Começou um alvoroço. Um grupo de meninas corria em direção ao portão da escola, garotas da sala de Malu e até de outras salas, todas rodeavam Fernanda para saber “Ele veio, hoje? ”, ao ouvirem “sim, ele veio”, houve festa e foram lá para receber quem tanto aguardavam. Aquele que arranca suspiros, que recebe olhares apaixonados, mas, que é bem difícil de ser conquistado, tinha fama de “Arrasador de corações”, pois, quando passava, muitas caíam de amores. Uma das garotas anunciou o que as outras tanto queriam ouvir: “ Ele chegou”. Um garoto de cabelos loiro escuro e olhos quase cor de mel passava pelo pátio da escola, muitas garotas se abanavam ao vê-lo e esse ano, Marcelo estava mais bonito, até de aparelho nos dentes, ele ficava irresistível, mesmo que o próprio não ache isso, para ele, o aparelho lhe deixava estranho.

— Fernanda, o que está acontecendo, porque essas garotas estão afobadas desse jeito? – Perguntou Malu observando a cena.

— Vai se acostumando, todo dia é isso, quando ele está chegando, uma romaria de garotas vai no portão para vê-lo. – Fernanda balançava a cabeça enquanto ria. — É cada coisa, viu?

— Quem, gente?

— O arrasador de corações do Santa Mônica, Marcelo.

— Essa histeria toda só por um garoto? – Malu arqueou as sobrancelhas em espanto. — E por que elas te cercam para saber se esse tal de Marcelo veio?

— Porque eu venho no mesmo transporte que ele.

Thaís, colega de classe das duas que passava por ali, ouviu o que Malu disse e respondeu:

— Maria Luíza, não é só por um garoto, é pelo O garoto, Marcelo é lindo, um gato, um sonho para qualquer garota. Quando o conhecer, você vai entender o motivo da “histeria”.

— Marcelão! – João cumprimentou Marcelo com um “toca aí”. – Por que você não veio ontem?

— Minha mãe e suas preocupações. Dei um espirro anteontem e você conhece a dona Carla, não é? Ficou muito preocupada e me mandou para o médico. Por sorte ele disse que não havia com que se preocupar, foi apenas um espirro comum. – Disse Marcelo.

— Que bom que não foi nada de grave. – Disse João aliviado. – Você fez falta na nossa roda de amigos, comentamos sobre o jogo do Cruzeiro no final de semana.

— Que jogo foi aquele, hein? Que vitória! Um dia vou pedir para o meu pai me levar no Mineirão.

— Ah! Tem mais uma coisa que aconteceu ontem. Tem uma garota nova na escola, ela é da nossa sala e é uma gatinha.

— É mesmo? João, você fala isso de praticamente todas as garotas.

— Não, mas, dessa vez é sério, ela é linda. Vem vou te mostrar.

João levou Marcelo até onde Fernanda estava, ela conversava com suas amigas. Quando percebeu que os dois garotos se aproximavam, deu um aceno para eles.

— Oi, meninas! – Disse João.

— Oi, João! – Responderam em uma única voz.

— Marcelo, que bom que você veio. Por que faltou ontem? – Perguntou Thaís.

— Foi só uma consulta de rotina ao médico. – Marcelo afagou os seus cabelos demonstrando que estava um pouco acanhado.

— Marcelo, deixa eu te apresentar, essa é a Maria Luíza. – João o levou até Malu, que estava agachada mexendo em sua mochila. Quando ela se virou e ficou frente a frente com Marcelo, ele sentiu sua respiração quase parar e seu coração falhar uma batida ao olhar para a garota. Ela ficou como estivesse paralisada, parecia que estava hipnotizada por aquele par de olhos marrom claro. Mas, os dois disfarçaram para que ninguém percebesse. Marcelo estendeu a mão para cumprimentá-la.

— Oi! Eu sou o Marcelo.

— Oi! Meu nome é Maria Luíza. – Disse Malu apertando a mão dele, logo em seguida a soltou quando percebeu sua bochecha ficar quente.

— Não disse que ela era linda? – Perguntou João.

— Eu... vou ali, estão me chamando. Prazer em te conhecer, Maria Luíza. – Marcelo saiu em disparada antes que alguém percebesse as suas bochechas vermelhas.

Malu deu apenas um sorriso tímido, assim que Marcelo saiu, Cecília, João, Thaís e Fernanda olharam para Malu cobrindo a boca para disfarçar o riso, por mais que os dois disfarçassem, dava para perceber um clima entre eles. Malu ficou curiosa com o gesto dos amigos e perguntou o que havia acontecido, Melissa, ainda rindo, disse que só se lembraram de uma situação engraçada.

...

Na sala de aula, meninos e meninas estavam reunidos em dois grupos conversando sobre diversos assuntos, entre os garotos, óbvio que o futebol era debatido pelos amigos, entre as garotas, não havia um assunto definido, falavam sobre novela, moda, música, programas de televisão, maquiagem e de vez enquanto garotos eram mencionados na conversa, Malu se sentia à vontade com suas amigas, com as que já tinha e com as que acabou de fazer. As conversas fluíam tão bem, que ninguém percebeu que o professor havia chegado na sala, ele ficou alguns minutos sentado em sua mesa fazendo anotações, lendo um pouco e observando os seus alunos conversarem. Cecília percebeu a presença do professor e pediu para os seus colegas fazerem silêncio. Assim que foi possível, o professor cumprimentou os alunos e disse que fariam algumas mudanças na sala. Alguns alunos não gostaram de trocar de lugar, como por exemplo, João, que não gostou de se sentar do outro lado da sala, longe de Marcelo, quem iria conversar com ele agora?

Malu foi separada de suas amigas, cada uma foi para um lugar diferente, Melissa e Fernanda eram as que estavam mais perto, uma estava na mesma fileira que ela e a outra estava ao lado, mas, sentada dois lugares a frente. Malu se sentou um lugar à frente de Marcelo, os dois conversaram um pouco antes da aula começar, foram apenas alguns minutos, mas, que foram suficientes para começarem a sentir algo um pelo outro.

...

No intervalo, Malu dava boas gargalhadas com as histórias relembradas por Cecília e divertia suas amigas com algumas histórias suas. Do outro lado do Pátio, João mexia com Marcelo.

— Nem precisa me dizer que gostou da aluna nova. – Provocou João.

— João, nem começa. – Disse Marcelo começando a ficar um pouco incomodado. — De onde você tirou essa ideia?

— Ora, da conversa de vocês, uai. Não adianta negar, eu vi você sorrindo conversando com ela, todo derretido, suspeito que estava até suspirando.

— Só conversei, apenas isso. João você vê coisas onde não tem, que mania sô.

— Foi só uma conversa, mas, pareciam bem íntimos, a chamou até de Malu. – Diego se intrometeu na conversa. — De longe eu fiquei observando os dois.

— Você também, Diego? Ora, foi apenas uma conversa e só. E foi ela quem pediu para a chamar assim.

— Já estou até imaginando um romance entre o mais fanático dos cruzeirenses e a mais belas das atleticanas. – João gargalhou e acabou levando um beliscão de Marcelo.

Marcelo ficou vermelho, nervoso com aquela conversa, ele deu respostas diretas que mais pareciam um ultimato.

— Não estou interessado nela. Só a achei legal, tem uma pintinha charmosa no rosto e gostei de conversar com ela. Já disse que a chamei de Malu porque ela me pediu, mas, para não criarem teorias, vou chama-la de Maria Luíza a partir de hoje. E também outra coisa, imagina se eu iria me interessar por uma atleticana, eu que já até fui mascote do Cruzeiro. Não mesmo, eu não tenho interesse nenhum na Malu, digo, na Maria Luíza.

— Reparou na pintinha no rosto. – Diego e João disseram e riram, eles pensaram a mesma coisa, mas, disfarçaram.

— Só prestaram atenção nisso?  Meu Deus, me paciência com esses dois. E do que cês dois estão rindo, posso saber?

— De nada, Marcelo, nada. – Disse Diego.

...

— E aí, Malu. O que achou do Marcelo? – Perguntou Thaís.

— Achei ele legal. – Disse Malu.

— Só?

— É, ele é legal, o que mais posso dizer sobre ele?

— Você e ele estavam conversando bem, parecia estar pintando um clima entre vocês. – Fernanda deu uma cutucada na amiga.

— Não havia clima nenhum, Fernanda.

— Não parecia, Malu. – Melissa se aproximou e entrou na conversa. – Podia até se ver coraçõezinhos envolta de você e do Marcelo.

— Até eu que estava sentada mais longe, percebi isso também. – Disse Cecília encostando levemente o cotovelo em Malu. – Ê Malu, está arrasando corações, hein?

— Ela arrasou o coração do arrasador de corações. – Disse Thaís enquanto ria.

— Não arrasei o coração de ninguém, eu apenas conversei com ele e nada mais. Tá! Ele até que é bonito, mas, não significa que eu sinta algo, Marcelo para mim é apenas um colega de classe. – Disse Malu. —  Me admira você, Cecília, me conhece tão bem e acha que eu iria me interessar por um cruzeirense fanático. Nunca!

— Coração não vê time. Quem sabe até o final do ano, você não muda de ideia. – Cecília deu de ombros e riu com a possibilidade de Malu, uma atleticana apaixonada por seu time do coração se render ao amor de um cruzeirense.

— E mais um detalhe, você pediu para ele te chamar de Malu. Vai me dizer que isso não é uma tentativa de tê-lo mais perto de você? – Melissa perguntou, mas, acabou nem tendo resposta, pois, Malu se virou e saiu resmungando algo que não deu para entender.

...

Para não darem chance de criarem de teorias sobre eles, Marcelo e Maria Luíza não se falaram mais durante as aulas, mas, isso não evitou que ele de vez enquanto olhasse para ela e Malu desse uma olhada de canto de olho para ele. Durante a aula de português, a professora explicava sobre um texto que acabou de ler para a classe e pediu para que os alunos dissessem o que entenderam do texto. Malu levantou a mão e com a permissão da professora, falou o que havia entendido do texto, a sala toda fez silencio para ouvi-la, os olhos da professora brilhavam ao ouvir as palavras da aluna, não eram só os olhos da professora que brilharam com a esperteza de Malu, mesmo que ninguém tenha percebido, os olhos de Marcelo também brilhavam, mas, era por outro motivo.

...

Depois de fazer os seus deveres, Marcelo subiu as escadas e chegou até a varanda, ele gostava de se sentar no parapeito, olhar para o céu e pensar na vida. Dentre os seus vários pensamentos, uma garota de cabelo cacheadinho e aparelho surgiu em sua mente, ele até que tentava tira-la da cabeça pensando em outra coisa, mas, ela sempre voltava, era como se a imagem dela estivesse grudada na sua mente e até sem querer dizia o nome dela como um sussurro, Maria Luíza. Quando percebeu o que tinha feito, Marcelo se espantou, saltou do parapeito e entrou em casa, no caminho para seu quarto, ele pensava em como irrita-la para afastar qualquer aproximação dela, de repente um estalo veio em sua mente, ele sabia o que fazer. A ideia de Marcelo dará certo? Talvez, mas, o que ficou claro é que parece que o Don Juan do colégio Santa Mônica foi atingindo pela flecha do cupido.