Until My Last Breath escrita por Lady


Capítulo 4
Terceiro




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O tempo parecia se arrastar enquanto Will esperava extremamente confuso, na fila para o julgamento de sua alma. Tentava se lembrar do que havia acontecido para estar ali, mas sua mente estava confusa e distorcida. Cada vez que se esforçava, mais incoerente as imagens ficavam e mais dor de cabeça sentia.

Ele não sabia como havia parado ali, mas se lembrava vagamente de um homem alto de terno italiano o olhando com uma pena indisfarçada o conduzindo para uma barca e, logo depois, o mesmo homem vestindo robes escuros e assustadores lhe dizendo que fora uma viagem já paga. Sua mente confusa sussurrava o nome do homem, mas Will se recusava a acreditar. Se aceitasse que aquele era Caronte que o conduzia pelo rio Estige na travessia do mundo dos vivos para os mortos, ele teria certeza de que surtaria ali mesmo no Hades.

Várias eram as almas na sua frente, mas por algum motivo que Will não conseguia entender, ele já era o próximo a ser julgado.

Seus olhos azuis não permaneceram muito tempo olhando as figuras que lhe julgariam. Estava nervoso, queria gritar, correr e voltar para o Acampamento Meio-Sangue. Queria Nico. Inconscientemente levantou os olhos e procurou pelo castelo de Hades. Seu namorado poderia estar lá, certo? Ele ainda poderia encontrar-se com Nico uma última vez antes de ser julgado e condenado a sabe se lá o que fosse?

Já não sentia seu coração bater e as pontas de seus dedos estavam frias. Queria chorar ao finalmente perceber que estava morto, mas não conseguia. Não havia lágrimas em seus dutos lacrimais e o sangue já não corria por suas veias. Will se resumia apenas a uma alma sem corpo físico, sem vida, sem o futuro que ele tanto imaginou ao lado de Nico di Angelo.

Sequer ouvia o que os juízes falavam a seu respeito. Pouco importava a si o que falavam. Ele apenas pensava em Nico. Nos olhos cor de avelã, na pele pálida, no sorriso pequeno, porém sincero, em Nico. E o quanto ele ficaria destruído com sua morte.

Não ligava se não conseguia se lembrar de como morrera. Não ligava para qual seria seu destino a partir daquele momento. Nico era mais importante que qualquer outra coisa. Seus olhos azuis sem brilho percorreram por todo o Hades até achar, muito distante de onde estava, o castelo que se erguia numa imponência assustadora.

Então Will correu.

*

Jason andava de um lado a outro, nervoso.

Logo após o desmaio de Nico, Jason correu com ele para a enfermaria do acampamento e ficou com o moreno até que conseguissem estabilizar a respiração do rapaz. Mesmo tendo se passado uma hora desde o desmaio, Jason olhava preocupado para o menino de aparência péssima.

A chuva inesperada já havia cessado e alguns campistas voltavam lentamente as suas atividades. Quíron entrou na enfermaria e ficou ao lado de Jason, observando o sono induzido do filho de Hades.

— O que aconteceu? — perguntou o homem mais velho.

Jason soltou o ar dos pulmões lentamente e deixou seus ombros caídos. Era palpável a preocupação que sentia e a frustração de não saber o que de fato aconteceu naquele momento estava o irritando.

— Ele estava bem... Estávamos conversando e de repente ele ficou em choque — falou relembrando da cena de horas atrás. — Ele parecia ter sentido alguma coisa que o desestabilizou muito.

Ao seu lado, ouviu Quíron suspirar entristecido e notou as mãos trêmulas do centauro. Com um olhar mais aguçado, Jason viu que Quíron franzia as sobrancelhas e tinha um ar preocupado na face. Abriu a boca para perguntar qual era o problema, mas logo a fechou quando escutou uma agitação pelo acampamento. Notou o homem ao seu lado sorrir entristecido e afagar de leve a mão pálida do menino adormecido.

Um adolescente loiro, com cabelos cacheados e olhos azuis entrou pela enfermaria. Tinha os olhos abatidos e uma harpa estava em suas mãos. Jason percebeu que aquele era Apolo pela aura de poder e divindade que o garoto emanava, mas não compreendeu o motivo de ele estar ali. Ele andava em direção a Nico e, logo na entrada da enfermaria, Jason viu os filhos daquele deus parados lá. Alguns chorando, outros tentando parecerem fortes.

— Sinto muito — Quíron falou assim que o adolescente parou do outro lado da cama onde Nico dormia profundamente. Apolo sorriu entristecido para o centauro.

Foi então que Jason entendeu o que acontecia ali. E ele se sentiu extremamente infeliz ao lembrar o que Nico disse. Ele sentiu a morte de Will Solace. A constatação era cruel demais, aquilo tudo era cruel demais para um menino que já havia supero tanto. Jason derramou algumas lágrimas e manteve o silêncio que aquele momento pedia.

Os dedos finos de Apolo tiraram os cabelos úmidos da testa de Nico e acariciaram a face magra do rapaz. Ele sentia toda a angústia, tristeza e raiva que Nico sentia. Eram sentimentos muito intensos e que tomavam todo o ser do rapaz. Mesmo inconsciente Nico emanava aquela aura pesada e lúgubre e quase palpável.

O deus presente beijou a testa do moreno e sussurrou ao pé do ouvido.

Me desculpe — e então uma única lágrima caiu de seus olhos azuis e molhou a bochecha do rapaz.

Depois de recitar algumas palavras em grego antigo, Jason viu a cor voltar gradativamente para Nico e os dedos de Apolo parar no peito do rapaz, bem na direção do coração.

— Essa é uma dor que nem o tempo poderá curar totalmente — sua voz soava baixa.

Jason se remexeu levemente desconfortável com aquilo e respirou fundo. Com um pedido de licença sussurrado, o loiro andou para fora da enfermaria e tomou uma longa golfada de ar.

Então andou trêmulo até o chalé de Afrodite, rezando para que Piper estivesse lá. Ele precisava de um abraço apertado e da sensação de segurança e paz que a namorada lhe proporcionava.

*

Ele não sabia por onde corria. Se pudesse, escutaria seu coração bater feito um louco e sua respiração estaria entrecortada. Mas Will já não tinha esse luxo. Ele já não vivia mais.

Correu seus olhos pelo local em que estava e franziu o cenho ao notar que estava perdido. A atmosfera sombria e macabra não mais o assustava, nem o cheiro pútrido não queimava suas narinas, tampouco poluíam seus pulmões. Os gemidos dolorosos que ouvia ao longe chegavam cada vez mais perto, conforme ele andava e, num ato puramente automático, Will prendeu a respiração ao se deparar com um campo aberto e cheio de almas lastimosas, andando de formas derrotadas e melancólicas.

As lamúrias e gemidos entristecidos eram indecifráveis, os rostos se embaçavam quando Will tentava focalizar numa única alma e os corpos tremeluziam de forma assombrosa. Eram almas de pessoas que viveram a vida de forma simplista, mas que agora estavam reduzidas a apenas figuras fantasmagóricas que não se lembravam sequer os próprios nomes.

O Campo de Asfódelos era um lugar sombrio e largo. Tomava uma longa extensão pelo Hades e Will soube que, para conseguir chegar até o castelo do deus, teria de atravessar aquela planície repleta de árvores sombrias e almas melancólicas.

Pelo o que vagamente se lembrava de uma conversa antiga com Nico, qualquer pessoa que era condenada ao Campo de Asfódelos, uma hora perdia a própria essência. Aquele havia sido o dia que Nico contou como encontrou Hazel e o motivo da menina ter permanecido lúcida após tantos anos lá.

E, quanto mais Will Solace adentrava aquele lugar, determinado a chegar ao castelo de Hades, pouco a pouco ele ia se perdendo em meio a multidão e perdia lentamente sua essência.

*

Nico respirou fundo e abriu os olhos lentamente. Sua cabeça girou e ele gemeu dolorido. Estava na enfermaria e apenas o fato de estar num local que lhe lembrava tanto Will, fez seu peito doer e as lágrimas voltarem aos olhos.

Aquilo doía mais do que quando perdeu Bianca!

As pernas trêmulas não o impediram de sair de lá e notar que já deveria ter passado da hora do jantar. Seus movimentos apáticos o levaram até a fogueira e a cena que viu, fez as pernas bambearem e o coração falhar. As lágrimas grossas caíram em peso e Nico teve de procurar algum apoio para não cair no chão.

Os campistas estavam em silêncio absolutos, enquanto os filhos de Apolo recitavam um poema homenageando o semideus morto. Um rapaz que não deveria ser nem dois anos mais velho que Nico segurava uma mortalha em mãos e chorava, na verdade todos os filhos do deus-sol choravam entristecidos.

Era a mortalha de Will Solace. E eles queimavam-na e faziam meios desajeitados e melancólicos, o rito fúnebre que era papel de Nico fazer. O moreno tampou a boca com uma mão, tentando em vão conter o soluço do choro sofrido e ao seu redor a grama murchou. Nico não conseguia lidar muito bem com seus poderes de filho do submundo quando estava sentindo emoções muito fortes e negativas.

Tentou conter as rachaduras que se abriam no solo e os pequenos esqueletos que saiam por ela. O desespero se apossou de si quando notou que sua natureza, as sombras e escuridão, não mais lhe respondiam corretamente. A confusão mental e emocional no moreno estava lhe afetando profundamente. Os gritos assustados dos campistas acordaram Nico do desespero interno que travava.

Correu desesperado para longe do anfiteatro e, onde seus pés tocavam, a grama murchava e morria. A visão turva pelas lágrimas não o deixava ver por onde corria, por isso quase caiu no lago de canoagem. Sentou-se no píer e olhou o céu estrelado. Lembrou-se das várias noites em que ele e Will passavam observando as estrelas e fazendo promessas para o futuro e pelos carinhos trocados a luz do luar.

Se nada tivesse acontecido, talvez os dois pudessem estar aproveitando a noite estrelada e tendo a tão esperada primeira vez de ambos.

Uma pessoa se sentou ao lado de Nico na beirada do píer, mas o rapaz não fez questão de se mexer nem para falar com a pessoa, ou ao menos ver quem era. Ele já sabia pela áurea divina e carregada da deusa.

Os dedos finos tocaram as madeixas negras de Nico de forma gentil e o moreno não se moveu diante o toque. A apatia era notável.

— Tanta dor e tristeza... — a voz suave soou triste e o suspirou no final da sentença apenas reafirmou a indignação da mulher.

— O que quer Afrodite? Veio zombar da minha tristeza? Rir da minha perda? Dizer que você planejou isso desde o início? — a voz de Nico não trazia o tom de acusação que as perguntas exigiam. Ele estava soando quase resignado. Apático. Vazio.

A deusa recolheu os dedos dos cabelos negros do rapaz e crispou os lábios. Sabia que seria acusada, que Nico poderia estar cultivando uma raiva descomunal por ela, mas aquilo o que via a sua frente era uma coisa pior. Ele já não reagia. Fora que ser acusada de ir rir de sua dor e zombar sua perda eram coisas cruéis demais até para ela. Era essa a visão que Nico tinha dela?

— Não vim fazer nada do que me acusas. Chego até a ficar ofendida por esperar essas coisas de mim — o timbre de Afrodite era como a mais bela canção de amor. Soava pelo ouvido de Nico e fazia o coração palpitar. E isso o lembrou Will. O filho do deus-sol quem cantava para si e fazia o coração disparar, as bochechas corarem e as borboletas voarem no estômago.

— Por que fez isso? Por quê? — o tom quebrado do adolescente fez Afrodite se sentir infeliz por um mortal como há séculos não se sentia.

— Infelizmente as moiras traçaram uma vida injusta a ti, Nico. Já cedo perdeu a mãe e depois a irmã. Apaixonou-se pelo herói do acampamento que já tinha namorada e sofreu muito mais do que se pode imaginar...

Nico fungou e secou as malditas lágrimas que pareciam não ter fim. Aquele passado sombrio já não lhe assombrava com tanta frequência. Will foi o principal fator para ele superar e seguir em frente.

— Confesso que meu filho foi responsável pela dor de amar Percy Jackson, mas aquilo era necessário para você ser quem é hoje. Estava traçado... — disse dando de ombros e olhando cada mínima reação do moreno. — Mas Will Solace foi inesperado até para mim.

Os olhos castanhos chorosos de Nico olharam surpresa a deusa ao seu lado.

— Quando eu vi vocês dois estava criando uma amizade próspera e começando um sentimento puro um pelo outro. Fui apenas uma telespectadora do romance de vocês. Fazia séculos desde que eu vi uma coisa tão bela nascer entre os mortais, era puro, verdadeiro... Genuíno!

Nico soluçou e amaldiçoou o fato de estar se mostrando tão frágil e chorão.

— Eram abençoados por mim — confessou. — Desde que iniciaram a amizade, eu os abençoei. As moiras erraram quando cortaram o fio de Will, mas eu vou fazer o que for possível para que isso seja reparado.

O sorriso complacente que Afrodite deu a Nico ascendeu uma ínfima esperança de que tudo pudesse melhorar para si. O moreno concordou e fechou os olhos, as horas de choro começavam a lhe dar dor de cabeça e seus olhos estavam inchados. A deusa acariciou a bochecha pálida de Nico e cantou-lhe uma canção de ninar. Aos poucos o cansaço arrastou Nico para a inconsciência e ele dormiu com a cabeça apoiada no colo da deusa enquanto ela lhe fazia um cafuné e lhe cantava cantigas antigas.

Naquela noite, Nico sonhou com Will.


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Notas finais do capítulo

Para aquelas pessoas que possam estar achando estranho o Nico estar tão frágil e choroso, eu imagino que uma pessoa quando perde alguém que ama, fica deste jeito. "Ah, mas o Nico é durão, filho de Hades". Ele é um ser humano como qualquer outro, então não vejo problemas dele estar triste. Outra, não sabemos de fato como Nico reage a uma perda próxima, Rick nunca nos mostrou de fato como Nico ficou após a morte de Bianca, apenas vimos vislumbres de seu luto, não acompanhamos todo o processo.



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