Por muito tempo, aceitei que o universo lá fora não passava de um amontoado de matéria inóspita e reciclada para outras formas de vida se apoderar, evoluir e se imortalizar longe da pequeneza de nós humanos que chegávamos raramente aos cem. O que é cem anos para um ser que vive mil, afinal de contas?

O universo, em si, é um grande concerto de quatro horas. Uma orquestra majestosa que sabe conduzir seus crescendos e diminuendos com maestria, ainda que cada geração nossa participe de um movimento de cinco minutos desse concerto. Participamos muitas vezes com uma breve nota ou uma breve pausa, e nos contentamos com isso.

Mas e quanto aos universos aqui dentro? Sim, os universos dentro de nossa redoma atmosférica. Por que não falamos deles? A resposta é bem menos poética, aliás. Não falamos sobre os universos terrenos porque raramente temos a oportunidade de desbravá-los nós mesmos.

Carl Sagan disse uma vez que “cada um de nós é, sob uma perspectiva cósmica, precioso”. Por que então não poderia ser dito que, uma vez que passamos tão pouco tempo aqui, somos consolados com um universo interior completo para cultivar?

Veja bem. Por mais que haja semelhança entre algum humano aqui e ali, nunca nascerá alguém que seja igual a mim. Ou você. Ainda que eu – ou você – seja uma existência caótica, repleta de explosões estelares, continua a existir um concerto inteirinho reservado para cada um de nós. Nossa gênese é um primeiro movimento de alguns minutos. Nossos dias críticos, difíceis de suportar, são crescendos. Consequentemente, nossos momentos de calmaria formam os diminuendos. E cada particularidade, cada relacionamento e acontecimento compõe uma nota no concerto individual de cada ser. Então, mesmo que haja caos, é algo belo.

Quando sentir-se sozinho, lembre-se de que há quem admire os universos e as lindas orquestras, ainda que sejam apenas visíveis com o coração. E se não houver quem escute seu concerto, coloque fones de ouvido e aprecie você o trabalho do artista! Não pule a música do coração se alguma nota sair desafinada. Muitas vezes, o último movimento de uma peça é o melhor, porém ele perde a essência se o começo e o meio não forem assistidos.

Um milhão de estrelas compõem um universo, mas universos são extensos. Portanto, se duas estrelas colidirem não se culpe por isso não estar em seu alcance. É um evento, não um todo. Apesar de nossas grandiosidades, continuamos sendo humanos – pequeninos e frágeis. Então, permita que as partículas das estrelas que colidiram se transformem em novas. Nenhum compositor apresenta uma peça sem antes corrigir seus rascunhos. Contanto que seja o melhor trabalho que conseguir, não importa se não agradar a todos: será o suficiente. Afinal, nem todos podem ser prodígios musicais. Imagine lidar com um milhão de estrelas sem antes aprender a fazer isso?

Como eu sei de tudo isso? A resposta para essa pergunta é bem menos poética, aliás. Eu sei, porque já fui uma dessas estrelas que colidiu com outra e agora está se refazendo em meio às outras. Ainda sou uma nota em rascunho, que não encontrou seu lugar na partitura, e não reluzo como as outras estrelas. Porém, sei que isso vai acontecer, pois já brilhei uma vez. Ainda estou viva! E estou apreciando a música ao redor de mim.

E então, gostaria de me fazer companhia nessa constelação? Ouvi dizer que os fundos tem uma acústica incrível.