Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 21
Dor


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, um século se passou. Não sei o que é pior, falta de inspiração e muito tempo ou muita inspiração e falta de tempo. Sofri do segundo.
Boa leitura, por favor leiam as notas finais, sério.



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O sol se espreguiçou na linha do horizonte quando Sasuke e seus dois companheiros de caçada entraram no território do País do Chá. 

 

Kakashi insistiu que parassem para descansar por algumas horas, mas o moreno não estava a vontade com isso, ele queria dar fim a toda a distância que o separava de Sakura naquele momento. Ele aceitou no entanto, sabia que seria tolice entrar em território inimigo cansado, já era desvantagem o suficiente estar no quintal dele, onde os recursos estavam a sua disposição e a ameaça em si era desconhecida. 

 

Sasuke sentou ao pé de uma grande árvore, as primeiras luzes do amanhecer se infiltravam delicadamente por entre as folhas. Kakashi se acomodou em um galho próximo com Pakkun deitado em seu colo e o ruivo havia saído para buscar água. O moreno fechou os olhos na tentativa de acalmar seus pensamentos, ele não tinha esperanças de dormir, mas sua cabeça borbulhava com mil coisas diferentes. O medo se esgueirava traiçoeiro por suas veias, e se eles chegassem atrasados? E se Sakura estivesse além da salvação? E se estivesse machucada? A imagem de seu corpo frágil e desacordado deitado e preso na maca onde a encontraram da última vez preencheu sua mente.

 

Sasuke suspirou profundamente, ele era incapaz de descansar dessa forma.

 

Ele levantou a mão por instinto quando os sentidos aprimorados lhe alertaram para o objeto voando em sua direção. Ele abriu os olhos para a superfície lisa da casca da maçã, vermelha como o cabelo do homem que as trazia, dois cantis de água pendurados no braço, o outro junto ao corpo segurando uma meia dúzia de maçãs vermelhas e roliças.

 

— Desjejum - ele jogou uma para Kakashi também e o homem de cabelos prateados acenou em agradecimento.

 

Jung se acomodou na raiz protuberante da árvore ao lado, comendo sua própria fruta. Sasuke mordeu a dele e o gosto doce demais encheu seus sentidos, ele ignorou, era melhor estar alimentado durante a batalha. Eles permaneceram em silêncio por longos minutos, o sol cada vez mais brilhante naquele início de manhã. Um pássaro cantava em algum lugar.

 

Sasuke fechou os olhos mais uma vez, a presença de Jung próximo era algo que lhe intrigava. Mesmo para ele, um pária nos assuntos do coração, o ruivo era nitidamente apaixonado por Sakura, e embora ela não lhe retornasse o sentimento o homem de olhos lilases continuava por perto, preocupado, cuidadoso, carinhoso até.

 

Se fosse bem sincero o Uchiha tinha que admitir que em primeira instância sentiu ciumes do outro, como não? Sakura correu para ele apenas a menção de sua presença, eles eram próximos, íntimos, sincronizados, se fosse sincero de verdade, Sasuke estava morrendo de ciúmes. Jung tinha compartilhado mais tempo ao lado de Sakura do que ele, visto Sarada nascer, crescer, tinha estado lá em cada momento importante. E por mais que ferisse seu orgulho admitir, era tudo culpa sua, consequências das suas escolhas egoístas.

 

E ele admitiu é claro, não antes de protagonizar aquela cena ridícula no hospital. Sasuke ainda sentia um pouco de inveja do ruivo por tudo o que ele pode ver e fazer que lhe foi privado, mas agora ele era nada além de grato. Jung cuidou de Sakura quando Sasuke não o fez, segurou sua mão, lhe deu abrigo e segurança, cuidou de sua filha, amou ambas, ele sempre seria importante para elas e isso não lhe incomodava mais, ele já tinha passado dessa fase.

 

— Como Sakura era quando gennin? - a voz profunda do ruivo estilhaçou o silêncio.

 

Sasuke sentiu sua expressão se suavizar, algo entre a diversão e o horror pairava sobre essas memórias - Irritante.

 

— Ma ma Sasuke, não seja rude - Kakashi parecia quase divertido, nostálgico - ela era adorável.

 

— Grudenta, uma shinobi desleixada e uma adolescente vaidosa - o moreno quase podia ver a menina de olhos grandes e corando furiosamente perto dele, parecia uma vida atrás - mas ela era, é, a mais inteligente, e gentil acompanhada de um pavio curto.

 

— Eu nem consigo imaginar Sakura como uma shinobi menos do que excelente - divagou o ruivo.

 

— Deveria ter visto ela aos treze anos.

 

Kakashi suspirou de seu galho - O que nos leva em frente são nossas motivações, Sakura não tinha nenhuma forte o suficiente para aguentar o treinamento necessário, além de não ser naturalmente talentosa no combate, ela teve que construir isso, e o fez, quando encontrou a motivação certa.

 

Se algum bem tinha vindo de sua deserção certamente seria isso. Mas Kakashi não estava completamente certo sobre isso, não era apenas motivação que faltava em Sakura, ela já queria ser alguém forte pra eles antes de Sasuke deixar a vila, o que lhe faltava era um direcionamento correto. Quando a Godaime assumiu o treinamento dela foi um ultimato, ela seria excelente independente de ter que ficar forte para arrastar o membro faltoso do time sete.

 

— Como foi quando ela morreu? -. Sasuke olhou para a figura relaxada entre as raízes salientes, ele olhava para cima, mas o moreno sabia que esperava uma resposta - Sakura, como foi saber que ela estava morta? - completou.

 

Curiosidade flutuava sobre o medo nos olhos lilases, e a pergunta levou Sasuke muito longe. Ele não era o maior fã de jogar conversa fora, mas como não conseguia relaxar não se incomodou. O moreno se pôs a pensar na pergunta, como havia sido? Eram tantos sentimentos sufocantes, uma época tão sombria que ele não sabia como pôr em palavras, ele não era o membro eloquente do time sete.

 

— Foi surpreendente - Kakashi foi quem respondeu - Eu mandei Sakura para aquela missão, ela era minha iryonin mais competente e capacitada, a única capaz de realizar esse tipo de missão solo. Era um rank B para uma jounin heroína de guerra, deveria ser simples, mas então as coisas se tornaram suspeitas, tive que reclassificar a missão para rank A, e de repente ela não estava mais lá, havia apenas uma vila queimada, ossos carbonizados e relatórios incompletos. 

 

Pakkun se mexeu no colo de seu mestre, acomodando o focinho para poder olhar para o rosto escondido pela máscara - Eu era seu Hokage, seu sensei e seu camarada e eu a mandei para a morte. Ela era minha única kunoichi, a menina dos olhos do time sete, sempre presente e pronta pra nós, e então ela não estava mais lá. 

 

Sasuke observou Kakashi passar acariciar o pelo curto de Pakkun, o olhar distante, melancólico e pesaroso. Ele nunca imaginou um momento em que Kakashi se abriria assim, mesmo que soubesse que seu sensei havia sentido tanto pela morte de Sakura, como todos os integrantes do time sete ele se sentia culpado, culpados por não estarem lá para ela como ela esteve pra eles.

 

— Eu não me lembro bem, não quero lembrar - Sasuke se viu falando - são tudo lembranças borradas, sombrias, um buraco tão profundo que eu não consigo enxergar direito, e foi assim por um longo tempo -  mesmo agora, lembrar disso era desorientador. Ele estava naquele poço de melancolia novamente, sem forças para sair, Naruto estava muito destruído também para poder ajudá-lo a se levantar, e Kakashi era uma casca fechada. Eles se levantaram eventualmente, juntos os três, mas não sem dor - Em algum momento me acostumei com a dor, segui para fazer a vida valer alguma coisa, fazer ao menos uma pequena parte do bem que ela teria feito se pudesse.

 

Jung acenou e voltou a olhar para as folhas banhadas no sol - Sarada tinha dois anos quando Sakura me disse que estava morrendo, eu sabia que ela estava doente, é claro, mas ela era uma médica tão incrível que nunca pensei que isso pudesse acontecer - ele passa as mãos pelo cabelo vermelho nervoso - Eu não reagi muito bem, e em uma tentativa de suavizar as coisas Sakura começou a contar piadas muito mórbidas. “O que vamos fazer amanhã Sakura?” “Provavelmente morrer mas caso não aconteça podemos levar Sarada pra comer tonkatsu” - ele bufou uma risada - Eu odiava isso, até que percebi que era uma forma de ela me consolar, me fazer acostumar com isso.

 

— Funcionou? - Sasuke pergunta, genuinamente curioso.

 

O ruivo balança a cabeça - Não, pensar nisso ainda me assombra.

 

— Talvez as piadas não sejam para você - o mais velho dos três ofereceu.

 

Como deve ter sido? Passar anos apenas esperando o momento em que as forças iriam faltar e a morte chegaria reivindicando todo o seu futuro ao lado da filha que ainda era tão pequena. Indo dormir todas as noites com a possibilidade real e esmagadora de não acordar, o desespero de deixar Sarada pra trás. Talvez Kakashi tivesse razão, talvez fosse só uma forma de Sakura tentar aceitar seu fim precoce.

 

— Não importa pra quem eram, não vai mais acontecer.

 

Os três entraram em um silêncio confortável após o ultimato de Sasuke, e duas horas depois de sua parada eles voltaram a seguir a trilha. 

 

O país do chá era como Sasuke se lembrava desde a sua última visita, principalmente rural e repleto de lindos campos de chá verde que se perdiam de vista, pequenas casas as margens das estradas. Pakkun informou que o cheiro estava ficando mais  fraco conforme se aproximavam da capital, seus rastros estavam sendo dispersos pelo tempo.

 

Eles seguiram rumo o centro do país até quase o meio dia, quando o ninken lhes levou por uma rota diferente. A tensão era palpável entre os três, a adrenalina correndo enlouquecida por suas veias, aguçando seus sentidos para a luta iminente. O som do próprio coração retumbando nos ouvidos de Sasuke com cada pulo nos galhos do pequeno bosque rodeado de plantações de chá. Ele expandiu sua consciência com os sentidos sensíveis a qualquer ninja que os interpretasse em sua entrada no território inimigo. Curiosamente ninguém apareceu.

 

Mesmo a antecipação da batalha não o preparou para o cenário que de repente se abriu para ele. As árvores se deitaram na terra e uma grande clareira, obviamente artificial pela quantidade de troncos derrubados ainda com terra caindo de suas raízes a mostra. Ele e seus dois companheiros de viagem pararam na borda da clareira, olhando ao redor confusos com o que aquilo significava. A terra estava revirada, havia destruição por todos os lados, Sasuke se perguntou o que havia acontecido ali, e por que esse cenário estava no meio de seu caminho.

 

E então ele viu.

 

No centro da clareira havia uma enorme cratera, um pequeno palacete meio destruído as suas margens, uma nuvem de poeira fina pairando ao redor, um cintilar suave azul turqueza se destacou em meio ao cenário. Sasuke sentiu o coração se apertar ao lembrar da última vez que vira aquilo, e o que aconteceu em seguida. Sakura estava de pé, a pele brilhando no azul suave do chakra, das pontas dos cabelos rosados até os olhos ofuscantes em um verde sobrenatural. A névoa verde pairando ao seu redor, sua mão envolvia o pescoço de um homem, cabelos longos e brancos, um kimono branco sujo e um sorriso lunático, e apesar do moreno jamais tê-lo visto antes a não ser pela foto no escritório de Naruto, ele sabia que era Yoshiro.

 

O homem de cabelo branco também envolvia os pescoço delgado de Sakura com suas mãos, e onde ele tocava a pele escurecia, Sasuke não precisava ser um médico para saber que aquilo não era bom. Seu próprio sangue fervia diante da imagem, a fúria que em sua infância e adolescência lhe guiou em sua jornada de vingança se alastrou por seu ser, ele queria cruzar a distância restante e quebrar a mão que ousava tocar em Sakura.

 

A oportunidade havia chegado, e ele faria o que fazia de melhor, vingança.



&



Yoshiro cometeu o mesmo erro que ela havia cometido anos atrás, ou isso ou talvez ele não tenha notado o veneno escondido no sorriso que ela lhe devolveu. Não importava, ele iria pagar por esse erro, tanto quanto ela mesma pagou. Sakura estava a sua mercê agora, ao menos por enquanto, ela não havia se entregado para cumprir os planos dele, não, eram os planos dela em jogo, e não ia esperar nada mais para executá-los.

 

— Feliz por estar aqui comigo minha florzinha? - ele alisou ainda mais as mechas de seu cabelo e Sakura só podia se resignar a isso por enquanto, afinal ela ainda estava presa pelas amarras e com algum selo de contenção de chakra.

 

— Não exatamente - respondeu, e ela cuidou para sua voz soar mansa e misteriosa. Curioso como Yoshiro era, isso iria chamar sua atenção.

 

Dito e feito. O homem de cabelo branco arqueou levemente a sobrancelha para ela, interesse genuíno estampando suas feições bonitas. Sob a luz artificial do lugar em que ela estava presa, Sakura até podia ver um repuxar de seus lábios - Então qual o motivo do seu sorriso meu bem?

 

— Muitos, nenhum deles é você - sorriu novamente, debochada. Ele sorriu também, do jeito venenoso que apenas ele conseguia - a não ser é claro que você considere matá-lo como um desses motivos, o que de certa forma inclui você, apenas o priva de sua vida.

 

— E posso saber como pretende fazer isso? - ele se aproximou mais, a respiração roçando a pele de Sakura - até onde eu posso ver você não tem como fazer nada meu amor. Na verdade você me parece bem indefesa daqui.

 

Yoshiro tocou a mandíbula de Sakura e ela estremeceu, a bile subindo em sua garganta, o estômago se revirando conforme ele passeava por sua pele com o dedo delicado como apenas alguém que nunca tinha trabalhado de verdade poderia ter. Primeiro por seu rosto, descendo para o pescoço, clavícula e ombros, nunca deixando de encarar com seus olhos amarelos de citrino. Ela também não se intimidou, mesmo com o estômago se embrulhando com o toque, ela permaneceu encarando e devolvendo o olhar com suas próprias esmeraldas furiosas.

 

— Você deveria saber Yoshiro, que indefesa nunca foi uma palavra para mim.

 

Se aproveitando da proximidade Sakura lançou sua cabeça contra a dele que foi incapaz de prever o movimento. A dor gritou em seus ouvidos conforme as testas se chocaram e pela primeira vez ela agradeceu pela sua testa ser tão grande. Yoshiro cambaleou para trás murmurando e xingando, sem perder tempo Sakura mandou suas barreiras de controle para o inferno e forçou o chakra natural para dentro dos canais.

 

A dor foi aterrorizante, desnorteadora, como ser rasgada por dentro, ter sua carne feitas em pedaços com uma faca cega. Empurrar chakra natural para dentro de seu sistema selado foi a experiência mais dolorosa de sua vida, mas ao menos funcionou. Em meio a dor ela sentiu o selo se partir, incapaz de conter a fúria do chakra que invadia seu corpo. E quando o selo se partiu, a dor que já era insuportável se tornou ainda pior.

 

Tudo girava e tudo doía, ela tinha conseguido se libertar mas estava com tanta dor que mal conseguia pensar direito, sua noção de espaço, tempo e localização enterradas debaixo do desespero. Luz piscava na periferia de sua visão, tudo girava, os móveis estéreis e um homem vestido de branco dançavam ao seu redor enquanto lava escorria por suas veias. Ela sentiu a restrição dos movimentos e apenas o incômodo a fez se livrar deles, como se fosse feitos de papel Sakura ergueu o pulso e as amarras se quebraram. O som do metal no chão alertou o homem de branco que ela tinha a vaga sensação de ser alguém perigoso, ele olhou para ela com olhos que deviam pertencer a algum animal peçonhento e se lançou em sua direção.

 

A mão dele foi parada com facilidade, ela envolveu o punho que estava direcionado para seu rosto e apertou. Primeiro Sakura ouviu o som do osso se quebrando, em seguida o grito agudo do homem e uma série de xingamentos que faria um marinheiro sentir vergonha. Ela o empurrou para fora de seu caminho e ele caiu no chão abraçando a seu punho quebrado.

 

Sakura estava tonta com a dor mas aos poucos a mente começava a clarear. Yoshiro, ela lembrou, era o nome do homem que ela havia machucado a pouco e isso enviou uma onda de prazer por seu corpo. Outra coisa que ficou clara para ela era que precisava sair dali logo. Puxando as pernas com a mesma facilidade que puxou as mãos ela sentou na maca dura, a sala continuava rodando e ela tinha a vaga consciência de uma luz esverdeada emanando da mão boa de Yoshiro sobre a quebrada.

 

Isso não era bom.

 

Ela ordenou seus membros a se moverem para ficar de pé e eles teimosamente obedeceram, depois de certo protesto. Assim que os pés tocaram o piso frio e ela soltou o apoio da maca a força faltou e Sakura foi ao chão. Joelhos esmagados na pedra dura, braços trêmulos sustentando seu pequeno peso que na fraqueza era como toneladas. A respiração vinha com dificuldade, a cabeça pesava o mundo, por que tanta dor….

 

Ela sentiu os dedos enrolados em seus cabelos, puxando os fios rosados para trás. Seu pescoço esticou e a cabeça foi forçada a recuar, o teto escuro foi tudo o que Sakura viu até a figura de branco entrar em seu campo de visão. 

 

— Nem pense nisso florzinha - os olhos de víbora estavam injetados e um sorriso maníaco contornava sua face. A provocação resgatou sua consciência e enviou algo mais forte que a dor para ela, fúria.

 

Sakura agarrou a mão que prendia seus cabelos e apertou. Yoshiro gritou e soltou, infelizmente antes de ela quebrar mais ossos. Ela se pôs de pé recusando aceitar a pressão da gravidade para levá-la ao chão, se alguém fosse ficar lá que fosse Yoshiro. O chakra natural verteu e a tornou forte outra vez, a rosada envolta em luz azul e névoa verde viu os olhos maníacos de Yoshiro hipnotizados pelo puro poder que a enchia.

 

— Minha criação em seu momento de glória - ele sussurrou, a loucura vazando de sua boca.

 

— Nós dois sabemos que a não é sua criação - ela cuspiu, e injetou todo o sarcasmo e desprezo para incitar o homem a se distanciar de seu discernimento - você não tem competência suficiente para isso.

 

Como o bom menino mimado que era, Yoshiro era orgulhoso, e cutucar sua ferida era a forma certa de lhe tirar a razão. Ele era um bom lutador, mas nem em seu melhor dia era páreo para Sakura, e ela sabia disso, mas ele também. Por isso porvocá-lo era necessãrio, ele era orgulhoso, mas não burro e não iria entrar em uma luta se a razão estivesse no comando.

 

Eles se encararam, Sakura andou e Yoshiro a imitou, em um círculo onde eles deixaram toda a tensão se instalar. A rosada podia ver a raiva por baixo da expressão calma dele, bem abaixo da superfície, esperando apenas a brecha certa para poder vazar. Sakura colocou seu sorriso mais sarcástico enquanto observava cada movimento do inimigo, cada pequeno gesto e tique nervoso.

 

— Como é Yoshiro? Me diga.

 

A sobrancelha alva tremeu, embora o sorriso sarcástico e intocável tenha se estendido em seus lábio finos e desdenhosos - Imagino que esse é o momento em que você espera que eu pergunte a que você se refere, minha cara.

 

Ela alargou o sorriso ainda mais, não podia perder a veia - me diga como é ser tão insignificante a ponto de nem um de seus planos idiotas e infantis darem certo?

 

Ambas as sobrancelhas dele se elevaram em surpresa fingida - Oh, diga-me como eles não deram certo? Acaso Sarada não entrou em coma por minhas façanhas ou você não está aqui em meu poder? - ele sorriu mais, relaxado e isso fez uma onda de adrenalina correr pelo corpo de Sakura - Se acha que com esse pequeno inconveniente vai conseguir escapar meu bem, está muito enganada.

 

A porta se abriu no timing perfeito e a figura da mulher morena que acompanhou Sakura até ali apareceu. Ok, isso não era o cenário ideal mas ela sabia que Yoshiro não estaria alí sozinho, ainda sim, precisava fazer com que ele lutasse com ela diretamente, e não mandando seus lacaios. Se derrubasse o rei, os peões de nada valeriam.

 

— Yoshiro-sama! - a voz calma da morena era polida e submissa, pronta para se por entre os dois e morrer por seu senhor.

 

— Fique tranquila Yasu-chan - a risada irônica na voz dele era puro deleite - Sakura-chan e eu estamos apenas matando a saudade. Do que estávamos falando mesmo? Ah claro, sobre como eu tracei o caminho para que você viesse até mim.

 

— Caminho tortuoso não é mesmo? - Sakura apontou, ela tratou de se acalmar para tomar o controle da situação, ainda precisava fazê-lo ser o único a lutar - e devo dizer, o final da jornada não será favorável para você.

 

Isso provocou uma onda de riso no homem de branco. Seu longo cabelo caiu em uma cascata lisa ainda mais por suas costas quando ele jogou a cabeça para trás e sorriu loucamente. Os ombros sacudiam, o som de sua risada era doloroso e enervante - Você me diverte muito minha flor - Yoshiro limpou o rastro de uma lágrima derramada em meio a seus risos insanos e olhou para Sakura com todo o veneno mergulhado em sua ironia.

 

— Diga, fazia parte do seu plano que eu estivesse onde estou agora?

 

— Intercorrências aceitáveis - ele balançou a mão em desdém.

 

— Claro, seria se você ou qualquer um de seus subordinados pudessem me conter - ela devolveu o sorriso a ele - mas não podem.

 

— Não tenha tanta certeza meu bem.

 

— E por quê não teria? - Sakura fez questão de andar para ficar de frente a morena, e também para o homem de branco - da última vez que nós enfrentamos eu estava grávida e ainda sim não foi difícil me livrar de você.

 

— Muito tempo se passou desde então - ele sorriu outra vez mas Sakura viu que aquilo lhe desagradava.

 

— Bem, sim mas acho que isso não mudou muito, você continua o mesmo incompetente e covarde de antes - os olhos amarelos se estreitaram para ela, embora ele ainda ostentasse o sorriso irônico - incapaz de reproduzir meu trabalho brilhante, e covarde demais pra correr o risco de colocar a formula em si mesmo naquela época, oito anos se passaram e você nunca conseguiu fazer o que eu fiz em poucas semanas. Incapaz de conquistar o respeito de seu pai, teve que tomar esse seu título, essa farsa, matando ele e todos os seus irmãos, incompetente demais pra jogar limpo não é mesmo?

 

— O que você vê como incompetência meu bem, eu vejo como um bem sucedido projeto de ascensão - Sakura viu a fúria orgulhosa borbulhando bem abaixo da superfície, precisando apenas de um empurrão. A suas costas a morena parecia tensa como uma corda de koto.

 

—  Eu vejo como um menino mimado, se sentindo injustiçado, desesperado por atenção, covarde demais para jogar limpo, arrogante a ponto de se achar o mais sábio, o único certo, e ainda sim incapaz de fazer o que é necessário para isso - os punhos cerrados, o sorriso agora lábios finos tensionados, olhos baixos e perigosos, Sakura empurrou mais - Sempre colocando a culpa nos outros pelos próprios fracassos, olhando agora pra tudo isso vejo que foi uma tolice sem tamanho ter tido medo de você em algum momento. Você não passa de um manipulador que não consegue aperfeiçoar suas próprias criações, diga, como foi quando eu matei seus subordinados? Como foi ver o fruto do que você desenvolveu nos últimos oito anos ruir com um simples movimento da minha mão?

 

Algo primitivo clamava para Sakura parar, recuar e se defender. A raiva emanava em ondas perigosas de Yoshiro, todo o sarcasmo e ironia haviam deixado sua expressão, havia apenas fúria assassina e silenciosa, mais um pouco, apenas mais um pouco.

 

— Toda a baboseira que você você me disse oito anos atrás no dia que eu eu deixei você inconsciente no chão do hospital - ela deu um passo em sua direção, indo contra todo o instinto e autopreservação, os olhos de citrino escurecidos pela raiva, e munida de toda a arrogância que podia reunir continuou - você nunca foi, nem nos melhores dias, compatível comigo, nunca esteve a minha altura. Em nenhum momento eu senti nada além de nojo por você. 

 

Ele deu dois passos em sua direção e Sakura paralisou. A proximidade repentina deixou seus sentidos enlouquecidos e seu instinto gritando em sua mente, mas ela permaneceu firme. A cintilância suave do chakra sobre sua pele refletiu nele, Yoshiro estava perto, alguns centímetros apenas os separava. 

 

A fúria estava estampada em seu rosto bonito, distorcendo suas feições, a respiração rápida e descompassada. Seu punho tremia, o cenho dolorosamente franzido e a boca uma linha fina de raiva. Sakura permaneceu encarando sua expressão assassina com um sorriso arrogante que faria Sasuke sentir orgulho.

 

— Sakura - um arrepio percorreu seu corpo, a proximidade dele enviou todo tipo de alarme para se afastar, ele não era páreo para ela, mas havia algo em sua expressão que destilava perigo, mesmo para Sakura e sua fonte inesgotável de chakra natural. Ele elevou o punho para ela, até estar bem na altura de sua bochecha, devagar e preciso. A rosada permaneceu irredutivelmente imóvel, em um embate particular travado em suas íris, e a aquela pequena distância ela sentia a tensão ondular ao redor deles, a atmosfera tão densa que podia ser cortada com uma lâmina cega. E então, ele sorriu. O punho se desfez e a palma dele acariciou a pele de Sakura que confusa franziu o cenho - Eu sei o que você está tentando fazer meu bem, mas tentar me provocar é uma estratégia bem ridícula. 

 

Ela deu um passo para trás, de repente incapaz de ficar perto dele, o perigo que o sorriso incitava era maior que a fúria desmedida - O que você está fazendo?

 

— Vendo até onde você vai com isso, sabe Sakura, conheço você o suficiente pra dizer que essa arrogância não combina com você, eu sou o arrogante da relação - ele deu mais um passo para ela e voltou a lhe alcançar, envolveu seu rosto em suas mãos, os dedos acariciando a face brilhante - nada que você diga irá me fazer querê-la menos, mesmo que você seja tão desagradável.

 

Sakura agarrou os pulsos dele e o empurrou - Não me toque!

 

— Fique calma meu amor, eu vou lutar com você se é o que quer - ele enroscou os dedos pelo cabelo rosado, os olhos fascinados pelo brilho azulado nas pontas cor de rosa - se for necessário para provar a você que nós somos perfeitos um para o outro, e que passaremos o resto de nossas vidas fazendo nossa ciência louca juntos.

 

— Você só pode estar louco se pensa isso - Sakura deu mais um passo para trás se livrando do toque dele. A lembrança da luta contra um dos gêmeos da clareira lhe alcançou - eu nunca vou fazer isso, esses experimentos que você fez com os gêmeos e os outros, é desumano!

 

Yoshiro voltou a se aproximar mas sem tocá-la dessa vez, os olhos amarelos arregalados - você diz que não somos iguais, que eu não me comparo a você e tem razão de certa forma, por isso é perfeita. Uma metamorfose eterna, com tanto pra me ensinar e com tanto a fazer a meu lado, eu não me interessaria por quem não tivesse nada a me oferecer Sakura. Você diz que não faz esse tipo de coisas, que não vai fazer isso, mas você já fez!

 

— O que? Você está louco, eu nunca fiz nada assim! - ela gritou indignada, o controle da situação tinha sido perdido a tempos, a arrogância ensaiada substituída pela confusão completa. Yoshiro era tão louco que Sakura era incapaz de entender a situação.

 

— Olhe pra si mesma meu amor - ele tocou a ponta de seu nariz com o dedo - você fez isso. Me culpa, mas foi você que fez. 

 

— Não, não, foi você - ela balançou a cabeça freneticamente, incapaz de aceitar.

 

Ele a alcançou outra vez, agarrando seus ombros com as mãos grandes, trazendo a figura meio transtornada de Sakura para perto - Você não era obrigada a melhorar a toxina Sakura, a estabilizar a fórmula, mas como eu você se apaixonou por isso não é mesmo? Você viu o potencial e fez o que nem eu fui capaz, você a tornou perfeita, só por curiosidade, só porque podia! Você não é diferente de mim Sakura, você é mais.

 

— Não! - ela gritou - aquilo foi resultado do meu estudo de engenharia reversa da fórmula química, em nenhum momento eu tive interesse em usar aquilo, você está enganado!

 

— Você é que está se enganando.

 

Se recusando a ouvir mais uma palavra, ela se livrou dos agarre e avançou sobre ele, rápida e mortal com o punho sedento por calar sua boca. A palma da mão encontrou o plexo solar do homem e ele voou alguns metros para longe, pousando em uma pilha de prateleiras. Ela já estava se movendo para cair como uma tempestade sobre ele quando a morena se colocou a sua frente. Rápida e precisa Yasu apareceu com sua naguinata golpeando Sakura que pulou para fugir do alcance da arma.

 

— Isso é entre mim e Yoshiro - ela respirou fundo olhando para os olhos escuros da mulher a sua frente, apesar de ser uma inimiga em momento algum Sakura havia sentido a hostilidade e a perversão de Yoshiro nela, se fosse condescendente ela tinha sido até mesmo educada durante a escolta, não tinha que se sacrificar pelo homem - Saia da frente.

 

— Meu dever é para com Yoshiro-sama, e tudo o que envolve ele - não havia hesitação em sua voz, nem malícia.

 

— Afaste-se Yasu-chan - Yoshiro se levantou, a postura ereta e tensa para a batalha, caminhando com elegância até ela - essa luta marca o início de nossa vida juntos, minha e de Sakura-chan, não deve haver interferências.

 

Não houve questionamento por parte da morena, ela se afastou mas permaneceu perto. Sakura não esperou mais, e com a velocidade permitida pelo poder que a destruía por dentro ela avançou contra Yoshiro. Ela viu ele se preparar mas realmente não imaginou que ele pudesse desviar de seu soco carregado de chakra, mas ele não apenas desviou como lançou seu próprio golpe, um chute baixo mirando sua panturrilha. Felizmente a corrente de chakra que cobria sua pele absorveu o impacto.

 

— Surpresa minha flor? - Yoshiro sorriu pra ela - não achou que eu estive parado nos últimos anos achou? Eu aprendo com os erros, aquilo que aconteceu no hospital não vai mais se repetir.

 

— Calado, shannaroo! 

 

Ela avançou sobre ele outra vez, agora mais cuidadosa. Tinha subestimado ele, o que sempre lhe dava vantagem em batalha, o que ela odiava, não aconteceria mais. Ela apontou um chute alto poderoso para o flanco direito de Yoshiro, ele se esquivou mas ela já tinha um soco preparado para recebê-lo. O nó dos dedos se chocou contra o ombro do albino e ele deu meia dúzia de passos para trás. 

 

Antes que Sakura pudesse acompanhar com os olhos ele estava sobre ela, um soco direcionado a seu estômago, ela agarrou o pulso dele ao invés de apenas desviar e se afastar, torceu na tentativa de quebrar os ossos mas ele foi mais rápido e se livrou do agarre. Como ele havia apenas se recuperado de seu soco? A força do golpe deveria ter quebrado todos os ossos de seu ombro, e não tinha como ele ter se curado tão rapidamente.

 

Uma rasteira varreu o chão da rosada que pulou para evitar a queda, um arco perfeito para trás, assim que pousou ele já a esperava. Uma joelhada em sua lombar a jogou para frente, ela se jogou no chão e rolou para ficar de pé em seguida. Nem um segundo se passou e ela avançou contra ele, um soco com o punho esquerdo para o lado direito do rosto dele, ele desviou, como esperado mas não do chute com a perna esquerda que ela havia preparado na sombra do soco, chakra natural selvagem explodindo contra a pele branca dele.

 

Yoshiro voou para o outro lado da sala e dessa vez a parede não suportou o impacto e se estilhaçou em tijolos. Ela correu para onde ele havia caído, esperando ver seu crânio partido, mas não foi isso que encontrou. O homem se levantou dos escombros  como se fosse nada, intacto e sem nenhum arranhão. Havia outras coisa no lugar, linhas escuras se arrastaram sob a pele clara, como veias negras, os galhos de uma árvore seca.

 

— Como? - Sakura estava incrédula diante da figura intocada de Yoshiro, não era possível.

 

Ele sorriu e limpou a poeira de seu quimono já não tão branco - Você estava errada meu bem, eu não me exclui de meus experimentos, apenas guardei o melhor pra mim.

 

— Você é um monstro - ela deu dois passo para trás, isso definitivamente não estava em seus planos.

 

— Nós somos as duas faces da mesma moeda meu amor, e agora eu vou mostrar isso a você.

 

Yoshiro se lançou sobre ela e eles eram um emaranhado de golpes e manobras defensivas. Sakura agarrou ele e o lançou em uma outra parede, a força descomunal destruindo as camadas de pedra e madeira, ela descobriu estar em uma casa, provavelmente a residência particular dele com laboratórios no subsolo, agora destruídos. Não importava o quando ela batesse, o quão forte e explosivo fosse, sua pele parecia feita de aço, mais forte que isso pois toda força que ela tinha empregado já teria dobrado o aço. Mas ele continuava a se levantar.

 

Yoshiro também estava mostrando força descomunal, e Sakura mais de uma vez foi arremessada contra as paredes.  Mesmo seu treinamento de esquiva falhou contra alguns de seus golpes carregados com força que teria quebrado seus ossos se não fosse a camada de chakra absorvendo impacto e o chakra entrando e saindo de seu corpo curando os efeitos destrutivos da luta. 

 

Eles estavam no que restou da sala de entrada da casa agora, móveis finos e delicados e paredes de papel estilhaçadas. Sakura acertou um lindo gancho de direita na parte inferior da mandíbula de Yoshiro que teria feita qualquer um perder todos os dentes e mais, mas o homem apenas foi jogado para o andar superior da casa, destruindo tudo em seu caminho. Ele desceu com fúria e loucura nos olhos e seu próprio ataque concentrado foi demais, até para o chakra recobrindo o corpo de Sakura. Ela voou para longe, fora da casa agora arrasando o jardim, pedaços de madeira cortando a carne de suas costas, espinhos de rosas arranhando a pele, até ela cair e bater a cabeça no chão.

 

— Merda - praguejou enquanto arrancava o pedaço afiado da pequena cerca que havia se instalado bem acima de seu rim direito, quase perfurando o fígado. Ainda tonta com a pancada na cabeça ela suspirou enquanto sentia o chakra da natureza entrando por seus poros, curando as feridas. Ela tinha que terminar logo com isso, seu corpo não suportaria por muito mais tempo, ela dobrou o corpo e em um salto se pôs sobre os dois pés. A clareira onde a casa ficava era pequena e rodeada de árvores, mas todo o espaço que estar aqui fora lhe proporcionava era libertador, ela era uma lutadora de curta e média distância, e lutar em espaços apertados nunca lhe favoreceu.

 

— Isso já é o suficiente para você querida? - Yoshiro perguntou, ele andou a passos calmos até ela, saindo da casa destruída. Seu kimono estava em farrapos, sujo e rasgado nas mangas longas outrora brancas - eu gostaria de parar antes de destruir toda a propriedade, eu gosto daqui, você também irá gostar.

 

— Que tipo de pássaro gosta da própria gaiola? - ela o encarou, agora a poucos metros - você não vai resistir por muito mais tempo.

 

Ele sorriu, as veias escuras dançando por sua pele de forma doentia - É você que não irá resistir minha florzinha.

 

Sakura inclinou seu corpo para ele, em uma clara sugestão de ataque. Ela viu ele mudar a postura para receber sua investida, seus punhos brilharam mais forte com o chakra concentrado ali, o menor peteleco seu destruiria toda a casa, ela viu a mínima hesitação passar pelos olhos amarelados. Yoshiro não tinha tanta certeza quanto queria demonstrar que tinha, ele sabia que uma hora ou outra o que quer que ele tenha feito a si mesmo para ser tão indestrutível iria ceder a sua força.

 

Ótimo.

 

No último segundo, contrariando a expectativa do inimigo Sakura  tomou a direção contrária a dele, direto para a linha das árvores. Velocidade alucinante fazia tudo a seu redor passar como um borrão, ela sentiu Yoshiro correndo logo atrás. Isso tinha que acabar logo, ele tinha razão, ela não aguentaria a dor e a destruição de seu corpo por mais tempo, tinha que apostar tudo agora.

 

— Onde você pensa que vai meu bem? - gritou a suas costas.

 

— Acabar com isso.

 

Quando a primeira árvore se aproximou Sakura enviou chakra para os pés e pulou para o tronco. Os pés grudando automáticamente na superfície áspera das casca, ela correu e sentiu quando Yoshiro se juntou a ela, correndo pelo tronco, indo contra a gravidade lhe puxando cada vez mais para baixo. Ela diminuiu o ritmo conforme se aproximava do topo e rapidamente foi alcançada pelo outro.

 

Perfeito.

 

Quando a mão de Yoshiro tocou seu ombro ela se virou em um movimento quase invisível aos olhos, agarrou o pulso dele e lhe lançou para cima e para longe em queda livre. Sakura viu a confusão no rosto do homem e então em uma explosão de chakra pulou também, bem acima dele. Os olhos amarelos se arregalaram quando ele entendeu sua intenção, mas era tarde demais. Sakura puxou o braço para trás preparando o soco e concentrou uma quantidade impossível de chakra para o punho até que ele brilhou com a saturação. Com o sorriso provocativo ela encheu os pulmões de ar e gritou - Shaaaaanaroooooo!

 

A gravidade fez sua parte e ela caiu bem acima de Yoshiro, o punho se chocando contra o plexo solar dele, o chakra explodiu em pura força bruta e ela finalmente sentiu a resistência quebrada. O corpo dele foi espremido entre os nós de seus dedos e o chão, e o impacto rompeu o solo a seu redor. O som foi como o de um trovão no olho da tempestade, o ar se encheu e tudo foi empurrado para as bordas, a terra revirada se abrindo como água diante da rocha.

 

Poeira fina e vermelha encheu a clareira que era agora uma enorme cratera, um nevoeiro denso de terra e destruição entrando em seus olhos, e se agarrando a sua pele suada. Sakura caiu para trás de repente sem forças até para respirar, ela olhou para seus braços e viu a cintilância que o chakra natural trazia tão suave que mal podia ser vista. Seu corpo estava anestesiado, ela mal sentia o cascalho nas costas, sua mente estava em branco. 

 

Ela queria ter força para levantar e ter certeza de que Yoshiro era nada além de pedaços desconexos no chão, mas não tinha forças, nem para levantar as barreiras e impedir o chakra natural de entrar em seu corpo. Apesar disso, Sakura tinha tanta certeza quanto possível de que Yoshiro estava morto, nada poderia sobreviver a isso, nem mesmo na guerra com o byakugou ativado ela golpeou tão forte.

 

Estava acabado, era o fim de todo aquele ciclo sangrento que eles começaram oito anos atrás. Era o fim pra ela também, Sakura sabia disso, não havia como se recuperar disso, quase podia sentir todo o estrago que estava por dentro, ela devia estar tão arrasada quanto Yoshiro na verdade. Era uma pena, talvez se Yoshiro não tivesse se alterado também, se não tivesse que ir tão longe para matá-lo poderia ter conseguido voltar a Konoha, talvez a tempo de Tsunade conseguir realizar o procedimento, talvez ela poderia ter vivido por mais alguns anos, o suficiente para ver Sarada crescer, ter seu próprio tempo com Sasuke.

 

Ela fechou os olhos, sentindo a poeira no ar ferir a cornea, as lágrimas escorreram com dificuldade por entre a camada de terra que se agarrava a seu rosto. Seu coração batia lentamente, preguiçoso, cansado, ela estava cansada também, um sono sorrateiro tentava lhe roubar a consciência.

 

Algo chamou sua atenção, um som abafado, uma tosse. 

 

Os olhos se abriram por reflexo, não era possível. O chakra natural havia sido reposto o suficiente para ela conseguir se mexer, Sakura se sentou e em meio a poeira ela viu o contorno de um corpo sentado próximo. Um espasmo e outra tosse - Isso é impossível.

 

A risada dele, arranhada e perversa encheu seus ouvidos como a canção de um pesadelo. Sakura engatinhou até onde o som vinha, incrédula demais para admitir que Yoshiro ainda pudesse estar vivo depois daquele soco. A poeira era uma cortina entre eles, ainda densa, ela se aproximou alheia ao cascalho lhe roendo a pele até conseguir distinguir a figura a sua frente, não era apenas a canção de um pesadelo, era o pesadelo completo.

 

Yoshiro estava sentado entre os escombros, o kimono sujo  nunca poderia ser considerado branco novamente. O lugar onde seu punho afundou estava escuro, como carne necrosada, e parecia como um espelho quebrado, rachado, repleto de linhas tortas, pequenos pedaços de pele se desprendendo. Era quase como ver um boneco se despedaçando e por um momento Sakura se lembrou de sua luta contra outro homem, cabelos vermelhos e sem coração.

 

Mas Yoshiro era de carne e osso e sorria para ela com um filete de sangue escorrendo por entre os lábios - Isso foi quase querida.

 

— O que… - os olhos de Sakura saltavam das órbitas, não era possível, não era, não podia ser - como…

 

— Eu tenho que admitir que pensava que era indestrutível, mas parece que não - ele se levantou, fraco, torto e despedaçando - mas ainda não foi dessa vez, embora tenha sido quase.

 

Ele deu um passo em sua direção, uma visão assustadora, como um morto ou um morimbundo. Sakura se lançou para trás, se arrastando para longe daquele monstro - Você deveria ter morrido.

 

— Você também, nenhuma pessoa normal, bom com exeção de um Uzumaki ou jinchurikin, poderia ter canalizdo tanto poder bruto de uma vez só e aqui estamos nós minha flor - ele andou mais para ela e arrancando forças de algum lugar muito profundo dentro de si Sakura se pos de pé, apenas o chakra que invadia seu corpo lhe mantendo firme - mas você o fez e isso realmente foi para me matar Sakura.

 

Pela primeira vez não havia a ironia e o sarcasmo envolvendo sua voz. Yoshiro olhou para ela com seriedade, raiva e traição brilhando em seus olhos escurecidos.

 

— Foi pra matar, desde o início - ela sussurrou - você destruiu a minha vida, me destruiu. Achou mesmo que eu aceitaria ficar com você?

 

Ele estreitou os olhos, o sangue ainda escorrendo por seus lábios, o cabelo uma confusão - Você deveria ser minha parceira, minha igual, mas escolheu ser minha assassina - o ódio e a traição banhavam as palavras duras dele e com passos curtos ele avançou para ela, a poeira ainda lhes escondendo do resto do mundo - Agora, você vai morrer pelas minhas mãos meu amor.

 

Os dedos elegantes dele envolveram seu pescoço, a pele queimou onde ele tocou e então mais abaixo, sob o músculo  e além. Dor encheu os sentidos de Sakura e por um segundo ela quis apenas ceder, deixar a dor leva-la para o descanso, levar todo o resto embora. Mas ela não podia, por mais tentador que fosse. Não enquanto Yoshiro respirasse, não enquanto ele caminhasse sobre a terra. Seu corpo em brasas queimando com fúria  com dor, tanta dor, tanta fúria.

 

Ela envolveu os próprios dedos no pescoço dele, chamando o chakra selvagem para si, sua força e destruição - Se eu for morrer, levo você junto.




&



A cratera se aproximou  com sua investida  e Sasuke sentiu Jung e Kakashi correndo a seu lado. O cascalho se partiu ao seus pés com a velocidade, tudo o que ele enxergava era o olhar feroz no rosto de Sakura, irredutível e poderosa, e aquilo lhe enchia de orgulho. Ela não tinha se entregado sem lutar, pelo contrário, ela esperou até estar onde causaria mais danos, e ainda salvar Sarada no processo.

 

O terreno se inclinou e eles estavam mais próximos, alguns metros apenas. Seus músculos estavam tensos e preparados para a batalha, por isso quando a nuvem esverdeada e venenosa subiu não houve hesitação, ele pulou para trás sendo seguido pelos outros dois. A névoa criou uma barreira entre eles e os dois no centro da cratera.

 

— Droga! - o ruivo exclamou - aquela vadia venenosa ainda está viva.

 

— Essa vadia é bem resistente, miserável - a voz da mulher encheu o espaço entre eles, a névoa esverdeada foi levada pelo vento e três figuras ficaram quando ela se foi.

 

O espadachim que havia lutado com Sasuke, sua estatura pequena entre a loira venenosa e a mulher morena que havia fugido com os dois e levado Sakura de Konoha. Os nervos do moreno estavam a flor da pele e tudo o que ele queria era varrê-los para longe para ir até Sakura e ter certeza que ela estava bem, ter certeza de dar a morte mais dolorosa possível para o homem que tentava contra sua vida.

 

— A luta entre Yoshiro-sama e Sakura-san não deve ter interferências - falou a morena, a longa naguinata entre os dedos de sua mão.

 

— Saiam da frente - Sasuke rosnou impaciente.

 

— Nossa luta não acabou Uchiha-san - o homem munido das duas wakizashis deu um passo em sua direção.

 

— Parece que seremos obrigados a passar pelo comitê de recepção - Kakashi disse, as mãos nos bolsos com a postura falsamente relaxada - Sakura aguentou sozinha até aqui, confie nela por mais algum tempo Sasuke.

 

Olhando para seu sensei Sasuke se resignou. Ele tinha razão, ela era forte, ela tinha resistido a muito mais por todos esses anos, e embora ele quisesse protegê-la de tudo que ameaçasse tirá-la dele outra vez, ele confiava nela para proteger a si mesma. Espere um pouco mais Sakura, estou chegando.

 

Sasuke sacou sua própria katana - Vamos acabar logo com isso.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, eu gostei desse capítulo mais do que esperava.

Agora, como eu disse a história está dando seus últimos suspiros, e em breve vai acabar. Mas, eu tenho um outro projeto também SasuSaku, também no universo ninja de Naruto que estou pensando em postar assim que terminar SS. O que me dizem, vão ler?

Espero não demorar pra voltar, realmente. Comentem e me façam feliz.



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