Artemis escrita por Camélia Bardon


Capítulo 27
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Leiam as notinhas finais! É de coração ♥



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───── ⋅ cinco meses depois  ─────

Eu gostaria de dizer que meu retorno à Vegas e Sedona foi completamente pacífico e/ou repleto de glória e sucesso. Infelizmente, desde que o mundo é mundo, nem tudo sai conforme o esperado. Para ser realista, pouquíssimas coisas saem de acordo com a expectativa que criamos. Parte disso somos nós que chegamos de mala e cuia com expectativas erradas sobre uma situação. Mas, por exemplo, nesse caso, poucas pessoas em Vegas ficaram sabendo da problemática Artemis-Diana. Com exceção dos meus antigos patrões, é claro. Já em Sedona, a história foi outra. Lá, que eu gostaria de simplesmente passar batida...

Bem, era normal, até. Mesmo antes de eu me identificar como Artemis, Nora Fox já era de Sedona. E, se parar para pensar que eu e ela ficamos um semestre inteiro em Florença, era tempo suficiente para a fofoca se espalhar. E se refazer. Alguns sites sensacionalistas bem que tentaram descobrir alguma coisa que a incriminaria, mas como Nora só tinha o avô foi tempo perdido. Eu, como tinha pais e uma irmã, o negócio foi feio.

Segundo Donna, minha mãe até tinha tentado tirar proveito da situação, mas quando admitiu que não possuía nenhuma informação exclusiva, todo o interesse da mídia minguou. Meu pai, como de costume, não fez nada – eternamente em cima do muro, não a impediu e também não colocou lenha na fogueira. Torço para que ele algum dia seja menos dependente da mulher.

Enfim. Eu não podia simplesmente fingir que meus pais não existiam e que eu não tinha ido para a Itália do nada e escondido um segredo daqueles deles, que eram as pessoas que mais me apoiavam na vida. Sei. Grande segredo, eu ter uma máquina de escrever em casa. E fazer um painel de ideias no quarto. E ter ganhado uma medalha na escola por um conto do Clube do Livro. Quem diria?

Fosse como fosse, eu dei sinal de vida. E eles ficaram possessos. E então pedi a Donna para que pudesse ficar um pouco com ela até a poeira abaixar. Um lugar para eu e Nora, por favor.

Ela se mostrou verdadeiramente surpresa com o meu contato súbito, mais ainda por eu ter ido até ela completamente dócil. Não que eu fosse agressiva antes, não. Mas alguns meses longe da minha irmã se mostraram um grande divisor de águas, no final das contas. Confesso que algumas lágrimas rolaram. Então, ficamos eu, Nora, Donna e o Trambolho em Reno. Uma beleza, não acha? Sair de um badalo para parar em outro?

Donna é uma excelente advogada. Portanto, quando eu também pedi que fosse minha gerenciadora, ela ficou duplamente surpresa. E eu pontuei tudo muito bem: salário compatível, horário flexível. Ela ficou boquiaberta – literalmente. Jamais tinha visto Donna Davies boquiaberta, então dei esse pontinho para a Artemis. Nora nos deixou a sós para resolvermos as problemáticas e anotarmos todas as propostas das editoras, enquanto ligava para o namorado.

Surpreendentemente, recebi uma mensagem privada de T. Kyrell pedindo meu contato pessoal, porque já havia passado da hora.

Bem, tudo isso aconteceu quando coloquei os pés em Sedona. É claro que mais coisas aconteceram. Como me defini para os entrevistadores da quase badalada Editora Outsiders – eu deveria ficar com medo da referência ao Stephen King? –, eu era uma escritora versátil. Acabara de terminar um romance policial e agora estava avançando para um romance literal. numa casa onde ninguém desfaria meu quadro de planejamento.

Tudo estaria perfeito, exceto...

Exceto que Elio ainda estava longe de mim.

Ah, certo, eu não era exatamente a pessoa romântica e melosa e corações por toda a parte, mas... Tudo bem, tudo bem, eu também nunca precisei ficar longe de alguém que eu amava, para início de conversa. Parte de mim queria agir como Nora, que ligava para o namorado dia sim dia não, mas diferentemente dela, eu tinha um plano – se ele iria dar certo ou não, era outra história. Colocando em prática meu plano secundário de não tentar agir como as outras pessoas só porque a ideia parecia mais agradável, eu atribuí a mim mesma a tarefa de ser carinhosa para o momento certo.

Eu tinha pena da Nora. Quer dizer, eu tinha um plano. Ela iria penar até conseguir ficar com o namorado. Até arranjar um emprego decente e avançar para um posto maior do que “namoro à distância”. Porém, como ela mesma havia me dito, isso eram coisas que cabiam apenas a ela e Reid resolverem. Tentei não culpar por isso.

Portanto, quando assinei com a Outsiders e recebi o valor parcial pela publicação, guardei todo o dinheiro que pude – exceto o da contribuição para a moradia com Donna e o seu salário como minha gerenciadora – para guinar minha vida e comecei a fazer muitas pesquisas. E, após o livro passar pelo processo de revisão, edição e anúncio de publicação de Meia-Noite e Quinze, eu mandei a dedicatória e a sessão de agradecimentos em anexo por pedido da editora. Eles tinham algumas normas com diagramação, fazer o quê? Vou deixá-las aqui para deleite coletivo.

 

Para Garrett Fox, que me ensinou o que era o amor. O senhor tinha razão: ele não é nada óbvio, mas vale toda a paciência.

 

Agradecimentos

Sempre fui terrível com finais, então imagine só com o começo secundário de um final secundário. Bem, isso definitivamente fez mais sentido na minha cabeça, mas... Chegamos à parte do livro em que a maioria pula e a minoria – a qual eu também dedico todo meu “muito obrigada” – mantém-se atenta para sentir-se mais conectado ao autor e para saber se algum personagem foi inspirado em pessoas reais. Foi a parte mais difícil de ser escrita, mais até do que os assassinatos. A morte é mais fácil de ser descrita do que a vida, afinal.

Depois de você, querido leitor, eu gostaria de agradecer à todos os meus leitores que me acompanham nas plataformas digitais desde 2016, quando publiquei Rosas Selvagens. Eu não estaria aqui se não fosse por vocês. Em especial, à T. Kyrell, por me deixar o primeiro comentário me incentivando a continuar escrevendo mesmo quando eu ainda não sabia que precisaria disso como oxigênio. E também ao meu avô, o sr. Fox, que foi o primeiro a me impressionar com uma máquina de escrever. E aos meus pais, que não a jogaram fora se sabe lá por qual milagre divino.

À Nora Fox, que me serve de leitora beta, auxiliar de brainstorm, melhor amiga e irmã. E eu mesma, quando ainda não era eu mesma. Uau, que coisa mais fragmentada, não acha? Eu amo você.

Donna, minha gerenciadora, agente literária e irmã em tempo integral; Violet Müller, minha editora (que fez eu me sentir em casa); Katleen Romero, por me ajudar a preencher os furos no enredo e perdoar as falhas de caráter do agente Kobe Sullivan; indiretamente, à Jeffery Deaver e Lincoln Rhyme, por terem me inspirado em sua narrativa policial; e, por último e definitivamente não menos importante, ao pessoal da Outsiders que atua nos bastidores e ainda não tive o prazer de conhecer. Principalmente aos designers – obrigada por entenderem de Photoshop para que eu não precise entender.

Agora, meu “obrigada” com coraçõezinhos vai aos meus amigos que fiz em Florença: Annabella (por seu bom humor), Fanny (por seu instinto) Kiera (por sua coragem), Mabel (por sua doçura), Paolo (pelas viagens e por desbravar a bela Florença comigo), Prince (por sua perseverança), Reid (por ser você mesmo) e Sariyah (por ser a personificação da sabedoria).

E, meu “obrigada” tímido com flechas do Cupido e emoji com olhos de coração: Elio, você é meu sol. Obrigada por existir. Ti amo. Muito mais do que as palavras conseguem dizer. Espero que possamos compensar a falta de palavras com ações em breve.

 

E agora, com vocês, meu grande plano. Permitam-me ser um pouco romântica demais.

E um pouco pretensiosa, também.

•·················•·················•

Tudo começou quando Elio disse “se parar para pensar, uma divisão de bens resolve a maior parte dos problemas”. Primeiramente, como era de se esperar, eu fiquei completamente constrangida com sua colocação. Quer dizer, seu namorado fazendo uma alusão a juntar os trapinhos é de fazer o coração dar um pulo olímpico, não é? Mas então eu pensei...

É mesmo. Por que não?

Durante o tempo em que esteve em Florença, Elio fez viagens para garantir sua dupla cidadania. Ainda me lembro de seu estresse com as pilhas de documentos – e ele foi extremamente esperto em resolver dois problemas de uma vez, porque a residência gratuita em Florença lhe garantiu uma bela economia – e com as visitas ocasionais à prefeitura. Tudo isso contribuiu para que ele se tornasse mais um cidadão italiano do que um autor.

Então, se Elio fez isso para mudar-se definitivamente para Palermo para viver perto de Fanny, e disse que era frustrante que eu não estivesse por perto, eu pensei... Bem, eu não sou italiana. Na verdade, meu pai é inglês e minha mãe é hispano-americana. Não posso ficar aqui mais tempo sem burocracia, porque não tenho emprego estabelecido aqui e nem sou casada com um italiano...

Ou eu poderia vir a ser...

Não pensei só em mim. Pensei em Donna, que queria ter sua liberdade fora da sombra da irmã problemática. Em Nora, que agora tinha encontrado o amor da sua vida e provavelmente iria querer passar a vida ao seu lado – ao mesmo tempo, não iria querer me deixar sozinha. Tanto é que, quando compartilhei minhas intenções com ela, Nora abriu um sorriso de quem pensa que está diante da ideia do século. Não era para tanto, mas confesso que fiquei bastante feliz com sua consideração.

Então, quando o valor parcial pela publicação de Meia-Noite e Quinze foi depositado, avisei a Elio que quando quisesse realizar seu american-italian teenage dream, eu estava pronta.

E, é claro, ele respondeu na mesma hora.

Com um belo addio arrivederci,  America, Elio permitiu que eu pagasse sua passagem de avião de Nova York para Las Vegas. E eu, mesmo odiando Las Vegas, prometi a mim mesma que também sairia em grande estilo.

Veja bem, depois de algum tempo olhando casamentos nas capelas com reverendos vestidos de Elvis, a gente fica curioso em saber qual é a graça. E, depois que eu descobri que desde que você tivesse um documento com o registro do cartório, o casamento era válido. Então...

Quando Elio chega e se hospeda na casa de Donna – depois de um abraço de urso de Nora, uma bela recepção da minha parte e um aperto de mão cuidadoso na dona da casa – eu anuncio que faríamos a Katy Perry em Waking Up In Vegas.

Não sei quem fica mais boquiaberto.

— Está falando sério? — Nora é a primeira a reagir, após Elio bater de leve em seu queixo para fechar a boca. — Tipo... Com o Elvis e tudo?

— Sim.

— Quando?

Eu checo o horário.

— Hoje mesmo. À noite.

— Ela ficou louca — Nora comenta com Donna, sentada ao seu lado no sofá. Ainda boquiaberta. — Doida de pedra.

Donna dá de ombros, afastando os cachos da frente do olho.

— É legal. Se eles já marcaram o horário, é só ir e casar.

— Sim.

— E já marcaram horário?!

— Há duas semanas — Elio responde o tênis de mesa. — Relaxa aí, Madame Nor-r-ra.

Nora gargalha, cruzando as pernas para desamarrar os tênis. Em menos de um minuto, ela cria um convite no Zoom e manda para o nosso grupo intitulado “Florença (emoji de arco-íris)”. A comoção é instantânea.

— Eu tomo banho primeiro! Tenho que depilar a perna!

— Ah, mas que... — Donna resmunga. — Passe o rodo no banheiro, se eu achar cabelo no meu ralo nós vamos nos ver!

Não posso evitar rir. Donna tem suas rabugices características, mas aprendi a conviver com elas – e até mesmo a amá-las com o tempo. Por exemplo, quando Nora corre para “se apossar” de seu banheiro, Donna abre um sorriso de escanteio. Entretanto, ao voltar-se para eu e Elio, estreita os olhos e pronuncia as palavras com calma e dignidade:

— Escuta só, bonitinho, se você magoar a minha irmã, eu vou até a Itália quebrar a sua cara.

— M-Meu Deus — Elio gagueja, e eu consigo ver seu pomo-de-adão subir e descer. — E-eu vou...

— Donna, pega leve, ele é muito bonzinho — sorrio para ela para agradecer pela atitude protetora. — É mais fácil eu magoar ele do que o contrário.

— Então, nesse caso... Se magoar o menino bonzinho eu vou até a Itália quebrar a sua cara. Estamos avisadas. Olhe que eu sou advogada, eu te processo!

Rio um tanto para dentro, confirmando com a cabeça. Em seguida, seguro a mão do meu agora anunciado noivo e me recosto no ombro da minha irmã.

— E então, onde é que está o Trambolho?

•·················•·················•

O reverendo Elvis canta Can’t Help Falling in Love a meu pedido, apesar de essa escolha me ter feito chorar e o pobre juiz de paz pensar que eu estava sendo coagida a me casar. Nada me ajudou a gesticulação toda, e Nora e Donna desesperadas para traduzir tudo nos seus conformes, o reverendo Elvis finalmente me casou com alianças de bijuterias – afinal, no momento em que estávamos, era impossível comprar alianças de ouro – e eu me tornei, honorariamente, Diana Davies-Marino.

Muito chique, francamente. Nosso público via Zoom concordou com um assovio descoordenado e potencialmente cacofônico, mas nenhum de nós ligou para isso.

Meu vestido de noiva – e emprestado novamente de Nora, e dessa vez acredito que para sempre – era o mesmo de nosso primeiro encontro, o branco com margaridas estampadas, e quando atiro o buquê para trás, ele acerta direto no meu celular que estava apoiado no banco para transmitir a cerimônia.

Foi um desastre.

Mas amei cada segundo.

Bem, um quarto de hotel não era exatamente o melhor lugar para passar as núpcias, mas aparentemente o gerente de onde eu trabalhava se arrependeu amargamente de não ter “reconhecido o talento nato” que eu era na época – duh, eu usava um pseudônimo – e me oferece um ótimo desconto na estadia. Dançamos conforme a música e dizemos para deixar o passado no passado. Porque algumas pessoas claramente só te tratam bem quando acham que tem algo a ganhar com isso. O que ele esperava meu ou de Elio, eu não sei, mas por via das dúvidas anoto o nome dele para enfiar em qualquer próximo agradecimento.

Acenamos para nossos amigos virtualmente, Reid promete que arranjará algum presente como padrinho autointitulado, Donna enxuga uma lágrima discreta e Nora volta para casa para ser sua nêmesis secreta.

Eu prevejo uma grande amizade surgindo ao horizonte. Eu disse que eu precisava de mais amigos, mas a verdade é que Nora também só tinha crescido comigo em seu encalço. Era bom que ela saísse de nossa bolha também.

— Elas duas vão dar grandes amigos — Elio comenta, me dando um susto daqueles. — Que foi?

— Acabei de pensar isso.

— Droga, logo quando achei que tinha conseguido disfarçar minha mutação...

Rio junto a ele, permitindo que enlacemos nossas mãos no elevador. Meu véu está patético e bagunçando todos os cachos, e minha maquiagem está borrada do evento Can’t Help Falling in Love, mas para Elio que já me viu em piores estados acredito que não seja nada demais.

— Eu amo você — sorrio para ele sentindo o coração palpitar de emoção. — Sabia disso?

Ele olha para a mão com a aliança e solta um “meh” que me faz responder com uma falsa cara de indignação.

— Eu acho que ninguém pede alguém em casamento de uma maneira tão efusiva se não estiver meio tantã das ideias, sabe?

— Ah, não. Eu quero o divórcio.

Elio gargalha, me empurrando de brincadeira contra o elevador. Sorrio para ele, feliz de tê-lo ao meu lado. Cinco meses são muita coisa, afinal de contas. Eu, se pudesse, libertaria o meu lado safado, mas era de muita falta de noção – em nome da minha eu camareira, eu teria respeito.

— Não tivemos muito tempo para conversar, não foi? — Elio indaga em tom gentil, afastando o véu do meu rosto. — Planejou tudo isso, Diana?

— Só metade. O celular caindo foi uma surpresa e tanto.

— E o choro. Acho que não dá para chorar programado, dá?

— Ah, dá. Se me pagarem eu choro em funeral.

Ele ri muito, me arrancando um sorriso.

— Ainda não terminei os livros da Elena Ferrante. Perdoe-me.

— Impossível. Quero o divórcio.

— Palhaço! Senti sua falta, sabia?

A porta do elevador se abre, e pisamos a passos firmes pelo corredor do hotel. É tão curioso estar do outro lado da história... E pensar que finalmente chegou minha vez, minha chance de ser feliz e de fazer outra pessoa feliz...

Ah, céus. Eu mal posso esperar para viver.

— Tenho um palpite! — ele abre o quarto com o cartão, me deixando curiosa ao extremo. Quanta diferença dos nossos quartos tão simples de Veneza... — Espero que não aconteça de novo. Fanny está ansiosa para vê-la novamente, também... Já fizemos todo um roteiro de passeio por Palermo.

Assinto com a cabeça, suprimindo um sorriso. É um sentimento muito agridoce saber que alguém sente sua falta.

— Com comida?

— É claro que sim! Que tipo de namorado eu seria em programar um passeio e não incluir comida?

— Esposo — ergo meu dedo para indicar a aliança. — Já era.

— Que pena... — ele suspira, melodramaticamente. — Eu já ia pedir divórcio de novo.

Aproveito o momento a sós para lhe dar um beijo suave. Ainda preciso retirar aquele véu danado, mas tudo a seu tempo.

— Como vão as coisas com os seus pais...?

Elio morde o lábio, pensativo. Não posso evitar. Preciso perguntar. Eu me importo com ele, há certas coisas que eu preciso saber. E se ele não quiser falar muito a respeito, é sua escolha.

— Como sempre, eu acho. Eles me acusaram de estar deixando eles à própria sorte. Sendo que ambos são aposentados. Mas falaram que a Fanny era muito boazinha de me querer com ela. Não mencionei você.

Assinto com a cabeça, soltando os grampos do cabelo. Finalmente, a liberdade...

— Tudo bem. Também não falei de você.

— Quanta rebeldia a nossa, não?

Rio junto a ele, permitindo que ele me enlace pela cintura. Hoje Elio não cheira a limão, mas a colônia pós-barba e algum perfume que tenho certeza que trouxe de Nova York. Nunca vou me enjoar de suas nuances, por mais que ele insista em se menosprezar dizendo que não tem nada de especial.

— Meus parabéns pelo seu livro — ele me rouba um beijo, em seguida distribui alguns pelo meu rosto. Sinto meu estômago infestado de borboletas. — A Orpheus me deu retorno do meu, aliás...

Faço um gesto com a cabeça para que ele fale mais. O safado manteve surpresa de mim todo esse tempo. Disse que queria falar pessoalmente.

— 2 mil cópias na primeira tiragem, no outono — e quando ele sorri, seu rosto se ilumina. E as borboletas se agitam todas. — Sei que é pouco, mas para um primeiro contrato é mais do que muitos iniciantes conseguem. Ainda tenho muita pesquisa a fazer, mas acho que esse tempo em Palermo vai fazer bem... Sem estresse, com uma bela esposa do lado...

Sinto minhas bochechas inflando-se em vermelho vivo. Acho que eu nunca iria me acostumar com seus elogios. O bom é que sei que ele não vai tentar ganhar nada comigo, pois... A surpresa é: eu já estou num abismo por esse homem há tempo suficiente. Não posso evitar me atirar num abraço, que ele segura com certa dificuldade.

Se caísse na cama, eu também não acharia ruim. Ora, ora.

— Maravilha! Elio, que maravilha! Isso é maravilhoso!

— Não é? Obrigado pelo apoio — ele sorri, acariciando minhas bochechas. Pobre do meu coração. — Não estaria aqui se não fosse você... Literalmente...

Rio para dentro. Quem diria que um dia eu seria uma sugar mommy...

— Não foi caridade...

— Sei disso — ele objeta, num tom gentil. — Ainda assim, quero que saiba que vou retribuir isso algum dia. Não necessariamente de forma monetária.

— Aceito amor e carinho.

Elio ri generosamente, finalmente rodopiando comigo no quarto até a cama.

Que sensação maravilhosa é ser amada.

E amar de volta.  

— Nenhuma exigência? Poxa, eu devia ter pensado num contrato pré-nupcial...

— Não!

— Ok — ele sorri, iluminando agora o meu rosto. Ou deve ser a lua passando pela janela. Ou é só o meu filtro de “estou enxergando tudo bonito porque estou apaixonada” fazendo seu trabalho. — Ei, Di... Eu posso te perguntar uma coisa?

Afirmo com a cabeça, arrumando seu cabelo bagunçado. É menos cacheado que o meu, mas mais rebelde. Tanto é que o afasto para nada, porque ele volta a cair sobre os olhos.

— O que é que você ouviu daquele casal em Florença? Você pareceu estar num estado de epifania enorme...

Apoio-me nos cotovelos, e ele faz o mesmo. Eu o amo por sempre me dar atenção às coisas que digo, por mais simples ou entediantes que sejam.

— Foi um diálogo. A mulher disse “não dá para comprar amor, a-m-o-r-e m-i-o” — tenho de colocar letra após letra, afinal minha linguagem de sinais é americana. E ele, coitado, não é fluente ainda.

— Tipo aquela música dos Beatles?

— É. Aí ele respondeu “você não diria isso se eu fosse milionário, diria?”.

Ele cai na gargalhada, e faço o mesmo sem esforço.

— Então pensei em te “comprar”. E fiquei pensando como seria uma pessoa que compra o amor. As vantagens, as consequências...

— Daria para escrever um livro sobre isso.

— É. Foi o que pensei também.

Ele ergue a sobrancelha, e faço o mesmo. Acredito que ele consegue ler minha expressão, porque comenta apenas:

— Touché. Eu já disse que você é maravilhosa, senhorita Artemis?

— Hoje não — sorrio fácil. — É para combinar com você.

Elio me beija, protagonizando nosso próprio eclipse total.

Não tenho como garantir que seremos felizes para sempre. Mas, se depender de mim, farei tudo que for possível para que as coisas continuem assim. E se não continuarem, também...

Quem é que nos impede de começar de novo?

Não era exatamente isso que erámos? Um recomeço?

Bem, vocês sabem o que todo mundo diz.

O que acontece em Vegas...


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Notas finais do capítulo

Para contextualizar as referências:
— Waking up in Vegas, Katy Perry: https://youtu.be/1-pUaogoX5o
— Can't Help Falling in Love, Elvis Presley: https://youtu.be/vGJTaP6anOU
— Can't Buy me Love, The Beatles: https://youtu.be/h3WJiqc_bEs

É isso! Chegamos ao final depois de dois anos (ufa!) ♥ Espero de coração que vocês tenham gostado desse surto que foi Artemis. É uma história pela qual eu tenho muito carinho e que me ajudou a passar por momentos difíceis sem perder a esperança das coisas. Grande parte disso se deve ao apoio que vocês me deram, seja acompanhando, favoritando ou comentando. Em especial, agradeço à Dara Romana, EsterNW, IsahDoll e JN Silva, que comentaram em algum ponto da história - se você for só um fantasminha, fico igualmente grata (◍•ᴗ•◍)❤

Agora, como o jabá também é bom, se você não conseguir dizer adeus para Artemis por completo, se interessar a você estou escrevendo outra original que está na mesma vibe da história. Ela se chama "Inventei Você?", é da trope "fake dating" e "friends to lovers" e você pode conferir ela através desse link: https://fanfiction.com.br/historia/805110/Inventei_Voce/

Novamente, muito obrigada a você que acompanhou até aqui, nos vemos numa próxima!



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