Correio Elegante escrita por Sirena


Capítulo 2
Segunda Carta


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Isah Doll e Rafa Borges pelos comentários ♥️♥️♥️

Esse cap se passa um ano depois do anterior, então nossos personagens estão na oitava série. Novamente, estamos na época da festa junina.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787543/chapter/2

Pedro era o garoto mais bonito e cobiçado de toda a escola. Falo isso sem sombra de dúvida. Ele parecia um clichê de filme norte-americano.

Lindo, alto, cantava, tocava guitarra, era inteligente, engraçado e gentil e tinha um sorriso capaz de derreter um iceberg. Às vezes me pego pensando se não era apenas uma alucinação coletiva, porque de verdade, ele era perfeito demais.

Até demais. Tão perfeito que tinha vontade de dar um soco nele para ver se ele parava um pouco de ser tão perfeito.

E como ninguém podia ser tão perfeito, ele era hétero.

Claro.

Mas, tudo bem, um romance platônico e unilateral não é tão ruim quanto às pessoas fazem parecer nos livros e filmes. Você pode imaginar toda uma vida com a pessoa e não sair machucado simplesmente porque não é real.

É lindo.

Além do mais, eu só o via no intervalo. Ele era um ano mais velho e estava uma série a minha frente. Amor platônico é uma das mais belas invenções da humanidade, realmente.

A irmã do Paulo entrou na sala, usando o mesmo vestido verde do ano anterior, o cabelo com trancinhas tinha mechas da mesma cor do vestido e ela usava um chapeuzinho de palha.

— Professora, posso atrapalhar a aula rapidinho? – ela pediu educadamente, piscando os olhos verdes e dando um sorrisinho enquanto ajeitava os óculos. — Tenho algumas cartas para entregar.

— Oi, Adriana. – cumprimentei lhe oferecendo um sorrisinho. — Por que o Paulo não veio?

Ela mordeu os lábios e deu de ombros. — Passou a noite vomitando. Acho que era nervoso por não ter estudado pra prova, sei lá.

— Meu Deus! – Gabi piscou, parecendo chocada. — Nervoso faz isso mesmo? Sempre achei que era uma lenda que os professores inventaram!

— Enfim, tenho uma entrega pra fazer. – Adriana sorriu pegando as cartas na cesta. — Gabriela, Anna, José, César, Laura e Marcos. – ela foi chamando e distribuindo as cartas enquanto falava.

Peguei minha carta e tentei não dar risada.

O envelope era exatamente igual ao do ano passado. Uma folha de caderno, com meu nome e série rabiscados e vários números no lugar do nome do remetente.

15-12-21-1-16.

O adesivo era a única coisa diferente, em vez de uma figurinha de gatinho, era uma figurinha da Moranguinho, daquelas que vem naqueles cadernos cheirosos da personagem.

Esse ano, não me importei em sair da sala para ler.

Acenei um tchau para a Adriana enquanto ela saía e abri o envelope pegando a folha de dentro e me esforçando para ler o garrancho corrida.

“Esse ano eu pensei em não ser tão clichê. Desculpe se o ano passado foi doce demais. Imaginei que a essa altura nem sequer sentiria mais vontade de te escrever, mas, um ano se passou e pra ser sincero... Você só ficou ainda mais gato.

O sorriso que você dá sempre que entra na sala é tão quente que eu até me esqueço que os ventiladores estão ligados. Você é tão gentil, Marcos. Todo o dia nesse maldito inferno que apelidamos de escola, você chega sorridente e abraça todo mundo. Você dá um beijo na bochecha de cada menina e faz um high-five com cada menino. Você pergunta aos professores como foi o fim de semana e se eles querem ajuda para organizar e corrigir as provas.

O que me lembra, você é tão malditamente inteligente que chega dá vergonha. É. Você devia ter vergonha disso. Como diabos alguém que passa metade das aulas conversando e dormindo consegue ser tão inteligente? Lembrar palavra por palavra as explicações dos professores e virgula por virgula as definições do livro...

Jamais vou me esquecer de quando você estava dormindo durante a aula da literatura, roncando bem na frente da professora, que ignorava seu sono pesado e prosseguia com as explicações... E de repente, quando ela perguntou algo para a sala, para ver se prestávamos atenção, você levantou a cabeça, respondeu corretamente, questionou algo que estava em duvida e depois que ela respondeu, deitou a cabeça na mesa e voltou a roncar. VOCÊ NÃO É HUMANO, SEU GAROTO ASSUSTADOR!

E como será possível para mim te tirar da cabeça quando você tá tão malditamente perto? Eu te mandaria pro inferno se pudesse só por ser tão perfeito e inalcançável. Eu me mandaria pro inferno só por não ter coragem de dizer isso tudo cara a cara!

O tempo passa e eu só fico mais caído por você e mesmo assim... Estou aqui, anonimamente, te mandando apenas mais um correio elegante porque tenho vergonha de ficar menos oculto do que isso. Mas, é isso, você é lindo e bom. Malditamente bom. E quente e doce e ensolarado.

De verdade, seu sobrenome combina muito com você, Soldeville.

Aliás, você falando espanhol é oficialmente a coisa mais fofa e sexy desse mundo. Você deveria ser a principal das maravilhas do mundo, sol.

Soldeville.

***

Gabriel e Paulo estavam sentados no meu quarto. O Gabriel no chão e o Paulo numa cadeira próximo a uma mesa dobrável que eu tinha num canto do quarto. O Gabriel estava montando slides pelo computador e o Paulo adiantava um trabalho em grupo de geografia que tínhamos que fazer, enquanto eu terminava minha parte no trabalho de filosofia.

— Quem você acha que é? – o Paulo perguntou de repente.

— O que? – ergui a cabeça, confuso, sem saber se ele falava comigo ou com o Gabriel.

— Adriana disse que você recebeu outra carta esse ano. Quem você acha que é?

— Não faço ideia. – dei de ombros, ainda assustado com a pergunta repentina. — Nem penso nisso na verdade.

— Por quê? – Gabriel perguntou, arqueando a sobrancelha. — Se eu tivesse uma garota me mandando cartas de amor anônimas eu ia querer saber quem é, acho... Nem que fosse só pra ficar bem longe dela com medo de ser uma stalker, mas, enfim...

— Porque não importa. – dei de ombros. — Garotas não fazem meu tipo e isso é muito mais a cara de garota do que de garotos.

Os dois pararam de fazer seus trabalhos e me encararam por um longo momento.

— Você por acaso é gay? – Gabriel franziu a testa. — Como que eu te conheço há um ano e não sabia disso?

Dei de ombros, voltando a prestar atenção no meu trabalho, mas sentia que eles ainda me encaravam, então parei, irritado, mas também um pouco nervoso. Respirei fundo uma vez, tentando parecer natural. Tudo bem, tudo bem, disse a mim mesmo, afinal eles eram meus amigos, não tinha porque eu ficar nervoso.

— O que foi?

— Nada. – Gabriel deu de ombros. — Só estou processando.

— Seus pais sabem?

Neguei com a cabeça. — Não, mas não se importariam. Eles sempre foram tão mente aberta que eu nunca senti necessidade de me assumir. Acho que quando começar a namorar só vou ter que falar “ei, to indo encontrar meu namorado.” E ir.

Paulo deu risada.

— Se fosse assim com todo mundo...

— Seria bom. – Gabriel acenou com a cabeça em concordância, em seguida piscou e voltou a prestar atenção nos trabalhos. — Enfim, já terminou sua parte?

— Quase.

— Eu terminei a minha. – Paulo falou se levantando. — Quer que eu termine os slides?

— Seria ótimo. – Gabriel sorriu enquanto eles trocavam de lugar.

— Acho que voy pintar mi pelo de azul. – comentei aleatoriamente voltando a prestar atenção no meu trabalho.

— Pelo?

— Cabelo. – me corrigi rapidamente, sempre me sentia um pouco envergonhado quando acabava misturando o português e espanhol, mas é isso que acontece quando seu pai é brasileiro, sua mãe é espanhola e você aprende ambas as línguas misturadas. — Pintar o cabelo de azul.

— Azul. – Paulo repetiu imitando meu sotaque. — É tão bonitinho o jeito que você fala.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Correio Elegante" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.