Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 49
Capítulo 48




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A entrada triunfal de Dallas na sala, com direito a portas duplas abrindo em um estrondo, causou o efeito desejado. Todos os olhares caíram sobre ela e, felizmente, esses não eram muitos. Dallas sabia que uma veela tinha o poder de encantar uma multidão, mas ela não tinha tanto controle sobre os seus poderes quanto deixou transparecer mais cedo. Direcionar o Encanto a uma pessoa só, ou a um pequeno grupo de pessoas, era fácil, era como lançar um feitiço, mas quando a quantidade de gente era maior e essas pessoas estavam dispersas como acontecia ali no tribunal, a situação ficava um pouco mais complicada. Sem um ponto focal, ela não tinha por quem começar e portanto teria que expandir o Encanto como uma manta, atingindo até mesmo quem não desejava atingir, por isso Patrick e Davon ficaram do lado de fora e ela lançou um feitiço abafador de forma discreta sobre Lorraine, embora soubesse que somente isto não seria o suficiente, mas seria o bastante para a mulher não ficar completamente submersa no Encanto. 

Não que Dallas achasse que seria tão fácil assim subjugar Lorraine. Sob estado de intenso estresse, a mente era mais difícil de ser manipulada e o Encanto demorava mais tempo para fazer efeito, e Lorraine era estresse puro. Pálida e com o rosto marcado pelas lágrimas, ela tremia no assento onde foi colocada e era flanqueada por dois bruxos que vestiam as cores do Departamento de Aurores, mas que Dallas duvidava serem aurores de verdade.

De qualquer maneira, era a hora do show. 

Bonjour. Je suis l'avocat de Lorraine Yale. — Umbridge, quem presidia aquele julgamento, olhou para Dallas de forma confusa e Dallas não estava nem um pouco surpresa em ver que aquela psicótica de rosa estava participando desta palhaçada toda que era a pureza da raça mágica. 

— Eu a conheço? — a mulher disse com aquela voz irritantemente aguda e Dallas sentiu ímpetos de azará-la bem naquele instante, mas conteve-se. 

Pardon. Mais je ne parle pas une langue aussi médiocre que l'anglais. Êtes-vous le seul responsable de cette horrible blague? Mon client est absolument innocent.

 Mademoiselle? Dolores Umbridge est l'officier le plus respecté du Ministère. S'il vous plaît, ne lui parlez pas sur ce ton. — isto foi dito pelo oficial de notas, em um francês não muito perfeito, regado de pronúncia incorreta, mas ainda sim compreensível. Dallas deu ao homem um grande sorriso maravilhado.

Merveilleux! — foi nesta exclamação, somada ao sorriso, que Dallas percebeu que tinha acabado de capturar a atenção completa de todos na sala mas, principalmente, de Umbridge. — Tu seras mon traducteur. — apontou para o oficial de notas que parecia extasiado diante desta oportunidade.

E então Dallas começou a discorrer em francês sobre as irregularidades na prisão de Lorraine Yale, usando todos os termos técnicos que ela passou a noite decorando com Patrick e Davon, pilhados demais para conseguirem pegar no sono diante do plano que elaboraram sem o conhecimento de Aurora, e usando os livros de Direito da mesma da época da Academia de Aurores. A sua voz tinha a melodia característica que a entonação do francês proporcionava mas, só para garantir, ela estava colocando um pouco mais de melodia em seu discurso, dirigindo-se diretamente aos jurados, inclinando-se propositalmente na direção deles para deixar o colo a mostra no decote do terno, jogando o cabelo platinado sobre o ombro, espalhando feromônios. 

Et c'est pourquoi vous devez la libérer. — Dallas pegou na mão de Lorraine e a ajudou a levantar da cadeira. A mulher balançava como se estivesse tonta, mas não caiu. — D'accord?

— Sim, sim. — Umbridge concordou depois que o oficial de notas traduziu as últimas palavras de Dallas para ela. Sua expressão era vazia e ela sorria de forma abestalhada, o que deixava o seu rosto largo de sapo ainda mais medonho.

Et si vous pouviez effacer son casier judiciaire, j'apprécierais.

— Feito! — Umbridge disse com uma felicidade plastificada em seu tom de voz e apagou os registros do julgamento de Lorraine com um girar de varinha. — Lorraine Yale, o Ministério pede desculpas pelo inconveniente, a senhora está livre para partir. 

Lorraine não reagiu, meio sóbria, meio bêbada, sob o efeito do Encanto. Dallas continuou sorrindo enquanto guiava a mulher para fora da sala pelo cotovelo. 

Merci! — agradeceu antes das portas duplas baterem as suas costas. O Encanto duraria mais alguns minutos naqueles de mente fraca, mas naqueles como Harry, que conseguia repelir um Imperius, o efeito desapareceria assim que ela saísse da sala. 

— Mãe. — Davon chamou em um suspiro aliviado ao ver Lorraine. 

— Nem tente, ela está entorpecida pelo Encanto. — Dallas explicou enquanto continuava a arrastar a mulher na direção do elevador. Ao entrarem no carro, quando este estava terminando de fechar as suas grades, luzes vermelhas começaram a piscar na penumbra do corredor e um grito ensurdecedor de sirene ecoou pelas paredes. Dallas riu ao ver os aurores, Comensais, o que cacete eles fossem, aqueles que despertaram mais cedo do efeito do Encanto, tropeçando uns nos outros enquanto eram pegos nas armadilhas instaladas por Davon e Patrick, cortesia das Gemialidades Weasley. Afinal, eles entraram no Ministério pela porta da frente e o plano era sair pela porta da frente. 

Bruxos e bruxas os miravam com ódio e Dallas ainda fez um gesto obsceno de despedida para eles, antes do elevador dar um tranco e sumir na escuridão do fosso. O trio agiu de forma rápida neste curto percurso que tinham até o átrio. Davon jogou a sua capa sobre Lorraine, a mesma carregada de feitiços de camuflagem, o bastante para evitar olhares mais longos e curiosos. Dallas transfigurou os seus cabelos para algo mais longo e negro, os seus olhos ficaram de mesma cor e ela deu a si mesma traços menos marcantes. As novas roupas foram inspiradas no guarda-roupa dos Comensais e percebeu com surpresa que tinha usado Bellatrix como molde para o seu novo disfarce. Patrick e Davon fizeram o mesmo, mudando roupas, cabelos, olhos e fisionomia. A porta do elevador abriu no átrio, Davon segurou no braço de Lorraine, ainda meio zonza com tudo o que acontecia e sob um feitiço de silêncio por garantia. Seria muito arriscado ela voltar a si no meio da fuga e começar a fazer perguntas que atrapalhasse o plano. 

No átrio a situação era a mesma que o quinto andar do subsolo. Luzes e sirene soavam e discretamente Patrick deixou rolar pelo chão algumas bombinhas de fumaça tonteante. As mesmas explodiram às costas deles, que apertaram o passo. A correria ao redor deles camuflava a passagem do trio e foi com alívio que eles chegaram as lareiras de flu e foram cuspidos para os pontos de entrada trouxa do Ministério. Dali, eles desaparataram diretamente na rua principal de Godric's Hollow. 

— Ela precisa que Aurora autorize a entrada dela na casa. — Patrick explicou enquanto eles desfaziam os feitiços de transfiguração aplicados. 

— Você está falando daquela Aurora? — Dallas apontou para a auror que vinha na direção deles, fumegando de raiva. 

— O que deu em vocês?! — o tom de Aurora saiu esganado, como alguém que queria gritar, mas ao mesmo tempo não podia, para não chamar a atenção. — Quem é esse? — ela ao apontou para Lorraine que remexia-se de forma frenética dentro da capa, tentando retirar esta. Aparentemente ela recuperou o controle sobre os próprios sentidos. 

— Davon? — Lorraine disse surpresa ao finalmente desfazer-se da capa e mirar dentro dos olhos amendoados do filho. Davon deu um minúsculo sorriso para ela. 

— Está a tudo bem, mãe. — explicou, a tocando nos ombros e ao longo dos braços, em um gesto de conforto. — Você está segura. 

— Segura? — ela olhou a sua volta, ao cenário que não era mais a sala de julgamento do Ministério, olhou para os rostos de Patrick e Dallas e então voltou a atenção para Davon, o encarou por um segundo e então estalou um tapa dolorido na bochecha dele, deixando as marcas vermelhas de seus dedos na pele pálida. — O que cacete você tinha na cabeça?! Você já deveria estar longe, no continente, com o seu pai e irmãos! Eu falei que não era para vir atrás de mim! — e então ela começou a estapear Davon onde lhe era possível. Davon, por seu lado, encolhia-se, tentando fugir da agressão enquanto resmungava coisas como "para, mãe!", "'tá maluca?!". Dallas e Patrick seguraram risadas enquanto viam de camarote Davon apanhar de uma mulher que mal chegava-lhe ao ombro em altura e parecia ser capaz de levantar vôo ao menor sopro da brisa. 

Quando deu-se por satisfeita, Lorraine afastou-se, com as bochechas vermelhas e respirando pesadamente. Davon estava descabelado, desarrumado, completamente descomposto. Ao perceber que não apanharia mais, empertigou-se o máximo o que o seu orgulho ferido permitiu, ajeitou como pôde cabelo e vestes, pigarreou para soltar as palavras de sua garganta e então fez as apresentações formais. 

— Dallas, Patrick, minha mãe: Lorraine Delacroix Yale. 

— Delacroix? Das Importações Delacroix? — Dallas perguntou e o rosto de Lorraine mostrou surpresa por ter o nome reconhecido.

— Conhece a minha família? — a resposta de Lorraine veio em outra pergunta. 

— Dallas Winford. — Dallas apresentou-se e pela expressão de reconhecimento no rosto de Lorraine, isto foi explicação o suficiente sobre de onde Dallas conhecia a família Delacroix.

— Acho melhor levarmos esta conversa para um lugar menos público, concordam? — Aurora comentou. — Vocês três vão na frente enquanto eu garanto que Lorraine é quem ela diz que é. 

— Como é? — Davon protestou, considerando a insinuação de Aurora pura ofensa. Ela não via o estado deplorável de sua mãe que apenas em poucas horas nas mãos do Ministério parecia que este tinha sugado todas as forças dela?

— Davon. — Lorraine disse com a voz firme, a voz de uma mãe repreendendo o filho rebelde. — Está tudo bem. Vão na frente. — Davon hesitou, mas Patrick o segurou pela mão e o puxou com força para a casa. Quando entraram nesta, encontraram Annabeth parada no meio da sala, com uma expressão de pouquíssimos amigos no rosto. 

— O que vocês tinham na cabeça?! — esbravejou e Patrick encolheu os ombros na reação de sobrevivência típica de um filhote prestes a ser devidamente disciplinado pela mamãe leoa. 

E então Annabeth começou um longo e fervoroso sermão sobre irresponsabilidade, sobre atitudes egoístas e impensadas. Algo tão eloquente e pertinente que até mesmo Dallas sentiu vergonha de seus atos e abaixou a cabeça para o sermão de Annabeth. 

— E, ainda sim, — o tom de Annabeth havia acalmado depois de cinco minutos de discurso. — o que vocês fizeram foi extremamente corajoso. Estou orgulhosa de vocês. — e abraçou os três contra o seu corpo, para depois soltá-los e dar um tapa estalado na nuca de cada um. — Mas não me façam isto de novo!

— Sim, senhora. — Dallas, Patrick e Davon disseram em uníssono. 

— Eu só estou curiosa em saber como vocês conseguiram isto, entrar e sair do Ministério sem um arranhão. — Aurora perguntou ao entrar na casa acompanhada de Lorraine. Aparentemente a sr. Yale havia passado nos testes da desconfiada auror Gordon. 

Dallas, Patrick e Davon deram à ela largos sorrisos que não eram nada angelicais, e então desataram a contar o seu mirabolante plano de resgate. Ao final do relato, Liam e Pietro, que haviam juntado-se à eles na sala, os miravam com clara admiração. 

— Eu não sei se bato em vocês ou os recomendo para uma Ordem de Merlin. Isto se o Ministério ainda der Ordens de Merlin. — Aurora comentou com deboche enquanto Annabeth rodava pela sala servindo chá para acalmar os ânimos de todos naquele momento. 

— Isto foi brilhante e pode ser usado como exemplo. — Pietro comentou enquanto recolhia a caneca de chá oferecida pela mãe. — A simplicidade pode ser a arma para conseguirmos evitar um massacre maior. 

— A simplicidade deu certo neste momento. — Liam interveio. — Mas não teremos tanta sorte da segunda vez. O Lorde das Trevas e seus seguidores são adaptáveis, eles irão, em um ponto, perceber nossos planos e adaptarem-se à eles. Dallas teve sorte, mas isto não quer dizer que o Ministério já não tenha percebido o que realmente aconteceu. 

— Nós não podemos simplesmente deixar que o Ministério continue capturando bruxos inocentes assim e os mandando para Azkaban. — Patrick protestou e Dallas soltou um ruído do fundo da garganta que era puro escárnio. — O que foi? — porque Patrick conhecia aquele som, era o ruído que ela fazia quando estava julgando a competência de alguém e ele detestava quando este barulho era direcionado para ele. 

— Inocente da sua parte em achar que a prisão é o destino final desses bruxos "culpados". — Dallas explicou com tom claro de deboche. — Azkaban é a nova Auschwitz. 

— Ausch… O quê? — Patrick soltou, com extrema confusão. 

— Essa mania dos bruxos de ignorarem tudo que acontece no mundo fora das barreira mágicas é irritante. — Dallas continuou, completamente frustrada. Ela esperava mais do amigo, Patrick era tão inteligente quanto ela. — Auschwitz foi um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial, para onde todos aqueles pertencentes a minoria e quem Hitler considerava uma ameaça a pureza da raça ariana eram enviados para serem mortos. Este cenário soa familiar para você?

— Por curiosidade, quantas pessoas morreram neste cenário? — Patrick perguntou, embora soubesse, lá no fundo, apesar de seu desconhecimento pela História trouxa, de que a resposta não era agradável. 

— Milhões. — foi a resposta de Dallas e Patrick empalideceu e precisou apoiar-se no encosto da cadeira onde Lorraine estava, porque a falta de oxigenação no cérebro diante desta revelação o deixou tonto. 

— Nós precisamos impedir isto! — ele disse com veemência e rodou os olhos pelos rostos daqueles presentes na sala, esperando encontrar neles concordância com as sua palavras. Dallas, como sempre, era avessa aos padrões e apenas arqueou uma sobrancelha para ele, em um gesto controverso. Davon, infelizmente, pela cara que fazia, parecia concordar com a garota.

— Como, posso saber? — Davon questionou. — O Ministério, Você-Sabe-Quem, está um passo à frente de nós nesta questão visto que ele tem acesso aos arquivos do Ministério, aos registros de todos os nascidos-trouxas do Reino Unido. Não será fácil roubar deles esses dados e nem aconselho a fazê-lo. Liam tem razão, nós tivemos sorte ao resgatar a minha mãe, mas não teremos esta sorte de novo se formos roubar arquivos sigilosos do Ministério.  

— Não exatamente. — Aurora interrompeu o discurso de Davon. — Hogwarts tem uma cópia deste arquivo. Afinal, todos os bruxos do Reino Unido vão para lá. 

— E você sugere o quê? Que roubemos esses arquivos de Hogwarts e os usemos para resgatar nascidos-trouxas? — Davon completou em um tom de deboche. Aurora foi da Grifinória, então a compulsão em se meter em situações que eram uma furada fazia parte do DNA dos integrantes e ex-integrantes da casa. 

— É uma sugestão válida. — Davon mirou Dallas com surpresa ao ouvir a concordância dela. — O quê? Você não achou que eu realmente iria ficar parada aqui, de braços cruzados, como uma donzela esperando o amado voltar da guerra, achou? — Davon riu. Claro que não achou isto, a imagem de uma donzela em perigo sendo associada à Dallas nem era processada pela mente dele de tão absurdo que era o cenário. 

— E como você sugere que entremos em Hogwarts? — ele rebateu, com a petulância e teimosia que estava entranhada no DNA dos sonserinos. Dallas sorriu de forma debochada para ele, como resposta. 

— Quem disse que você está incluído nesta missão? — ela trocou um olhar cúmplice com Patrick, que a respondeu com um sorriso traquinas. 

— E o que os fazem pensar que nós vamos permitir que vocês façam isto? — Aurora interrompeu qualquer plano mirabolante que Dallas e Patrick estivessem armando só com aquela troca de olhares. A sintonia que existia entre eles dois às vezes era assustadora. 

— Você vai deixar. — Patrick pronunciou-se, interrompendo o protesto da irmã, e da mãe, que havia aberto a boca para também tecer um comentário. Ele não estava mais pálido e chocado, a sua expressão era firme e decidida e ele havia empertigado-se de modo alcançar a sua altura completa e o vendo assim, com aquela postura, aquele olhar, Aurora foi arrebatada pela realidade que lhe dizia que não era mais um menino que estava na sua frente, o menino para quem ensinou os primeiros feitiços, à quem tentou ensinar a surfar, que ensinou a voar na vassoura, quem treinou nos últimos anos, ali agora estava um homem. — Você vai deixar porque você não tem outra opção. — e esta era a dolorosa verdade, não é mesmo? Estavam em guerra e estavam ficando sem opções. 

— E como vocês pretendem entrar em Hogwarts? — Pietro questionou em um tom de desafio e Dallas e Patrick trocaram outro olhar cheio de significados. 

— E então, Patrick. Disposto a voltar às aulas este ano? — Dallas disse em um tom que misturava deboche e traquinagem. 

— Não estava a fim não. — Patrick respondeu no mesmo tom de Dallas e com um balançar displicente dos ombros. — Mas terei que ir mesmo. Então, fazer o quê? — e foi assim que no dia 1° de Setembro eles embarcaram no Expresso de Hogwarts, para a surpresa de seus colegas.


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