Until My Last Breath escrita por Lady


Capítulo 7
Sexto




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Depois do quarto dia, Nico poderia dizer que estava entediado. Quer dizer, para pessoas consideradas “comuns”, nada naquele enorme castelo seria entediante, mas para ele, que já estava tão acostumado com a escuridão e presença dos mortos, nada daquilo era novidade.

No primeiro dia no castelo, ele se trancou no quarto e terminou de chorar toda a água do corpo. Ele estava cansado de sempre estar chorando, ou reprimindo o choro desde a morte de Will Solace. Tudo bem que haviam se passado apenas três dias da morte do rapaz, então era considerado normal todos os sentimentos de luto e choros que Nico tinha, mesmo assim, ele se repreendia sempre que a vontade vinha em público. Principalmente na frente de seu pai.

No segundo dia, Nico lutou mais bravamente para sair da cama e tomar um banho. Havia sido uma constatação desagradável perceber que ele não tomava banho desde o dia anterior, dia em que ele chorou tanto que não se lembrava a hora de ter adormecido e nem a hora que acordou ou, até mesmo, quanto tempo ficara na cama apenas olhando o teto do quarto. Mesmo não querendo fazer nada e sem vontade alguma de sair de sua cama, Nico se esforçou para tomar um banho decente. Sua cabeça latejava de dor pelo choro e seus olhos adiam, cada mínimo movimento era doloroso para o rapaz. Depois do banho, voltou a deitar-se e perdeu a hora novamente.

Nico foi tirado de seu torpor quando ouviu alguém bater na porta. Uma batida leve, tão tímida que só foi ouvida pelo quarto estar em silêncio absoluto. Ele não tinha forças nem para mandar a pessoa entrar.

— Nico? — Uma voz feminina preencheu o quarto.

Se ele não estivesse tão fraco, poderia até sorrir para a pessoa que entrava no quarto. Mas todas suas forças pareciam se esvair sempre que Nico fazia movimentos bruscos e o estômago doía, afinal não comia desde a manhã que Will morrera. Quatro dias. Ele sabia que aquilo não lhe ajudava em nada, sabia que definhar até morrer não traria Will de volta e, que possivelmente, seus atos acabariam magoando aqueles que gostavam de si. Inclusive Hazel que entrava no quarto, meio maravilhada, meio horrorizada.

— Nico! — A menina exclamou quando viu o corpo esquelético esparramado na cama. — Por que está fazendo isso consigo? Por que não pensa nas pessoas que te amam e ainda estão vivas?!

Hazel mantinha um semblante de preocupação latente no rosto. Suas mãos tremiam e a menina teve medo de abraçar o irmão e acabar quebrando-lhe os ossos. Nico estava mais pálido que o normal e veias verdes apareciam destacadas em seus braços. Não era uma visão bonita de se ver. Mesmo sem querer, a menina começou a chorar ao ver o estado do irmão.

— O que está fazendo aqui? — Nico sussurrou. Por um breve momento se arrependeu de estar do jeito que estava. Ele não queria magoar Hazel, não queria que ela se preocupasse com ele, mas Nico não conseguia ter forças para lutar contra o desânimo e a tristeza profunda que o abatiam cada vez mais, sempre que lembrava que nunca mais iria ver Will Solace.

Ele sabia que algumas pessoas o achariam patético por entrar em estado de depressão por ter perdido a pessoa amada, sabia que eles não eram casados ou ao menos noivos para Nico ficar tão miserável, mas Will era como uma luz na vida de Nico, ela era o porto seguro do moreno, era quem o apoiava, quem o segurava sempre que caia, quem esteve ao seu lado enquanto Nico travava uma batalha difícil de auto aceitação sobre quem era e sobre seus sentimentos. Will já fazia parte de Nico e quando o loiro morreu, havia sido como se metade dele houvesse ido embora com o outro. Nico não se sentia mais inteiro, uma parte de si havia ido embora para nunca mais voltar.

— Jason me contou o que havia acontecido... Eu fiquei desesperada e pedi a Reyna que me desse algum tempo fora do acampamento para que eu pudesse ficar contigo. — Contou a menina. — Foi então que eu rezei para que Hades me permitisse ficar contigo...

Nico olhou incrédulo a irmã. Ele sabia que não teria sido fácil para Hazel, orar para Hades e pedir para que voltasse ao mundo inferior, ela ainda tinha medo de ter a alma reclamada pelo deus.

— Eu sei o que você está pensando. Eu tive medo de morrer novamente, mas minha vontade de cuidar de você foi maior... — Hazel limpou as lágrimas secas e sorriu para Nico. — Confesso que fiquei com medo quando Hades apareceu no santuário de Plutão, ambos me pareceram tão iguais e diferentes ao mesmo tempo...

A menina riu, deitando-se junto a Nico.

— Achei incrível como Hades se preocupa contigo, Nico... Ele me permitiu ficar aqui, mesmo que eu seja romana e que tenha fugido dos Asfódelos. Ele sabia que talvez minha presença pudesse te ajudar...

Nico sorriu brevemente. Nunca imaginou que Hades, o deus dos mortos, pudesse ter um coração tão caloroso para com os filhos.

— Você tem que comer, Nico. Não pode continuar assim! Você acha que Will iria gostar disso? De te ver tão decrépito assim?

Nico estremeceu ao ouvir o nome do namorado. Embora soubesse que Hazel estava certa, algo dentro dele ainda era mais forte. A vontade de se fundir a cama e nunca mais acordar.

— Você tem que ser forte, irmão... Senão por mim, por Will. Você sabe que ele odiaria saber que você está desse jeito.

Nico suspirou e pegou na mão de Hazel. Os olhos dourados o fitavam com cautela, o cenho franzido trazia a Hazel uma expressão carregada, fazendo-a parecer vários anos mais velha que Nico. Deixando-a com uma responsabilidade que não era dela. Era de Nico. Dependia dele, e apenas dele, sua melhora. Ele tinha que perseverar e ser firme após sua perda.

Ele já havia sobrevivido da morte de Bianca e do Tártaro. Então ele poderia superar mais isso... Certo?

No quarto dia, dia em que Nico se encontrava entediado, Hazel explorava o castelo. A menina foi de grande ajuda no dia anterior, quando apareceu no quarto no irmão, injetando-lhe ânimo o suficiente para conseguir sair de seu estado de torpor e reagir a tudo o que lhe acontecia. O dia anterior havia sido o dia que Hazel começou a ajudar, de fato, na recuperação de Nico.

Era o sexto dia desde a morte de Will Solace e Nico já não chorava sempre que lembrava do ex-namorado. Obviamente ainda sentia uma tristeza e uma sensação de vazio profunda, mas o simples fato de estar conseguindo controlar as crises de choro e consequentemente as crises de pânicos que tinha (isso incluía esqueletos saindo do chão enquanto dormia), Nico poderia dizer que estava começando lentamente com o seu progresso de aceitação da morte. Voltou a comer, pouco mas comia, e começou a sair mais do quarto.

Vez ou outra, escutava Hazel conversando com os amigos sobre Nico. A menina dava notícias, acalmava-os sobre a situação do moreno e contava-lhes os progressos que vinha tendo para a melhora dele. Nico não podia ser mais grato pela irmã. A primeira vez que recebeu uma mensagem de Íris de um de seus amigos, aflitos em saber como ele estava, o menino não conseguiu falar nada e desligou no mesmo momento em que Percy e Annabeth pediam para que ele não o fizesse.

Desde então, ele pediu para Hazel fizesse e recebesse as ligações.

Pouco a pouco, ele ia ganhando forças novamente para que pudesse realizar uma proeza as escondidas. Nos primeiros dias, sua dor era tão grande e avassaladora que Nico não raciocinava direito. Ele era filho do deus dos mortos, então poderia invocar as almas do submundo e conversar com elas! Ele já havia feito isso com Bianca e com Minos, então poderia também fazer com Will!

Ele não sabia se Hazel iria aceitar a ideia, por isso não contara seu plano para ninguém. Ela achava que o irmão estava se cuidado para que pudesse voltar a viver normalmente depois de um tempo, mas a real motivação dele, era para que tivesse forças o suficiente para convocar a alma do amado. Sabia que sua ideia tinha um alto risco, sabia que poderia não conseguir e sabia que poderia ser descoberto e sofrer uma punição de seu pai. Mas tinha que tentar.

Ele precisava ver Will uma última vez.

*

Era engraçado como eles estavam tão pertos e tão longe ao mesmo tempo. Enquanto Nico estava no castelo do pai, sofrendo a morte do amado e maquinando maneiras de poder revê-lo, Will estava cada vez mais perto do castelo, mas, também, cada vez mais perto de perder completamente a memória. Ele não se lembrava com clareza o motivo de estar indo ao castelo de Hades. Apenas sabia que tinha algo extremamente importante para fazer lá. Talvez reclamar com o deus sobre a falta do que fazer no Asfódelos? Ou sobre como aquele lugar era mortalmente entediante e monocromático? Ele não se lembrava, mas tinha a vaga sensação de que ia se encontrar com alguém.

Ou alguma coisa.

Ou encontrar alguém sobre alguma coisa...

Will não tinha tanta certeza. A única coisa que o fazia seguir adiante, era a terrível sensação de perda e vazio que sentia.

E ele sabia que talvez no castelo, aquilo pudesse passar. Por isso persistia.

— O que eu vou achar lá? — Se perguntou aflito.

Algo o atraía ao castelo, algo que ficava forte cada dia mais.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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