Ocean Motion escrita por Camí Sander


Capítulo 15
Capítulo 14 - Sete malditos dias (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

FUI OBRIGADA A DIVIDIR O CAPÍTULO!!!

E ia postar as duas partes em conjunto... mas ainda não terminei a segunda parte, então estou postando essa e até o final da semana, se Deus quiser, eu posto a outra!



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Sete malditos dias

(Parte 1)

 

Aquela semana foi uma loucura.

No domingo, Isabella realmente não foi almoçar comigo e senti-me obrigado a dar uma breve aula de “defesa pessoal” no elevador. Perguntei-lhe se ela se importaria se eu “fizesse uma abordagem” para ensinar-lhe como fugir do rapaz.

—Eu posso apenas chutar suas bolas? – perguntou com olhos brilhantes.

—Jesus, não! – guinchei cobrindo aquela parte de minha anatomia com as mãos. – Se o cara for mau-caráter o suficiente, vai acabar imprensando você na parede até que não sinta dor. Tens que ser sutil, mulher. Usar os teus atributos femininos e garantir que ele não te siga.

Um suspiro saiu dela e a maluca apertou o botão de emergência do elevador.

—Que clichê – murmurei antes de encostá-la contra a parede.

—O que você está fazendo? – rosnou.

Sorri maliciosamente e ergui uma sobrancelha.

—Passo um: não pergunte o que o cara está fazendo quando, claramente, está te encurralando num lugar apertado – brinquei, então olhei para seu rosto, tentando ver algum sinal de desconforto. – Não está se sentindo mal, está? Porque a parede é plana e eu me aproximando assim...

Isabella respirou fundo, fechou os olhos e balançou a cabeça.

—Sei que seu instinto é colocar esses joelhos para funcionar, mas quero te propor a colocar as mãos aqui primeiro – e segurei suas duas mãos espalmadas em meu peito. Minha voz ficou mais baixa à medida que me achegava nela. – Vou deixar um espaço para você, mas outro homem não fará isso, está bem? Deixe que ele se aproxime... então você passa as mãos no tórax dele...

—Por cima da blusa? – perguntou franzindo o cenho.

—Se possível, não, no entanto, agora estou te dando uma aula, portanto não precisa me desmontar. Agora, faça como eu disse. Se quiser, pode usar as unhas tamb... – e engasguei.

Puta merda. Ela arranhou meu tórax por cima do tecido e enviou o sangue todo para o sul.

—Assim, professor Cullen? – sorriu ela convencida.

Assenti e aproximei-me mais do corpo pequeno.

—Quando ele ficar ainda mais perto – murmurei com rouquidão. – Deixe que ele cheire seu pescoço e coloque as mãos nos ombros dele – instruí abaixando a cabeça até conseguir sussurrar em seu ouvido. – Você o tem à sua mercê agora, Isabella – beijei-lhe abaixo do maxilar. – Use as mãos para empurrá-lo contra a parede e ficar no comando.

A respiração acelerada dela deveria ter me parado, mas interpretei como desejo e corri o nariz pela pele macia. Como o ensinado, ela empurrou-me gentilmente para trás, girando nossos corpos e deixando-me contra a parede. Tão sensual!

—E agora? – questionou sem fôlego.

Sorri tentando concentrar-me no que estávamos realmente fazendo. Balancei a cabeça.

—Agora você está no comando, senhora – lembrei-a. – Podes escolher entre beijá-lo ou chutar suas bolas. Mas não precisa demonstrar agora. Na verdade, não demonstre! O homem não vai conseguir te seguir, se você o chutar enquanto ele está apoiado na parede. Eu garanto!

E para me assegurar de que ela não faria o que cintilou em seu olhar, apertei o botão de emergência novamente. Encostei a testa contra a parede e tentei me acalmar. O mar de chocolate refletia perversidade e só o pensamento daqueles joelhos entre minhas pernas já enviava tremores pelo corpo todo. Precisava lembrar-me de nunca mais ensiná-la a seduzir e afastar um homem.

—Sabe, Edward, acho que você esqueceu uma parte importante nessa história – comentou Isabella quando as portas se abriam. – Eu sou filha de um policial e ele reforçou as aulas de defesa pessoal naquele primeiro mês. Mas a sua técnica é interessante também.

E saiu.

Fiquei com muita raiva de Randall por ter deixado a mulher marcar almoço com um cara qualquer e desmarquei com Alice. Não preciso dizer que a baixinha foi além de irônica quando expliquei meu humor terrível. De acordo com ela, isso não estaria acontecendo se eu apenas falasse a verdade para a morena. Mais uma vez, completei que a verdade afastaria de vez Isabella a ponto de que a própria Alice nunca mais ouviria falar da amiga.

Decidi fazer uma pausa no cemitério e visitar minha irmã.

Desde aquele dia no hospital, evitei sem perceber olhar para o túmulo de Elizabeth. O mármore negro, as flores ornamentadas, a pequena imagem de um rosto sorridente esculpida na moldura de bronze e as palavras que tão cuidadosamente minha mãe escolheu. Nada disso me fazia ter repulsa do lugar. Não. Era a pequena caixa de bronze com a tampa de mármore formando um banquinho que me tinha longe dali.

Peguei as fotos e admirei alguns dos momentos mais felizes de minha infância. Uma foto de Esme grávida e sorridente com um garoto beijando-lhe a barriga. Uma foto da família enquanto esperava pela chegada de Lizzie no oitavo mês de gestação. Três crianças correndo pelo quintal. Um garotinho de cinco anos segurando uma recém-nascida enquanto uma menina de dois anos dava um beijo na cabeça do bebê. algumas fotos minhas apenas com Elizabeth no decorrer dos anos e a foto da brincadeira mais comum: Eu sendo o papai, Bella sendo mamãe e Liz sendo nossa filha.

Passei os dedos entre nossas imagens e desabafei ao vento todas as frustrações que tenho carregado. Perguntei à minha irmã se devia ou não contar à Isabella. Em meu interior, sabia que precisava falar a verdade, principalmente se quisesse algum tipo de relação com ela. Contudo, Bella sempre deixara muito claro que nunca teríamos qualquer coisa além de uma estranha amizade.

Meu celular interrompeu as explicações que dava à Lizzie sobre minha decisão de manter tudo em segredo. Tentei ignorar, mas tocou imediatamente depois que caiu no correio de voz. Peguei o aparelho para desligar quando vi o número.

—Isabella? – atendi de imediato.

—Ed-ward – gaguejou a voz na linha.

Porra, ela estava chorando!

—Bella, o que aconteceu? – levantei-me de pronto. – Você está bem? Foi aquele seu encontro, não foi? Onde você está? Estou em meu caminho para quebrar a cara do desgraçado.

—Edward – chamou-me com a voz entrecortada. – Podes vir me buscar? Ou estou atrapalhando o seu almoço com Alice? Desculpa, estou te incomodando, não é? Eu pedirei um carro, pode voltar ao...

—Não, não! – interrompi. – Eu cancelei com Alice assim que você decidiu não participar. Ela entendeu e disse que conversaria com você amanhã mesmo. Onde você está?

—Carlucci Rosemont.

—Chego em vinte minutos – anunciei, já abrindo a porta do carro. – Espere-me dentro do restaurante e peça alguma coisa para comer.

Terminamos nosso dia com uma boa comida italiana e ela reclamando sobre todos os homens mentirosos da face da Terra. Incluindo esse que estaria pagando pela sua refeição. Revirei os olhos algumas vezes e voltamos para casa com Isabella prometendo que não cairia mais no golpe das palavras vagas.

Segunda-feira pegou fogo.

Fui chamado por Alice no RH para tentar acalmar a morena por causa das ações da empresa e acabei gritando com Isabella em retorno. Os seguranças precisaram interferir porque estávamos assustando alguns candidatos às vagas de emprego.

—Foda-se! – Bella trovejou marchando para minha sala. – Eu não acredito que tomaram essa decisão por mim! Vinte por cento da empresa! O que eu vou fazer com essa merda? Eu odeio esse lugar! É sujo, abafado, estressante... argh!

—Nós precisávamos de alguma maneira para...

—Cale-se, Alice! Sei que essa ideia foi sua!

Os olhos de minha irmã arregalaram-se com a reprimenda da amiga. Pelo visto, Bella nunca tinha usado esse tom com ela. Tremendo, a baixinha sentou-se em uma das cadeiras ali dispostas e implorou minha ajuda com os olhos.

—Abaixa a bola, Isabella – alertei. – Não importa de quem foi a decisão. Meus pais concordaram e tudo foi feito dentro da lei.

Ela riu sarcasticamente.

—É muito dentro da lei se passar por outra pessoa!

—Ninguém se passou por ninguém – contra-argumentei. – Se quiser culpar alguém, culpe a sua total falta de interesse na papelada que assina todos os meses. Está tudo lá. Basta abrir o arquivo e ler com atenção antes de rubricar na linha pontilhada.

—Eu achei que era aquela porcentagem por estar trabalhando além do horário! – esbravejou.

—Mas é – sussurrou Alice.

Os olhos da morena pararam de fuzilar minha alma e miraram a baixinha. Desconfortável, a pequena remexeu-se na cadeira e fitou as próprias mãos instaladas em seu colo.

—Precisávamos de alguma nova conta para depósito. Você disse que éramos para colocar em alguma conta paralela, não disse? Poderíamos fazer isso se você tivesse alguma porcentagem das ações. Eu só pegaria uns dois por cento da minha herança, mas papai e mamãe disseram que você merecia mais do que isso. As ações estavam dispostas em 25% para cada membro da família.

—Seus tios...

—Não, Bella, eles não são sócios da Ocean. São apenas investidores – explicou Alice. – Fizemos uma reunião de negócios em um jantar em família e concordamos que cada parte te daria 5% de suas ações. Carlisle e Esme já colocaram no testamento deles que as partes deles será dividida entre Edward e eu por igual. Você pode vender suas ações para Rosalie, se acha injusto.

A Swan respirou fundo e olhou brevemente em direção da minha prima.

—Entendo que o restante da família tenha concordado com a sua insanidade, mas por que o Edward faria isso? – questionou por fim. – Ele me odeia!

Cruzei os braços e encostei-me na parede.

—Voto vencido – Alice deu de ombros e sorriu para mim. – Edward não queria chatear a mamãe. Mas acho que grande parte do que ele fez foi para te tirar do sério.

—É a razão da minha existência, afinal – retruquei. – Agora que resolvemos esse assunto, podemos voltar a trabalhar?

Isabella bufou e fuzilou-me novamente com os olhos.

—Você só pode estar brincando! Não resolvemos merda nenhuma aqui! Quero que encontre os advogados da empresa e arranje para que as ações sejam redistribuídas a vocês. Agora tem mais gente no setor e eu não trabalharei as 48 horas semanais. Não preciso mais da “bonificação”.

—Você está me dando ordens? – inquiri franzindo o cenho. – Não estamos na sua casa, Isabella. Esse é o meu território e você é minha funcionária. Aqui sou eu que dou ordens.

Ela ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços, batendo um pé teimosamente.

—Deveria ter pensado nisso antes de presentear minha pessoa com o mesmo tanto de ações. Agora somos sócios igualitários e eu não preciso mais te obedecer. Tanto é que estou saindo para meu almoço um pouco mais cedo... e carregando sua irmã comigo. Até mais tarde, Cullen!

Foram suas palavras antes de segurar o pulso de Alice e arrastá-la pela empresa até o refeitório. Segui as duas pelas câmeras incrédulo até que percebi Rose rindo da sua mesa. Gritei para que ela fosse trabalhar e deixei Isabella Swan de lado por aquele momento.

Terça-feira Isabella saiu mais cedo do que de costume porque precisava resolver um problema familiar. Eu soube disso apenas quando fui buscá-la no setor e Angela questionou-me preocupada. Liguei para Seth assim que prometi que lhe daria notícias.

Quão surpreso fiquei ao encontrar o vadio do lado de fora da porta do apartamento? Indescritível. Precisei empurrar o moleque para o lado e invadir o cômodo para falar com ela. Atitude deplorável, eu sei, mas não deixaria ela com um novo impostor sem supervisão.

Forcei um sorriso e cumprimentei o estranho com a cabeça antes de pedir, por favor, que minha adorada noiva me acompanhasse até nosso quarto. A máscara de simpatia caiu quando, já no quarto dela, fui questionado sobre algum problema.

—É sério? – explodi. – Qual foi a resposta que te cativou dessa vez? O homem nem tem olhos claros, Isabella!

—Eu sei – ela fungou e seus olhos encheram-se de lágrimas.

Quebrei-me por dentro. Quem quer que fosse aquele cretino, estava fazendo a minha pequena chorar e isso não ficaria assim. Puxei-a para os meus braços e alisei seus cabelos.

—O que aconteceu, pequena? – sussurrei.

Ela soluçou algumas vezes e apertou os braços ao meu redor. Quando respondeu, sua voz estava entrecortada de dor.

—Ele está morto, Edward. Meu Thony está morto.

—Porra! – grunhi. Coloquei uma pequena distância entre nós para que pudesse olhar em seus olhos e averiguar os danos. – E você acreditou nesse filho da puta? É o que o seu coração diz? Que Anthony está morto?

Bella baixou os olhos.

Porra!

Impostor do demônio!

Beijei sua testa e abracei-a por um momento antes de sorrir para ela e conduzi-la até a sala. Parei na frente do rapaz e usei minha voz de patrão com o estranho.

—Mostre-me uma foto dele.

—Como é? – questionou o homem.

Cruzei os braços e ergui uma sobrancelha.

—Você ouviu, seu merda! Mostre-me uma foto de Anthony para que eu saiba se é o certo.

O rapaz ofegou um pouco e piscou várias vezes antes de gaguejar que não trouxera foto. Ah, sim, é muito fácil vir até a casa de uma mulher e dizer que o homem que ela tem procurado está morto. Deixava a moça sensibilizada e ela faria tudo o que você pedisse? Não funciona comigo.

—Então vá para a puta que te pariu e só volte com uma foto do Thony criança. Se não for ele, você sairá voando escada abaixo – anunciei como se fosse algo corriqueiro. – Você não pode vir aqui e dizer que os sonhos de uma garota estão acabados e não ter provas. Portanto, até você voltar, se voltar, assumiremos que Thony está vivo. Entendeu?

Assentindo, o homem despediu-se de nós e correu porta afora. Quando o rapaz saiu, Isabella jogou-se em meus braços. Retribui o abraço com cuidado e lembrei-a de solicitar sempre fotografias da pessoa que ela procura. Eu não estaria sempre por perto para salvá-la.

Na quarta-feira, Rose abordou-me sobre minha demora para contar à Isabella a verdade. Ela queria se casar logo. O que uma coisa tinha a ver com a outra?

—Rosalie, não faz sentido você ter adiado o casamento por causa disso – informei.

—E como acha que me sentiria me casando e precisando mentir para a minha amiga? – exigiu. – É sério, Edward, você precisa contar a verdade para ela! Essa sua decisão está afetando a felicidade de ambos. Não consegue ver isso?

Revirei os olhos. A minha felicidade, com certeza, mas Isabella estaria melhor se não soubesse no que o seu amor platônico se transformou. Naquela cabecinha de vento, o cara era um príncipe encantado. Se eu quisesse, algum dia, contar a verdade, teria que desconstruir essa ideia dela. No momento, não fazia ideia de como poderia fazer isso. Precisava ligar para o psicólogo.

—Sabe que, se me esperar, ficará noiva para sempre, não sabe? – questionei a loira, passando a mão pelos cabelos.

Rosalie sorriu presunçosa.

—Conheço você, Cullen – anunciou. – Sei que está se aguentando para não contar a ela que está perdidamente apaixonado por aquele corpinho cheio de curvas. E ouso dizer que se ajoelharia e imploraria para que ela ao menos o desejasse.

—Cala a boca, sua idiota! – ri dela.

—Ah, primo, a Bella é muito gostosa. Admita!

Admito... mas não para a louca da minha prima. Isso era para eu pensar antes de sair da cama pelas manhãs. Rosalie, simplesmente, teria que se contentar em imaginar meus pensamentos.

—Virou lésbica agora, maluca? – zombei puxando a ponta de seu rabo de cavalo. – Eu sabia que você não batia bem da cabeça. Primeiro Emmett, agora garotas...

Ugh, movimento errado. Como sair dessa saia-justa?

Rose fechou a cara e cruzou os braços. Aí estava minha defensora dos fracos e oprimidos. Os lábios em uma linha rígida e uma sobrancelha arqueada. Sua voz soou como gelo.

—Você tem algum preconceito sobre homossexuais ou halterofilistas, Edward?

—Contanto que você não fique azarando a minha garota, fique com quem te dê mais amor, prima. – respondi sorrindo largamente. – Não poderia me importar menos. Só mantenha esse seu corpinho sexy longe da minha menina.

Ela relaxou a postura e suspirei internamente de alívio. Não fui criado para julgar o amor de ninguém... mas ela tocara no assunto “Marie” e esse departamento era meu.

—Não se preocupe, primo, o casamento com o Emmett ainda vai acontecer. Você só precisa falar com ela – explicou docemente. – De preferência, até o final de semana que vem. Estou com todos os preparativos encaminhados. Só falta que meus padrinhos estejam prontos!

Soltei uma respiração pesada. Duas semanas. Fiquei três meses refletindo sobre como poderia abordar o assunto e não cheguei a nenhuma conclusão satisfatória. Agora Rosalie me colocava contra uma parede para o prazo de duas fodidas semanas!

—Edward e sua mulher misteriosa serão padrinhos? – indagou Isabella, aparecendo do nada.

Estremeci do susto. Tinha acabado de abrir a boca para pedir à Rose um tempo maior e a diaba brota na minha sala! Sorri de canto para a recém-chegada e cruzei os braços.

—Somos o casal mais importante, na verdade – respondi arrogantemente.

Ela bufou.

—Rose e Emmett estão esperando você parar de ser covarde, obviamente – Bella deu de ombros. – Mas também esperam que eu encontre meu Thony. Vim aqui avisar à minha amiga que o detetive diz ter uma pista promissora. Me encontrarei com ele logo depois da consulta ao psicólogo.

Olhei para a minha prima e sorri zombando da situação. Nesse passo, eu poderia levar o tempo de vida do Randall para esconder a verdade.

—Rosalie, mandarei o presente de casamento para a casa dos teus pais – anunciei. – Já que você vai morrer noiva, posso lhe entregar um agrado.

A morena cruzou os braços, franziu o cenho e mordeu o lábio inferior.

—Por que você acha que a sua adorável garota nunca vai te aceitar, Edward? – questionou.

Oi?

—Quem disse que eu estava falando dela?

As duas bufaram. E foi tão perturbador que olhei de uma para a outra de boca aberta.

—Porque você é muito previsível e covarde – a loira comentou como se falasse do clima. – Sabe que tudo se resolveria ser você só falasse a verdade. Bella, você acha que ela diria não a um rapaz como o meu primo?

Isabella ergueu uma sobrancelha para mim, mas respondeu a outra.

—E alguma mulher no mundo diz não ao seu primo?

Sorri de lado reprimindo a vontade de prender seu olhar no meu. Isabella fez aquela contraposição de tal maneira que parecia que nunca dissera um não para mim. Justo ela!

—Conheço apenas uma que faz isso constantemente— insinuei.

—Se é assim, você está ferrado – Bella retrucou com impertinência.

Rose deu-nos as costas e saiu reclamando em alto e bom som que éramos dois burros e cegos e que merecíamos o que tínhamos. Fiquei assistindo sua cena com uma careta até que a morena soltou uma gargalhada e se sentou na cadeira à minha frente.

—Ela é louca – comentou ainda sorrindo. Concordei com a cabeça. – Mas sobre você falar com a sua garota, definitivamente, é vital ser feito. Precisa se livrar da sentimentos. É como o doutor falou, você tem que se perdoar e deixar que os outros te perdoem também.

—E você já se perdoou por ter sido estuprada? – retruquei arrogantemente. – Porque, com certeza, se eu preciso me perdoar por algo que eu fiz, você deve se perdoar por aquilo que se culpa sem razão. A culpa não foi sua, Isabella.

—Eu sei – suspirou. – Lá no findo, sei que não foi culpa minha. Nem sua. A culpa é daqueles doentes. Mas como terei coragem de olhar para o homem que se lembra apenas das coisas felizes de infância e falar dos traumas que passei nesses últimos meses?

—Da mesma maneira que fala comigo – respondi simplesmente. – O homem entenderá a situação e nunca te culpará por isso. Nunca!

E essa era uma promessa.

Bella fitou-me temerária. Senti ímpetos de colocar sua forma em meu colo e embalá-la como uma criança. Estendi a mão para ela e entrelacei nossos dedos sobre a mesa.

—Como sabe?

Revirei os olhos. Era tão absurda! Como se alguém a incriminasse pelo que aconteceu!

—Se algum dia, algum homem te julgar por isso, ele não merecerá nenhum pensamento a mais de preocupação vindo de você. Eu colocaria o cara na cadeia só por insinuar tal atrocidade.

Isabella riu e apertou minha mão.

—Obrigada, lorde Cullen. Agora, por que não me deixa ajudar com a sua mulher misteriosa?

Ergui a sobrancelha.

—Como pretende fazer isso?

Ela revirou os olhos chocolate e encarou-me descrente.

—Cullen, eu sou a pessoa que mais te irrita na face da Terra, não sou?

Assenti com a cabeça e cruzei os braços. Aquele papo me deixou curioso.

—E você me deu uma aula de como incapacitar um possível tarado. Agora é minha vez de te ensinar a conquistar uma garota que não se rende fácil.

Pisquei algumas vezes. Alguém envenenara Isabella e colocara essa cópia em seu lugar?

—Não precisa parecer tão atordoado! – reclamou a moça. – Você me ofende agindo assim!

—Perdoe-me – pedi. – Mas a minha Isabella nunca, nem em mil anos, faria isso por mim. Tem certeza de que está bem? Bateu a cabeça? Está com febre?

Ela riu e bateu minha mão para longe quando tentei medir sua temperatura na testa.

—Hoje à noite, depois de conversar com o psicólogo, treinaremos suas habilidades de romance... E, depois, as minhas habilidades de ter minha cama de volta.

Estreitei meus olhos para ela. Aí estava sua razão, afinal.

—Isso é para me expulsar da sua casa? – arrisquei. – Se quiser que eu saia, é só falar, Isabella, não precisamos de formalidades.

—Está bem – concordou sorrindo. – Quero que você durma no sofá a partir de hoje.

Espera. O quê? Por que o sofá? Estamos casados e eu me encrenquei?

—Você tem um quarto de hóspedes e minha casa é do outro lado da parede – argumentei. – Por que eu dormiria no sofá com três camas à disposição?

—Randall começará a dormir no quarto de hóspedes... E você prometeu para a sua mãe que estaria sempre por perto, portanto, o sofá é o mais perto que você pode estar.

Como é que é?

—Que porra Randall fará dormindo na sua casa?

—Amanhã temos um encontro com um homem que tem certeza do paradeiro de Thony. Hoje analisaremos as probabilidades e sairemos cedo.

Para o inferno com as possibilidades!

Contudo, deixei que fizesse como se sentia à vontade. Pedi à Rosalie que providenciasse um ramalhete para a hora que saíssemos do consultório. Levei a Swan para casa e disquei para o detetive antes do homem aparecer em seu apartamento. Conversei com Randall sobre o absurdo em que se metera no hall do edifício, ele prometeu que seria apenas por três dias, para o caso de Isabella desconfiar. Menos mal. Jeffrey alcançou-me com as flores quando embarcávamos no elevador e galanteei Isabella com aquele gesto. Não que tenha adiantado, já que ela esteve disposta a colocar-me no sofá.

Esperei que todos dormissem. Esperei até mais do que o necessário, fingindo ressonar quando a morena passou por mim em busca de um copo d’água. Então fiz meu caminho até sua cama. Até parece que eu dormiria no sofá tendo uma cama tão convidativa ali ao lado!

Minha felicidade durou a noite inteira até que despertamos com seu alarme na manhã seguinte. Num minuto, dormíamos abraçados, no outro, estava sendo empurrado para longe.

—Edward? O que está fazendo aqui? Você não dormiu no sofá?

—Bom dia, Isabella – sorri bocejando e me espreguiçando. – Acordou melhor?

Ela piscou algumas vezes antes de responder grogue:

—Estou perfeita, então pode me explicar por que está na minha cama?

—Você começou a se debater demais – menti. – Faltou pouco para gritar e assustar o seu hóspede. Não acho que Randall se acostumou a ouvir a potência das suas cordas vocais.

Ela franziu o cenho e analisou meu rosto por um longo momento antes de assentir. Beijou meu rosto, virou-se para afastar as cobertas e espreguiçou-se estalando vários ossos no caminho.

—Preciso mudar seu sobrenome para Crunchy – comentei rindo dela.

Ganhei seu dedo médio como resposta e segui para meu apartamento esperando que o dia não me desse mais problemas. E ansiando muito para que Rosalie não inventasse de dizer a verdade para a amiga. Eu conhecia minha prima muito bem para saber que a possibilidade existia.

Infelizmente, a quarta-feira não foi tão tranquila quanto eu gostaria. Isabella foi ao encontro de seu novo falso Thony e atrasou-se para o serviço, rendendo-me a terrível presença de Jacob em meu escritório questionando seu paradeiro. Terrível presença porque avisou-me sobre o seu encontro com ela no sábado. E lembrou-me de ficar em meu próprio apartamento durante o final de semana. Então toda aquela história de sofá veio-me à cabeça.

Bella não queria saber se poderia dormir sozinha. Queria ter certeza de que poderia dormir com outro homem em casa. Um que não fosse eu. E Jacob parecia seguro de levá-la para a cama. Não parecia se importar com o fato de que Bella poderia estar traumatizada porque era cedo demais.

—Você ficará longe da Isabella, está me ouvindo? – rosnei levantando-me da mesa.

Ele sorriu desdenhoso para o meu comportamento.

—Ou o quê?

—Posso acabar com a sua vida, seu desgraçado!

—Assim como está acabando com a dela?

Esse comentário me pegou de surpresa. A raiva esquecida por um momento.

Acabando com a vida de Isabella? Eu?

—O que quer dizer com isso?

—Todos sabem que você é quem ela procura – o moreno deu de ombros. – Está estampado nesse seu rosto. Bella é a única que não vê. Na verdade, acho que ela até sabe, mas não quer ver por que quer acreditar que o homem dos sonhos dela não é tão pedante e egoísta. Bella precisa de um homem como eu. Um que não arranque o inferno para a superfície a todo o maldito tempo.

Rosnei de raiva, porém, não pude retrucar. Aquele demônio poderia estar certo, afinal. Isabella e eu vivíamos declarando guerra um contra o outro. A maneira teimosa dela me irritava completamente. Além do mais, ela ficava fofa quando faiscava aqueles chocolates para mim.

—Então é a porra de um fetiche? – supôs ele rindo da minha cara. – Conte para mim, Cullen, ela fica mais selvagem na cama quando está com raiva? Preciso saber para sábado, sabe como é.

A gota d’água.

Pulei em seu colarinho e empurrei-o contra a parede grunhindo.

—Desgraçado! – rugi. – Você não encostará em Isabella!

—Por quê, Edward? – ela questionou passando pela porta aberta. – Preciso do meu funcionário no setor, Cullen. Pode liberar a camiseta de Jacob agora ou terei que chamar os seguranças?

Não olhei para ela. Não tinha tempo para isso. Precisava arrancar aquele sorriso petulante da cara do imbecil antes que ele saísse porta afora. Esperava, veemente, que Rosalie tivesse escutado cada palavra saída dele e planejasse torturá-lo.

—Melhor chamar a polícia, Isabella. Porque eu vou matar esse filho da puta!

—Só porque aceitei sair com ele?

Mal as palavras afundaram em meu entendimento, eu estava soltando o rapaz e encarando a mulher de pouco mais de um metro e meio com ar altivo.

—Você fez o quê? – guinchei descrente. – E o seu Thony? Desistiu de encontrar?

—É claro que não! Mas eu falei para você. Preciso encontrá-lo para explicar as razões pelas quais nosso noivado não poderia ser real.

—Que porra? – soltei atordoado.

—Aliás, preciso estudar a possibilidade de que ele não quer ser encontrado – assinalou ela com um meio sorriso. – Não posso ficar aqui de braços cruzados. Sou jovem, solteira e mereço ter boas recordações da vida. Mereço viver.

Facas em meu peito enquanto Jacob sorria e apoiava a mão no ombro dela. Fuzilei aquele gesto e puxei Bella pelo pulso. Ele não estaria encostando em nenhuma parte dela!

—Merece viver com um cara que só quer te foder? – trovejei. – Porque eu conheço esse tipo muito bem. E, se fosse o caso, por que um colega de setor? Você poderia transar com qualquer um daqueles impostores malditos. Por que o Jacob?

Ela puxou seu braço para longe de mim.

—É nessas horas que eu entendo a razão da mulher que você ama te negar tanto! Se eu quisesse apenas foder, teria te atacado na minha cama. Afinal, desse assunto você parece entender. Jacob, temos trabalho a fazer. Vamos deixar o senhor Cullen trabalhar também.


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Notas finais do capítulo

Estressadinho, hein? O que acharam? Gostaram? Odiaram?
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