Malu chegou em casa muito irritada, não quis nem ajudar sua mãe a guardar as compras. Subiu direto para o seu quarto, queria ficar sozinha, pegou o travesseiro e o socou com força, seu rosto estava tão vermelho que parecia que iria explodir, decidiu ligar seu computador para ouvir um pouco de música, na esperança de que relaxasse um pouco. Foi quando Mariana lhe chamou no chat.

— Oi Malu, você no chat agora? Está tudo bem?

Malu viu a mensagem, respirou fundo e respondeu a amiga:

— Oi Mary. Não vai acreditar no que aconteceu. Estou tão irritada, que não consigo me concentrar nos meus deveres. Fui ao mercado com a minha mãe e adivinha quem eu encontro por lá?

— Quem?

— O Marcos.

— Sério? E aí?

— Aí ele foi o cínico e idiota de sempre. Disse sentir a minha falta, que eu era uma garota especial para ele, que eu tinha ficado uma gatinha de aparelho. Me jogou charme e ainda teve a coragem de falar que eu sou a garota dele.

— Mas é um idiota mesmo, né? Fez o que fez e se achou no direito de jogar charme para cima de você. É brincadeira, viu?

— Na hora eu tive vontade de socar a cara dele. Mas não fiz isso, estava no mercado e não queria passar vergonha com um bando de gente me olhando.

— Tá certo, ele não merece nada que venha de você, deveria fingir que ele nem existe. Mas que seria bom ele levar um soco bem-dado na cara, isso seria.

— Ai Mary, que bom que você me chamou, sabe. Eu preciso tanto conversar, desabafar, tirar essa raiva toda de mim, para poder seguir com minha vida.

— Então, Malu, pode começar o seu desabafo. Estou aqui para te ouvir.

— Bom, você acompanhou a minha paixonite pelo Marcos. Desde a primeira vez que o vi, eu me encantei por ele, também quem não se encantaria por aquele sorriso? Perdia a noção do tempo vendo ele jogar bola, mesmo que ele jogasse mal para burro, eu suspirava ao vê-lo. Eu te contei que estava apaixonada por ele e você até me deu força para me aproximar dele, já que eu era bem tímida. E deu certo, conversamos um pouco e eu ficava toda derretida perto dele. Um dia cometi o maior erro da minha vida. Passei por cima da minha timidez e me declarei para ele, falei tudo que estava sentindo, abri meu coração. Marcos ficou assustado, mas quando ele sorriu, eu imaginei que também sentia o mesmo por mim. Ele pegou na minha mão e me levou até o pátio da escola, na hora pensei que iria se declarar para mim, melhor ainda, na frente da escola toda. Só que aí, ele começou a caçoar de mim, a falar da “nerd” que havia se apaixonado por ele, da tonta que vive suspirando, que até tropeça na escada, sonhando em ficar com um romance, todo e qualquer tipo de zoação. E resto da escola, menos você, rindo de mim, me chamando de boba apaixonada e apontando para mim. Fiquei vermelha de vergonha, olhei para o Marcos e ele estava gargalhando, aquilo quebrou meu coração em pedaços, eu só pude sair correndo chorando, fui para casa e me tranquei no quarto, até deixei a minha mãe preocupada. Daquele dia em diante, eu prometi para mim mesma que iria esquecer o Marcos e que romance para mim, nunca mais.

— Eu lembro bem desse dia, meu coração ficou apertado por você. Você já tinha ido embora, mas eu dei uma prensa no Marcos, disse que ele não podia ter feito isso com você, brincado com seus sentimentos daquele jeito e mesmo assim, ele só deu aquele estúpido sorriso cínico. Que raiva! Mas dizer que não quer mais saber de romance, é um pouco precipitado, não?

— Mary, eu sei bem o que eu quero e o romance não está na minha lista. Não estou preparada para sofrer outra desilusão amorosa. Meu coração não vai aguentar.

— Tudo bem Malu, você é quem sabe, mas quando menos esperar, o amor voltará ao seu coração. Já vou indo, beijos, se cuida e não deixe de dar notícias.

— Obrigada pela conversa, Mary, estou me sentindo até mais leve. Beijos e até breve.

Malu desconectou o chat, desligou o computador e foi fazer os seus deveres. No meio do dever de português, ela leu um texto que falava sobre acontecimentos inesperados e que a personagem tinha sido surpreendida por uma paixão. Nessa hora, Malu pensou no que aconteceu com ela mais cedo, sentiu seu coração bater mais forte ao ver Marcelo, ao pensar nele, naqueles olhos, cor de mel, suspirava. Por um instante, voltou a si e pensou alto:

— Será que Mary está certa? Será que o amor bateu a minha porta e estou começando a me apaixonar pelo Marcelo? Não, isso é besteira, bobagem da minha cabeça. E também, eu, apaixonada por um cruzeirense? Nunca, nunca, nunca.

...

Às sete horas da noite, Malu teve uma surpresa ao entrar no chat, Fernanda e Melissa haviam a adicionado e chamado para um bate-papo.

— Oi Malu, tudo bem? — Escreveu Fernanda.

— Oi Fernanda. Estou bem sim! Obrigada por ter me adicionado. — Respondeu Malu.

— Dia puxado né? Um tanto de dever para fazer, meu Deus, fiquei exausta.

— Muito. Algumas questões de geografia eu deixei de fazer, mas como é para depois de amanhã, deixei para terminar outro dia.

— Ah! Sim.

A conversa com Fernanda foi interrompida, quando Melissa a chamou.

— Oooooiiiiiiii Maluuuuuuu!!!— Escreveu Melissa.

— Oi, Mel! Tudo bem? Desculpa a demora, mas eu estava conversando com a Fernanda.

— Tá tudo bem. Não tem problema, a Fernanda é ótima para conversar, só não dá muita corda para ela, porque se empolga e fala o tempo todo. É uma tagarela.

— A Fernanda? Tagarela? Engraçado, ela me pareceu tão quietinha.

— Não se engane com o jeito quietinho dela, Fernanda adora falar pelos cotovelos, kkkkkk.

Fernanda chamou Malu na conversa ao fazer a janela vibrar, ela, então, teve uma ideia. Juntou as duas conversas em uma só janela, assim, poderia conversar com as duas em simultâneo.

— Prontinho, agora estou conversando com as duas. Nenhuma se sentirá abandonada. — Escreveu Malu.

— Obaaa!!!— Melissa escreveu com empolgação.

— Legal, Malu. Eu não consigo fazer esse recurso, por isso sempre converso com um de cada vez.  Será legal ter uma conversa compartilhada. – Digitou Fernanda.

— É claro que só conversa com um de cada vez, você fica falando sem parar e aluga a pobre pessoa.

— Melissa! Não diga isso, o que a Malu vai pensar de mim? Que não deixo os outros falarem, apenas eu falo, sô assim não, tá? Tá, Malu? É brincadeira da Melissa, que inventa demais.

— Tá certo, Fernanda.— Escreveu Malu enquanto ria da situação. — E aí, como se saíram com os deveres?

— Eu já te falei, Malu. Foi bem puxado, mas, consegui fazer uma boa parte. — Escreveu Fernanda.

— Eu achei que não ia terminar nunca, principalmente o de português. Mas agora, não é hora de falar de deveres, de escola, é hora de relaxar.— Melissa arrancou algumas risadas das amigas com a frase.

— Tudo bem, sobre o que querem falar?— Perguntou Malu.

— Sobre o seu primeiro contato com o Marcelo.— Disse Fernanda.

— É mesmo! Nos conte Malu, sentiu alguma coisa ao ficar perto dele?— Perguntou Melissa.

— Hã? Do que estão falando?— Perguntou Malu um pouco confusa.

— Ora, Malu. Dava para perceber o clima entre vocês dois, estavam se dando tão bem.

— Ora digo eu, Melissa. Não havia clima nenhum entre eu e o Marcelo, só estávamos conversando. Não tenho nenhum interesse nele.

— Mas, não sentiu nada, ao ficar pertinho dele?— Perguntou Fernanda.

— Não Fernanda, não senti nada. E por que eu sentiria algo por ele?

— Malu, o Marcelo é um gato, todas as garotas do colégio são loucas por ele.  — Disse Melissa.

— Mas eu não sou todas as garotas, não vou ficar toda derretida e suspirando por um garoto.

— Tudo bem, Malu. Bom, eu já vou indo. Beijos, até amanhã meninas. — Disse Fernanda.

— Beijos, beijos, até amanhã.— Se despediu Melissa.

— Beijos, até amanhã.— Escreveu Malu.

Assim que desligou o computador, Malu riu sozinha com a conversa das amigas.

— São umas doidinhas, essas minhas amigas, onde já se viu, eu interessada no Marcelo. Só elas mesmo, viu.