Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 37
Trato Quebrado




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POV KATNISS

—Effie, preciso da sua ajuda!- berro ao bater contra a madeira sólida da porta, as lágrimas doendo junto ao medo de Tanus ter me seguido.

Tentei vir o mais rápido que conseguir, mas com duas crianças empuleiradas em você,  fica bem complicado.

—Katniss?- a mulher se espanta ao me ver. -Querida, o que houve?

—Me ajude.

Ela a leva pra dentro, dou uma última olhada na Vila antes de entrar. Tranco a porta, passando a mão na cabeça de Rye.

—Garota, o que você fez?

—Preciso conversar com vocês, agora!

Rye é posto na cama junto com a irmã, sento na mesa respirando fundo. Haymitch me entrega um rolo de lenço, já que chorar está sendo a única coisa que consigo fazer.

—Respira e nos conte.

—Tanus...

Haymitch levanta, pronto para armar uma guerra.
Seguro seu pulso, o detendo.

—Ele não fará nada, ou melhor, já fez.

Escondo o rosto nas palmas das mãos, assustada com o fato de ter tido sangue frio o suficiente para deixar Peeta sozinho em prantos.

—Querida, olhe para nós. Estamos preocupados!- Effie me agarra, num abraço desesperado.

—Preciso que me prometam que não falarão nada com Peeta, não por agora.

Ela troca uma rápida olhada com Haymitch.

—Prometemos.

—É a vida dele que está em jogo.

Posso ter tomado uma decisão imatura e errada, mas na minha visão parece a certa a fazer agora.

Sou apenas uma garota apaixonada e desesperada.

—O que você fez, Katniss?

—Um trato com Tanus.

—Garota!- Haymitch bate na mesa, coberto de raiva. Assusto derramando mais algumas lágrimas.

—Você sabe que aquele sujeito é tão ruim quanto Snow. Não existe acordo com ele, Katniss! Onde está sua inteligência?

—Estou assustada!

—Isso nunca foi um problema pra você!- Effie passa a mão por minhas costas, acalmando meu pranto.

—Qual o acordo?

—Eu e as crianças ficariamos longe de Peeta.

—Genial! O melhor acordo que alguém em sã conciência poderia ter feito com a droga de um homem maluco!

O tremor piora, o nível estava baixo quando briguei com Peeta, agora não consigo segurar um copo sem derramar o conteúdo.

—O que exatamente você fez com o garoto?

—Briguei, disse coisas horríveis... foi necessário.

—Claro.
Quantos anos você tem mesmo, Katniss?

Não tenho como responder no momento, mas chuto ter uns 28.
Estou totalmente perdida em ano, mês e dia.

—Tanus estava no meio do parque ameaçando a Peeta e meus filhos, o que você queria que eu fizesse? O matasse com meu pensamento? Eu levaria uma facada no estômago, Haymitch!- levanto, voltando a sentar no momento que cambaleio.

—Deixe ela respirar!- Effie reclama, me entrega um copo que suponho estar cheio de água com açucar.

—Vou na padaria.

—Não! Tanus deve estar lá fora, ele esta em todo lugar.

—Até com o seu marido, nesse exato momento.

Meu ex mentor saí, agarro a mesa tentando controlar o tremor estranho que tomou conta de mim.

—Sei que você foi motivada pelo medo, eu faria o mesmo pelo Hay.- concordo, descansando a testa na madeira gélida.
—Passe os dias que precisar aqui, cuidaremos das crianças. Vamos proteger vocês, Katniss.

—Obrigada.- seguro suas mãos, sentindo todo o esforço de aguentar a situação e carregar as crianças, dar sinal agora.

—Precisa descansar.- subo até o quarto onde meus filhos estão, antes de tomar qualquer atitude os abraço. Beijos suas cabeças, suas bochechas, suas testas.

Abro a janela, Tanus me vigia atrás da pilastra que sustenta o portão da Vila.

Sempre estou ao seu alcance, na sua mira.
Pelo menos não rodeia a padaria, Haymitch foi em paz falar com Peeta.

Escrevo um bilhete, amasso antes de entregar a Effie.

—Preciso que isso chegue até Peeta da maneira mais disfarçada possível.

—Farei isso. Agora tome um banho e logo o jantar estará pronto.

Elisabeth deve estar tirando o sono da tarde, a casa está silênciosa demais sem a presença da doce menina.

Depois de uma ducha quente e uma cabeça pesada de pensamentos, saio sentindo a visão rodar. A falta de comida é a razão mais óbvia, e contando que passei mal antes do banho, tudo se encaixa.

O desgaste mental é o pior. Passar por isso vale a pena só para mantê-lo bem.

Desço oferecendo ajuda, a mulher me avisa que o bilhete já está dentro da minha casa, e provavelmente Peeta deve estar lendo.

—Como?

—Eu o vi chegando. A poucos minutos, então como a luz da sala está ligada. - vejo a claridade ultrapassar as cortinas. -Ele deve estar lendo. Você piorou tudo?

—Não, apenas escrevi o que ele pode saber no momento.

—Não sofram mais, Katniss. O passado já valeu por uma vida inteira!

—Como vou arrumar isso? Parece que sempre faço besteiras.

Ela sorri abanando a mão.

—Não leve Haymitch tão a sério.- sua mão segura a minha. -Eu não levo.

Agora rio, sabendo que pior que eu e Peeta, só esses dois.

—Sou uma esposa lutando pela vida do marido.- sento, as pernas bambas o bastante para fazer minha cabeça pesar. -Peeta já sofreu demais, não posso permitir que nada mais aconteça.

A mulher torna a segurar minhas mãos, puxando-me de volta as poltronas da sala.

—Sei que tenta, mas não pode controlar tudo ao seu redor, Katniss. Pessoas se machucam e as vezes não podemos fazer nada.

—Mas, ele me protege e...

—Querida, acha que ele conseguiu te manter segura o tempo todo?

—Ele tentou...- não lembro de nada comparado ao que Effie sabe. Mas se tratando de Peeta, tenho certeza que ele fez tudo que estava ao alcance.

—Sim, mas algumas vezes isso não foi possível. - suspiro, voltando a ficar tonta o bastante para segurar a cabeça antes que meu corpo incline e caia no tapete.
—Você está bem?

—Estou, é apenas um mal estar.

—Vá deitar, você precisa.

—Primeiro te ajudarei com o jantar.

—Não se preocupe.- levanto a acompanhando. -Vá, se aninhe com suas crianças. Logo estará tudo bem.

Desisto e rumo ao quarto, tiro um breve cochilo.
Percebendo o quão acelerada minha mente está, desisto e apenas levanto indo grudar a janela.

A luz de casa ainda fica acesa, mas nada de conseguir ver Peeta.

O afastamento é a melhor solução?
O que mais posso fazer?
Bater de frente com Tanus?

Um estralo forte me traz de volta, largo os devaneios, me concentrando na cena sob a janela.

Um corpo se arrasta meticulosamente entre os arbustos, a chegava da noite traz a penúmbra junto a desconfiança.
Afio o olhar, vendo que pelo porte físico não é Tanus.

Agarro a cortina, pronta para ver os fios loiros ao passar pelo poste de luz.

Sim, é ele.
Ou será Haymitch?

Céus, preciso realmente dormir!

O desejo por água me faz sair do quarto. Ao chegar na ponta do corredor, pronta pra descer os degraus, a voz me paralisa.

Depois de quase ter um surto de ansiedade, quase ser ferida e ainda arranjar palavras feias, ele veio até aqui.

Peeta quer mesmo me deixar maluca.

Cadê? Effie, Katniss está lá em cima?

—Fique calmo. Ela não está bem.

Logicamente que não! O que essa mulher tem na cabeça?

Grudo as costas rente a parede decorada com um papel de parede de cor suave.

Chega na padaria virada comigo, diz que não pode ficar perto de mim e agora isso?

Aposto que fala do bilhete.

O que ele acha que eu devia ter feito?
Como poderia atacar Tanus tendo Rye bem ao lado?
Peeta não calculou os riscos?

Vocês me deem licença, mas preciso ter uma conversa com a minha mulher.

Gelo ao final da frase, pronunciada de tal modo que penso em correr. Mas já fiz borradas demais hoje.

Vá, eu vigio Tanus. Effie, cadê minha faca?

Os passos barulhentos e decididos que ecoam dos degraus, chegam até o topo. Estou esperando-o, encostada na porta, de frente ao seu olhar.

Abro a boca, esperando seus gritos indignados, suas palavras acusatórias e suas lágrimas.

Recebo praticamente o oposto.

Sou prensada na parede, ofegante pelo susto e ainda tonta. Finco minhas mãos em seus ombros, praticamente na ponta dos pés.

—Que merda você acha que está fazendo?

Seus jeito de falar é tão forte que penso que Peeta está no meio de um flashback. Mas o azul está forte o bastante para me provar o oposto.
Ele está bem, vivo e muito chateado.

Se fossemos trocar de lugar, aposto que estaria muito pior. Tiraria satisfação de um jeito mais violento e grosseiro, fora os gritos e ataques de raiva.

—Protegendo você.

—De Tanus? Se afastando de mim?

—Fizemos um acordo.- Peeta chapa uma palma no espaço ao lado de minha cabeça, enrrugo o corpo assustada.

—Com aquele cara pertubardo? Quantos anos você tem?

—Não pareço uma criança assustada!

Por que todos dizem isso?
Tenho bons anos para saber o que fazer no desespero.

Não estou pensando racionalmente, sei plenamente disso. Mas foi a única solução.

—Mas age como uma! Achou que se mantendo longe de mim...

—Ia proteger você, seu mal agradecido!

Empurro seu peito, nos chocando contra a parede oposta. É a minha vez de empurrá-lo e causar reações em seu corpo.

—Ele ameaçou Rye que estava do meu lado. - arrepio ao lembrar das cruéis palavras. -Não tinha outra alternativa a não ser agir por impulso e tentar te proteger, por um mínimo tempo possível.

Fico com raiva pois todo meu esforço foi jogado ao vento depois que Peeta veio aqui.

O trato está rompido, e sabe se lá o que esse maluco irá fazer agora.

—E você acabou de colocar todos nós em risco, o trato foi rompido.

—Katniss, acorda! Tanus é igual a Snow, não há acordos.- Peeta segura meus braços, nos trocando de posição. Novamente sou encurralada.

Um calor forte e inexplicável toma conta do meu ser, liberando mais adrenalina e a vontade de jogar Peeta no chão e tomá-lo para mim.

—Ele ia machucar você de novo!- tento me soltar, mas é injusto comparar minha força a dele.

—Você acabou de fazer isso.

—O que eu disse na padaria...- nego sentindo meu choro saltar descontroladamente.
—Só queria te manter afastado. - suas mãos descem até minha cintura, aperta puxando para si.
—Tento te proteger, mas sou tão fraca e impotente.
Eu te amo, tanto que me sufoco ao imaginar tudo que você sofreu.
Não posso deixar acontecer novamente, quero impedir mas...

Sua mão cobre minha bochecha, chega até os cabelos. Tão suave que paraliso, sem conseguir reagir.

—Juntos somos mais fortes. Você não precisa me proteger, sei que tem vontade de manter todos ao seu redor numa bolha.

—Me deixa te proteger. - seguro seu rosto, admirando a cor pura de suas íris.

—Não, não deixo.- recuo, minhas mãos caindo aos seus ombros.

Mas ele é o Peeta. Nunca me deixa decepcionada.

Ele apenas me toma, com toda a vontade mordisca sua boca com a minha.


Meu sangue ferve, o calor passando rapidamente como uma capa por todo meu corpo.
A mente paralisa, os pensamentos não chegam, não há espaço para nada.

Peeta domina tudo, meu corpo, mente e espírito.

—Eu vou proteger você, caçadora.
Essa é uma promessa que jamais irei quebrar!

—Quando prometeu isso?

—Anos atrás, sob a mesma árvore que você estava quando lhe joguei o pão.

A memória brilha mais viva que nunca, o frio persegue minha espinha, meus ossos doem relembrando o poder do frio excessivo sobre meu corpo.

—Prometi que sempre te protegeria, não importa o que houvesse.- ele sorri lateralmente, envolvo na mesma nostagia.
—Então veio os Jogos Vorazes.

—E agora isso.

—E toda a história que vivemos. - seu nariz passa pelo meu, beijando toda a pele.
—Acho que isso quer dizer que devo seguir com minha promessa.

—Então entramos num conflito.

—Que tal um acordo?- não tem como não rir, Peeta tem uma capacidade natural de virar os momentos.

De trágico e ruim, se torna agradável e engraçado.

"É pai, escolhi a pessoa certa para amar."

Penso, recordando da lembrança que tive tempos atrás com ele.

—Diga sua proposta, padeiro.

—Nós dois protegemos nossos filhos.

—Feito.- ele novamente toma meus lábios, satisfeito por eu ter cedido.

Até que foi fácil demais.

—E Tanus?- não consigo esquecer a ideia da nuvem negra nos rondando.

—Fique tranquila. Dele cuido eu.

 


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