Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 37
Dois corações se encontram


Notas iniciais do capítulo

Alguma coisa me diz que vocês vão gostar desse capítulo.



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Para qualquer mãe, ver o corpo de um filho no caixão era a pior coisa que poderia existir. Berenice chorava com o coração totalmente em pedaços ao ver sua filha querida coberta com cravos e algodão no nariz. Era uma menina tão linda, tão cheia de vida! Um perfeito anjo! E estava morta, perdida para sempre graças a um bando de moleques perversos que lhe perseguiram e atormentaram só por diversão. Ah, como ela queria acabar com a raça deles!

Várias pessoas da cidade compareceram. Bando de fingidos! Eles se faziam de solidários, mas poucos lhe ajudaram quando ela precisou. O tratamento da sua filha foi caro e consumiu suas reservas que eram poucas porque ela sempre gastava para alimentar alguns pirralhos mortos de fome. Quando foi pedir ajuda ao povo da cidade, a maioria recusou dando desculpas ridículas, outros só ajudaram com uma mixaria sem importância.

Se sua filha tivesse recebido tratamento adequado, talvez tivesse sobrevivido. Mas não, ela acabou sendo consumida por aquela doença por que algumas crianças perversas a perseguiram e o povo egoísta e insensível da cidade não lhe ajudou. E ainda ficaram contra ela quando pediu justiça contra as pestes que causaram tudo aquilo.

— Foi um acidente. – uns disseram.

— Ouvi falar que foi sua filha quem começou. – outro mentiroso falou e todos acreditaram. Sua filha fazer mal a alguém? Nunca!

Ela até pensou em colocar veneno na comida que lhes dava, mas elas pararam de aceitar suas guloseimas. Sua vida estava totalmente acabada. Ela chorava dia e noite, com o coração sangrando de dor e ódio, apelando para qualquer ser divino pedindo vingança. Nada nem ninguém lhe ouvia.

Mas tudo mudou quando certo dia uma garota com cerca de dezoito anos lhe procurou.

— O que você quer? Não dou mais comida para ninguém. – a mulher lhe atendeu de má vontade.

— Não quero comida, quero lhe oferecer aquilo que mais deseja: vingança!

Mesmo achando que aquela garota era maluca, Berenice abriu a porta para ela e ouviu tudo o que tinha a dizer. Havia sim uma forma de se vingar, mas ela precisava fazer um pacto oferecendo sua alma em troca.

— Minha alma? Quem quer minha alma?

— O ser que irá governar esse mundo dentro de muitos anos. Aceite o acordo e você terá sua vingança contra todos que ignoraram sua dor e sofrimento.

— Poderei também acabar com os malditos que mataram minha filha?

— Sim, claro. Se quiser, você pode até trazê-la de volta.

O susto foi grande, pois ela não esperava tanto.

— É possível?

— Sim. Há um ritual que é capaz de trazer sua filha de volta dando a alma dessas sete crianças em troca.

— Podemos fazer isso agora?

— No momento, usar qualquer tipo de magia é quase impossível. Só poderemos fazer o pacto para que você comece a fazer sua parte. Mas não se preocupe, quando chegar a hora, você irá se vingar de todos e trazer sua filha de volta a vida.

Naquele mesmo dia, Berenice fez o pacto, recebendo a marca de IOR no peito e a missão de espalhar doenças por toda parte. Ela vendeu sua casa e sumiu pelo mundo. Depois de tantos anos, finalmente seu trabalho estava completo. Ela só tomou o cuidado de não afetar Sococó da Ema, pois não queria que aqueles malditos morressem antes do tempo. Eles eram seus.

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Lili tinha arrumado algumas coisas para levar à festinha do Cebola. Cupcakes e docinhos. Lurdinha ficou encarregada de levar salgados. Quando terminou de embalar tudo, foi se arrumar e ao passar perto do quarto da Magali, viu que a filha ainda não estava pronta.

— Filha, você ainda não se arrumou? Está quase na hora!

— Eu não quero ir... fala pro Cebola que eu não tô passando bem.

— Ah, nada disso mocinha! Ele é seu amigo e vocês trabalharam tanto pra deixar a casa pronta!

Magali virou para o outro lado e ficou calada. Alguma coisa estava errada com ela. Lili sentou-se na beirada da cama e afagou os cabelos da filha.

— Magali, de verdade, o que está acontecendo? Você pode me contar qualquer coisa e eu farei de tudo para te ajudar.

Era difícil se abrir com a mãe, coisa que ela nunca tinha feito antes. Normalmente ela lidava sozinha com seus problemas. Isso nunca funcionou muito bem. Como não tinha forças para continuar discutindo, ela resolveu abrir logo o jogo.

— Eu dei uma tremenda mancada e agora vou ficar chupando o dedo.

— Como é? – a mulher não entendeu e a moça explicou tudo.

— E é isso. Eu gosto do Cascão, mas ele voltou com a ex-namorada e eu perdi minha chance.

Quando desejou que sua filha se tornasse uma garota normal, ela tinha esquecido que sofrer por amor podia estar incluído no pacote. Ela nunca pensou que esse dia chegaria.

— Ah, filha... não fique assim. Por que você não tenta conversar com ele?

— Porque ele tá namorando a Cascuda.

— Ele te falou isso?

— Não... mas eu acho que eles voltaram.

Ela deu um sorriso.

— Apenas acha, mas não tem certeza.

Magali virou-se para ela.

— Er... não...

— E se ele ainda não estiver namorando com ela, parou para pensar nisso?

— Vai ver ainda não teve a chance de pedir ela em namoro. Mas já deve ter feito isso e vai levá-la pra festa, por isso não quero ir.

— Magali, eu acho que você está precipitando as coisas. Você nem sabe se eles estão namorando! E se não estiverem? Fale com ele, filha. Diga o que sente.

— Aí vou perder a amizade dele.

— Se ele for seu amigo de verdade, isso não vai acontecer.

— Ele gosta da Cascuda...

— Sabe o que eu acho? Que se ele ficar com essa garota, não será porque gosta mais dela.

— E vai ser por que então? – sua mãe afastou as cobertas e falou com energia.

— Será porque ela teve coragem para lutar por ele e dizer o que sente.

A jovem abriu a boca sem emitir nenhum som.

— Você nunca terá uma chance se não tentar. Se não der, será porque ele não quis e não porque você não tentou. Seu pai e eu vamos sair daqui a vinte minutos. Não demore.

Ela saiu do quarto deixando a moça sozinha e atordoada. O pior era que sua mãe tinha razão. Cascuda teve coragem e arriscou. Ela não fez nada. Estava na hora de fazer algo.

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A cara do Sr Malacai estava pior que de costume. Denise vivia falando que fazer cara feia dava ruga e ele viu que era mesmo verdade, porque aquele velho parecia um maracujá de gaveta ranzinza e de mal com a vida. Só lhe restou continuar preenchendo aqueles documentos, pois não ousava perguntar nada para ele.

— Antônio. – sua voz desagradável lhe chamou.

— Sim Sr. Malacai. – o velho fez sinal para que ele se aproximasse de sua mesa e disse.

— Tudo tem andado normal no colégio do Limoeiro?

A pergunta era estranha, mas ele respondeu calmamente.

— Sim senhor. Tudo normal. Todos os dias eu mando alunos para a diretoria por quebrarem as regras.

— Sei disso, está nos relatórios.

Um pouco de silencio e o rapaz tentava não ficar nervoso.

— E quanto aquela moça desavergonhada?

— Senhor? – ele tentou se fazer de desentendido e o velho perdeu a paciência.

— Estou falando daquela que tinha cabelos ruivos e pertencia a sua antiga gangue!

Seu nervosismo aumentou e estava cada vez mais difícil esconder.

— Chegou ao meu conhecimento que você tem falado com ela mais do que seria razoável.

— Eu apenas a mandei para a diretoria por quebrar regras.

O velho estreitou os olhos.

— Somente isso?

— Sim senhor, somente isso. Ela sempre foi muito difícil e encrenqueira.

— Parece que você a conhece muito bem, não?

Ele não soube o que responder porque não fazia idéia do que aquele velho estava tramando.

— Sabe, eu estive pensando. Se você precisa mandá-la para a diretoria tantas vezes, então ela deve ser uma jovem extremamente rebelde. Nós sabemos como lidar com moças assim na instituição e lhes damos tratamento diferenciado.

Ele sentiu um pouco de vertigem, pois sabia muito bem qual era esse tratamento diferenciado e preferia morrer do que ver a mesma coisa acontecendo com ela.

— Creio que não será necessário, senhor. – ele disse sem saber de onde tinha arrumado coragem.

— Mas você parece muito interessado nela. – falou dando a entender que a frase tinha duplo sentido.

— Não senhor, de forma alguma. Eu apenas faço o meu trabalho e nada mais.

— Nada mais? Bem, espero que sim. Se essa moça continuar causando problemas, terei que tomar providências. Não quero jovens rebeldes, especialmente moças, nas escolas controladas pela Vinha. Agora volte ao seu trabalho.

Foi com muito custo que Antônio conseguiu continuar seu trabalho ao invés de pular em cima daquele velho miserável e estourar seu crânio, mas foi preciso. A segurança de Denise era mais importante até do que a sua e sempre vinha primeiro. 

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A mesa estava posta com uma toalha bem limpa e engomada. Cebola colocou suco, refrigerante, um pequeno balde com gelo, biscoitos e outras guloseimas que ele comprou na padaria do seu Quinzão. A casa estava limpa e arrumada. Mônica até lhe deu mais alguns enfeites bonitos, toalhas e flores para os vasos. Eram apenas imitação, mas muito realistas.

A campainha tocou e logo Cascão entrou na casa seguido pelos pais. Embora tentasse fingir alegria, Cebola viu que ele não estava muito bem. Antenor exibia uma garrafa de vinho que tinha trazido para os adultos, uma vez que os jovens não podiam tomar bebida alcoólica. Lurdinha também tinha trazido comida.

Depois chegaram seus parentes, olhando a casa com olhos críticos a procura de algo para colocar defeito.

— Você consertou o sofá? – tio Berinjela quis saber ao ver que o móvel estava com tecido novo.

— Foi preciso, o tecido tava muito ruim. Também reformei alguns móveis e pintei a casa. – ele mostrou tudo aos parentes, que mesmo assim não pareciam convencidos, mas se calaram por enquanto para não estragar a festa.

Pouco depois, Magali chegou com os pais e também Mônica e Durvalina.

— Nossa, quanta coisa gostosa! – a empregada falou colocando uma tábua de frios sobre a mesa.

— Podem comer a vontade, tem suco e refrigerante também! – Cebola falou e colocou uma música suave para tocar. Os adultos logo se juntaram para conversar tomando vinho e comendo os petiscos com gosto.

Mônica conversava com Cebola e eles viram que Magali e Cascão estavam bastante sem jeito na frente um do outro.

— É, acho que esses dois vão precisar de uma ajudinha. – Cebola falou.

— Eu vou falar com a Magali e ela dá um jeito porque se depender do Cascão, não vai sair nenhum coelho desse mato. Os garotos são muito devagar mesmo.

Ele ficou sem jeito com a indireta e foi cuidar de qualquer outra coisa para disfarçar o embaraço.

— Vai falar com ele. – Mônica se aproximou tocando o ombro da amiga. – Se deixar por conta dele, ih! Só ano que vem!

— Aff, ele é meio devagar mesmo. O que eu vou falar? Nunca fiz esse tipo de coisa!

— Respire fundo e diga o que sente. E tenta relaxar, na hora você vai saber o que fazer.

Magali tomou uma decisão e viu que era hora de partir para o ataque. Se não fizesse isso, Cascuda ia acabar passando na sua frente.

— E aí, a comida tá boa, não tá? – ela chegou perto do Cascão que comia alguns pastéis.

— Tá mesmo. – ele falou sem jeito, admirado ao ver como ela estava bonita.

A moça usava uma grande camisa preta com o desenho de uma caveira cercada por algumas flores. A gola era bem larga, deixando um ombro a mostra. Ela também usava um short jeans curto por cima de uma calça legging também rasgada em algumas partes e botinhas de couro marrom escuro. Aos poucos ela estava definindo seu estilo e ele estava gostando bastante.

— Escuta, você não quer conversar lá fora não? Tá calor aqui.

Ele terminou de engolir os pastéis, limpou a boca com um guardanapo e a seguiu com o coração aos pulos. Cada vez mais o rosto da Cascuda se apagava em sua mente enquanto o da Magali se tornava mais nítido.

A tarde estava caindo e dava para ver o sol lá no horizonte colorindo o céu num alaranjado triste e desbotado. O jardim foi remexido e esperava novas mudas, embora fosse difícil fazer as plantas brotarem naquela terra. Rosália tinha tentado sem sucesso. Pelo menos aqueles enfeites horríveis de jardim tinham sido levados embora. Muitas vezes Cascão teve medo de andar entre aquelas coisas, como se algo fosse sair dali para atacá-lo.

— Er... a casa do Cebola ficou muito boa, não é? – Cascão falou tentando puxar assunto. Magali respondeu lhe dando um soco no braço. – Ai! Por que fez isso?

— Essa foi por você ter deixado a Cascuda te beijar, seu lesado!

— Peraí, ela é que veio... – a moça lhe agarrou pela gola e lhe deu um beijo. – E essa é porque eu estava precisando fazer isso a bastante tempo.

Ao invés de responder, Cascão a abraçou pela cintura e voltou a beijá-la intensamente. Ele a apertou bem forte e daquela vez tinha mais certeza do que nunca: era com Magali que ele queria ficar, sempre foi.

Magali também se deixou levar, sentindo as pernas moles e o coração batendo descompassado. Quando eles precisaram de ar, seus lábios se separaram um pouco.

— Eu também devia ter feito isso há bastante tempo. Foi mal ter demorado tanto, linda. – Cascão falou olhando em seus olhos com ternura.

Eles voltaram a se beijar por mais um tempo e quando se separaram de novo, Magali acabou perguntando.

— Olha... e a... – ele entendeu e balançou a cabeça levemente.

— Fiquei mexido com ela porque foi minha primeira namorada, só isso. O que a gente tinha, acabou. Não é dela que eu gosto de verdade, é de você. – a moça sorriu.

— Só que ela parece gostar mesmo de você.

— Aí eu não sei, mas vou conversar com ela na segunda e explicar tudo.

Uma sombra passou pelo rosto da Magali.

— As meninas vão ficar do lado dela e me odiar.

— A Cascuda é inteligente e vai entender. Vem cá, não vamos pensar nisso hoje. Temos que tirar o atraso.

Eles ficaram no terreiro mais um pouco e tiveram que voltar antes que seus pais dessem pela sua falta. Mônica olhou os amigos sentindo feliz por eles. Já ela sentia uma ponta de tristeza pela falta de atitude do Cebola. Ela não tinha problemas em tomar a iniciativa, mas percebeu que o rapaz hesitava. E havia algo diferente nele que ela não soube definir. No ano passado, ele era mais forte, decidido, mais... ela não sabia dizer. Ela sentia falta de algo nele, mas ainda assim estava apaixonada pelo rapaz doce e meigo que ele era.

“Deve ser só pela fase que ele tá passando. É melhor esperar mais e dar tempo a ele.” ela pensou e sentiu-se melhor. Se mesmo assim Cebola não quisesse nada, paciência. Não ia ser o fim do mundo.

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A festa durou até o anoitecer, quando todos foram embora felizes. Até os parentes do Cebola se dobraram um pouco ao verem que o rapaz era responsável e ia ter adultos para lhe orientar quando precisasse. Antenor e Lurdinha mostraram boa vontade em lhe dar conselhos e apoio moral na hora de resolver assuntos mais complexos. Com o tempo, tudo ia ficar bem.

Depois que todos foram embora, Cebola foi se preparar para o dia seguinte. Não dava mais para adiar porque o tempo estava passando e ele precisava resolver logo aquela crise para poder voltar para casa.

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Antônio virava de um lado para outro na cama. As ameaças que Sr. Malacai tinha feito contra Denise ainda ecoavam em sua cabeça. Por que as coisas tinham que ser daquele jeito? Era a primeira vez na vida que ele gostava de alguém e aquele velho tinha que estragar tudo?

Ele já tinha ficado com algumas garotas no passado só por diversão. Namorada mesmo ele nunca teve nenhuma. Quem poderia acreditar que um dia ele ia gostar daquela ruivinha? Nos tempos da gangue, ele mal prestava atenção nela e eles podiam passar várias semanas sem trocar uma única palavra.

“Nós sabemos como lidar com moças assim na instituição e lhes damos tratamento diferenciado.” as palavras do velho ainda ecoavam e tudo o que ele queria era dar um soco naquela boca murcha. Denise podia ter seus defeitos, mas era boa pessoa, sua alegria era contagiante e ele adorava seu jeito irreverente embora não admitisse.

Sim, ele sabia que nos tempos da gangue, ela ficava com Titi e Xaveco ao mesmo tempo, mas nenhum dos dois foi enganado. Ambos sabiam o que estava acontecendo e mesmo assim aceitavam. E pelo que ele se lembrava, ela nunca tinha ficado com mais ninguém além deles. Ele não aceitaria de jeito nenhum, mas não a criticava por ter feito isso no passado uma vez que os dois sabiam e aceitavam.

— Por que eu fui entrar nessa droga de organização? Isso só ferrou com a minha vida! – ele resmungou. No início pareceu bom, mas depois ele percebeu que não tinha liberdade, nem direito, opinião, nada. Era somente um criado para aquele velho ranzinza e não estava ganhando nada de bom em troca. - Velho miserável! Eu ainda acerto a cara dele! – ele resmungou saindo da cama, pois não conseguia mais dormir. Não importava como e nem quando, mas um dia ele ia dar um jeito de sair daquele inferno e seguir sua vida.

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Eram cinco da manhã quando Cebola chegou à entrada dos fundos da Vinha e entrou usando o crachá com cartão magnético. Os seguranças não falaram nada porque vários faxineiros chegavam a essa hora e ele era só mais um. Cebola usava o boné cobrindo o rosto e tinha conseguido fazer uma maquiagem imitando cavanhaque. Não era perfeito, mas estava servindo bem.

Ele foi até o depósito onde guardavam materiais de limpeza, pegou um carrinho para disfarçar melhor e foi até o escritório do Sr. Malacai usando o mapa que Paradoxo tinha lhe dado. O escritório ficava no último andar e ele usou o elevador de serviço. Uma descarga de adrenalina corria pelas suas veias e ele tentava controlar o ritmo da respiração.

Como era muito cedo, havia poucas pessoas circulando pelo prédio. Não foi difícil achar a porta do Sr. Malacai, o problema era que ela estava trancada. Isso só mostrava que o velho escondia algo importante, pois os outros escritórios estavam abertos para que os faxineiros pudessem trabalhar.

Felizmente Cascão tinha lhe ensinado alguns truques e ele conseguiu abrir a fechadura sem brandes problemas.

A sala estava escura, era fria e não tinha nenhum enfeite. Ele olhou ao redor avidamente e por pouco não soltou um palavrão injuriado quando se deparou com um cofre eletrônico, onde tinha um teclado numérico para digitar a senha.

“Pindarolas, eu não acredito! Então eu vim aqui a toa?” algumas vezes ele imaginou que o velho poderia ter trocado a combinação do cofre, só não pensou que poderia ter trocado o cofre inteiro!

Já que estava ali, ele tentou algumas combinações sem sucesso. A senha daquele tipo de cofre podia ter de três a oito dígitos, o que dificultava ainda mais porque o número de combinações era absurdo.

Ele tirou o papel com a combinação do cofre antigo e tentou usar os números como referência. Nada. Sr. Malacai deve ter pensado em outro tipo de senha, mas qual? As pessoas geralmente usavam números óbvios como datas e Cebola foi arriscando com as informações que já tinha de cabeça. Uma delas foi a data da fundação da instituição vinha. Não funcionou. Ele também arriscou o aniversário do Sr. Malacai e nada. O que mais ele teria para usar?

“Ah, peraí! Qual foi mesmo o ano que ele ergueu a barreira?” Ele tentou o ano e não deu. Claro, a senha deveria ter mais que quatro dígitos. Talvez oito? Os números de uma data se encaixariam perfeitamente, o problema era descobrir o dia e o mês do evento. Havia 365 combinações diferentes e ele não tinha tempo para testar todas.

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Ele pousou no telhado e ficou olhando para o rapaz que se debatia tentando abrir aquele cofre. As penas das suas asas se arrepiavam de vez em quando e algumas já tinham caído. Era difícil ficar no mundo material sem nenhuma ligação com o espiritual.

Seus sentidos aguçados perceberam que o velho Sr. Malacai estava se aproximando. Seis horas em ponto ele estaria entrando em seu escritório pronto para começar o dia. Aquele rapaz não tinha muito tempo.

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O tempo foi passando enquanto Cebola digitava mais alguns números, quase entrando em desespero e abrindo aquele cofre na dentada. Não tinha jeito, ele ia levar semanas para achar a combinação certa. Talvez fosse melhor ir embora e tentar outro dia. Não, ele poderia não ter outra chance. O que fazer então?

A luz do sol foi invadindo o escritório gradualmente enquanto Cebola andava de um lado para outro. O celular vibrou em seu bolso, pois ele o tinha colocado para despertar quando faltassem vinte minutos para as seis da manhã, assim não havia o risco de perder a hora.

“Droga, eu tenho que ir.” Ele ia colocar o celular no bolso outra vez quando uma idéia maluca lhe ocorreu. Agnes foi capaz de esconder a porta do porão usando a marca de Ior. E se o Sr. Malacai tivesse o mesmo conhecimento? Não era impossível, era? Quer dizer, se ele tinha algo tão importante assim para esconder, o mais lógico era deixar invisível aos olhos de todo mundo. Guardar num cofre eletrônico não era o máximo da segurança.

Como uma última tentativa, ele ligou a câmera do celular e vasculhou as paredes. Após alguns segundos, seu rosto se iluminou e por pouco não cantou e dançou ali mesmo. A marca de Ior estava bem ali à sua frente, pintada sobre um cofre antigo que podia ser aberto com uma combinação parecida com que a ele tinha no bolso!

Sem perder tempo, ele tentou abrir o cofre e quase não acreditou quando a porta se abriu. E sua descrença foi maior ainda quando viu o que tinha lá dentro. Ele deu um passo para trás, com os olhos arregalados e suando frio. Aquilo não podia ser verdade!

Dentro do cofre, junto com alguns papéis de aparência antiga, ele viu algo que imaginou nunca mais ver na vida.

A chave de ossos.


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