosia de Marlene, o que a fazia uma grande e incomoda pedra no caro sapato de salto da rainha. Saindo da sala de refeições, foi seguida por Orion minutos depois do rei tomar seu café da manhã em um tranquilo silêncio, já que Marlene havia olhado para filha com seu melhor olhar de fique quieta ou eu vou ser obrigada a dar um esporro em você na frente dela.

[...]

A pequena porta entre o quadro de tinta a óleo da família Black, que continha de Walburga a Lynx, e uma armadura, foi aberta pela mais nova da família. Os cabelos foram presos em um rabo de cavalo após ela bater na roupa, tirando a poeira e Vel se sentou ao chão, escrevendo o que havia descoberto com um sorriso nos lábios. Parou quando ouviu vozes ali perto. Caminhou pelo corredor e se esgueirou por outra passagem, um pouco mais limpa dessa vez. A respiração dela parou ao notar um corpo desconhecido ali, cabelos ruivos e bochechas sardentas, parecia ter a mesma idade que ela. Arqueou uma sobrancelha e o viu colocar o dedo indicador sob os lábios, pedindo silêncio.

— Quem é você? - ela perguntou baixo, tentando reconhecer a voz que ecoava na sala de reunião de seus avós quando se aproximou dele, no pequeno esconderijo.

— Fred. Fred Weasley.

— Lynx. 

— Eu sei quem  você é, princesa. - ele sorriu ao murmurar — Sinto muito pelo seu pai, aliás.

Black concordou com a cabeça e parou de frente a ele, tentando espiar a pequena abertura para tentar ver quem estava lá.

— É aquela estranha com cabelos cacheados que tem cara de louca.

Ele sussurrou e sorriu.

— Por que você está aqui?

— Meus pais e meus tios vieram conversar sobre a cidade que está nas mãos de tia Muriel.

— Muriel Prewett. Isso explica os cabelos ruivos.

Fred sorriu e ouviu o walk talk chiar, George o estava chamando.

— Gred. Mamãe está te procurando, disse que foi ao banheiro. Volte ou eles te deixarão aqui e você será comido pelos Black. Sabe o que eles fazem com crianças. - uma voz parecida com a dele foi ouvida por Lynx que o encarou com uma sobrancelha arqueada.

Fred...

Os Weasley tinham gêmeos não era? Lembra-se de ter ouvido falar sobre isso, e de terem sido chamados para o aniversário. Mas Walburga nunca a deixara socializar com pessoas que não tinham um título não "bonito" quanto o deles. 

— Vou já, Feorge. Os faça me esperar, consegui achar outra passagem.

E em uma conversa rápida eles desligaram. A tempo da voz de Bellatrix soar outra vez.

— Eu não entendo, titia! Aquela pirralha não merece estar no poder. É igual o pai e a mãe.

— O tom de voz. - Orion disse sério.

— Ela é idêntica ao traidor do filho de vocês. E aquela... Aquela...  Marlene. - resmungou com a boca cheia, engolindo qualquer comentário rude que poderia fazer — Ninguém vai controlar aquela menina. De nada adiantou forjar o acidente. Ele ainda está vivo! 

— Parece que você não concorda com o jeito que lidamos com os problemas.

— O plano era matar Sirius e Marlene para vocês terem controle nas atitudes insolentes da fedelha! O plano foi por água abaixo, McKinnon está viva e Sirius em coma, mas ainda sim dá esperança para as duas.

— E você quer que nós façamos o que? - Walburga perguntou com a voz implacável — Um atentado contra meu próprio filho não prova o quão a coroa é importante para mim? Para nós? É questão de tempo até que Sirius morra, e só teremos que lidar com Lynx. 

Lynx sentiu o corpo tremer e abriu a boca, queria aparecer lá e gritar com eles. Seus avôs eram culpados pelo acidente, eles tentaram matar seus pais. Para que? Engoliu seco ao sentir uma mão segurando seu pulso. Sem perceber tinha se virado e rumava em direção a saída.

— Não faça isso. - o ruivo sussurrou — Eu sinto muito pelo que... Ouvimos. Mas não vai adiantar, princesa.

— Não me chame de princesa.

— Mas é o que você é. - deu de ombros e a puxou de volta para onde estavam, a sala ainda estava em silêncio, mas a tensão no clima era palpável. 

A garota abraçou o próprio corpo e encostou a cabeça na parede, ao lado do duto que eles podiam ouvir as vozes.

— Meus avós tentaram matar minha família.

Fred concordou com a cabeça e suspirou.

— Sinto muito por isso.

— Acho que devo conversar com minha mãe.

— Ela vai acreditar? 

Os olhos castanhos encontraram com os dele e Vel entendeu a dúvida do garoto. Eles eram apenas crianças, mas ela tinha que tentar. Não era só a vida de sua mãe que estava em risco, aos dez anos de idade Lynx compreendia que seu futuro irmãozinho ou irmãzinha poderia ser um risco para o rei e a rainha. Ele ou ela poderia ser como a princesa. E se eles se livrassem dela, tentariam colocar suas mãos no bebê.

— Ela não tem outra escolha. 

Lynx e Fred se despediram um tempo depois com um aceno de mão leve, ele tentou sorrir para a nova conhecida após apresentar seu irmão gêmeo para ela e a viu suspirar. O que nobres precisavam aprender para lidar com quem eram e de onde vinham, era pesado. Mas descobrir que sua avó tentou matar o próprio filho, seu pai, deveria ser terrível.

[...]

A mais nova dos Black correu para a ala McKinnon-Black assim que viu os Weasley juntamente com Fabian Prewett irem embora, batendo contra a porta da mãe algumas vezes. Abriu a porta quando sua mãe permitiu que entrasse e a viu enrolada em um roupão, com uma máscara de argila no rosto. 

Sorriu, Marlene parecia despreocupada e um tanto quanto feliz. 

Lynx odiava ser quem traria notícias ruins.

— Mama, eu preciso falar com você.

A tensão era explícita em seu tom de voz.

— Mas não quero que seja aqui, o que acha de jantarmos naquele restaurante italiano que passamos o último aniversário de papai? 

— Por que não quer que seja aqui, filha?

— Paredes têm ouvidos nesse castelo, mamãe. - ela murmurou com um bico.

— Você é quase tão neurótica quanto seu tio. E é apenas uma criança.

Ela deu de ombros e foi até a porta.

— Em quarenta minutos?

— Quarenta minutos, meu amor.

Vel tinha cinco minutos para trocar de roupa e trinta e cinco para tentar idealizar as palavras corretas para contar a Marlene o que tinha ouvido, precisaria do tio para a ajudar. Precisava de Regulus e sabia disso. Respirou fundo e se pôs a pensar.

Marlene McKinnon não poderia mais ficar naquele palácio, e Lynx deveria fingir ser a marionete de sua avó. Precisava proteger sua mãe e o bebê, e o faria. 

[...]

Ao final daquela semana Lynx e Regulus tinham conseguido convencer Marlene que o melhor a fazer era ir embora, eles ainda manteriam contato. Mas ninguém poderia saber sobre a criança, ao menos assim alguém daquela família teria uma chance de ser feliz. De ter a vida que escolhesse. Contrariada Marlene fez a mala, e parecia que o universo conspirava em favor a fuga, já que durante a manhã de sexta-feira todos os jornais diziam a mesma coisa.

Sirius Orion Black havia falecido após alguns meses em coma.

O luto seria eterno para sua pequena família, mas sua primogênita lutaria com unhas e dentes para desmascarar aqueles responsáveis pela morte de Sirius. Nem que para isso a coroa inteira devesse sucumbir.


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