Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 20
Sacrifício


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não morri.
Não, também não abandonei a história.
Boa leitura.



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O rosto da recepcionista do hospital de Konoha já é conhecido, ela o cumprimenta e Sasuke acena em educação enquanto se encaminha para o lugar onde tem praticamente morado nos últimos meses. Lá fora o sol começava a se inclinar para o horizonte com o fim de tarde se aproximando. Nunca em toda a sua vida ele pensou passar tanto tempo no hospital e as vezes se perguntava como os médicos conseguiam. O Uchiha se lembrava quando anos atrás Sakura passava até 48 horas diretas em plantões exaustivos indo de um paciente para outros e como mesmo cansada ela tinha que ser chutada dali às vezes.

 

A maioria dos shinobi tinha aversão completa a hospitais, a paranóia e a sensação de impotência que sentiam quando obrigados a estarem ali eram um problema para os médicos. Sasuke nunca sentiu aversão particular pelo lugar, embora também não se podia dizer que tinha boas memórias ou boas sensações quando estava ali. Foi o primeiro lugar onde acordou logo após o massacre, o lugar onde acordou logo após o seu encontro com Itachi quando ainda era gennin, o lugar onde ele e Naruto quase se mataram.

 

Verdade seja dita ele já estava farto de frequentar o hospital com tanta frequência. Nos últimos dias Sasuke vinha se dividindo entre o lugar e o escritório do Hokage já que os espiões implantados no país do chá enviavam notícias interessantes sobre a movimentação de seu senhor feudal. Yoshiro estava estranhamente quieto na última semana, sua última aparição pública havia sido a dias e segundo as declarações oficiais ele estava em profunda deliberação junto a seus funcionários mais próximos sobre futuras medidas a serem tomadas no país.

 

E aquilo cheirava muito como uma mentira.

 

Se pudesse apostar, Sasuke diria que ele estava muito próximo de fazer um movimento, e se estivesse certo, não poderia perder a chance de usar isso contra ele. Ele não seria intocável por muito mais tempo, e quando ele errasse Sasuke estaria lá para aproveitar a chance. Seu estômago se contorcia apenas ao pensar em pôr as mãos no maldito que havia feito aquilo com Sakura, ele iria fazê-lo pagar.

 

O corredor do quarto de Sarada se abriu a sua frente e por um segundo seu coração parou. O pior passou por sua mente quando uma Tsunade de cenho franzido berrava para uma enfermeira. Ele não se permitiu pensar por muito mais tempo e logo estava de frente para a Godaime.

 

— O que houve? - sua voz soou tão ameaçadora que a pobre enfermeira se encolheu, ele queria ultrapassar a porta e ver sua filha, ter certeza de que tudo estava bem.

 

— Fique calmo moleque, está tudo bem - a loira levantou as mãos em frente ao corpo para conter seu avanço e suspirou quase aliviada. O que estava havendo? - Na verdade está mais do que bem. A atividade cerebral de Sarada aumentou consideravelmente logo no início da manhã.

 

Seu coração retumbou no peito, um calor aliviado preencheu seu corpo e ele quase sorriu. ele deu um passo hesitante para mais perto da porta semi aberta  - Ela está bem?

 

— Sim, estamos monitorando desde o fim da manhã - ela sorriu mais uma vez - ela acordou a pouco mais de uma hora.

 

O suspiro de alívio saiu involuntário, ele fechou os olhos e o sorriso mínimo nasceu no canto de seus lábios sozinho. Sarada estava acordada, finalmente, depois de semanas de incerteza, de expectativa e desespero, sua menina marrenta finalmente estava de volta. Ele queria colocar a Godaime de lado, entrar e abraçar sua filha mas algo parecia estranho na forma como a médica parecia ansiosa, na forma como ela falou com enfermeira, havia algo mais - Por que Sakura não mandou me chamar?

 

Sasuke teve certeza que havia algo de errado no momento que mencionou o nome de Sakura e a Godaime cerrou os punhos. Preocupação e raiva se misturando em suas feições - Porque ela não estava aqui quando aconteceu. Uma enfermeira veio para uma verificação de rotina e encontrou Sarada sozinha e os monitores apitando, fui chamada e estive olhando de perto desde então. Sakura não apareceu, pensei que ela havia saído por alguns momentos mesmo sabendo que ela jamais deixa Sarada sozinha, mas quando o tempo passou e ela não voltava percebi que havia algo errado.

 

O mundo parou por um momento, um zumbido confuso enchendo seus ouvidos. Apenas a gravidade manteve Sasuke preso ao chão, sua mente viajou em um momento de desorientação e angústia.

 

— Por que não mandou alguém pra me avisar? - por que as coisas simplesmente não podiam apenas dar certo? Sasuke já estava ansioso outra vez, o sangue correndo frenético em seus ouvidos, uma mão invisível se fechando sobre seu coração. Onde Sakura havia ido?

 

— Sakura é uma mulher adulta que não estava sob nenhuma restrição, ela podia muito bem estar dando um passeio por aí, eu não queria fazer alarde a toa - A Godaime lhe olhou como se ele fosse uma criança levada - Mas quando o tempo foi passando e ela não voltou mandei algumas das enfermeiras procurarem por ela no hospital mas ela não está em lugar algum. Ninguém da recepção viu ela deixar o prédio, ela também não passou em seu apartamento, ou em qualquer outro lugar. Sarada acordou depois de semanas do mesmo jeito que entrou em coma: do nada. E agora eu nem encontro Sakura!

 

A loira passou as mãos frustrada pelos cabelos e Sasuke suspirou fundo, ele tinha um mal pressentimento sobre isso - Envie alguém para notificar o desaparecimento dela para Naruto e pedir uma varredura completa pela aldeia. Vou me juntar a eles assim que ver Sarada.

 

Ela revirou os olhos para Sasuke - Com quem você acha que está falando moleque? Já tem uma equipe ANBU correndo por Konoha atrás dela, você deve ter saído antes do meu mensageiro chegar.

 

Ele assentiu, seu primeiro reflexo era começar a procurar imediatamente por ela, ter certeza que estava segura. Mas ele tinha Sarada. Deu um passo para a porta quando um aperto férreo no seu braço lhe parou - Sarada acabou de acordar, ainda não sabemos nada sobre sua condição, ela ainda não sabe que Sakura está desaparecida.

 

Sasuke encarou os olhos de mel e assentiu mais uma vez - Serei cuidadoso.

 

Tsunade lhe soltou e ele finalmente entrou no quarto, afastando os pensamentos sombrios que começavam a escorrer por sua mente com o desaparecimento de Sakura. Sarada estava ali e precisava dele, e ele estaria lá para ela.

 

Uma enfermeira estava de pé ao lado da maca, uma prancheta na mão anotando os parâmetros do monitor. Deitada e visivelmente entediada estava Sarada, olhos levemente sonolentos, expressão apática. O óculos estava de volta a seu rosto pequeno e Sasuke tinha que admitir que ver aqueles olhinhos abertos depois de tantos dias era um bálsamo para sua alma.

 

Ela capturou sua imagem assim que ele se aproximou e rapidamente, mais do que deveria, se sentou. Tonta pelo movimento brusco Sarada levou a mão a cabeça - Tenha calma Sarada-chan - alertou a enfermeira.

 

— Isso é irritante! - ela resmungou e Sasuke riu sozinho. Ele sentou na maca com ela e por um momento eles se encararam, e o moreno sentiu o nó que era toda aquela situação se desatar assim que passou os braços ao redor de sua miniatura. O corpinho magro e frágil depois de tantos dias de nutrição estritamente intravenosa, mas era Sarada, viva, respirando, acordada. Tudo seria perfeito se não faltasse a outra parte de sua pequena família - Pai? - ela chamou interrogativa com a reação dele, e o som das três letras espalhou uma corrente calorosa pelo moreno. Sasuke e Sarada tinham tido pouco tempo juntos mas eles tinham sua própria dinâmica, ela sabia que Sasuke não era a pessoa mais calorosa, ao menos não em público.

 

— Eu senti sua falta Sarada - ele se afastou e bagunçou seu cabelo, alguns centímetros mais longo - Você dormiu por um longo tempo.

 

— Isso parece tão estranho - a voz dela estava um pouco rouca pelo desuso - pra mim parece que foi só como uma longa noite de sono.

 

— Algumas semanas de sono na verdade - Sasuke esclareceu, ainda incapaz de tirar os olhos da filha.

 

Sarada arregalou os olhos - Oh, Kami, mamãe deve te ficado histérica - o coração de Sasuke se apertou, tantos dias esperando esse momento e ela nem estava alí para vê-lo. Onde você está Sakura? - Por que eu dormi tanto tempo? Onde está a mamãe?

 

Oh, isso ele gostaria de saber também. Sasuke não sabia muito bem o que responder mas não foi preciso.

 

— Sua mãe não pode vir agora Sarada-chan, ela está em repouso em outro lugar no hospital - a Godaime que Sasuke tinha esquecido estar por perto interviu.

 

O medo preencheu as feições infantis de Sarada ao ouvir isso - Ela está bem? - Sua voz mal passava de um sussurro e Sasuke não podia culpá-la. A última vez que sua mãe havia estado no hospital ela quase morreu. 

 

— Está sim meu bem - Tsunade lhe respondeu com mais gentileza do que Sasuke sabia que ela podia - Estamos nos preparando para um procedimento que vai curar ela.

 

— Isso é bom - a menina respondeu apenas, parecia desconfiada. É claro que ela estava, Sasuke ainda se lembrava do dia que surpreendendo a todos ela revelou abertamente saber sobre sua paternidade, Sarada era muito esperta e se conhecia bem sua mãe sabia que nada no mundo a impediria de ver sua filha, nem mesmo seu próprio tratamento. Ela voltou os olhinhos inteligentes uma outra vez para a Godaime - mas por que eu dormi por tanto tempo?

 

Tsunade suspirou cansada e dessa vez foi sincera - Estamos investigando Sarada, ainda não sabemos muito sobre isso. Mais uma razão para você permanecer em repouso e quieta, temos que ficar de olho e garantir que não aconteça novamente.

 

Ela assentiu por fim, mais convencida com essa explicação do que com aquela  sobre o paradeiro de sua mãe. Sasuke queria ficar, nem que fosse apenas para observar Sarada respirando com olhos abertos mas ele não podia, ao menos não por enquanto. Tinha que encontrar Sakura, na melhor das hipóteses ela estaria desmaiada, fraca pela doença em algum lugar, na pior ela poderia nem estar na vila. 

 

— Sarada-chan, o que acha de irmos tomar um banho? - a enfermeira se aproximou outra vez e Sarada ficou um pouco encabulada. Sasuke riu internamente da expressão da filha.

 

— Preciso ir - declarou, o beicinho frustrado enfeitando seus pequenos lábios - Preciso resolver um assunto urgente, mas assim que estiver tudo certo prometo que volto.

 

— e então eu vou poder ver a mamãe? - ah pequena pestinha, jogando verde. Sarada seria o terror de muitos shinobi um dia.

 

— Podemos providenciar isso - ele se levantou e tocou na testa dela com os dois dedos naquele gesto que era tão significativo pra ele - te vejo em breve.

 

Sarada estava bem agora, e esse pensamento era tudo o que lhe mantinha são.

 

Ele se virou e caminhou até a porta, apenas para que Sarada não o visse em um shunshin desesperado em busca de Sakura.

 

Onde você está Sakura?



&



O sol está se pondo no oeste quando ele atravessa os portões de Konoha. As árvores estão manchadas de amarelo, laranja e vermelho, há lanternas vermelhas espalhadas, pessoas rindo. Um festival, percebe Jung. Ele sorri ao pensar em levar Sarada por entre as barraquinhas, ela adora comida de festival. 

 

O ruivo se lembrava de um evento a pouco mais de dois anos. Eles estavam em uma vila no País da Terra, um tradicional festival estava acontecendo e Sarada ficou encantada com a comida, os jogos, as atrações. Ela chorou como a criança que era quando ele e Sakura tiveram que arrasta-la para a pousada onde estavam hospedados, e por semanas Jung usou isso para provocar a menina.

 

Ele avistou o prédio do apartamento de Sakura e pela primeira vez em semanas ele pôde respirar direito. Se as coisas não estivessem um tanto quanto caóticas na Taverna ele teria voltado muito antes, mas havia tanto trabalho acumulado e tanto a se resolver.  Jung suspirou cansado, ele tinha corrido por todo o caminho para chegar mais rápido, estava com saudade, tanta saudade de suas meninas.

 

O pensamento de que cada dia longe poderia ser o último de Sakura e ele não estaria lá com ela, com Sarada, lhe angustiava. Mas Jung se agarrou a promessa que Sakura lhe fez antes de ele ir embora, mesmo que em seu coração ele sentisse tanto medo. Era de Sakura que estava falando, forte, teimosa e birrenta, capaz de socar a morte na cara se tivesse uma chance. Ele tinha que confiar na mulher que sobreviveu nos últimos anos apenas agarrada a força de vontade.

 

A porta do prédio de Sakura se abriu e para sua surpresa tanto Kito quanto Shizuka saíram por ela. Jung estava prestes a cumprimenta-los quando percebeu suas expressões tensas. Algo em seu peito se apertou e ele não perdeu tempo antes de apressar o passo para abordá-los.

 

— Shizuka, Kito! - chamou por eles e como reflexo eles giraram juntos para a voz - Aconteceu alguma coisa?

 

— Graças ao Sábio! - exclamou a idosa.

 

— Jung! Que momento feliz para retornar meu amigo! - o grandalhão se aproximou e lhe deu um abraço de quebrar os ossos.

 

— Eu diria que um momento perfeito - Shizuka olhou pra ele com aqueles olhos velhos e cheios de artimanhas e Jung imediatamente teve certeza de que algo estava acontecendo - Vamos ao hospital, contaremos tudo no caminho.

 

O caminho para o prédio pareceu curto para tantas coisas a serem ditas. Jung sentiu o coração parar por um momento quando a espiã idosa lhe contou sobre o estado de saúde de Sarada, apenas para no segundo seguinte lhe dizer que eles tinham recebido a pouco a notícia de que ela havia finalmente acordado depois de semanas. De início ele sabia, aquilo era obra de Yoshiro, e quando Shizuka lhe disse também que Sakura estava desaparecida desde aquela manhã ele teve certeza.

 

Sakura faria qualquer coisa para manter Sarada em segurança, mesmo que isso lhe custasse a vida. 

 

Ele podia ouvir as batidas de seu coração retumbando em seu peito. Havia um shinobi vestido no uniforme padrão da vila plantado na porta do quarto de Sarada, Jung estava prestes a derrubá-lo por impedir sua passagem quando a loira que ele reconhecia como sendo amiga de Sakura gritou para que lhes deixasse entrar. 

 

Ele procurou pela cabeleira negra assim que entrou e correu para abraçar Sarada. Ela estendeu os braços para ele como fazia desde sempre e lhe abraçou. Jung respirou aliviado, nem sabendo direito que estava tão tenso até esse momento. Apenas imaginar Sarada inconsciente em uma cama por semanas fazia seu coração se apertar, Sakura devia ter estado a beira da loucura.

 

— Padrinho - ela soluçou chorando - onde está a mamãe? 

 

Jung se afastou um pouco e limpou as lágrimas dela, olhinhos inchados e vermelhos, medo infantil refletido sobre a íris escura da menina - Eu acabei de chegar floquinho, não sei de nada.

 

— Sarada-chan eu já disse - a loira se aproximou, deixando a conversa com Shizuka de lado - ela está em repouso se preparando pro procedimento que vai curá-la.

 

Jung se assustou com a notícia, existia tal possibilidade? Quando deixou a vila semanas antes Sakura mal parecia se aguentar em pé, e agora havia até mesmo um procedimento para cura. Isso seria ótimo se soubessem onde a paciente está. Seria cômico se não fosse trágico.

 

Bem sua cara não é mesmo Sakura?

 

Ainda sim era óbvio para ele que a parte de Sakura estar repousando era uma mentira, nem todo o inferno poderia segurar ela longe de Sarada, principalmente depois de todo esse tempo com a menina desacordada.

 

— Ino-san você está mentindo - era a voz resoluta de Sarada, ela era esperta demais para seu próprio bem - tem alguma coisa acontecendo, minha mãe nunca ia ficar de repouso antes de me ver. Papai saiu depois de vir aqui e não voltou mais, ele não ia me deixar também se não tivesse acontecendo alguma coisa.

 

— Sarada-chan, por favor fique calma você acabou de acordar - pediu Shizuka.

 

— Não! - ela gritou, lágrimas rolando por seu rosto, e Jung não se lembrava da última vez que ela tinha parecido tanto com uma criança - Eu sei que sou criança mas não sou estúpida! Conheço a minha mãe!

 

— Você está certa - uma nova voz se juntou a eles da porta. Jung se virou para ver o famoso copyninja entrar com sua expressão apática. Ele havia estado discretamente em torno de Sakura desde que ela tinha voltado, mas ele e Jung nunca tinham trocado mais do que algumas palavras - Sua mãe está desaparecida.

 

Jung ouviu Sarada prender a respiração e fechou os olhos frustrado. Definitivamente não era isso que ele esperava encontrar ao chegar em Konoha.

 

— Kakashi! - Ino, Jung se lembrou, gritou para ele.

 

— Não há por que mentir se Sarada claramente sabe que tem algo errado - ele se aproximou mais, mãos nos bolsos despretensiosamente - Mas você precisa ficar calma Sarada-chan, estamos fazendo o possível para encontrá-la.

 

O sorriso do Rokudaime era falso até para Jung que mal o conhecia.

 

Jung se levantou e andou com Kakashi para o corredor, não antes de apertar levemente a mão de Sarada. Shizuka e Kito logo preencheram seu lugar e curiosamente Ino se aproximou deles - Alguma notícia sobre Sakura?

 

O homem grisalho negou com um aceno - Ela não está na vila, duas patrulhas reviraram cada canto sem sucesso. Inclusive nas florestas em torno da aldeia.

 

— Algum furo na segurança nos últimos dias que possa indicar a infiltração de um inimigo? - sua cabeça já estava trabalhando nas possibilidades. Por mais brilhantes que fosse os estrategistas de Konoha, Jung havia caçado Yoshiro por algum tempo, ele era quem mais tinha experiência nesse momento.

 

— Não, ao menos não uma quebra de segurança - o grisalho suspirou cansado - Sasuke está na torre com os sentinelas da última semana, tentando encontrar alguma coisa.

 

— Tenho uma coisa pra você - Ino se intrometeu. Ela estendeu a mão, um montinho de gaze alinhava uma ampola com um restinho de líquido rosa e uma seringa - as faxineiras passaram por aqui a uma meia hora e quando foram trocar o lixo isso caiu. Não são o modelo usado no hospital e não há registro de administração de nenhum medicamento no prontuário de Sarada.

 

— E milagrosamente Sarada acorda depois de semanas com Sakura desaparecendo ao mesmo tempo e deixando apenas isso para trás - Jung mal podia conter sua raiva.

 

— Bem isso vem a calhar já que estou aqui em busca de alguma coisa pra usar no rastreio - Kakashi deu dois passos pra trás e mordeu o polegar - Tsunade vai querer me matar por trazê-los pro hospital, mas o que é a vida sem um pouco de emoção não é mesmo?

 

Quando ele se abaixou e tocou o chão um pug com a bandana de Konoha e olhos caídos apareceu em meio a fumaça - O que é dessa vez chefe? 

 

— Pakun, preciso que me ajude a encontrar Sakura - Ino se baixou estendendo o conteúdo sua mão para o cão - veja se reconhece o cheiro.

 

A pequena convocação inspirou profundamente nos dois objetos e depois de um segundo de deliberação se voltou novamente para Kakashi - Tem o cheiro da Sakura-chan, e mais um outro também, que eu não reconheço.

 

— Se tem o cheiro de Sakura é quase certo que não é algo prejudicial a Sarada, ela mesmo deve ter administrado - comentou Ino.

 

— Alguma trilha a partir daqui? - perguntou o Hatake.

 

O pug cheirou ao redor andando em círculos por alguns segundos antes de começar a andar em linha reta por alguns metros - Sim, tenho uma trilha.

 

— Ótimo, siga em frente e qualquer coisa me avise pelo rádio, alcanço você em alguns minutos - O ninken apenas assentiu antes de correr seguindo a trilha.

 

— Eu vou com você - Jung disse sem deixar espaço para questionamento. Felizmente o Rokudaime apenas assentiu.

 

— Vamos nos reunir com Sasuke na torre e partimos em seguida.

 

— Eu devia ir junto como médica, não sabemos como vamos encontrar ela - interviu Ino já se posicionando para segui-los.

 

— Nossa prioridade será a extração rápida, não acho que esse Yoshiro vai ter todo esse trabalho para sequestrar Sakura apenas para machucá-la - Kakashi olhou compreensivo para a loira nervosa com o desaparecimento da amiga - mas estejam preparados para nosso retorno.

 

Jung não ficou para ouvir os protestos da loira, ele entrou no quarto de Sarada novamente e viu a menina já ansiosa com uma Shizuka tentando lhe acalmar sem sucesso - Kito, fique e proteja Sarada, não sabemos se há algum outro agente de Yoshiro por perto.

 

— Cuidarei da princesa com minha vida - Jung assentiu em agradecimento.

 

O ruivo andou até Sarada e se curvou para ficar a altura dos olhinhos negros - Fique tranquila floquinho, logo sua mãe vai estar conosco de novo.

 

— Você promete? - perguntou em um fio de voz.

 

Jung levantou a mão e esticou o mindinho para ela, como fazia desde que ela mal alcançava seu quadril - Promessa de dedinho.

 

Sarada enlaçou o dedinho dele com o próprio e sorriu - Promessa de dedinho.

 

Ele saiu do quarto com a promessa guiando seus passos. Ninguém machucava suas meninas, ninguém.



&

 

— Você tem certeza disso?

 

O chuunin de cabelo escuro que Sasuke não se importou em aprender o nome estreitou os olhos diante da imagem que o Uchiha lhe mostrava dentro do genjutsu, o rosto de cada um dos sequestradores de Sarada que ele havia visto no dia em que lutaram. Não havia como saber se algum dos sobreviventes estavam envolvidos nisso, mas se fosse obra de Yoshiro, e ele tinha certeza que era, a possibilidade de algum deles estar envolvida era grande.

 

 - Tenho sim, ela tinha um olhar distante, frio que me gelou a espinha.

 

— E você não pensou em relatar isso? - alfinetou o moreno.

 

O outro ninja coçou a cabeça sem jeito - Era o fim do meu turno, eu estava atrasado para jantar com a minha noiva, e isso ia ser um problema.

 

Pelo menos ele é sincero. Naruto deu um grito indignado que fez o menino se encolher. Enquanto o loiro berrava sobre a falta de compromisso com seus instintos ninjas e que aquilo poderia ser um perigo pra vila, Sasuke se pôs a pensar. Finalmente depois de entrevistar oito dos doze sentinelas que se revezavam mensalmente nos portões de Konoha havia uma resposta. 

 

Sakura desapareceu dois dias após a mulher de cabelo escuro entrar livremente pelos portões de Konoha. A mesma mulher que havia fugido da clareira após a luta por Sarada. E agora Sakura estava desaparecida justamente quando Sarada acorda, pensar que os dois eventos estavam ligados era inevitável. Mas o que havia acontecido de fato?

 

Trazer Sakura de volta era a prioridade agora, só não sabia como fazer isso e já estava ficando cansado de manter a paciência. Queria sair dali correndo a esmo atrás dela, mas sabia que de nada adiantava, e ele precisava pensar em Sarada também, Sasuke não gostava de mentir para ela.

 

Sua mente estava um turbilhão outra vez, e apenas a moreninha o mantinha são. Ele precisava ser forte por ela, ser o adulto, ser responsável.

 

Ele só queria mandar tudo para o inferno.

 

Ela já estava desaparecida a mais de doze horas. Parecia um pesadelo, apenas na noite anterior ela estava em seus braços, linda e sorridente, fazendo seu coração pular dentro do peito, trazendo seu mundo de volta aos eixos. “Eu amo você” foi o que ela lhe disse antes de se despedir naquela manhã, quase como se fosse um adeus. E depois de horas vasculhando cada centímetro da aldeia, entrevistando todos os sentinelas, colocando cada shinobi na vila atrás dela, anos pareciam ter se passado.

 

Sasuke queria Sakura, mais do que o ar para respirar, mais do que a água no deserto. Ele queria pôr os braços ao seu redor e ouvir sua risada, ouvir ela dizer que lhe amava, ouvir sua respiração. Ele só queria ela de volta, viva, bem. Mas ela foi para longe outra vez.

 

Sua sanidade estava escorrendo para longe, e quando ele visse o responsável por isso, que o Sábio tivesse pena dele pois Sasuke não teria. 

 

A porta da sala interna se abriu e Kakashi entrou acompanhado do ruivo que até onde ele sabia deveria estar em Taki. Ambos pareciam tensos, prontos para entrar em uma batalha a qualquer momento, Kakashi com sua calma afiada, Jung com uma fúria assassina.

 

— Encontrei alguém no meio do caminho - o Hatake sinalizou - E encontramos um rastro de Sakura, Pakkun já está na trilha.

 

— Isso é ótimo dattebayo! - Naruto finalmente sorriu depois de toda a confusão. Quando Sasuke chegou o escritório do loiro, ele já estava puxando os cabelos, indignado por Sakura ter sumido dentro dos muros da vila, prestes a sair ele mesmo em sua busca - Jung quando você chegou?

 

— A menos de uma hora. Fiquei a par da situação e encontrei Hatake-san, vou junto com vocês - ele olhou para Sasuke e apenas notificou. O Uchiha não se importou, era com Sakura que ele estava preocupado, toda a ajuda era bem vinda. Ele era grato na verdade.

 

— Descobrimos que um dos ninjas do grupo de sequestradores que levou Sarada entrou na vila a alguns dias - Sasuke falou recebendo a atenção dos demais - A morena que fugiu.

 

Jung assentiu pensativo - Lutei com ela e não foi nada fácil.

 

— Mesmo sabendo que a Sakura-chan está doente não consigo imaginar ela perdendo pra alguém - a voz de Naruto era distante, lembrando de tempos antes onde lutou ao lado da maior kunoichi de sua geração na guerra - E sendo a Sakura-chan como nós não vimos essa luta acontecer?

 

— Acredito que não houve luta - Kakashi deu um passo mais para o centro da sala, estavam todos agora em um semi-círculo próximo, rodeado por painéis contendo informações sobre o inimigo de cabelo branco - Na verdade acho que Sakura foi de bom grado.

 

— Imagino que isso tenha relação com a melhora recente de Sarada - Sasuke suspirou já suspeitando.

 

Kakashi estendeu um embrulho contendo uma ampola e seringa - Ino encontrou na lixeira do quarto de Sarada. Não há registros recentes de medicação para ela. 

 

— Sakura-chan se trocou por uma cura para Sarada-chan? - Naruto ecoou os pensamentos de todos - Mas por que ela fez isso? Ela é uma médica tão incrível, teria encontrado uma forma de curar Sarada-chan em algum momento.

 

— Talvez não tivesse tempo o suficiente - Jung falou, olhos embotados preso em sua própria mente - Se Sakura tivesse um único momento de dúvida de que fosse capaz de curar Sarada ela não exitaria em se entregar. Eu só não consigo entender como tudo começou, como isso chegou até ela em primeiro lugar? Ele esteve aqui? Falou com ela?

 

Foi inevitável para Sasuke não praguejar com a lembrança. Um pássaro sobrevoando o hospital, pousando na janela… 

 

Eu me assustei, foi o que ela disse. 

 

Ah Sakura, por que não pediu ajuda?

 

— Acho que sei como - ele respondeu apenas, a mágoa já corroendo seu coração. Se tivesse insistido, se tivesse verificado….

 

— Não importa agora - Kakashi interviu - isso tudo pode ser discutido depois, estamos perdendo tempo aqui. Vamos alcançar Pakkun e trazer Sakura de volta, então nos preocupamos em brigar com ela.

 

— Kakashi-sensei está certo dattebayo! - Naruto exclamou agitado - É uma missão oficial, um comando direto do Hokage, se apresentem shinobis!

 

E lá estava ele, não apenas o loiro de coração mole, mas o herói da guerra e o Hokage de Konoha. Sasuke via em seus olhos a frustração por ficar para trás, de não poder correr a seu lado atrás de sua amiga. Mas era uma consequência de sua escolha, de seu sonho, mesmo que isso partisse seu coração.

 

Ele, Kakashi e Jung se alinharam em frente ao Hokage, expectativa fluindo em ondas - Sua missão é se infiltrar no território inimigo e recuperar o shinobi Sakura Haruno, custe o que custar - o olhar sério no rosto dele não deixava espaço para dúvidas - As demais nações da aliança estão a par da situação, se for constatado que a pessoa por trás do sequestro for o homem conhecido como Yoshiro Takari, independente de sua posição como senhor feudal vocês tem permissão para prendê-lo, se possível. Teremos apoio da aliança para isso. Dispensados!

 

Em um shunshin primoroso Sasuke se viu ao lado de Jung seguindo Kakashi para fora do prédio. O coração martelando em seus ouvidos, as mãos inquietas pela batalha. Dessa vez, quando entrasse com Sakura pelos portões de Konoha ele se certificaria que ela não fosse tirada de lá nunca mais contra sua vontade.

 

E isso era uma promessa.


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Notas finais do capítulo

Famosa calmaria antes da tempestade. Eu particularmente não sou muito fã desse capítulo, por isso demorei tanto pra voltar, mas tinha que postar. No próximo capítulo entramos na reta final da história.
Preparem os coraçõeszihos.
Se você não desistiram de mim por favor deixem um comentário, eu vou adorar ler



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