A Égide de Athena escrita por Joy Black


Capítulo 2
2. Festa da deusa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786650/chapter/2

            - Eu preciso que você fique, Shun.

            As palavras ditas por Saori ainda ecoavam nos ouvidos do antigo cavaleiro de Andrômeda, duzentos anos depois de terem sido proferidas.

            Lembrava claramente do momento. O dia estava claro e o sol entrava pelas imensas janelas de vidro da mansão Kido, no Japão. Saori usava um vestido branco, leve, que ondulava suavemente ao redor de seu corpo ao sabor de uma brisa. Os dois estavam de pé, próxima de uma das janelas, observando do primeiro andar enquanto Shoryu, filho de Shiryu, corria pelo gramado, sendo perseguido por Seiya. O cavaleiro de Pégasos agarrou o menino e o levantou. A risada de Shoryu chegou até eles e Saori sorriu.

            - O que quer dizer com isso, Saori? - ele perguntara.

            Ela colocou a mão branca e delicada no umbral da janela antes de responder:

            - Esse corpo é humano. Ele vai perecer. As memórias de nossas lutas se esvanecerão e minha próxima encarnação não saberá o que aconteceu comigo, como eu não sei o que aconteceram às outras que me antecederam. - seus olhos transpareciam preocupação – Preciso de alguém que fique, como Shion e o Mestre Ancião ficaram. Preciso que alguém lembre. - ela o encarou – Preciso que você seja o próximo Mestre do Santuário.

            Eles ouviram mais vozes e Shiryu juntou-se à brincadeira com o filho e o amigo. As risadas ficaram mais altas. Saori deu uma última olhada na cena, seu semblante entristecendo-se e caminhou para o centro da sala. Shun a seguiu.

            - M-mas… Por que eu? - perguntou ele sem acreditar – Eu não sou o mais forte, nem o mais inteligente. Você poderia escolher outro.

            Saori o encarou e sorriu.

            - Não há ninguém que eu confie mais para essa tarefa que você, Shun.

            Aquela resposta o surpreendeu e isso ficou evidente em seu rosto.

            - Você subestima a si mesmo, meu amigo. - disse ela, sorrindo – Você tem tudo o que é necessário para essa empreitada. Você é o mais diplomata. O conciliador. O pacifista. Eu não preciso deixar um guerreiro para trás. Guerreiros há às dezenas no santuário. Preciso de alguém que pense nas pessoas. Que pense na humanidade, como eu penso.

            Ouvir aquelas coisas sobre si o deixavam encabulado e um pouco incrédulo. Não acreditava que tinha toda essa habilidade que Saori dizia que ele tinha. Mas não a interrompeu.

            - O povo do Santuário já sofreu demais. - continuou a deusa – Não quero partir e deixar para trás a incerteza de quem estará lá, cuidando de tudo para minha próxima encarnação. Não quero outro Saga. - ela suspirou – Quero alguém que não vá mergulhar o Santuário num mar de sangue e disputas. E não consigo pensar em ninguém além de você.

            - Eu posso não conseguir. - questionou Andrômeda – O mestre Shion foi morto, não foi? O mesmo pode acontecer comigo.

            - Pode, claro que pode. - concordou Saori – Mas não vai. Porque você é o Shun, não é? - e lhe presenteou com um sorriso que irradiava a confiança.

            Ele baixou a cabeça, sem saber o que dizer. Claro que queria aceitar o pedido dela. Era Athena, sua deusa. Mas, antes de tudo, era Saori, sua amiga. Sua melhor amiga.

            - Sei que estou te pedindo muito. - continuou ela e Shun levantou a cabeça para olhá-la novamente – Estou te pedindo não apenas para assumir essa responsabilidade sobre tantas vidas, mas estou lhe pedindo muito mais, e é isso que me dói. - ela suspirou, os olhos se enchendo de lágrimas – Eu partirei quando meu tempo humano se esgotar. Seu irmão partirá. Todos nós partiremos. Mas você ficará aqui. Sozinho. Lhe amaldiçoarei com a solidão.

            As lágrimas agora rolavam pelo rosto da deusa e Shun tirou um lenço de seu bolso e entregou a ela. Saori agradeceu com um aceno e limpou as lágrimas.

            - Saori, eu não sou muviano. - falou ele – Eu não teria como viver tanto. Você fará o mesmo que foi feito com o Mestre Ancião?

            Para sua surpresa, ela negou com a cabeça.

            - Há outro modo.

            Houve um momento de silêncio, enquanto Shun considerava o que ela lhe dissera. A possibilidade de ser ele o Mestre do Santuário era tão absurda que, se não fosse Saori lhe dizendo, não acreditaria. A ideia de viver tanto tempo, duzentos anos pelo menos, jamais lhe passara pela cabeça. Shun não era alguém de grandes ambições ou desejos. Tudo que sempre quis fora viver em paz, ao lado de seu irmão e de seus amigos. E, depois de anos de luta, a paz chegara. Mas Saori estava certa, aquilo não duraria para sempre.

            Estaria disposto a continuar lutando, quando todos que amava tivessem partido?

            Fechou os olhos e respirou fundo.

            Saori aguardava sua decisão.

            E ele decidira.

            - Se você precisa que eu fique, eu ficarei.  - respondeu resoluto.

            Em vez de sorrir, as lágrimas de Saori aumentaram de volume e ela levou a mão à boca, contendo o soluço.

            - Me desculpe, Shun. - pediu ela os olhos apertados de dor. - Me desculpe…

            Shun se adiantou e a abraçou. Saori encostou a cabeça em seu ombro, depositando ali suas lágrimas.

            - Ficará tudo bem. - ele disse, consolando-a – Estarei aqui esperando seu retorno.

            Quando dissera aquilo, Shun ainda acreditava que a próxima encarnação de Athena seria novamente sua querida amiga Saori. Todavia, quando Athena retornara, logo percebeu a diferença entre as duas. E agora, quando a pequena deusa estava em seus aposentos, sendo vestida para seu primeiro encontro com o mundo lá fora, seu coração se enchia de angústia e se perguntava se fizera a coisa certa.

            - De qual coisa estou falando? - perguntou para si mesmo – De ficar aqui ou de deixá-la sair?

            Sabia a resposta.

            As duas coisas.

            Levantou-se de sua cadeira e caminhou até o grande espelho que havia em seu quarto. Retirou o elmo de mestre e a máscara. Seu reflexo o olhou, da mesma forma que encarara Saori naquele dia, tanto tempo atrás. Passou os dedos pelo rosto, o mesmo rosto jovem que ostentara na tarde em que seu destino fora decidido. Saori o pedira para ficar e lhe providenciara os meios. E, na verdade, tudo fora tão simples que o espantara.

            Depois de se recuperar da tristeza de impor ao seu amigo tão querido tão fatídico destino, Saori fez um gesto e uma saintia aparecera. Era Shoko e ela sorriu para Shun quando chegou.

            - Aqui está o que pediu, Athena. - disse ela depositando uma caixa dourada na mesa antiga do escritório.

            - Obrigada, Shoko.

            A saintia fez uma reverência e saiu rapidamente.

            - Eu descobri isso muito recentemente. - explicou Saori abrindo a caixa – E só então entendi por que o vovô nunca me deixou cortar o cabelo.

            Shun a observou tirar uma colher prateada e um castiçal com uma vela vermelha. Pôs os dois em cima da mesa e tocou a vela com a ponta do dedo. Uma chama dourada apareceu. O que quer que fosse acontecer, aconteceria naquele momento.

            - Os outros saberão? - quis saber Shun – Saberão que ficarei?

            - Isso cabe a você decidir. - dissera Saori.

            Saori então passou a mão por seus longos cabelos e um único fio saiu entre seus dedos. Colocou o longo fio na colher e a levou ao fogo da vela. Para a surpresa de Shun, o cabelo começou a derreter e ficar da cor de ouro.

            - Minha essência lhe manterá vivo e jovem. - explicou a deusa – A menos que você seja assassinado ou morra em batalha, você permanecerá vivo. Por tanto tempo quanto for necessário.

            Quando o cabelo derreteu totalmente, Saori lhe entregou a colher. Shun a pegou e sabia o que precisava ser feito. Bebeu a essência de Athena, esperando que esta, recém-derretida, lhe queimasse a língua. Mas não foi o que aconteceu. Fora como beber mel: doce e aveludado.

            - E agora? - perguntara ele.

            Saori lhe sorrira, como se estivesse esperando aquela pergunta.

            - Agora esperamos. Ainda há muitos anos para nos prepararmos. E para vivermos todos juntos.

            Aqueles anos se foram. E ele ficara sozinho.

            As lágrimas escorreram por seu rosto, como já escorrera por tantas vezes durante todo aquele tempo.

            A saudade era tanta que muitas vezes ele se perguntara se tomara a decisão certa. Foram séculos de dúvida até que Athena voltara. E, mesmo assim, ainda doía.

            Uma batida na porta e uma voz o chamou:

            - Mestre? - chamou uma serva – Athena se prepara para partir.

            - Estou indo. - respondeu ele.

            Shun lembrou-se mais uma vez porque ficara. Tinha um dever e precisava cumpri-lo. Limpou as lágrimas, pôs o elmo e a máscara e foi ao encontro do motivo de sua existência.

********************

            Lucius achou que seria o primeiro a chegar. Lilian era imprevisível; nunca sabia se ela iria se atrasar ou não, e não tinha conhecimento de quem eram os outros dois cavaleiros que os acompanhariam. Por isso, quando chegou ao platô, onde os carros ficavam estacionados, surpreendeu-se por ver que já havia alguém lá.

            Uma sombrinha vermelha cobria parcialmente a pessoa que estava de pé. Lucius sorriu. Só havia uma pessoa que usava aquele tipo de acessório entre os cavaleiros.

            - Saphyra? - chamou.

            A amazona voltou-se na direção dele e então sorriu.

            - Lucius! - exclamou satisfeita – Sempre pontual.

            - Não tanto quanto você. - elogiou.

            Ela deu uma risada.

            - Não gosto de deixar ninguém esperando, principalmente Athena. - ela girou a sombrinha – Mas cheguei cedo demais, pelo visto. - e olhou ao redor, preocupada.

            - Athena não deve demorar. O Mestre quer que ela volte antes do anoitecer. - explicou ele.

            - Já estou surpresa de ele ter permitido que ela saísse. - ela girou a sombrinha novamente - Não me sinto confortável com a ideia.

            - Não é a única, pode ter certeza.

            Saphyra era a amazona de Libra. Uma das pessoas mais sensatas e, trocadilhos à parte, equilibradas que Lucius conhecia. Não havia nenhum conflito que a amazona não conseguisse resolver. Sua fama de mediadora era tal que mesmo alguns governos mundanos, aqueles que sabiam da existência do Santuário, recorriam a ela para intermediar negociações. Lucius acreditava que era a pessoa mais diplomática dali, com a exceção do Mestre do Santuário.

            E a mais perigosa também.

            Quem via a jovem mulher naquele momento, jamais imaginaria que ela era a portadora da habilidade mais temida entre os cavaleiros do Santuário. Uma habilidade que, até onde se sabia, somente Athena era imune.

            Ninguém conseguia mentir para a amazona de Libra. Um simples olhar e a pessoa revelava até mesmo seu mais obscuro segredo. Mas aquele poder tinha um efeito colateral devastador para Saphyra. Nada físico ou mental, mas social. As pessoas temiam sua companhia. E mesmo sendo uma pessoa extremamente simpática e bondosa, que não usava seus poderes levianamente, Saphyra tinha poucos amigos. Lucius era um deles. O cavaleiro de Escorpião sabia que, justa como era, Saphyra não sairia por aí usando sua habilidade indiscriminadamente. Na verdade, ela não se importava com o que quer que as pessoas fizessem de suas vidas privadas: usava seu poder apenas para levar justiça às pessoas. Ainda assim, era incompreendida. Lucius ficava muito chateado com a situação.

            - Você está muito bonita, Saphy. - elogiou ele.

           A amazona definitivamente não parecia uma amazona naquele momento. Usava um vestido curto rodado, florido, com uma fita que terminava em laço vermelho, do mesmo tom de sua sombrinha, ao redor da cintura. Nos pés, sapatos de salto baixo, porém finos, davam elegância ao visual da jovem, que usava o cabelo prateado preso em uma trança jogada sobre o ombro. Um brilho divertido se apossou de seus olhos azuis, azuis como a pedra que emprestava o nome à amazona.

            - Será que você está dizendo isso apenas porque namora com a minha irmã? - provocou com um sorriso de canto de boca.

            - Quer me testar? - perguntou.

            - Talvez devesse. - provocou, mas ambos sabiam que ela não o faria – E, a propósito, você está sombrio demais hoje.

            Lucius olhou para baixo, para sua roupa. Não achava que estava sombrio. Usava calça e camisas pretos, uma gravata grafite meio frouxa no pescoço e um terno também escuro. Na verdade, ele achava que estava bem elegante.

            - Estou me vestindo como sempre me visto. - defendeu-se.

            - Sombrio. Como sempre. - a observação não foi feita como crítica, apenas como uma constatação simples. Lucius achava que, mesmo que quisesse, Saphyra não conseguiria ser desagradável – Vamos dar um jeito nisso?

            Puxando um lenço colorido da bolsinha que carregava, Saphyra se aproximou do cavaleiro de Escorpião e o colocou no bolso de seu terno.

            - Gostou? - perguntou ela.

            - Parece que um arco-íris deu um soco no meu peito.  - respondeu com sinceridade.

            Saphyra deu uma gargalhada.

            - Sabe o que mais gosto em você, Lucius? Você sempre fala a verdade, independente de eu gostar ou não.

            - E o que eu mais gosto em você é que você não me olha torto quando faço isso. - ele sorriu – Mas vou deixar o lenço. Athena vai achar bonitinho.

            - Ah, ela vai, com certeza.

            A terceira pessoa a chegar fora Lilian. A amazona de Aquário se vestira de forma totalmente oposta aos dois cavaleiros que já estavam lá. Ela parecia uma punk do século 20: calças jeans rasgadas, uma regata branca com uma caveira pintada em preto e que deixava à mostra uma quantidade imensa de tatuagens nos ombros e braços da amazona. Os cabelos curtos estavam espetados, diversos piercings estavam pendurados em suas orelhas e Lilian completara o visual com um óculos de lente colorida.

            - Ela andou ouvindo Sex Pistols de novo … - murmurou Lucius pensando que sua irmã chamaria muito a atenção no mundo lá fora.

            Saphyra olhou para a amazona de Aquário com um leve franzido na testa. Aquele visual ofendia o senso estético da amazona de Libra, mas ela não falaria nada. Não julgava as pessoas pela aparência, mesmo que detestasse o que visse.

            - Nossa, quanta elegância! - exclamou Lilian quando os viu – Acho que estou um pouco mais simples que vocês.

            - Você está tudo, menos simples, Lilian. - falou Lucius colocando as mãos nos bolsos – Só faltou a jaqueta de couro.

            Lilian deu de ombros.

            - Eu derramei café nela. Deixei no chão da casa de Aquário e estou torcendo para que as fadas do Santuário a lavem e deixem como nova. - e se virando para a amazona de Libra, comentou - Saphyra! Fazia tempo que eu não a via!

            - Essa época do ano é bem cheia no tribunal. - falou a outra em tom de desculpas.

            Lilian também era uma das que não tinham problemas com as habilidades de Saphyra, porque Lilian falava o que pensava e não estava nem aí para os outros.   

            - Temos que sair um dia, ainda não perdi as esperanças de te ver bêbada, arrancando todos os segredos do meu irmãozinho!

            Os dois franziram o cenho.

            - Por Athena, vocês são certinhos demais! - e virando-se, comentou – Lá vem o outro certinho… Meus deuses, hoje será puxado…

            Um homem elegante, mas não sombrio como Lucius, se aproximava deles. A calça cinza estava bem passada e a camisa branca tinhas as mangas puxadas levemente, dando um ar de causalidade ao visual. Dois botões abertos no pescoço, sem gravata, completavam o visual comum, mas bonito. Ele franziu o cenho quando viu Lilian.

            - Posso fazer uma observação? - perguntou o recém-chegado à amazona de Aquário.

            - Não. - cortou Lilian.

            O homem deu de ombros.

            - Tudo bem. - e olhando para os outros cavaleiros, disse, sorridente – Lucius, Saphyra, que prazer revê-los!

            - Lorenzo! - Lucius acenou com a cabeça – Que surpresa! Não achei que quisesse vir.

            - Ah, eu não quis. - falou com sinceridade o cavaleiro de Câncer – Mas foi um pedido do Mestre, não é?

            - Não está preocupado com a segurança de Athena? - quis saber Saphyra.

            - Claro que estou! - exclamou um pouco ofendido – Mas sei que vocês jamais deixariam algo acontecer com ela. Pelo menos vocês dois. - provocou.

            Lilian deu uma risada e pôs as mãos na cintura.

            - Já vai começar, siri enlatado?

            - Eu não estou começando nada, apenas constatando algo que todos sabem. - retrucou ele.

            O sorriso dela morreu e Lilian cruzou os braços.

            - E o que seria?

            - Gente, por favor… - pediu Saphyra levantando a mão que não estava segurando a sombrinha – Hoje vamos trabalhar juntos… Nada de briga, por favor.

             Lucius suspirou. Lorenzo ainda estava irritado com Lilian por tê-lo levado contra a vontade para a Taverna. E por ter falado mal da melhor amiga dele, Aldebaran. E por ter obrigado ele pagar a conta. E por ter provocado que ele não arrumava namorada. Enfim, porque diabos aqueles dois eram amigos, afinal?

            Para o alívio de Lucius e Saphyra, Athena vinha chegando de mãos dados com o Mestre do Santuário e, inesperadamente, Galahad, o cavaleiro de Capricórnio. Depois, Lucius lembrou que Galahad era o responsável pela estratégia elaborada para a proteção de Athena. Ele provavelmente viera para dar alguma orientação.

            - Gente! - exclamou Athena alegremente quando os viu – Vocês estão tão bonitos!

            - Ah, Athena, você está muito fofa também! - elogiou Saphyra.

            A menina vestia uma roupa mundana, bem diferente das vestes que usava normalmente dentro do santuário. Era um vestido lilás, a cor favorita dela, rodado, no joelho e com um laço de fita nas costas. Lucius reparou que, se não fosse as mangas bufantes do vestido da menina, este seria bem parecido com o de Saphyra. Mas o vestido da amazona tinha as mangas caídas e curtas, além das pequenas e delicadas flores que o enfeitavam. Ainda assim, quem as olhasse, pensaria que as duas eram irmãs que combinaram a roupa. Aquilo era bom. Parentes adultos afugentavam perigos para as crianças.

            - Cavaleiros. - falou o Mestre.

            Todos se curvaram, respeitosamente.

            - Mestre. - falaram ao mesmo tempo.

            Shun olhou um por um. Os conhecia desde que eram crianças. Não eram os primeiros cavaleiros de ouro desde a morte dos cavaleiros de sua geração; houve ao menos quatro cavaleiros de distância entre os que estavam à sua frente e os que estavam no Santuário na época do ataque de Hades. Todavia, eram àqueles a quem entregaria o motivo de sua existência.

            - Não preciso dizer a vocês a responsabilidade que terão. - falou seriamente – Por isso, direi apenas isso: cuidem de Athena. Eu confio em vocês.

            - Sim, mestre! - responderam eles.

            Shun então olhou para a pequena Athena. Colocou as mãos em seus ombros.

            - Athena, ouça seus cavaleiros. Fique ao lado deles todo o momento. Eles conhecem o mundo lá fora, você não.

            A menina assentiu, o rostinho sério.

            O cavaleiro de Capricórnio então se adiantou para os demais.

            - Isso aqui é para vocês. - falou Galahad - Créditos para gastarem hoje. - e entregou um cartão pequeno a cada um deles.

            O mundo fora do Santuário não usava dinheiro físico há, pelo menos, cinquenta anos.

            - Vou ganhar um também? - perguntou Athena com os olhinhos brilhando.

            - Claro. - Galahad se ajoelhou em frente a Athena e entregou um pequeno cartão a ela – Esses são seus créditos. Gaste-os com sabedoria.

            Lilian deu uma risada.

            - Sério que você tá dizendo isso a ela? A deusa da Sabedoria? - perguntou sem acreditar.

            Em vez de ficar irritado, Galahad sorriu, paciente.

            - Sim, estou. Athena é a deusa da sabedoria, mas também é criança e verá muitas coisas bonitas hoje. Precisa exercitar a sabedoria dela e gastar com parcimônia.

            Se tinha alguém no Santuário que conseguia deixar Lilian sem palavras, esse alguém era Galahad. A paciência do cavaleiro era lendária, da mesma forma do seu homônimo que, na mitologia, passara anos procurando pelo Santo Graal. A amazona de Aquário simplesmente calou-se e não fez nenhum comentário. O cavaleiro se levantou.

            - Divirta-se, Athena. - e fez uma breve reverência para ela.

            - Obrigada, Gal!

            - Alguma orientação, Gal? - perguntou Lucius.

            Galahad o encarou.

            - Não a percam de vista. O resto será tranquilo.

             Lucius entendeu que ele teria pessoas andando pela festa e verificando pessoas suspeitas e que o cuidado pessoal de Athena era com os quatro. Ficou mais aliviado.

            - Vamos?  - chamou a menina, agitando o cartãozinho que ganhara do seu cavaleiro.

            - Vamos! - adiantou-se Lilian colocando a mão no carro e o abrindo.

            O Mestre observou Athena e os demais embarcarem no carro, com o coração apertado e a vontade imensa de acompanhá-los. Mas devia ficar no Santuário. Ficar e aguardar. E, assim que o carro levantou e partiu em direção à Athenas, Shun suspirou e voltou para o templo. Restava a ele, aguardar.

***************

            O primeiro dia da Festa da Deusa tinha sido bem lucrativo para Sophia. Em festas como aquela, as pessoas tendiam a ficar mais dispersas e desatentas, sendo bem fácil pegar os cartões e os usar antes que os donos dessem por sua falta e os bloqueasse. Assim, ela garantiu uma boa diversão e comida para toda a semana, se assim quisesse.

            Todavia, no dia seguinte estava lá novamente. Muito mais que a pura sobrevivência, a festa lhe dava um tipo de conforto do qual nem sabia que precisava. Estar constantemente fugindo a impedia de interagir com as pessoas e, para uma criança, a solidão era sufocante. Ali, no meio de tantos outros de sua idade, às vezes podia fingir que era apenas mais uma criança brincando e se divertindo. A ilusão acabaria, claro, como todas as ilusões, mas deixar-se levar por aquela doce mentira era inebriante.

            Como não vira nenhum caçador de crianças no dia anterior, estava mais relaxada no segundo dia de festa. Reparou que havia uma movimentação bem maior que no dia anterior e achou que era por causa do desfile que aconteceria naquele dia: haveria uma parada onde a estátua de Athena seria exibida em um carro iluminado. Muitas carteiras poderiam ser batidas então.

            Animada, decidiu que, naquele dia, andaria em algum dos brinquedos do parque. Iria apenas naqueles onde apenas crianças eram permitidas; uma medida de segurança. E como não tinha como pagar pelo ingresso sozinha, roubou um passe promocional genérico que se vendia na entrada da festa e poderia aproveitar quantos brinquedos quisesse. Ansiosa, começou a experimentar todos.

            Estava em um deles quando sentiu algo incomum. Sua cabeça foi imediatamente na direção da entrada do parque. Franziu o cenho, sem entender. Era uma sensação diferente de todas que já sentira.

            Havia um motivo pelo qual Sophia sobrevivera tanto tempo nas ruas. Havia algo dentro dela, que não sabia explicar o que era, mas que queimava como o fogo. Esse ‘algo’ a ajudava a fugir, seja dando força às suas pernas ou aos seus punhos, quando precisava reagir. Apesar de nunca ninguém ter lhe ensinado a socar, ela sabia exatamente onde bater, como se enxergasse nas pessoas seus pontos fracos. Às vezes, seus socos eram tão fortes que pareciam brilhar e, mais de uma vez, ela tivera a sensação que sequer precisa encostar na pessoa para que ela caísse. Era esse ‘algo’ também que lhe indicava o perigo por perto. Só que, daquela vez, o ‘algo’ não lhe mostrava perigo, mas um conforto que jamais sentira antes. Era como se alguma coisa, ou alguém, muito bom estivesse ali, no parque, próximo a ela.

            - Bobagem. - disse para si mesma.

            Mas a sensação continuava. Parecia que a chamava. E, em determinado momento, estava tão próxima a ela que foi impossível ignorar. Saiu de onde estava e foi em busca do que a perturbava.

            Achou-a perto da roda gigante. Não conseguiu distinguir de onde vinha, pois percebeu que havia outros ‘algos’, próximos. Olhou ao redor. Apenas pessoas normais. Havia algumas bizarrices por ali, mas nada que ela já não tivesse visto nos bairros mais perigosos. Se aproximou da fila para entrar na roda gigante e aguardou.

A roda gigante era imensa e tinha cabines para que as pessoas pudessem andar nela em segurança e com conforto. Havia dois tipos de cabine: as adultas e as infantis. No momento em que Sophia ainda procurava de onde vinha as sensações que sentia, um cara de preto discutia com o operador da roda gigante, que insistia que ele não podia entrar na cabine infantil. O homem de preto não aceitava e estava atrasando a fila. Sophia olhou o problema. Uma menininha estava sentada dentro da cabine infantil e o homem queria entrar lá, mas o assento era feito para crianças. Sophia sorriu, traquina, e cortou a frente do homem, mostrando seu passe ao condutor e entrando na cabine. O homem de preto ficou muito irritado e o operador disse:

            - Pronto, o senhor vai na cabine adulta.

            Sophia não ficou para ver o que acontecera, pois, a roda gigante andou para que as pessoas pudessem entrar na próxima cabine.

            - Oi. - lhe disse a menina, sorridente.

            Uma emoção estranha tomou conta do peito de Sophia. O ‘algo’ parecia emanar da menina à sua frente. Será que ela tinha um fogo dentro dela também?

            - Oi. - respondeu Sophia, cujo rosto ficava quente, sem entender por quê.

            - Você gosta de roda gigante? - perguntou a menina, curiosa.

            - É a primeira vez que ando. - respondeu.

            Os olhos da menina brilharam.

            - A minha também! - exclamou – E achei que nem ia conseguir, porque o Lucius estava bem irritado por não entrar aqui.

            Então o nome do homem de preto era Lucius. Será que era irmão da menina a sua frente? Não parecia.

            - Essa cabine é infantil. - explicou Sophia – Foi projetado para peso de criança. Ele não poderia entrar mesmo.

            - Oh! - os olhos da menina estavam mais brilhantes ainda e Sophia ficou sem jeito – Como você sabe disso?

            - Tentei entrar numa ontem, mas só podem duas crianças por vez e não consegui nenhuma cabine com uma vaga. Todo mundo tinha alguém com quem vir. - e percebendo que a menina estava sozinha como ela, perguntou – Você não tem irmãos?

            Ela fez que não.

            - Nenhum amigo para vir com você? - insistiu.

            - Não. Quer dizer, meus cavaleiros são meus amigos. Mas eles não são crianças.

            Sophia franziu o cenho.

            - Cavaleiros? Tipo, que andam de cavalo? - indagou.

            - Não, do tipo que me protegem. - respondeu singelamente.

            Achando que a menina estava tirando onda com sua cara, Sophia abriu a boca para brigar, mas então a roda gigante começou a andar e dessa vez não parou. A menina soltou uma exclamação animada e olhou para fora da cabine.

            - Estamos nos movendo! Estamos nos movendo! - exclamou com uma animação tão sincera e ingênua que desarmou Sophia.

            - Sim, estamos! - exclamou se sentindo influenciada pela animação da outra.

            Logo, a cabine delas subiu até o ponto mais alto, de onde poderia ver todo o parque e o Paternon, iluminado. Depois, começou a descer novamente.

            - E você, tem amigos? - perguntou a menina deixando de olhar para fora e encarando Sophia.

            Sophia sentiu um aperto no peito.

            - Não… Nenhum…

            A menina parecia triste.

            - Que pena…

            Ah, não vamos falar disso. Vamos olhar lá fora! Olhe que bonito! - e apontou para a paisagem iluminada.

            - Uau! - exclamou a menina olhando mais uma vez para fora – Dá para ver tudo daqui!

            - É, até mesmo o Pathernon e a estátua de Athena!

            A menina franziu o cenho olhando para a estátua gigante de Athena e Sophia percebeu.

            - Algum problema com a estátua? - perguntou.

            - Não parece comigo. - respondeu.

            Foi a resposta mais estranha que já recebera para uma pergunta.

            - Bem, é a estátua da deusa Athena. – Sophia franziu o cenho – Por que pareceria com você?

            - Eu sou Athena. - disse com simplicidade.

            “Como é?”, pensou Sophia.

            - Mas acho que essa é a Athena original. - continuou a menina – Shun disse que não sou igual à que veio antes de mim também...

            - Seu nome é Athena? - perguntou Sophia e, quando a outra acenou afirmativamente, entendeu. A menina deveria ser uma das inúmeras crianças batizadas como ‘Athena’ naquela cidade. Era um nome bem comum – Ah, certo. Athena. Acho que é meio óbvio que essa não parece com você. Tipo, ela é de pedra e você é bem mais fofa. – disse, tentando soar engraçada.

            A menina ficou surpresa com aquele comentário e sorriu. Sophia sentiu as bochechas esquentarem.

            - E você, como se chama? - perguntou Athena.

            - Sophia.

            - É um prazer conhecê-la, Sophia. - disse a menina acenando elegantemente com a cabeça – Não conheço muitas pessoas da minha idade.

            - Nem eu. - e foi com surpresa que percebeu que era a primeira vez em muito tempo que conversava tanto tempo com alguém – Você é daqui da Grécia?

            - Sou sim. E você?

            - Também.

            A menina sorriu.

            - Acho que poderíamos ser amigas. - disse Athena – Já que não temos nenhuma amigo de nossa idade. Que tal? - perguntou ansiosa.

            O primeiro impulso de Sophia foi dizer ‘não’, pois não a conhecia. Todavia, sentia como se já tivesse visto-a em algum lugar. Havia alguma coisa familiar nos olhos verdes da menina a sua frente, algo que fez Sophia sorrir e dizer:

            - Adoraria ser sua amiga.

            Athena abriu um grande sorriso e Sophia também. Contudo, Sophia pensou que, mesmo com o desejo de serem amigas, pertenciam a mundos completamente diferentes e era provável que, após aquele passeio, jamais se encontrariam novamente. Athena era claramente uma menina bem cuidada. Todos os membros orgânicos, dentes brancos, perfeitos, cabelo arrumado e impecável, além de uma roupa tão limpa que parecia que a menina acabara de vesti-la. Olhou para si mesma. A roupa estava amarrotada e suja em vários graus. Os tênis estavam apertados em seus pés e, em breve, teria que roubar uns novos. Seu cabelo era cheio e naturalmente bagunçado, o que não ajudava sua aparência. Não havia ninguém tão diferente de Athena quanto ela. Seria assim, tão diferente, a vida de quem tem pais?

            - Por que está chorando, Sophia? - ouviu Athena perguntar, preocupada.

            Nem sabia que estava chorando até a outra perguntar o motivo. Talvez estivesse cansada de tudo. Ou só assustada demais com a sensação que emanava de Athena e não soubesse explicar. Ou porque, finalmente, alguém lhe dirigira a palavra de forma tão verdadeira sincera.

            - N-não é nada… - gaguejou, antes de sorrir – Nada demais.

            Athena se tranquilizou.

            - Você já foi ao Santuário? - perguntou de repente.

            - Santuário? - Sophia achou que ela se referia ao Pathernon – Não, nunca fui.

            “Muito perigoso”, pensou.

            - Deveria. - continuou Athena – Já que você tem tanto cosmos dentro de você.

            - Tenho o quê?

            - Cosmos. – respondeu singelamente – O Gal podia arrumar alguém para treinar você. Seria legal, não é?

            - Gal? Do que você tá falando?

            Só que, desta vez, Athena não teve tempo de responder. A roda gigante sacolejou e a cabine delas parou. O passeio acabara. A porta se abriu e o homem de preto a chamou:

            - Athena, vamos.

            - Claro! - respondeu a menina se levantando do banco – Foi um prazer, Sophia. Obrigad apor ser minha amiga. - e saiu do brinquedo.

            Sophia ficou alguns instantes, parada, sem saber por que a menina mexera tanto com ela. E quando o operador do brinquedo gritou para ela sair, ela levantou-se rapidamente, saiu e procurou por Athena e seu estranho acompanhante. Não os viu em nenhum lugar. Fechou os olhos e procurou usando o ‘algo’ que tinha. Apesar de não ter prática com aquilo, conseguiu distinguir vários ‘algos’ e um ‘algo’ mais diferente. Abriu os olhos e seguiu naquela direção.

********************

            Athena nunca se divertira tanto em sua vida.

            A partida do Santuário fora excitante, com o carro saindo da zona segura, protegida pela magia emanada do seu próprio cosmos, e entrando no mundo que era o oposto do que estavam deixando. A primeira coisa que notou foi a quantidade de pessoas. Nunca vira tanta gente junta em um só lugar.

Lilian teve um pouco de dificuldade para estacionar o carro de forma que pudessem descer e fez algumas manobras que Athena achara bem divertida, mas que os seus cavaleiros desaprovavam. Lucius se segurou no banco, mas não teve oportunidade de reclamar, pois logo Lorenzo estava gritando:

 – Vá devagar, cabeça de vento! – o cavaleiro se segurava no banco, aterrorizado.           

 – Fique quieto, siri enlatado, ou vou te ejetar! - gritou ela, irritada.

Finalmente puderam parar e descer e a amazona de Aquário programou o carro para buscá-los no final da tarde. Depois disso, Athena segurou na mão de Lucius e na mão de Saphyra e fitou, admirada, as decorações que começaram a aparecer à medida que eles se aproximaram das festas.

A festa, obviamente, era bem diferente da comemorada nos tempos antigos. As Panateneias originais eram muito mais competições esportivas que comemoração religiosa, e a atual era uma mistura de esportes, diversão e muita, muita comida.

— Tem uma programação da festa aqui. – Lorenzo apontou para um holograma que ficava piscando com as atividades oferecidas – Quer fazer primeiro o quê, Athena? – perguntou gentilmente.

A menina analisou as opções.

— Ah, podemos ver as corridas de cavalo? - quis saber.

— Claro. – concordou Lucius – Vamos.

Os cavalos não eram cavalos de verdade, mas máquinas em formato de cavalos. Os condutores eram robôs também, então Athena perdeu o interesse rapidamente e pediu para verem outra coisa. Acharam esportes praticados por humanos e assistiram algumas competições, sendo a de arco e flecha a favorita de Athena.

— Mario ia gostar muito disso, não é? - indagou a menina, alegremente.

Mario era o cavaleiro de Sagitário.

— Ele ia ficar reclamando que todos esses arqueiros são idiotas. - falou Lilian.

Lucius revirou os olhos.

— Você não gosta mesmo dele, não é? - perguntou Saphyra ao cavaleiro de Escorpião.

— Quando ele parar de tentar me matar, talvez possamos nos dar bem. - resmungou.

Todavia, o que atraiu mais a atenção de Athena foram as exposições de arte. Passaram por artesões que faziam vasos como na antiguidade e os vendiam. A maioria das artes mostrava feitos da deusa Athena, mas haviam de outros deuses também. Lilian viu um que mostrava uma bacanal de Dionísio e, gargalhando, a mostrou para o irmão. A atenção de Athena foi atraída pela conversa e, antes que a menina visse as imagens inapropriadas, Lorenzo gritou, pegou o vaso e o tacou no chão, despedaçando-o. A expressão do cavaleiro mostrava que ele queria mesmo era ter quebrado o vaso na cabeça da amazona de Aquário. E, claro, Lorenzo teve que pagar pelo vaso.

— Você tá muito estressado, sirizinho. – provocou Lilian – Ela nem ia entender aquilo.

— Entender o quê? – perguntou a menina.

— Nada não, Athena. – disse o cavaleiro de Câncer carinhosamente, antes de virar-se para Lilian, com raiva – Controle-se, cabeça de vento!

Lilian prontamente o ignorou e passou a andar na frente do grupo.

Outro evento que chamou a atenção de Athena fora a quebra de pratos. Havia pessoas distribuindo pratos de gesso, onde você escrevia um pedido a Athena e depois o quebrava no chão, para o pedido chegar até a Deusa. Athena recebeu um prato e as instruções de um homem vestido como na Grécia antiga e olhou para Lucius, confusa.

— Essas mensagens chegam no Santuário? – indagou – Nunca recebi nenhuma.

— Não, Athena. É só uma superstição. – disse o cavaleiro de Escorpião.

— Mas as pessoas acreditam que eu posso ajudar… – falou, um pouco angustiada.

— Às vezes a crença é tudo que importa, minha querida. – acalmou-a Saphyra – Não pense nisso, certo? Escreva algo e vamos quebrar.

— Mas como eu peço algo para mim mesma? – a confusão da menina só aumentava.

— Pense que você tá pedindo algo para a Athena que veio antes de você! – sugeriu Lorenzo.

Aquela sugestão fez Athena sorrir e a menina escreveu no prato: “quero que a humanidade viva em paz.” E, pensou um pouco mais e acrescentou “E que meus cavaleiros sejam felizes.” Depois, respirou fundo e meteu o prato no chão com toda sua força. O prato se espatifou e ela comemorou, rindo e dando pulinhos. Os quatro cavaleiros bateram palmas, comemorando o feito.

De repente, dois vendedores de prato começaram a brigar e jogar pratos um no outro. Muitas pessoas, pensando que fazia parte da festa, começaram a atirar pratos aleatoriamente. Aquilo provocou uma grande confusão, com pratos voando e atingindo pessoas aleatoriamente. Em pouco tempo, a polícia teve que vir e mais pratos voaram. Athena observou aquilo intrigada.

— As pessoas sempre atiram pratos uns nos outros assim?

— Não. – respondeu Lucius – Eles estão sendo apenas idiotas.

— Ah....

Obviamente, nenhum prato atingiu Athena ou os cavaleiros. Sempre que algum objeto voava na direção eles, se desintegrava imediatamente. Afinal, eles podiam quebrá-los na velocidade da Luz antes que atingissem sua deusa ou a eles.

— Vamos para as barraquinhas de comida? – sugeriu Lilian – Estou morrendo de fome.

— Ah, será que eles têm vinho? – perguntou Lorenzo se animando.

— Provavelmente. - respondeu a amazona de Aquário e começou a ir na direção da feira de comida.

Lorenzo foi na mesma direção, animado.

— Temos que aproveitar enquanto esses dois estão concordando um com o outro. – brincou Saphyra, sussurrando para Lucius – Não é sempre que isso acontece.

O cavaleiro de Escorpião assentiu, rindo.

            As barraquinhas de comida não tinham apenas comida tradicionais da festa, mas todo tipo de comida, de todo o mundo. O cheiro era delicioso e Athena puxou a manga da camisa de Lucius.

            - Quero comer também. - disse.

            - Quer comer o quê? – perguntou ele.

            - Não sei…

            - Vamos dar uma olhada? – sugeriu Saphyra.

            Começaram a olhar a comida. A primeira parada foi em um local com peixe cozido servido sobre batata, mas Lorenzo rapidamente os tirou dali.

            - A cara daquele peixe não estava boa. – explicou.

            - Deve ser porque ele estava morto. – gracejou Lilian.

            Lorenzo a ignorou.

            O segundo local era uma barraca de cachorro-quente americano. Athena nunca comera ou sequer vira cachorro-quente, por isso pediu para provar. Estava quase recebendo um quando o vendedor falou:

            - É a melhor salsicha sintética da feira.

            O cavaleiro de Câncer quase pulou de susto.

            - Sintética?! Não, não! Ela não vai comer isso! – e empurrou o cachorro-quente de volta para o homem.

            - Deixe de besteira, sirizinho! – Lilian pegou o cachorro-quente do vendedor – Qual o problema de uma salsicha sintética? - e pagou.

            - Alô, não é comida de verdade?! Você quer enfiar comida feita em laboratório em Athena? – ele estava visivelmente ofendido com a ideia.

            - Hoje em dia todo mundo come comida sintética. – lembrou a amazona de Aquário – É mais comum do que comida orgânica no mundo aqui fora.

            - No mundo aqui fora, você disse bem. – o cavaleiro de Câncer balançou a cabeça – No Santuário esse tipo de coisa não entra! Nem no prato de Athena! E você não devia comer isso também! Faz mal e tem um gosto horrível!

            - Bobagem! Parece ótimo! – e deu uma mordida no cachorro-quente.

            O rosto da amazona ficou estranho e ela franziu o cenho. Engoliu o pedaço que estava na boca com dificuldade e seus olhos se encheram de lágrimas. Os demais seguraram a risada.

            - Não está bom? – provocou Lorenzo.

            - Está ótimo. – disse Lilian sem dar o braço a torcer.

            - Tá? – Athena a olhou interessada – Posso provar um pedaço então?

            - Melhor não, Athena. – apressou-se em dizer Lilian – Não queremos que o siri aí do seu lado comece a beliscar todo mundo.

            A menina olhou para Lilian sem entender, mas não insistiu. Enquanto Lorenzo pegava a mão de Athena e a tirava dali, com um sorriso satisfeito no rosto, Lucius e Saphyra se entreolharam, tentando não rir.

            - Falo que a vi jogar o cachorro-quente na lixeira? – perguntou Lucius baixinho à sua amiga.

            - Por Athena, não! – pediu Saphyra – É capaz de ela pegar de volta e comer aquela coisa horrível só por pirraça!

            - Você tem razão… Acho que vou dizer. – brincou.

            Saphyra lhe deu uma cotovela de leve.

            - Nem pense! Vou contar para minha irmã se você fizer essa maldade!

            - Ok, não vou dizer nada… - concordou, antes de completar – Mas vou contar ao Lorenzo.

            - Ele viu. – revelou a amazona – Mas vai preferir saborear a vingança em silêncio, rindo sozinho.

            - E eu que sou o rancoroso… – o cavaleiro de Escorpião riu da situação.

            Para a alegria de Athena, acharam uma barraquinha de cachorro-quente com salsicha artesanal, totalmente orgânica e animal com pão caseiro que passou pelo crivo do cavaleiro de Câncer. A menina recebeu a iguaria, temperada com creme de queijo de cabra e azeitonas, e a devorou em pouco tempo. Os cavaleiros também provaram da comida, Lilian ficou misteriosamente calada sobre o seu sabor. A única reclamação que ela fez foi sobre as azeitonas.

            - Por que diabos eles puseram azeitonas aqui? – reclamou afastando as rodelinhas verdes com o dedo – O cachorro-quente original não leva azeitonas! Para quê colocar?

            - Foi Athena quem criou as oliveiras. – explicou Lorenzo – Logo, as azeitonas e o azeite de oliva são populares na festa dela. Todo prato tem azeitona.

            - Odeio azeitona. – e olhando rapidamente para Athena, acrescentou – Nada pessoal, querida.

            - Tudo bem, Lilian! – exclamou a menina.

            - Pode me dar suas azeitonas. – Lucius estendeu o próprio cachorro quente para a irmã, que colocou suas azeitonas na comida do irmão – Adoro azeitona! – exclamou ele antes de dar uma generosa mordida.

            - Ai, espero não sujar a roupa! – Saphyra estava tendo um problema para conseguir comer sem se sujar, mas o fez com uma invejável elegância.

            Depois do cachorro-quente, acharam a exposição de vinho desejada por Lorenzo. Assim que chegaram, receberam amostras de vinhos, enquanto para Athena foi oferecido suco de uva em um copinho colorido com um canudo de papel. Os olhos do cavaleiro de Câncer brilhavam de alegria enquanto ele provava a bebida e dizia:

            - Boa acidez, sabor equilibrado e textura deliciosa. – ele provou mais um pouco, ficou pensativo por um momento e continuou – Tem um toque de couro, tabaco e um leve final a mel.

            Athena o encarou por um momento, olhou para seu copo colorido e provou do seu suco. Fez a mesma expressão pensativa de Lorenzo antes de dizer:

            - O meu tem gosto de uva.

            Todos os cavaleiros caíram na risada.

            Por último, comeram maçãs caramelizadas em um palito, que deixou os dentes de todos pegajosos, mas aprovaram a sobremesa. Para completar, sorvete de morango caseiro, servido em uma casquinha de pão de azeitona. Lilian torceu o nariz, mas tomou o sorvete e ofereceu a casquinha ao irmão. Athena amou tudo e estava muito satisfeita.

            Foram então na parte da festa mais ansiada pelas crianças: o parque de diversões. Ver o parque deixou Athena mais animada do que estivera até então e a menina teve vontade de sair correndo, mas estava bem segura pelas mãos de Saphyra e Lucius. Porém, ela dava pulinhos, vendo todas aquelas cores e movimento.

— Quero ir em todos! – anunciou.

E foi feito. Ela andou no carrossel com Saphyra, as pessoas encarando aquelas duas criaturas belas e bem-vestidas como se fossem uma atração do exuberante carrossel e não suas ocupantes. Athena foi nas xícaras com Lorenzo, rindo enquanto estas giravam, e o cavaleiro de Câncer ficou meio enjoado, mas não protestou. Lilian decidiu levá-la no trem fantasma, mesmo com o protesto dos outros cavaleiros, e Athena adorou, pois nada lá lhe colocara medo, só a fizera rir, enquanto as outras crianças choravam. Por fim, Lucius decidiu ir com ela na roda.

Contudo, devido a uma regra que crianças só andavam com outras crianças em cabines para crianças, ela acabou sozinha na cabine sem nenhum dos cavaleiros. Enquanto pensava em quão chato seria andar sozinha na roda gigante, uma menina entrou e Athena sentiu imediatamente o cosmo que queimava dentro dela. Seu primeiro pensamento foi que a menina era alguma amazona em treinamento no Santuário e fora mandada para brincar com ela. Depois, percebeu que não, que era uma menina do mundo lá fora e aquilo a deixou muito feliz. Primeiro porque haviam pessoas especiais no mundo de fora e, segundo, significava que a menina a tratava bem por ser ela mesmo e não apenas por ser uma deusa.

Durante a conversa que tiveram, Athena percebeu uma tristeza enorme na menina chamada Sophia. Conseguiu sentir vislumbres do sofrimento pelo qual ela passara e aquilo a deixou mexida. E, quando o passeio acabou e Lucius a tirou da roda gigante imediatamente, Athena sentiu que haviam arrancado algo dela. Algo que lhe pertencia. Queria conversar mais com Sophia, mas não era possível. E isso a deixou cabisbaixa.

— Algum problema, Athena? – perguntou Lucius, preocupado.

            A menina negou com a cabeça.

            - Tem certeza? - insistiu ele.

            Suspirando, Athena perguntou:

            - É possível ter pessoas aqui nesse mundo com cosmos? Cosmos bons?

            - É muito raro, mas é possível. - respondeu ele – Por que quer saber?

            Pensou em falar sobre Sophia, mas decidiu que era melhor não. A conversa que tivera com a estranha menina do mundo exterior fora pouca, mas tão pessoal, que Athena não queria dividir a existência dela com ninguém, nem mesmo com Lucius.

            - Curiosidade. - disse por fim.

            Decidiu que, quando voltasse par ao Santuário, falaria com Shun a respeito.

            Após tomar essa decisão, se animou novamente com a festa. A tarde estava se aproximando do fim, por isso, teria pouco tempo para se divertir. Como não haviam ido nas barracas de jogos, resolveram finalizar o passeio lá. Havia muitos joguinhos, mas Athena se interessou foi em um prêmio que estava exposto na barraca das argolas.

            Um belo e colorido Pégaso de pelúcia, com asas brilhantes e fosforescentes, estava exposto como prêmio máximo. Ele era imenso e daria até mesmo para Athena montar nele, se quisesse. A menina puxou Lucius e Saphyra com toda força para a barraca.

            - Eu quero aquele Pégaso! - disse, apontando o dedo.

            - É o prêmio máximo para quem acertar todas as argolas, querida. - disse a mulher da barraca.

            Athena então comprou fichas com seu cartãozinho dado por Galahad e começou a tentar pegar. Mas ela nunca conseguia acertar todas as argolas. Comprou mais fichas e nada. A frustração transparecia no rosto da menina, que fez mentalmente todos os cálculos das possibilidades de arremesso e percebeu o motivo de suas derrotas.

            - Meus braços são curtos! - exclamou, chateada – Por isso que tenho menos de 1% de chances de conseguir! - ela estava à beira do choro.

            - Pode deixar, Athena, vou pegar o Pégaso para você. - disse Lorenzo comprando fichas.

            - Não, não, eu vou pegar o Pégaso para Athena. - Lilian comprou fichas também.

            - Ei, não se meta! - Lorenzo reclamou com a amazona – Eu falei primeiro que ia dar o Pégaso para ela!

            - Claro que vou me meter, sua pontaria é péssima! - acusou.

            Lorenzo se mostrou imensamente ofendido.

            - Não é não! - defendeu-se – É bem melhor que a forma com que você dirige!

            Foi a vez de Lilian ficar ofendida.

            - A única vez que você acerta algo é jogando as pessoas no inferno! - exclamou ela.

            - Continue a falar isso e eu vou mandar você para lá! - ameaçou Lorenzo.

            - Ah é? Pois venha! - Lilian fechou os punhos e desafiou-o.

            - Gente, vamos com calma, por favor. - Saphyra se meteu entre os dois – Isso não é motivo para começarmos uma luta de mil dias, não é?

            - É! - responderam os dois ao mesmo tempo.

            Saphyra suspirou.

            - Não é não. - disse com mais firmeza – Até porque, não há mais motivo. - E apontou para trás deles.

            Os dois se viraram a tempo de ver Lucius dando o Pégaso de pelúcia para Athena, que sorria transbordando de felicidade.

            - Obrigada, Lucius!

            - Ei! - exclamaram ao mesmo tempo o cavaleiro de Câncer e a amazona de Aquário, antes de começar a xingar o cavaleiro de Escorpião, que prontamente os ignorou, com um sorriso no rosto.

            Para não ficarem para trás, os dois começaram a jogar para pegar outras prendas para Athena e a menina acabou saindo da barraca com mais alguns Pégasos, um de resina e um de biscuit, além de mais uma pelúcia, só que menor, do Pégaso, do mesmo modelo que o de tamanho grande, que agora era carregado por Lucius.

            - Você pode começar uma coleção de Pégaso, Athena! - exclamou Saphyra levando um dos Pégaso, o de resina, na mão que não segurava a sombrinha.

            - E eu terei contribuído com a metade! - orgulhou-se Lílian.

            - Não, não. - cortou Lorenzo – Você tirou um, eu tirei outro e Saphy pegou a pelúcia pequena e Lucius, o grande. Estamos com 25% cada!

            - Mas a de Lucius deve contar mais, porque é a maior, então eu e o meu irmão temos mais da metade! - procurou ela.

            Eles voltaram a se xingar enquanto Saphyra e Lucius apenas suspiravam, balançando a cabeça, resignados.

            - A outra Athena era bem próxima ao cavaleiro de Pégaso. - disse Athena de repente, após saírem da barraca.

            - Verdade, já ouvi histórias. - comentou Lucius.

            - A outra antes dela também. - continuou a menina – A Athena do século 18.

            - Na mitologia, o Pégaso é o cavaleiro lendário, o primeiro que conseguiu ferir um deus. É considerado o mais fiel a Athena.. - explicou Lílian desviando a atenção de Lorenzo para Athena – Deve ser por isso.

            - É uma pena ter acontecido o que aconteceu. - disse a menina por fim, apertando o Pégaso de pelúcia menor entre os braços.

            Os quatro cavaleiros se entreolharam, preocupados.

           - Olhe, Athena! - exclamou Lorenzo apontando para uma movimentação à frente – Vai começar o desfile! Acho que vai dar tempo vermos antes de voltarmos para o Santuário!

            A luz voltou aos olhos de Athena.

            - Oba! Vamos, vamos! - e saiu saltitando na frente.

            - Ei, Athena, espere! - Lucius correu atrás dela e segurou seu ombro – Não pode ficar longe de nós, lembra?

            - Certo. - falou a menina em tom conformado – Desculpe…

            - Tudo bem, apenas não se afaste – ele a segurava com uma mão e com a outra equilibrava o Pégaso grande embaixo do braço.

            Era fim da tarde quando a procissão começou. Uma imagem enorme de Athena era carregada pela rua principal, enquanto as pessoas aplaudiam e jogavam folhas de louro nela. Athena começou a bater palmas também, esquecendo seu pesar de antes. Mesmo que não se parecesse com aquela estátua e mesmo que não se sentisse a deusa poderosa que as pessoas que a homenageavam pensavam que ela era, a menina estava feliz. Feliz por ter vindo até ali e visto como a humanidade é. Feliz, por ter conhecido Sophia, mesmo que fosse por um momento. Feliz, porque estava com seus cavaleiros e eles pareciam felizes também. Olhou para o Pégaso de pelúcia em suas mãos e depois olhou para o Pégaso grande debaixo do braço de Lucius. Pensou nas Athenas do passado e em seus Pégaso. Ela não tinha nenhum. Mas, apesar de tudo, estava feliz.

            Depois que a estátua passou por eles, seguindo o caminho em direção ao Pathernon, a menina percebeu que o sol já se punha e era hora de voltar para o Santuário.

            - Podemos tomar um sorvete antes de irmos? - pediu aos cavaleiros. Era triste saber que não voltaria ao mundo exterior tão cedo novamente e queria um último momento.

            Lucius consultou o relógio.

            - Que horas o carro vem, Lilian? - perguntou.

            - Em dez minutos. - respondeu a amazona.

            - Se nos apressarmos, dará tempo. Você ainda tem créditos? - quis saber.

            Athena exibiu seu cartãozinho.

            - Gastei muitos tentando pegar o Pégaso, mais ainda tem! - afirmou a menina.

            - Podemos voltar naquele vendedor de mais cedo. - sugeriu Lorenzo – Eu poderia comer novamente aquele de chocolate com menta delicioso.

            - Ou procurarmos vendedor um diferente. - disse Lilian.

            - Por que isso, se já sabemos onde tem um sorvete bom? - questionou o cavaleiro de Câncer.

            - Por que continuar na mesmice? - retrucou a amazona.

            Os dois recomeçaram a discutir e Saphyra foi mais uma vez intervir. Lucius decidiu nunca mais participar de nada que envolvesse aqueles dois e passou a mão pela testa, exasperado, quando alguém passou correndo por Athena e pegou o cartão da menina, sumindo na multidão. Athena ofegou, assustada e Lucius, sentindo uma raiva imensa dentro dele, prontamente disse:

            - Fique aqui, Athena, vou pegar seu cartão! - entregou o Pégaso grande à menina, que mal conseguia segurá-lo e sumiu no meio da multidão.

            Não foi uma perseguição demorada. Rapidamente, Lucius reconheceu o ladrão, o pegou pelo braço e tomou o cartão de Athena de suas mãos. Era um homem franzino que quase teve um treco ao ver a expressão de raiva de Lucius.

            - Eu deveria matá-lo, mas isso estragaria a diversão de Athena. - murmurou antes de socar o homem e deixá-lo desacordado – Odeio ter que segurar minha força. - resmungou sacudindo a mão que usara para bater no homem.

            Voltou para o local onde sua irmã e Lorenzo ainda discutiam e Saphyra tentava acalmar os ânimos. Olhou no relógio. Era hora de ir embora, o carro devia chegar a qualquer momento. Athena teria que se contentar em tomar sorvete só quando chegasse em casa.

            - Athena, ainda podemos comprar para viagem, o que acha?

            Ela não respondeu.

            - Athena? - chamou olhando para os lados.

            Nenhuma resposta.

            - Athena?! - gritou Lucius.

            Os outros cavaleiros silenciaram e olharam para ele.

            - Onde está Athena? - perguntou, o desespero começando a tomar conta de seu coração.

            Os demais olharam ao redor, o pânico se alastrando entre eles.

            No lugar onde antes estava a menina, apenas o Pégaso de pelúcia restara.

            Athena havia sumido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Égide de Athena" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.