Louise.

Edward tentou se afastar quando percebeu minhas intenções. Por sorte, fui mais rápida e colei minhas mãos na suas, sentindo a queimação atípica na palma de cada uma delas, sendo espalhada por cada local do meu corpo. Não era comum que usasse o meu dom, por não ter muito contato amigável com outros vampiros. Eu quase havia me esquecido da sensação. Meus olhos fitaram o Clearwater em sua forma lupina a poucos passos de distância, e mesmo que o leitor de mentes tivesse quebrado o contato tão rápido quanto um raio, eu consegui ler sua mente.

Ele estava afogado em preocupação.

Não entendia o motivo de eu ter fugido tão rápido de sua casa. Estava se perguntando sem parar o que tinha feito de errado para causar uma reação tão arisca em seu Imprinting, ou no caso, eu.

Todas as vezes em que a ideia da magia dos lobos passou por minha cabeça, eu me surpreendia mais em cada uma delas. A intensidade de seus sentimentos era descrevida com tanta força que fazia com que eu esquecesse de respirar por breves segundos. Estar na mente de Seth foi entender exatamente o que eles sentiam em relação ao Imprinting. Quando ele me disse, ainda em sua casa, que tudo o que importava para alguém como ele, era a felicidade de sua companheira, realmente não estava exagerando. Era como uma droga. A mente do lobo rodava em torno de só uma pessoa.

E no caso de Seth, eu era essa pessoa.

Se as coisas estavam confusas antes, pareceram piorar. Em minha conversa com Edward ainda naquela manhã eu havia confessado que tinha medo que houvesse uma outra pessoa na vida do lobo. E saber que eu estava absurdamente errada era reconfortante. Mas me assustava saber que realmente nunca haveria outra pessoa em sua vida além de mim. A linha entre o medo e a gratidão era tênue. Me perguntava o que havia feito para merecer tanto. Por que seus ancestrais haviam me escolhido para ele?

A filha de Caius Volturi, fora destinada ao lobisomem mais amável do mundo.

Seth não merecia.

Ele não merecia estar com alguém que provavelmente viveria uma vida de fugas para que ninguém descobrisse sua verdadeira identidade. Seth não merecia alguém tão confuso ao ponto de não saber nem mesmo qual era o seu sobrenome. Ele sem dúvidas merecia uma mulher e filhos. Da qual ele poderia brincar todos os dias na praia de La Push e lhes ensinar coisas novas sempre que chegassem da escola. Coisas da qual eu nunca poderia oferecer.

Eu gostava muito daquele lobinho. Isto é um fato. Mas nem sabia se poderia corresponder a sentimentos tão intensos, quando tudo o que eu vi em minha vida foi raso demais.

 Percebi que estava perdida quando as mãos frias de Edward tocaram o meu ombro e eu me virei em sua direção, buscando algum conforto em seus olhos.

— Apenas respire fundo.

Fiz o que ele pediu. Aspirando o máximo de ar que meus pulmões aguentavam e os soltando lentamente.

— Você está bravo? – perguntei em um sussurro.

— Não deveria ter feito isso – respondeu-me, sem qualquer peso na voz. Ouvi os passos do lobo atrás de mim se afastarem e eu me virei em sua direção, encontrando o vazio da floresta. Do outro lado do riacho, ainda estava Sam e o outro lobo da qual eu não fazia ideia de quem fosse – Seth foi se trocar, ele quer falar.

Assenti em concordância.

— Não se pressione tanto, Louise – murmurou baixinho – Se é você, há um bom motivo para isso.

— Eu não entendo – cocei os olhos.

— As coisas passaram a dar certo para mim quando parei de tentar entender e comecei a viver. Deveria fazer o mesmo – ele sorriu fraco. Mas virou-se na direção de Sam – Preciso falar com Seth e Louise.

— O que houve? – perguntei, cruzando os braços.

E nessa hora, Seth Clearwater em toda a sua perfeição saiu de entre as arvores com um vinco formado na testa. Ele estava tão confuso quanto eu. Talvez buscasse saber o que se passava em minha cabeça no momento. Seus olhos me encararam e eu sorri fraco na tentativa de mantê-lo mais tranquilo, mas pareceu uma careta, porque o mesmo soltou um gemido em frustração.

— Precisa falar comigo? – desviou os olhos escuros de mim, fazendo com que eu relaxasse por alguns segundos – Está tudo bem com a Nessie?

Edward assentiu.

— Todos estão bem – ele fez uma careta, parecia buscar o jeito certo de dizer – Vim pedir que continue na reserva por um tempo.

— Eu? – perguntei, sem entender exatamente nada do que estava acontecendo.

Seth me encarou. Parecia tão perdido quanto eu.

— Sim. Você.

O lobo voltou a atenção para o meu irmãozinho.

— O tempo que for preciso – respondeu, e eu senti um calafrio percorrer por minha espinha. Era nítido o tom de devoção em sua voz. E agora eu entendia o motivo – Mas o que houve?

O vampiro enfiou as duas mãos no bolso da calça jeans e encarou diretamente o lobo.

— Estamos recebendo visitas.

Meu coração errou as batidas.

— Os Volturi? – perguntei em um fio de voz.

— Não. Por Deus, não! – suspirei aliviada – Você conheceu outros da sua espécie além de Renesmee?

Neguei com a cabeça.

— Talvez em alguma festa, mas não consigo me lembrar – dei de ombros.

Ele assentiu.

— Nahel está conosco.

— O da batalha? – Seth perguntou, involuntariamente dando um passo em minha direção.

Houve um rosnado vindo do lobo que eu ainda não havia identificado.

— Sim, Seth. O hibrido da batalha. Ele não oferece perigo. Renesmee é minha filha, não há motivos para avisar ao Jacob – disse, diretamente olhando para o lobo atrás de nós ao proferir a última parte – Nosso medo é somente que ele reconheça Louise. Precisamos ir com calma.

Engoli seco.

— Por quanto tempo vai ficar?

— Ainda não sabemos, querida. Tentarei descobrir se ele sabe sobre você e assim que for seguro um de nós lhe buscará. Carlisle e Esme pediram para que mande mensagem e qualquer problema pode discar os números da chamada de emergência – concordei com um aceno – Eu mantenho vocês informados.

 Ele se aproximou, depositando um beijo demorado em meus cabelos. Enrolei meus braços em torno de seu corpo, o abraçando com força.

Por favor, não me deixe sem notícias.

— Cuide-se – pediu. Mas eu soube que havia escutado o meu pedido – Confiamos em você, Seth.

O quileute assentiu, parecendo nervoso demais para dizer qualquer palavra.

Edward se afastou mais rápido do que chegou. Seth encarou os lobos que estavam a alguns metros de nós e sussurrou:

— Eu aviso ao Jake.

E então Sam e o outro partiram, nos deixando sozinhos.

Seth pigarreou, chamando a minha atenção. Percebi que ele estava com as mesma roupas de antes, mas dessa vez sem o tênis no pé.

— Você sabe – comentou, soltando uma risada nervosa.

Ele deslizou as mãos pela lateral da calça jeans, então seu sorriso morreu ao ver que eu permaneci com a mesma expressão.

— Eu sei – me afastei para que pudesse arrancar uma folha de uma das arvores, dobrando-a em vários pedacinhos na tentativa de manter minhas mãos ocupadas – Me desculpe por ter invadido sua mente, não me parece algo certo a se fazer.

— Tudo bem – murmurou – Não queria que soubesse dessa forma. Carlisle e Edward pediram que eu tivesse paciência, e eu juro que tentei, mas você estava me fazendo muitas perguntas e eu já estava sem saber como fugir do assunto.

— Eu entendo.

Silencio.

— Você está bem? – perguntou-me com a voz torturada.

Meu coração apertou-se e eu sorri timidamente, largando a folha no chão para que pudesse esticar minha mão para tocar na sua. Seth avançou três passos rapidamente e entrelaçou nossos dedos, e como sempre eu senti o pequeno choque ao entrar em contato com sua pele tão quente.

— Eu acho o Imprinting muito bonito. A forma como vocês encontram sua alma-gêmea é tão... diferente. E não posso negar me sentir lisonjeada e um tanto quanto aliviada em saber que não preciso disputar você com mais ninguém – dei uma piscadinha e ele riu, parecendo muito mais calmo. Decidi ser sincera – Seth, eu não sei se mereço. Não sei como pude ser a escolhida pra você. Não faz o menor sentido! Você é de longe a pessoa mais incrível que já conheci. Quero que seja feliz. Você merece ter uma vida normal, e infelizmente eu nunca vou poder lhe oferecer isso.

— O que? – franziu o cenho, toda a animação indo embora em um segundo – Do que está falando?

Tentei me desvencilhar de sua mão, mas ele não deixou.

— Olhe para mim agora, estou fugindo. Estou me escondendo na sua reserva porque não tenho a menor ideia se conheço ou não o vampiro que está na casa dos Cullen nesse momento. Posso tê-los colocado em risco – senti meu olho arder, mas ignorei isto, engolindo o nó que se formou em minha garganta – Eu não sei se vou conseguir viver em Forks. Quer dizer, até quando os Cullen vão aceitar esse cuidado excessivo para que ninguém descubra a minha existência? Estou sendo injusta. Não posso pedir isso a eles e também não posso pedir a você!

— Louise, não diga isso! – sua voz saiu tão fraca que meus ouvidos mal puderam escutar. Ele se aproximou ainda mais, segurando o meu rosto entre as suas mãos e colando nossas testas. Próximo demais. Mas ao mesmo tempo tão bom – Eu fugiria todos os dias, a cada segundo da minha vida, por toda a eternidade, se for preciso. Iria até o maldito castelo e assumiria os riscos por terem a tirado de lá. Se é isso que preciso fazer para mantê-la a salvo e feliz, é isso que farei. Porque eu te amo. Desde o segundo que a vi em sua casa, eu a amo com cada parte do meu ser. Não há um segundo do meu dia em que eu não pense em você. E não é somente por conta do Imprinting, se esse for o seu medo. Tenho certeza que uma hora ou outra eu acabaria me encantando da mesma forma, porque é completamente impossível não se apaixonar por você. Odeio a ideia de fazer com que se sinta pressionada, não precisa pensar em nada disso agora, só não me afaste, por favor. Não preciso que seja minha agora, entendo que muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo e eu vou entender se você...

— Seth – o chamei. Ele fechou os olhos e soltou o ar que prendia em seus pulmões.

— Oi.

— Eu já sou sua.

Então ele sorriu.

Eu nunca havia o visto sorrir daquela maneira.