A Contenda Divina escrita por Annonnimous J


Capítulo 18
Diferenças




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A floresta parecia saudar aos três à medida que os primeiros raios de sol iluminavam as folhas das árvores, que balançavam em uma dança própria enquanto sacudiam o orvalho matinal. Alheio a isso, porém, ia Shura a frente do grupo, brilhando pela magia de cura e resmungando algo para si mesmo de cabeça abaixada e olhar fixo nas talas que pareciam prestes a se desprender de seu braço de tão trincadas. Se sentindo incomodada pelo silêncio que se seguia há tempos e parecia os cobrir como um manto, Mariah resolve quebrar o gelo que se formara.

— Ei, Shura – ela chama, dando um pequeno trote para ficar bem próxima do semideus – o que você tanto fala aí na frente?

Ele levanta a cabeça, como se tivesse acordado de um sonho, a olhando por cima dos ombros caídos.

— Quem, eu? – ele pergunta com o olhar perdido se focando na garota logo atrás de si - Ah, claro, eu penso alto às vezes, só isso.

— E o que você está pensando, então?

— Lembra que eu disse que iríamos para o centro do domo e com a proximidade eu conseguiria sentir a energia que emanava dele?

— Claro, e agora você consegue? – Ela pergunta com os olhos cintilantes, sentindo a animação aumentando.

Ele balança a cabeça afirmando. Mas não parecia feliz, sua expressão era séria e pensativa, ela rapidamente percebe o porquê.

— Se vamos todos para o mesmo lugar, não quer dizer que mais deles vão aparecer para brigar conosco?

— Esse é justamente o problema. – Ele faz um círculo com o indicador e o polegar com ambas as mãos sobre o ombro direito, diminuindo o diâmetro devagar. Maria dividia a atenção entre os dedos grossos do homem e uma das talas que pendulava de seu antebraço quebrada durante a luta – com o adensamento da área, vamos ter cada vez mais lutas e cada vez mais vamos precisar traçar novas estratégias, principalmente com mais de um adversário.

— Mais de um? – Pergunta a garota preocupada, esticando o pescoço para ver as mãos dele agora abraçando uma a outra.

Eyria, que ia mais atrás perdida em algum pensamento que teimava em dançar em sua mente, observa os dois em silêncio enquanto discutiam as possibilidades.

— Sim, - ele continua, com um passo mais lento e um tom de crítica - apesar de não sermos mais humanos, ainda mantemos algumas falhas no nosso caráter, - Shura faz uma pausa para suspirar profundamente, depois continua - a falta de honra é uma delas.

— Não existe honra em sobrevivência, é comer ou ser comido, só existe a inteligência. – Eyria dispara logo atrás deles, em um tom severo e contemplativo. Mariah dá um pulo de susto, pois esquecera da presença da mulher de passos leves e silenciosos.

Shura sorri em escárnio por um segundo enquanto sacode a cabeça antes de responder de forma seca e descrente.

— Claro. – Ele maneia uma das mãos como se espantasse as palavras da mulher materializadas a sua volta.

Mariah, não entendendo o motivo da clara tensão entre os dois, se encolhe um pouco enquanto passa a visão de um para outro, girando a cabeça e abraçando o peito. Porém, ao escutar a palavra “inteligência”, algo lhe salta à mente. Uma estratégia!

— Shura! – Ela o chama puxando seu casaco esfarrapado, com uma faísca nos olhos arregalados – Eu tive uma ideia! E se por acaso nós não fôssemos direto para o centro do domo?

O homem para e se vira para ela, a parada repentina faz com que Mariah colida com seu peito, dobrando o nariz da garota que emite uma dor aguda.

— Ai! – Ela reclama.

Ao olhar para cima, Mariah se depara com dois olhos verdes severos a olhando, como se a julgassem. Ele suspira antes de começar a falar.

— Mariah, eu entendo que você quer ajudar, mas essa ideia é simplesmente absurda, - Ele coloca as mãos na cintura, como se desse uma bronca em uma criança malcriada - o objetivo é justamente ir para o centro, se não fizermos isso a tempo eu, você e a mulher ali morreremos assim que o limite chegar.

— “A mulher ali”? – Indaga Eyria ofendida, cruzando os braços e transferindo o peso de uma perna para outra. Fazia tempo que o clima entre os dois deixara de ser de camaradagem, mas agora parecia piorar a cada segundo.

— Eu sei que parece estranho, mas eu posso explicar... – Fala a garota, se esforçando para não se sentir ofendida.

— Nós já estamos perdendo tempo nessa conversa inútil. – Corta ele de voz áspera e alta, depois, gira nos calcanhares e retoma a marcha – vamos de uma vez.

— Ei! Não fala assim comigo. Eu quero ajudar, que inferno! – Mariah sabia que estava mais exaltada do que precisava, mas o cansaço, a tensão, o medo das batalhas e a raiva do jeito petulante do homem estavam se acumulando nela há tempo demais para ela conseguir se segurar.

Ele se volta para ela novamente.

— Eu sei que quer, mas ajuda não atrapalhando com ideias descabidas como essa. Agora. Vamos! – Shura quase soletra as últimas palavras, ameaçadoramente. Em sua mente, um turbilhão de sentimentos o impedia de perceber o tom em que falava com Mariah, tudo que importava era ir para o centro do domo e acabar logo com aquilo.

De forma quase que instintiva, Eyria avança largos passos, passando por Mariah, a empurrando com uma mão e segurando o homem firmemente pelo braço com a outra, um pouco abaixo do ombro, o puxando para si. A diferença de altura entre os dois era inversamente proporcional ao nível de ira que emanava de seus olhos.

Eyria como sempre compensava sua falta de estatura com a sua ferocidade e Shura, apesar de ter um porte mais forte, parecia se encolher involuntariamente com a presença da mulher.

— Não seja idiota, - ela vocifera a queima roupa, enquanto o sacode pelo braço – pare de bancar o babaca-alfa-sabe-tudo e apenas escute a garota.

Shura agarra a mão da mulher pelo antebraço e a afasta em um movimento rude enquanto a fuzila com os olhos, como se estivesse a ponto de cortar ela ao meio com suas lâminas. Mariah, travada com a tensão repentina, quase podia as ouvir.

— É melhor não me tocar de novo, Eyria – ele brada, fechando os punhos e dando meio passo a frente, ficando cara a cara com a semideusa.

— Ou o quê? Vai chorar? – Ela sibila com os dentes cerrados, o ar entre os dois se enche de estática.

Mariah observava tudo atônita, os dois pareciam a ponto de se enfrentarem ali em sua frente, ela tinha que pensar em algo, mas o terror do combate iminente a impedia de raciocinar.

— Não brinque comigo, mulher – ele dá ênfase de forma negativa em “mulher”, a citando devagar enquanto comprimia a ponta dos lábios ocultas para baixo – você bem sabe que não preciso da sua ajuda.

Shura ensaia apontar o indicador para Eyria, mas esta o afasta tão rapidamente com um tapa que em um piscar de olhos a mão do homem já baixara.

— Não é o que parece, protetor – Eyria muda sua voz para uma infantilizada, enquanto balança as mãos, gozando da posição do homem – mal consegue proteger a pirralha e se acha capaz de me intimidar?

Shura tensiona o maxilar tão forte que era possível escutar o som do roçar de seus dentes, quase que como um rosnar gutural. 

— Agora que ela está por perto, você quer fingir que se importa com ela? – Ele destila as palavras com ódio - Você faz jus ao seu poder mesmo, não é?

Eyria ajeita a sua postura e respira fundo, sentindo o corpo ferver de ira, ela abre a boca para falar algo com uma expressão enfezada, que faz o gato em sua máscara brilhar em vermelho quando a resposta salta, mas não de sua boca e com certeza com menos intensidade do que figurava em sua mente. Era Mariah que falava. Com os braços abertos um pouco para cima, a garota gesticulava, presa em uma entonação entre incrédula, preocupada e raivosa.

— É claro que ela se importa! – A garota exclama, balançando as mãos para Eyria, que agora voltava a cruzar os braços enquanto a observava - ela está aqui, não está? Além do mais, com o tempo que você levou para chegar, eu já poderia estar morta.

O homem migra seu olhar de Eyria para Mariah, sem sair de sua postura. Sua voz era severa e enérgica, mas não estava mais exaltado.

— Eu não preciso me explicar pra você, - ele levanta o antebraço direito na altura dos olhos da menina - veja a situação de meu braço, por. Sua. Causa! – Ele faz questão de pausar a sua fala, para que cada palavra calasse fundo na mente de Mariah - Isso aconteceu enquanto eu ia te salvar!

Shura sacudia o braço com as talas trincadas que ainda doía para cima e para baixo em pequenos movimentos diante da garota. Um membro quebrado com aquela gravidade era difícil de ser curado até mesmo para um semideus. Shura se sentia injustiçado, dera o sangue e os ossos do braço direito para ir ao resgate da garota e mesmo assim ela protegia a mulher. Para ele, isso era mais que uma afronta, era um descaso. E esse sentimento de descaso servia de combustível para sua ira.

— Não jogue a culpa nela, seu boçal – retruca Eyria dando um passo à frente e cravando o indicador no peito do homem – você se feriu porque sustenta o grande peso de ser um idiota e o dessa grande cabeça vazia que você tem, ela não tem culpa de nada, ela foi a vítima aqui!

— Eu não vou aceitar uma bronca sua sobre cuidar de alguém, Eyria. – Shura dispara quase que em um rosnado baixo, que assusta as duas mulheres. Seus olhos estavam arregalados e seu lobo agora mostrava as pressas afiadas para a mulher.

— Escutem. Os dois! – A garota chama a atenção dos dois, passando ambas as mãos pela face. Mariah se sentia tomada por ira, mas sabia que aquilo não ia levar a nada. Era como no ensino médio, se os seres centenários não fossem capazes de agir como adultos razoáveis, ela teria de tomar o papel – não importa quem está cuidando de quem, a Eyria já provou que tá disposta a nos ajudar, ela veio até aqui com a gente e...

Shura joga o pescoço para trás e ri alto, interrompendo a garota. O escárnio em sua risada era quase palpável.

— Você acha mesmo que ela se importa, Mariah? – Ele se inclina para a garota e aponta com o indicador para Eyria com o braço direito entre ele e a protegida - Por quê? Por causa da caverna? – Ele faz uma pausa na pergunta e olha de soslaio para a mulher, procurando por sua reação, como ela não vem, ele se volta novamente para Mariah, que o observava calada - Ela só estava preocupada com outro semideus te escutar e nos atacar, não é, Eyria?

— Escute...- Eyria engasga, sem saber o que responder no momento, como sempre fazia. Afinal, era verdade, meia verdade. Mariah a observa, com uma expressão indecifrável, entre surpresa e decepção. A mulher percebe e tenta remediar de alguma maneira. - Mariah, eu...

— Além do mais, – continua Shura, tomado por uma sensação de que estava lavando sua alma enquanto cuspia as palavras – se ela realmente se importa, porquê ela não derrotou o seu captor ali mesmo? Ou, no mínimo, o atacou para valer?

A garota baixa a cabeça, fitando seus pés, Eyria sentia pena e ódio crescerem dentro de si a cada palavra que o homem dizia.

— Além disso, - ele se mantém falando, extasiado - ela não se aliou a nós por nada mais que interesse, eu posso te garantir, ela mesmo disse isso. Tenho certeza que que se ela tivesse tido oportunidade, ela teria...

Mariah segura a mão de Shura, que tremia. Aos poucos, o semideus para de gritar, restando apenas sua respiração ofegante no final. O homem finalmente para seu monólogo e se atenta a garota, mas o que o observa de volta não era o olhar atencioso e inocente, a pessoa que o olhava era uma pessoa diferente da garota que o seguia para cima e para baixo, o olhar que o fitava era marejado e cansado, as olheiras o recortavam e o rosto avermelhado e congelado em uma expressão fria surpreenderam não apenas o homem, mas a semideusa também.

— Mariah... – Shura diz, arqueando as sobrancelhas, arrependido pelo seu brado de mais cedo.

— Shura, - ela começa a falar, apertando um pouco a mão do semideus, como que para que ele se calasse. Ele obedece, se mantendo inclinado para ela na mesma posição - eu sei que a Eyria só está conosco porque é vantajoso para ela manter um outro semideus ao lado dela. Mesmo que com um ponto fraco tão evidente, é melhor que enfrentar oponentes sozinha, afinal, são muitos os oponentes poderosos por aqui.

— Você... escutou a nossa conversa? – Pergunta a mulher, descruzando os braços vagarosamente. Seu gato agora tinha um sorriso amarelo, sem graça e suas faces estavam pintadas de um fraco roxo, quase vermelho escuro.

— Não. Na verdade, eu não precisava, isso era óbvio. – Ela faz uma pausa, respira e depois continua, a encarando – Eu não te acho uma pessoa... semideusa, ruim por ter feito isso, Eyria, é como você disse: a sobrevivência prevalece apenas com a esperteza, não a honra.

A voz da garota era calma, triste, porém incisiva, mas mesmo assim a mulher sente um reflexo de sorriso em seu rosto, em um alívio tenso. Shura, se mantinha imóvel, fitando Mariah.

— E Shura, – ela continua a falar, agora olhando dentro dos olhos verdes do homem que a observava curioso – quem te disse que a Eyria não fez nada por mim? Contra Toth ela não podia fazer nada de fato, eu estava de refém, sendo usada como um escudo humano por um homem que ela não sabia da extensão dos poderes, enquanto ele conhecia os dela.

Nenhum dos dois fala nada, então ela se mantém falando, agora soltando o homem e permitindo que ele se colocasse ereto. No fundo de sua mente, figurou a dúvida de se os semideuses sentiam dores nas costas, porém, tão rápida quanto ela surgiu, ela também desapareceu em seu inconsciente. O medo, o cansaço e a raiva agora tomavam conta de boa parte dela.

— E também, na caverna, ela pode não ter cuidado de mim de boa vontade, mas pelo menos ela fez algo, ela agiu, ao contrário de você.

Shura sente uma pitada de raiva lhe subir pelo rosto, quente e denso, estava novamente se sentindo injustiçado.

— Eu estava...

— Estava tendo um flashback – ela o corta - eu sei, eu escutei vocês enquanto eu estava meio inconsciente, mesmo assim, ela me deu colo, não deu? E eu parei de gritar, não parei? Mesmo que não pelos seus moldes, ela se importou comigo de certa forma.

Ele se cala, envergonhado por estar sendo repreendido não pela deusa, mas por sua protegida.

“Estou perdendo o controle?”. Ele pensa, enquanto se vira para o lado contrário da garota e coça a nuca, se afastando dela alguns passos. Eyria, por outro lado, ficara no lugar, de braços pendidos ao lado do corpo e um olhar perdido.

Mariah faz seus olhos viajarem de um para o outro, sem pressa. Observando sua linguagem corporal e suas feições mesmo que em grande parte ocultas. Ela não sabia mais o que sentia, odiava ter que falar assim com as pessoas, odiava ter que lidar com tudo sozinha por mais que odiasse admitir isso, mas se ela pelo menos não tentasse, ela poderia estar presenciando um embate até a morte das duas divindades que ela mais considerava amigos.

— E antes que você continue pensando assim, - ela fala, depois de alguns minutos de um silêncio sufocante - saiba que ela me ajudou na mata por conta própria. Foi ela que fez as suturas em mim e só te ajudou, porque eu pedi pouco antes de desmaiar. Percebe? Ela não tinha motivos, na verdade seria mais vantajoso que ela fugisse e se aliasse a alguém que não estivesse atrelado a uma humana.

O silêncio retorna, dessa vez, mais pesado. Eyria se sentia estranhamente feliz pelo reconhecimento repentino, Shura se sentia envergonhado por ter se exaltado daquela maneira, ainda mais por estar errado quanto à semideusa e Mariah se sentia desamparada. Há pouco tempo ela se sentira dessa maneira, na praia, longe de tudo e de todos que conhecia. Com a chegada abrupta do semideus em sua vida, ela sentira que fora acolhida por alguém, mesmo estranho e ranzinza, ela tinha com quem contar. Mesmo vacilando em diversas ocasiões, ela sentia que ele pelo menos estava disposto a cuidar dela.

Agora, vendo-o alucinado com sua própria visão do caso, pronto para enfrentar alguém que os ajudara mesmo que por interesse próprio, um grande vazio se abriu em seu peito, como se ela fosse jogada novamente na pequena praia. Junto a isso, a mulher que antes ela sentia certa admiração e gratidão, principalmente pelo afago na caverna, agora se mostrava apenas uma semideusa capaz de se forçar a algo apenas para manter as aparências. A pergunta que ficara é: até onde ela apenas fingira?

A garota não queria pensar naquilo, não agora.

— Se quisermos sair daqui juntos, temos que trabalhar em equipe. Lembra que você me disse isso em seu chalé, Shura? – Mariah termina o seu raciocínio como quem fala para o nada, mas sente que não fora o caso.

Eyria ensaia uma piada, mas nem seu humor negro parecia a ajudar nesse momento, então se cala.

— Eu me lembro sim – responde o homem, por fim – eu...

“Eu quero pedir desculpas “ele pensa, mas não se sentia digno de se desculpar.

— Eu estava pensando que você deveria explicar o seu plano, Mariah. – diz Shura.

— Você estava? Mesmo? – A mulher pergunta, desconfiada. Ele ri, sem graça.

Mariah suspira fundo, sua cabeça parecia pesar uma tonelada e estar imersa no mais profundo abismo do oceano, sentia que seria impossível traçar com detalhes o plano, mas mesmo assim ela fez seu melhor.

— Bom, – ela começa, sem graça, enquanto os semideuses se aproximam dela, se pondo um de cada lado – a gente sabe que se for direto pro centro, a densidade de semideuses vai começar a aumentar e as batalhas vão ser inevitáveis, – Mariah faz o mesmo gesto de fechar um círculo com as mãos que Shura fizera antes – mas e se não formos em linha reta para o centro e sim fizermos uma espécie de espiral?

— Espiral? – Os semideuses perguntam em uníssono.

— É, uma espiral, vocês sentem que estão mais perto, não é? É só a gente tentar retardar um pouco para chegar lá, andando em linha quase paralela ao centro.

— E como isso ajuda? - Pergunta Eyria, interessada e quase prevendo o que ela falaria. Shura, por outro lado, tinha um grande e brilhante ponto de interrogação sobre a cabeça.

A garota, para fins didáticos, pega as mãos de Shura novamente e desenha o círculo com os seus indicadores e polegares. Depois, fechando-o com uma das mãos, posiciona a outra por cima, com o cotovelo apontado para cima e o indicador dando voltas cada vez menores ao redor do círculo.

— Se fizermos esse movimento – Mariah gira a mão em um redemoinho sob o cotovelo levantado – damos tempo para que eles se matem lá no centro, não ficamos parados para sermos alvos fáceis enquanto lutamos com menos gente e mantemos nossa energia pra enfrentar o último deus lá dentro. Só temos que ter certeza de que a espiral não vai nos atrasar mais do que o possível.

— Vamos flanqueá-los! – Grita Shura animado, desfazendo o círculo e batendo com o punho fechado na outra palma aberta.

— Exato! – Exclama Mariah, triunfante.

— Temos tempo para isso, se fôssemos agora em linha reta chegaríamos em um dia e meio pelo menos, ainda temos o dobro para fazer essa manobra. – Explica Eyria, também animada com a ideia – mandou bem, garota.

Mariah ri para ela, satisfeita, mas seu sorriso não parecia o mais alegre de todos.

— Certo, melhor irmos então – fala Shura – ótima ideia Mariah.

A garota o recepciona com o mesmo sorriso cansado. Os três se colocam em movimento, na direção perpendicular de onde iam antes. Mariah se sentia mais leve, mas algo ainda a deixava um pouco triste. As palavras que disse e ouvira ainda martelavam em sua cabeça e a julgar pelo clima, o mesmo acontecia com os outros dois. Eles voltaram a caminhar em silêncio.

— Mariah – chama Eyria por cima de seu ombro em tom baixo – obrigada pelo... voto de confiança.

— Não me agradeça, só segui os seus conselhos. – Responde a garota, em um tom tão pesado quanto o olhar que fita a semideusa.

O olhar triste que Mariah lhe lança deixa a mulher incomodada. Por mais que ela odeie admitir, era óbvio que a garota se decepcionara com ela. “Por quê eu estou ligando para isso? Merda!”. Ela pensa consigo.

Shura para de novo, mas antes que ele diga algo, Mariah quem diz:

— Ouviram isso?


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