Entre Extremos escrita por Bella P
A entrada triunfal de Dallas na sala, com direito a portas duplas abrindo em um estrondo, causou o efeito desejado. Todos os olhares caíram sobre ela e, felizmente, esses não eram muitos. Dallas sabia que uma veela tinha o poder de encantar uma multidão, mas ela não tinha tanto controle sobre os seus poderes quanto deixou transparecer mais cedo. Direcionar o Encanto a uma pessoa só, ou a um pequeno grupo de pessoas, era fácil, era como lançar um feitiço, mas quando a quantidade de gente era maior e essas pessoas estavam dispersas como acontecia ali no tribunal, a situação ficava um pouco mais complicada. Sem um ponto focal, ela não tinha por quem começar e portanto teria que expandir o Encanto como uma manta, atingindo até mesmo quem não desejava atingir, por isso Patrick e Davon ficaram do lado de fora e ela lançou um feitiço abafador de forma discreta sobre Lorraine, embora soubesse que somente isto não seria o suficiente, mas seria o bastante para a mulher não ficar completamente submersa no Encanto.
Não que Dallas achasse que seria tão fácil assim subjugar Lorraine. Sob estado de intenso estresse, a mente era mais difícil de ser manipulada e o Encanto demorava mais tempo para fazer efeito, e Lorraine era estresse puro. Pálida e com o rosto marcado pelas lágrimas, ela tremia no assento onde foi colocada e era flanqueada por dois bruxos que vestiam as cores do Departamento de Aurores, mas que Dallas duvidava serem aurores de verdade.
De qualquer maneira, era a hora do show.
— Bonjour. Je suis l'avocat de Lorraine Yale. — Umbridge, quem presidia aquele julgamento, olhou para Dallas de forma confusa e Dallas não estava nem um pouco surpresa em ver que aquela psicótica de rosa estava participando desta palhaçada toda que era a pureza da raça mágica.
— Eu a conheço? — a mulher disse com aquela voz irritantemente aguda e Dallas sentiu ímpetos de azará-la bem naquele instante, mas conteve-se.
— Pardon. Mais je ne parle pas une langue aussi médiocre que l'anglais. Êtes-vous le seul responsable de cette horrible blague? Mon client est absolument innocent.
— Mademoiselle? Dolores Umbridge est l'officier le plus respecté du Ministère. S'il vous plaît, ne lui parlez pas sur ce ton. — isto foi dito pelo oficial de notas, em um francês não muito perfeito, regado de pronúncia incorreta, mas ainda sim compreensível. Dallas deu ao homem um grande sorriso maravilhado.
— Merveilleux! — foi nesta exclamação, somada ao sorriso, que Dallas percebeu que tinha acabado de capturar a atenção completa de todos na sala mas, principalmente, de Umbridge. — Tu seras mon traducteur. — apontou para o oficial de notas que parecia extasiado diante desta oportunidade.
E então Dallas começou a discorrer em francês sobre as irregularidades na prisão de Lorraine Yale, usando todos os termos técnicos que ela passou a noite decorando com Patrick e Davon, pilhados demais para conseguirem pegar no sono diante do plano que elaboraram sem o conhecimento de Aurora, e usando os livros de Direito da mesma da época da Academia de Aurores. A sua voz tinha a melodia característica que a entonação do francês proporcionava mas, só para garantir, ela estava colocando um pouco mais de melodia em seu discurso, dirigindo-se diretamente aos jurados, inclinando-se propositalmente na direção deles para deixar o colo a mostra no decote do terno, jogando o cabelo platinado sobre o ombro, espalhando feromônios.
— Et c'est pourquoi vous devez la libérer. — Dallas pegou na mão de Lorraine e a ajudou a levantar da cadeira. A mulher balançava como se estivesse tonta, mas não caiu. — D'accord?
— Sim, sim. — Umbridge concordou depois que o oficial de notas traduziu as últimas palavras de Dallas para ela. Sua expressão era vazia e ela sorria de forma abestalhada, o que deixava o seu rosto largo de sapo ainda mais medonho.
— Et si vous pouviez effacer son casier judiciaire, j'apprécierais.
— Feito! — Umbridge disse com uma felicidade plastificada em seu tom de voz e apagou os registros do julgamento de Lorraine com um girar de varinha. — Lorraine Yale, o Ministério pede desculpas pelo inconveniente, a senhora está livre para partir.
Lorraine não reagiu, meio sóbria, meio bêbada, sob o efeito do Encanto. Dallas continuou sorrindo enquanto guiava a mulher para fora da sala pelo cotovelo.
— Merci! — agradeceu antes das portas duplas baterem as suas costas. O Encanto duraria mais alguns minutos naqueles de mente fraca, mas naqueles como Harry, que conseguia repelir um Imperius, o efeito desapareceria assim que ela saísse da sala.
— Mãe. — Davon chamou em um suspiro aliviado ao ver Lorraine.
— Nem tente, ela está entorpecida pelo Encanto. — Dallas explicou enquanto continuava a arrastar a mulher na direção do elevador. Ao entrarem no carro, quando este estava terminando de fechar as suas grades, luzes vermelhas começaram a piscar na penumbra do corredor e um grito ensurdecedor de sirene ecoou pelas paredes. Dallas riu ao ver os aurores, Comensais, o que cacete eles fossem, aqueles que despertaram mais cedo do efeito do Encanto, tropeçando uns nos outros enquanto eram pegos nas armadilhas instaladas por Davon e Patrick, cortesia das Gemialidades Weasley. Afinal, eles entraram no Ministério pela porta da frente e o plano era sair pela porta da frente.
Bruxos e bruxas os miravam com ódio e Dallas ainda fez um gesto obsceno de despedida para eles, antes do elevador dar um tranco e sumir na escuridão do fosso. O trio agiu de forma rápida neste curto percurso que tinham até o átrio. Davon jogou a sua capa sobre Lorraine, a mesma carregada de feitiços de camuflagem, o bastante para evitar olhares mais longos e curiosos. Dallas transfigurou os seus cabelos para algo mais longo e negro, os seus olhos ficaram de mesma cor e ela deu a si mesma traços menos marcantes. As novas roupas foram inspiradas no guarda-roupa dos Comensais e percebeu com surpresa que tinha usado Bellatrix como molde para o seu novo disfarce. Patrick e Davon fizeram o mesmo, mudando roupas, cabelos, olhos e fisionomia. A porta do elevador abriu no átrio, Davon segurou no braço de Lorraine, ainda meio zonza com tudo o que acontecia e sob um feitiço de silêncio por garantia. Seria muito arriscado ela voltar a si no meio da fuga e começar a fazer perguntas que atrapalhasse o plano.
No átrio a situação era a mesma que o quinto andar do subsolo. Luzes e sirene soavam e discretamente Patrick deixou rolar pelo chão algumas bombinhas de fumaça tonteante. As mesmas explodiram às costas deles, que apertaram o passo. A correria ao redor deles camuflava a passagem do trio e foi com alívio que eles chegaram as lareiras de flu e foram cuspidos para os pontos de entrada trouxa do Ministério. Dali, eles desaparataram diretamente na rua principal de Godric's Hollow.
— Ela precisa que Aurora autorize a entrada dela na casa. — Patrick explicou enquanto eles desfaziam os feitiços de transfiguração aplicados.
— Você está falando daquela Aurora? — Dallas apontou para a auror que vinha na direção deles, fumegando de raiva.
— O que deu em vocês?! — o tom de Aurora saiu esganado, como alguém que queria gritar, mas ao mesmo tempo não podia, para não chamar a atenção. — Quem é esse? — ela ao apontou para Lorraine que remexia-se de forma frenética dentro da capa, tentando retirar esta. Aparentemente ela recuperou o controle sobre os próprios sentidos.
— Davon? — Lorraine disse surpresa ao finalmente desfazer-se da capa e mirar dentro dos olhos amendoados do filho. Davon deu um minúsculo sorriso para ela.
— Está a tudo bem, mãe. — explicou, a tocando nos ombros e ao longo dos braços, em um gesto de conforto. — Você está segura.
— Segura? — ela olhou a sua volta, ao cenário que não era mais a sala de julgamento do Ministério, olhou para os rostos de Patrick e Dallas e então voltou a atenção para Davon, o encarou por um segundo e então estalou um tapa dolorido na bochecha dele, deixando as marcas vermelhas de seus dedos na pele pálida. — O que cacete você tinha na cabeça?! Você já deveria estar longe, no continente, com o seu pai e irmãos! Eu falei que não era para vir atrás de mim! — e então ela começou a estapear Davon onde lhe era possível. Davon, por seu lado, encolhia-se, tentando fugir da agressão enquanto resmungava coisas como "para, mãe!", "'tá maluca?!". Dallas e Patrick seguraram risadas enquanto viam de camarote Davon apanhar de uma mulher que mal chegava-lhe ao ombro em altura e parecia ser capaz de levantar vôo ao menor sopro da brisa.
Quando deu-se por satisfeita, Lorraine afastou-se, com as bochechas vermelhas e respirando pesadamente. Davon estava descabelado, desarrumado, completamente descomposto. Ao perceber que não apanharia mais, empertigou-se o máximo o que o seu orgulho ferido permitiu, ajeitou como pôde cabelo e vestes, pigarreou para soltar as palavras de sua garganta e então fez as apresentações formais.
— Dallas, Patrick, minha mãe: Lorraine Delacroix Yale.
— Delacroix? Das Importações Delacroix? — Dallas perguntou e o rosto de Lorraine mostrou surpresa por ter o nome reconhecido.
— Conhece a minha família? — a resposta de Lorraine veio em outra pergunta.
— Dallas Winford. — Dallas apresentou-se e pela expressão de reconhecimento no rosto de Lorraine, isto foi explicação o suficiente sobre de onde Dallas conhecia a família Delacroix.
— Acho melhor levarmos esta conversa para um lugar menos público, concordam? — Aurora comentou. — Vocês três vão na frente enquanto eu garanto que Lorraine é quem ela diz que é.
— Como é? — Davon protestou, considerando a insinuação de Aurora pura ofensa. Ela não via o estado deplorável de sua mãe que apenas em poucas horas nas mãos do Ministério parecia que este tinha sugado todas as forças dela?
— Davon. — Lorraine disse com a voz firme, a voz de uma mãe repreendendo o filho rebelde. — Está tudo bem. Vão na frente. — Davon hesitou, mas Patrick o segurou pela mão e o puxou com força para a casa. Quando entraram nesta, encontraram Annabeth parada no meio da sala, com uma expressão de pouquíssimos amigos no rosto.
— O que vocês tinham na cabeça?! — esbravejou e Patrick encolheu os ombros na reação de sobrevivência típica de um filhote prestes a ser devidamente disciplinado pela mamãe leoa.
E então Annabeth começou um longo e fervoroso sermão sobre irresponsabilidade, sobre atitudes egoístas e impensadas. Algo tão eloquente e pertinente que até mesmo Dallas sentiu vergonha de seus atos e abaixou a cabeça para o sermão de Annabeth.
— E, ainda sim, — o tom de Annabeth havia acalmado depois de cinco minutos de discurso. — o que vocês fizeram foi extremamente corajoso. Estou orgulhosa de vocês. — e abraçou os três contra o seu corpo, para depois soltá-los e dar um tapa estalado na nuca de cada um. — Mas não me façam isto de novo!
— Sim, senhora. — Dallas, Patrick e Davon disseram em uníssono.
— Eu só estou curiosa em saber como vocês conseguiram isto, entrar e sair do Ministério sem um arranhão. — Aurora perguntou ao entrar na casa acompanhada de Lorraine. Aparentemente a sr. Yale havia passado nos testes da desconfiada auror Gordon.
Dallas, Patrick e Davon deram à ela largos sorrisos que não eram nada angelicais, e então desataram a contar o seu mirabolante plano de resgate. Ao final do relato, Liam e Pietro, que haviam juntado-se à eles na sala, os miravam com clara admiração.
— Eu não sei se bato em vocês ou os recomendo para uma Ordem de Merlin. Isto se o Ministério ainda der Ordens de Merlin. — Aurora comentou com deboche enquanto Annabeth rodava pela sala servindo chá para acalmar os ânimos de todos naquele momento.
— Isto foi brilhante e pode ser usado como exemplo. — Pietro comentou enquanto recolhia a caneca de chá oferecida pela mãe. — A simplicidade pode ser a arma para conseguirmos evitar um massacre maior.
— A simplicidade deu certo neste momento. — Liam interveio. — Mas não teremos tanta sorte da segunda vez. O Lorde das Trevas e seus seguidores são adaptáveis, eles irão, em um ponto, perceber nossos planos e adaptarem-se à eles. Dallas teve sorte, mas isto não quer dizer que o Ministério já não tenha percebido o que realmente aconteceu.
— Nós não podemos simplesmente deixar que o Ministério continue capturando bruxos inocentes assim e os mandando para Azkaban. — Patrick protestou e Dallas soltou um ruído do fundo da garganta que era puro escárnio. — O que foi? — porque Patrick conhecia aquele som, era o ruído que ela fazia quando estava julgando a competência de alguém e ele detestava quando este barulho era direcionado para ele.
— Inocente da sua parte em achar que a prisão é o destino final desses bruxos "culpados". — Dallas explicou com tom claro de deboche. — Azkaban é a nova Auschwitz.
— Ausch… O quê? — Patrick soltou, com extrema confusão.
— Essa mania dos bruxos de ignorarem tudo que acontece no mundo fora das barreira mágicas é irritante. — Dallas continuou, completamente frustrada. Ela esperava mais do amigo, Patrick era tão inteligente quanto ela. — Auschwitz foi um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial, para onde todos aqueles pertencentes a minoria e quem Hitler considerava uma ameaça a pureza da raça ariana eram enviados para serem mortos. Este cenário soa familiar para você?
— Por curiosidade, quantas pessoas morreram neste cenário? — Patrick perguntou, embora soubesse, lá no fundo, apesar de seu desconhecimento pela História trouxa, de que a resposta não era agradável.
— Milhões. — foi a resposta de Dallas e Patrick empalideceu e precisou apoiar-se no encosto da cadeira onde Lorraine estava, porque a falta de oxigenação no cérebro diante desta revelação o deixou tonto.
— Nós precisamos impedir isto! — ele disse com veemência e rodou os olhos pelos rostos daqueles presentes na sala, esperando encontrar neles concordância com as sua palavras. Dallas, como sempre, era avessa aos padrões e apenas arqueou uma sobrancelha para ele, em um gesto controverso. Davon, infelizmente, pela cara que fazia, parecia concordar com a garota.
— Como, posso saber? — Davon questionou. — O Ministério, Você-Sabe-Quem, está um passo à frente de nós nesta questão visto que ele tem acesso aos arquivos do Ministério, aos registros de todos os nascidos-trouxas do Reino Unido. Não será fácil roubar deles esses dados e nem aconselho a fazê-lo. Liam tem razão, nós tivemos sorte ao resgatar a minha mãe, mas não teremos esta sorte de novo se formos roubar arquivos sigilosos do Ministério.
— Não exatamente. — Aurora interrompeu o discurso de Davon. — Hogwarts tem uma cópia deste arquivo. Afinal, todos os bruxos do Reino Unido vão para lá.
— E você sugere o quê? Que roubemos esses arquivos de Hogwarts e os usemos para resgatar nascidos-trouxas? — Davon completou em um tom de deboche. Aurora foi da Grifinória, então a compulsão em se meter em situações que eram uma furada fazia parte do DNA dos integrantes e ex-integrantes da casa.
— É uma sugestão válida. — Davon mirou Dallas com surpresa ao ouvir a concordância dela. — O quê? Você não achou que eu realmente iria ficar parada aqui, de braços cruzados, como uma donzela esperando o amado voltar da guerra, achou? — Davon riu. Claro que não achou isto, a imagem de uma donzela em perigo sendo associada à Dallas nem era processada pela mente dele de tão absurdo que era o cenário.
— E como você sugere que entremos em Hogwarts? — ele rebateu, com a petulância e teimosia que estava entranhada no DNA dos sonserinos. Dallas sorriu de forma debochada para ele, como resposta.
— Quem disse que você está incluído nesta missão? — ela trocou um olhar cúmplice com Patrick, que a respondeu com um sorriso traquinas.
— E o que os fazem pensar que nós vamos permitir que vocês façam isto? — Aurora interrompeu qualquer plano mirabolante que Dallas e Patrick estivessem armando só com aquela troca de olhares. A sintonia que existia entre eles dois às vezes era assustadora.
— Você vai deixar. — Patrick pronunciou-se, interrompendo o protesto da irmã, e da mãe, que havia aberto a boca para também tecer um comentário. Ele não estava mais pálido e chocado, a sua expressão era firme e decidida e ele havia empertigado-se de modo alcançar a sua altura completa e o vendo assim, com aquela postura, aquele olhar, Aurora foi arrebatada pela realidade que lhe dizia que não era mais um menino que estava na sua frente, o menino para quem ensinou os primeiros feitiços, à quem tentou ensinar a surfar, que ensinou a voar na vassoura, quem treinou nos últimos anos, ali agora estava um homem. — Você vai deixar porque você não tem outra opção. — e esta era a dolorosa verdade, não é mesmo? Estavam em guerra e estavam ficando sem opções.
— E como vocês pretendem entrar em Hogwarts? — Pietro questionou em um tom de desafio e Dallas e Patrick trocaram outro olhar cheio de significados.
— E então, Patrick. Disposto a voltar às aulas este ano? — Dallas disse em um tom que misturava deboche e traquinagem.
— Não estava a fim não. — Patrick respondeu no mesmo tom de Dallas e com um balançar displicente dos ombros. — Mas terei que ir mesmo. Então, fazer o quê? — e foi assim que no dia 1° de Setembro eles embarcaram no Expresso de Hogwarts, para a surpresa de seus colegas.
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