Until My Last Breath escrita por Lady


Capítulo 5
Quarto




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786456/chapter/5

Na manhã seguinte a morte de Will, o acampamento ainda estava de luto. O sol estava escondido por entre as nuvens cinza e os campistas faziam suas atividades com caras abatidas e ânimos esgotados.

Nico olhava o teto do chalé treze, recusando-se em sair da cama e ter de encarar a dura realidade. Ali, entre as paredes e todo um ambiente aconchegante a si, ele podia fingir que nada acontecera; que o dia de ontem era apenas um pesadelo horrível. Porém seus olhos inchados e a dor de cabeça que sentia, denunciavam o choro sofrido da noite anterior.

Com um suspiro cansado, retirou as cobertas de si e se levantou da cama. Não se olhou no espelho, tinha medo do que poderia encontrar no reflexo, e se demorou debaixo do chuveiro. Não conseguiu refrear as lágrimas que caíram durante o banho, nem os soluços que as acompanharam. Vestiu suas típicas roupas negras e respirou fundo ao se lembrar que Will adorava escolher roupas claras para si.

As horas pareceram parar quando Nico abriu a porta do chalé. Os campistas olharam para si, surpresos e solidários (alguns até receosos), e logo depois voltaram para suas atividades. Nico percebeu que o sol estava escondido por entre as nuvens e o tempo estava cinza e estranhou. Aquilo não era tão comum no acampamento por isso ia até a Casa Grande falar com Quíron e saber o motivo de os deuses estarem estranhos, porque sim, era perceptível que algo acontecia no Olimpo.

— Por hades... — sussurrou ao perceber que conforme andava, a grama murchava.

Sua melancolia era tamanha que já não controlava seus poderes e tudo o que tocava morria. Começou a pensar que não deveria ter saído do chalé 13, que não deveria nem ter acordado naquele dia... Será que era possível morrer de tristeza? Sentiu o corpo começar a tremer, o coração se apertou e o ar saiu de seus pulmões. Aquele sentimento de desespero e perda misturado deixava-o sem rumo. Fechou os olhos, apenas para tentar conter as ondas de tristeza que emanavam de si, mas se desconcentrou assim que sentiu alguém tocar seus ombros.

— Bom dia Nico... — Jason falou sorrindo fracamente e apertando de leve seu ombro.

O moreno se encolheu brevemente do toque e se afastou o mais delicado que conseguiu.

— Estava indo ao seu chalé agora. Quíron me pediu que te chamasse. — Jason deu de ombros. — Ele está te esperando na Casa Grande.

Nico concordou e passou a seguir o amigo. O silêncio era desconfortável e indesejado. Jason não sabia se falava alguma coisa para o moreno ou se simplesmente ficava quieto. As palmas da mão suavam pelo nervosismo de não saber o que fazer e Jason escolheu a opção que achou que Nico preferiria. Ficou quieto apenas acompanhando-o.

Nico, por outro lado, não pareceu perceber o dilema de Jason, já que seus pensamentos estavam longe da realidade. Os olhos amendoados percorriam cada metro do acampamento, meio apáticos, seus movimentos eram lentos e o corpo parecia pesar mais do que deveria. Estava exausto e, mesmo tendo dormido a noite inteira (depois de horas de choro), parecia que não havia dormido nada.

Dionísio jogava com alguns sátiros o jogo de cartas que Nico sempre esquecia o nome e ao lado do deus gordinho estava Quíron, confortavelmente sentado em sua cadeira de rodas. O jogo parou assim que Nico subiu os poucos degraus da casa e se prostrou de frente ao centauro.

— Nico, eu espero que esteja melhor agora de manhã — o mais velho falou. Suas mãos ágeis o conduziam para dentro da casa e ambos os rapazes seguiram o homem. — Mas entendo que não queria falar disso agora...

Nico não era acostumado a entrar naquele cômodo, por isso levou um leve susto quando o quadro de cabeça de tigre se mexeu. Já fazia anos desde que encontrou aquela cabeça empalhada pela primeira vez...

— Na verdade o que vamos conversar aqui é um assunto um tanto delicado... — Quíron deu início. Seus dedos finos se embrenharam na barba grossa e massagearam o local. — Você claramente perdeu o controle de seus poderes.

O menor recolheu os ombros, envergonhado, e se encolheu no sofá onde estava.

— Ontem você causou pânico pelo acampamento diversas vezes. Mesmo enquanto dormia, rachaduras apareciam e mãos esqueléticas tentaram sair do Hades.

Se possível, Nico se fundiria ao sofá. Aquilo explicaria o porquê de estar tão cansado e dolorido. Só em pensar nas ondas de escuridão e melancolia que atingiram os campistas enquanto ele dormia, fazia Nico se sentir pior do que já estava.

— Eu vou tentar me controlar... Mas tudo o que eu vejo me lembra Will... — falou baixo. A garganta doía pelo choro que não deixava sair.

Nico di Angelo, o semideus filho de Hades, o temido, o respeitado... Estava reduzido a lágrimas e soluços? Respirou fundo e voltou a encarar o centauro.

— Conversei brevemente com Hades e ele achou melhor você passar alguns dias no palácio dele... Até que se acalme e consiga retomar o controle.

O mais novo abriu e fechou a boca algumas vezes e suspirou derrotado. Não tinha o direito de reclamar sobre aquela decisão tomada. Quíron estava apenas pensando no bem-estar dos campistas e Nico, de fato, precisava de um tempo sozinho para se recompor e superar a perda de Will. E ficar no acampamento relembrando tudo o que ele e o namorado viveram era demais para si.

— Ei. — Jason chamou-o. — Você não está sozinho. Lembre-se que tem a mim, Percy e Annabeth e a Reyna... E várias outras pessoas que também se importam contigo.

Nico respirou fundo e meneou a cabeça em concordância. Levantou-se do sofá, meio trêmulo, e andou devagar para a varanda da casa. Se passaria uma temporada na casa do pai precisaria arrumar a mala com alguns de seus pertences. Olhou o céu cinza daquela manhã e deu de ombros, provavelmente os deuses estariam em outra briguinha boba que nada tinha a ver com os semideuses.

*

Tudo o que Hades queria naquele momento era um remédio para dor de cabeça. Estava sentado à mesa do café da manhã fazendo o desjejum quando lhe foi reportado que seus subordinados haviam perdido a alma de Will Solace.

Como poderiam ter perdido a única alma que Hades pediu (algo muito raro de ocorrer) para ser cuidada e observada a todo o momento? Era uma tarefa tão simples! Bufou irritado, massageando a têmpora esquerda e fechou os olhos, cansado.

— Meu senhor. — Uma empregada chamou-o delicadamente. — A senhora Afrodite já chegou. Posso mandá-la entrar?

Abriu os olhos e bebericou o chá que tomava. A temporada que Perséfone e Deméter ficavam no mundo dos vivos deixava sempre muito quieto o castelo e ele começava a sentir falta do falatório matinal da esposa. A empregada o olhava esperando uma resposta.

— Mande-a entrar. — Falou.

Tornou a encher a xícara com o chá de especiarias do mundo inferior e quando a deusa convidada entrou no cômodo, Hades deu um sorriso mínimo, mais por educação do que por vontade mesmo. A visita da deusa não era por motivos que ele gostaria de debater logo pela manhã durante o desjejum, mas era algo que precisava ser conversado com urgência.

— Olá Hades.

Afrodite usava um vestido preto simples e com renda até metade das coxas. Os cabelos estavam soltos e ondulados e parecia usar apenas uma maquiagem leve. O barulho característico de sapatos de salto alto não preencheu a sala e Hades não conseguiu conter a surpresa ao ver sapatinhas nos pés da deusa, completando o visual extremamente básico e nada parecido com ela. Ergueu as sobrancelhas negras e apontou o lugar a sua esquerda.

A mulher andou de forma calma e contida. Não era acostumada a visitar Hades (na verdade era a primeira vez o que fazia) e por isso todo aquele ambiente lhe era muito estranho. Os tons escuros das paredes, os sons das almas agonizando que pareciam penetrar as paredes, os empregados com aparências fantasmagóricas (alguns até esqueletos bizarros) faziam seus pelos todos se arrepiarem.

— Creio que já sabe o motivo de minha visita. — Começou agradecendo pelo chá que lhe era servido pela empregada.

Hades suspirou e então mirou os olhos negros e profundos na deusa. Afrodite tomava o chá servido com uma tranquilidade que, na verdade, não existia. Estava com raiva, isso o Olimpo inteiro havia percebido. A notícia de que havia enfrentado Zeus, havia se espalhado com o vento. Muitos celestiais estavam em choque com o embate entre os deuses e não demorou muito para os cochichos e apontamentos começassem.

— Como deve saber, eu e Zeus estamos numa situação um tanto quanto delicada. — disse Afrodite, calma. — Ele não quer quebrar as regras para que Apolo fale com o filho, Asclépio, para que faça a poção da cura da morte.

— E onde isso se encaixa a mim? Como sabe, Zeus me proíbe de ir ao Olimpo e eu não sou um deus muito popular... — Hades comentou. A cada movimento que fazia com os braços, tanto para pegar a xícara de chá ou um bolinho disposto à mesa, sua capa preta reluzia rostos de almas punidas eternamente. Aquilo começava a agoniar Afrodite e a deusa se perguntou como ele teria feito a junção das almas ao tecido.

— Você é o deus dos mortos, Hades. — A mulher falou como se fosse óbvio. O que, de fato, era. — Sei que tens o poder de trazer alguém à vida. Não faria isso nem para a felicidade de teu próprio filho?

O deus estreitou os olhos diante a pergunta traiçoeira da mulher e estalou a língua. Afrodite era esperta e sabia manipular muito bem.

— Isso não é uma coisa que costumo fazer com frequência. Sabe disso. Aliás, o que você tem a ver com toda essa confusão?

— Eu velava o romance de seu filho como um bem precioso a mim. Era um sentimento muito puro e raro, mesmo entre os imortais. — O tom de voz contido dizia o quanto ela estava inconformada com erro das Moiras. — Não vou deixar aquilo minguar.

 Hades analisava a mulher de forma curiosa. Nunca havia visto Afrodite tão empenhada em manter o romance de alguém. Geralmente a deusa se divertia causando empecilhos e ‘provações’ para que os casais se mostrassem verdadeiramente apaixonados.

— Mesmo se eu quisesse revivê-lo, a alma de Will Solace está perdida pelo Hades. Infelizmente não posso abandonar minhas responsabilidades para ir à busca desta alma...

— Como assim perdeu a alma de Will? — Afrodite parecia meio incrédula demais.

— É uma longa história. A questão é que a cada momento milhares de almas chegam ao Hades e localizar uma única perdida me levará muito tempo. Já mandei Alecto ir a busca dele, mas a cada minuto vagando por aí a alma dele vai perdendo a essência.

— Então assim que achar a alma dele poderá revivê-lo? — A pergunta foi feita com uma dose de animação e esperança que Afrodite não conseguiu disfarçar.

— Zeus já deixou muito bem explícito a mim que isso era proibido, milênios atrás, e que eu jamais deveria fazer novamente, caso contrário teriam consequências. Então eu me pergunto... O que você está disposta a fazer em troca da alma de Will Solace?

Afrodite sorriu delicada e pediu licença da mesa. O chá estava quase intocado na xícara. Desamassou o vestido preto e olhou Hades com um brilho decido no olhar.

— Há muito tempo Zeus me deve um favor que nunca fiz questão de cobrar, porém tenho a leve sensação de que a prepotência dele o fez esquecer aquele dia... Enfim, peço que faça tua parte, que a minha eu farei. — Andou até a porta e antes de sair, olhou mais uma vez ao dono da casa. — E não se preocupe com consequências. Aos ouvidos de Zeus, eu terei sido a única que seguiu contra suas leis estúpidas.

Hades levantou-se da mesa e rumou para a sala do trono. Tinha que falar com Alecto para intensificar a busca pela alma do rapaz e pedir para que ajeitassem o quarto de Nico. Mesmo tendo a reputação de deus frio e sem sentimentos, o filho conseguiu conquistar seu espaço no peito de Hades então ao saber que sua prole estava deprimida, acabou atiçando a necessidade de protegê-lo e apoiá-lo.

— Só espero que não seja tarde demais quando encontrarmos a alma dele...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Until My Last Breath" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.