Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 38
A Queda




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POV PEETA

O ódio não é um sentimento saudável, as vezes necessário, mas contaminador.

Ao se banhar em uma gota, é complicado sair depois.

Eu já consegui, me libertei do ódio que adquiri por Katniss enquanto estava sendo torturado.
Algo me limpou.

Voltei a ter esse mesmo sentimento, a raiva acumulada unida ao desejo de justiça, e até mesmo vingança.

Não por ela.
Tanus é meu alvo.

Meu jeito quieto, observador e até mesmo calmo, faz as pessoas pensarem que não sou capaz de tomar decisões extremas.

Você não precisa agir sozinha. Estou aqui, Katniss.— toco seus cabelos, a madrugada não trouxe o frio esperado, o calor ainda incomoda.

Passar a noite longe deles não foi opção. Apesar dela ter sido torturada psicologicamente por Tanus, não deixarei seu plano ir adiante.

Somos casados, de alguma forma inacreditável você me aceitou, com todos os contras, você está aqui.- sorrio, bobo por ter a mulher dos sonhos.
Tanus é a pedra que preciso destruir.
Não você, mas eu, sozinho.

Raspo minha boca por sua testa, deixando seu corpo na cama quente e bagunçada.
O relógio bate 3 da madrugada.

É a hora perfeita para sair na surdina, sem Katniss notar e tentar me impedir.

Beijo seus lábios antes de escapar, sei que Tanus esta na espreita. Espera o melhor momento para me atacar, não deixarei dessa vez.

Prometo voltar pra vocês.

Fecho a porta saindo do segundo andar, ao chegar na sala um abajur é iluminado.

—Onde pensa que vai?- Haymitch vira numa cadeira giratória, os braços cruzados e a cara azeda.

—Matar Tanus.- meu ex mentor sorri, tomado por um bom sentimento.

—Direto. Gosto disso em você, garoto.- ele aponta a cadeira a sua frente, insistindo que eu sente.
—O que exatamente vai fazer? Sair por essa porta e correr até o homem que foi treinado para matar?

—Você falando assim parece bem patético!- ele sorri passando as mãos nos fios loiros curtos, Effie deu uma ótima repaginada em seu visual.

—E é, já estou acostumado com os planos horríveis da Katniss. Não viu o que a tonta fez hoje?- ele ri, não importando com o volume.

—O que faz acordado essa hora?

—Apenas...Vendo a madrugada passar.

—Ainda não consegue dormir?- lembro nitidamente que na página dedicada a ele no livro, Katniss escreveu sobre sua mania de não dormir a noite.
Os pesadelos ainda nos perseguem.

—Agora mais do que antes. Você tem a Katniss, eu tenho Effie.
É como nosso melhor remédio.

—Exato.- suspiro apoiando as mãos nos braços da poltrona, dando um impulso desnecessário.

—Não te liberei ainda.- volto a chapar meu traseiro no estofado, impaciente pela demora. Sei o que esta fazendo, atrasando minha ida pro combate.
—Você tem alguma arma?

—Ia passar em casa...

—Garoto, pelo amor de Deus!- assusto afundando, suas reações são engraçadas mas exageradas.
—Quer deixar a docinho viúva e seus dois filhos sem um pai?

—Haymitch!

—É isso que irá acontecer se você for lá fora desse jeito!

—Eu estou preparado. Não posso deixar Katniss lidar com isso, é um problema meu!

—Tantos anos de casado e você ainda não aprendeu a lidar com ela!- seus olhos rolam, aparentemente estou fazendo uma burrice maior do que Katniss fez.
—Não importa como funciona pros outros, é diferente pra vocês. Sempre foi...

Sua voz morre aos poucos junto ao seu olhar caindo, percebo algo martelando em seu cérebro.

—Vá pelo corredor e abra a segunda porta. Haverá uma maleta num cofre sob a mesa, a senha é 74.- caminho seguindo suas instruções, ao abrir a maleta me deparo com um arsenal.

Armas de vários calibres, facas, soco inglês, e um estojo fechado a cadeado.

Pego duas armas e facas, volto pra sala o encontrando com uma xícara em mãos.

—Bebendo a essa hora?

—Café.- seu tom mostra o enjoo de sono, mas pelo que parece Haymitch se nega a adormecer.

—Obrigado pela ajuda, pode ir dormir porque vai demorar.

—Dormir?- ele ri, dessa vez controladamente. Levanta pegando uma faca média da minha mão.
—Eu vou contigo.

—Não vai não.

—Peeta, não pedi sua permissão. Agora vamos, antes de que nossas mulheres acordem e nos castigue.

—Haymitch, agradeço pela ajuda. Mas esse é meu assunto, não se intrometa!

—Me agradeça depois de matarmos o desgraçado que está ameaçando vocês.

—Você ainda continua nos protegendo. Verdadeiro ou falso?

—Verdadeiro.- ele alisa o cabo antes de guardar a faca, sua determinação é invejável.
—Vamos. Tanus está ao nosso redor.

—Você o vigiou?

—Mais ou menos.- meu ex mentor tira uma faca debaixo da almofada que estava ao seu lado, passa a mão no rosto e esvazia a xícara.
—Vamos.

                           

—Ele não esta por aqui.- constato o óbvio depois de andar por toda a Vila dos Vitoriosos duas vezes.

—Peeta...- sinto um cutucão no meu braço e logo sigo a direção que sua mão indica.

Minha casa.

A luz do meu ateliê esta acesa, vejo sombras pelo vidro da janela.

Tanus está ousado e decidido, pronto para tentar um último golpe, realizar seu desejo de me eliminar.

—Fica aqui fora.

—Garoto...

—Aqui! Essa é a condição, vigie para ninguém entrar.

Logo entende ao que me refiro, Katniss não pode passar por aqui. E se tem alguém que pode impedi-la, é ele.

—Tome cuidado.

Assinto abrindo a porta, o sangue fluindo e variando a temperatura.

Tremo de nervoso e ansiedade, mas fervo de ódio, determinado a matar.

Tenho plena consciência que não tenho o direito de tirar a vida de ninguém, mas ao ser torturado e quase morto, elimino esse pensamento.
Posso muito bem matar.

Será como uma resposta do universo pra ele, uma punição pelo que Tanus fez comigo no passado e insiste em repetir no futuro.

Subo degrau por degrau, calmamente. Pondo os pensamentos e plano em ordem, apesar de acreditar que tudo será no improviso.

—Pontual, Mellark.

Paro o próximo passo, Tanus acende a luz do corredor. O encontro na minha frente, os braços cruzados e um gigante sorriso maléfico.

—Vamos terminar isso de uma vez, Tanus.

—Venha, estou ansioso para sua rendição.- sigo seus passos, encosta um ombro na parede sacando um canivete multiplo do bolso.
—Espera, sinto falta da sua cadela de guarda!

Cerro os dentes, evitando pular contra seu corpo e fazer um estrago.
Sujar minha casa de sangue não é opção.

—Cala essa boca.

—Não é assim que tratamos velhos amigos.

—Você não é meu amigo.- tiro uma das facas de Haymitch, apertando o cabo com firmeza. Só espero que os ensinamentos e experiência da arena, voltem num momento de necessidade.
—E não devia estar na minha casa.

—Você não devia estar vivo, pra começo de conversa!- seus dedos alisam uma bela repartição de faca, afiada e grande, unida a outras ferramentas no canivete.
—Falhei inúmeras vezes com meu objetivo. Prometi a Snow que finalizaria, como uma vingança a sua morte.
Você e Katniss não deviam ter escapado da primeira arena, não era pra permanecerem vivos.

—Mas estamos. Aceite isso e siga sua vida.

Tenho a péssima mania de tentar resolver tudo na palavra, diálogo é o melhor método.
Violência gera um ciclo vicioso. Não haverá fim quando o primeiro golpe for dado.

—Sua mania me irrita. - num brusco movimento desvio de ser atacado, ao me jogar na parede vários quadros caem.

Entre eles um dos meus favoritos,  Katniss grávida.

—Não fuja, covarde!

Levanto, puxando outra faca. Numa explosão o travo na parede oposta, aguentando vários socos nas costelas e barriga.

Finco uma em sua cintura, pegando algum orgão, pela quantidade de sangue que jorra.

—Desgraçado!

Um belo chute na parte interna da coxa e tombo no carpete imundo, o líquido vermelho tingindo minhas vestes e pele.

Rolo saindo de sua zona de ataque, de alguma forma me tornei mais ágil e forte. Ignorando todos os alertas, vejo Haymitch vir afobado pelas escadas.

Talvez alertado pelo grito agonizante de dor que soltei, tanto para extravasar como evitar os flashbacks.

—Garoto!

—Saia! Fora, Haymitch!

Tanus vira, cego por sua idolatria por Snow. Caminha na direção oposta, visando agredir meu ex mentor.

—Sai! Fuja!- grito tentando levantar, a perna travada e provavelmente lesionada.
—Haymitch!

Fico chocado com sua ação, num lampejo uma faca voa em direção ao agressor, acertando o meio de seu ombro.

Ouço-o urrar, alto e torturante.
As cenas voltam, fortes o suficiente para me apagar por breves segundos.

—Garoto. Peeta, fique são!

— Saia.- imploro, batendo contra meu músculo, lateja de dor até ficar dormente.
—Ele é problema meu.

—Não. É nosso.- pela fresta entre minha pálpebras, encaro um Haymitch furioso, batendo sem dó contra Tanus.

Mas o homem, sendo feito para lutar, usa um contra golpe que faz meu ex mentor ir contra um móvel de gavetas, onde Katniss guarda toalhas e outros utensílios de casa.

Ergo o corpo, sacando a arma na hora que a porta de baixo é aberta. Distraído pelo barulho, sou desarmado.

Com o cano apontado contra meu cérebro e um homem louco e sanguinário atrás de mim, sinto que tomei uma decisão precipitada.

—Enfim, a hora chega!

—Tanus...- remexo, sendo imobilizado por ele.

—Calado, preciso aproveitar o sabor da vitória. Finalmente matarei Peeta Mellark, o inútil padeiro do miserável Distrito 12.- mordo os dentes  planejando um próximo golpe, mas nada de achar uma solução não suicida.
—Eu disse ao meu mestre para destruir antes esse lugar, mas ele teve compaixão e...

—PEETA!

O berro de Katniss me desestabiliza.
Não era o que eu precisava nesse momento, ela não devia se envolver e se colocar num risco gigante.

—E eu achando que essa madrugada não poderia ser perfeita!- aguda e animada, a risada dele me faz temer.

Até onde seu senso de diversão é igual ao de Snow?

Um cutucão e minha mente volta a nublar, dessa vez com imagens boas e motivadoras.

Abro os olhos, puxando a última faca que peguei na maleta de Haymitch, lentamente a viro e empurro contra a perna dele.

Tanus, já ferido, cambaleia me libertando.
Katniss grita na escada, é impedida por Haymitch que finalmente resolveu agir ao meu favor.

Pego o canivete no chão, preparo para dar o último golpe, mas ele decide finalizar por um combate corpo a corpo.

Socos e chutes, empurrões e mais alguns quadros e móveis revirados e destruídos.

—Você não vai vencer novamente!

—Eu vou e irei decretar isso na sua frente, antes de matar você.

—Parece que Peeta não é tão bom assim.- risada irônica não passa despercebida, acerto um belo soco em sua boca, quebrando uns dentes.

—Não é por prazer, vou te matar por justiça.
Me ameaçou? Tudo bem.
Ameaçou a minha família? Você morre!

Termino de empurrar o canivete por seu peito, fazendo questão me girar e prolongar e intensificar a dor. Sangue espirra ao redor, dará trabalho para limpar.

—Adeus, Tanus!- saio de cima dele, acreditando que seu fim está próximo, até ouvir o barulho da trava da arma.

Entre gritos e choro de Katniss, um Haymitch aflito e apanhando pra ela, minha mente conturbada e exausta, sinto algo gelado encostar na parte arrepiada de minha nuca.

—Nos vemos no inferno!- a voz quase morta de Tanus arrepia todos meus pelos, provocando um pânico que me congela.
Minhas pálpebras fecham, motivadas pela incerteza e medo.

PEETA!!!- Katniss se esguela.

Ao fundo, escuto seu grito e um forte tiro.

 


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