Quem lhe ensinou a amar? escrita por La Rue


Capítulo 4
A "garota loira"


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos, passando para deixar mais um cap. de carnaval para vocês, sinto muito pela demora, mas estou tentando manter o ritmo aqui para que ele não acabe atrasando as publicações de Fios do Destino, então postarei um hoje e provavelmente o próximo sairá juntamente com o capítulo 20 e com uma oneshot complementar sobre Athena e Afrodite.



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Quíron ficara responsável para cuidar diretamente da nova campista, no caso o centauro e Abigail - uma das filhas de Apolo que estava patrulhando juntamente com Mark e Luke quando a garota chegou aos domínios do acampamento - aquele caso era algo muito especial e ele gostaria muito que a conselheira acompanhasse, pois não era sempre que poderiam presenciar aquele tipo de experiência e dos filhos de Apolo, ela era a mais experiente e voltara às suas atividades para os dons da cura.

Clarisse La Rue, filha de Ares, passou três dias inteiros na enfermaria da Casa Grande, após o ataque furioso contra a hidra e ser reconhecida por seu pai divino, a semideusa praticamente desmaiou. Já chegara ao acampamento machucada e o quanto conseguira resistir até estar realmente em segurança era algo bem incomum para uma garota da sua idade.

Quíron estava tomando notas sobre a recém-chegada quando alguém já bem conhecida pelo diretor de atividades adentrou o local timidamente. Annabeth também estivera na enfermaria, mas diferente da novata já apresentara melhoras e fora liberada. Apesar da forte pancada e de ter machucado feio a cabeça e o braço, Luke fora rápido em intervir com ambrosia e assim não tivera maiores danos.

—Com licença. - disse de forma tímida, porém o centauro que agora se encontrava em sua forma na cadeira de rodas fez um breve sinal com a cabeça para que se aproximasse. - como ela está?

Annabeth não sabia exatamente o que estava fazendo ali, aquela garota nova era filha de Ares, irmã dos mesmos trogloditas que tanto se divertiam em infernizar a sua vida vez ou outra… Mas estaria mentindo se dissesse que não se importava com ela, afinal, seja filha de quem fosse se ela estava ali viva era por causa dela. Sabia que havia tomado uma atitude imprudente quando decidira não obedecer às ordens de Luke e apesar de muito jovem - se comparando a outros campistas - Chase não era conhecida por decisões insensatas. Foi tomada por uma súbita vontade de proteção assim que a viu, mesmo que nunca tivesse lhe visto antes, seu corpo apenas agiu por vontade própria, não lhe restando qualquer capacidade de analise antes do ato em si.

—Ainda está desacordada, mas os sinais vitais melhoraram. - informou ele sem rodeios enquanto analisava a prancheta com os resultados novamente. - quando chegou aqui ela tinha um ferimento grave no ombro, pelos resquícios de veneno que conseguimos recolher ela foi atacada por um manticore e passou algumas horas em perseguição.

A filha de Athena o olhou com receio, era uma aluna aplicada, sabia bem que tipo de monstro a outra havia enfrentado, mesmo que não tivesse o desprazer de encontrar-se com algum. Tinha de reconhecer que a filha de Ares era valente, um monstro desse porte, não era nada fácil de combater, principalmente uma semideusa de pouca idade e provavelmente sem nenhum treinamento adequado.

—Obrigada. - agradeceu a menina sem saber exatamente se deveria ficar aliviada ou não, mas sabia que a outra não poderia estar em melhores mãos.

Quando a menor se retirou o centauro voltou aos apontamentos de Abigail, a garota de Ares apresentara uma característica interessante quando fizeram os primeiros procedimentos de socorro. O ferimento em seu ombro estava feio, mas aos poucos havia formado uma proteção, sabia de que se tratava, era algo que conheciam como "couraça de javali" - não era um dos dons mais comuns dos filhos de Ares, muito menos se apresentava em alguém tão novo, sem qualquer tipo de treinamento - a garota deveria ter se concentrado no ferimento durante todo o trajeto tentando diminuir o dano recebido e a profundidade do golpe, mesmo sem ter qualquer noção disso.

O centauro estava trocando os curativos após aplicar uma pequena dosagem de néctar quando a menina acordou. Mesmo debilitada ela sentou-se rapidamente na maca, os olhos varrendo o local como se esperasse por algum sinal de perigo, seus olhos ainda desnorteados  pousaram no homem de cadeira de rodas.

—Acalme-se criança ou seu ferimento voltará a sangrar novamente. - disse com a voz amena tentando lhe tranquilizar. - está segura agora.

Clarisse estava zonza e sentira de imediato os efeitos de ter levantando rapidamente, observou o local novamente com mais cuidado, não estava no orfanato, seu ombro ainda doía o que indicava que não foi um sonho ou alguma alucinação, teve pequenos flashs do que aconteceu e por um breve momento sentiu um aperto estranho no peito.

—Havia uma garota… Ela me ajudou. - sua cabeça estava confusa, um emaranhado de acontecimentos consecutivos. - onde eu estou?

Por mais que estivesse em um local completamente estranho, que não soubesse quem era aquele homem sentia que podia confiar nele. Rachel ou Harmonia - seja lá qual fosse o seu nome verdadeiro - lhe dissera que ela partiria para um local seguro, para o seu destino, a judia jamais mentiria para ela, fora isso que lhe impedirá de sair correndo pela entrada no momento em que despertou.

—Ah sim, ela está bem. - informou Quíron com um sorriso mínimo nos lábios. - esteve aqui mais cedo para saber se você estava acordada. - a jovem lhe olhou com interesse, mas manteve-se calada. - você está agora no Acampamento Meio-Sangue, o lugar mais seguro para pessoas como você, Clarisse.

—Pessoas como eu? - repetiu em tom baixo, os olhos demonstrando ainda mais confusão. O que ele queria dizer com "pessoas como ela?", constataria que ela realmente possuía algum problema mental?

—Sim, criança. - ele deu uma leve batidinha em seu braço bom. - este é um acampamento para semideuses.

 

~***~

 

Em um momento Clarisse La Rue era uma "zé ninguém" que passara a vida abandonada em um orfanato, no outro acordara em um local completamente estranho com um homem em uma cadeira de rodas que se transformava em um ser metade gente, metade cavalo e se isso já não fosse loucura o suficiente, era uma semideusa, filha de um deus Olimpiano… Era informação demais para a sua dislexia e TDAH.

Passou algum longo tempo conversando com o diretor de atividades daquele local após fazer uma refeição decente. Ele lhe explicara algumas coisas sobre deuses gregos, assim como Rachel fizera com ela e sobre coisas gerais do acampamento. Pouco tempo depois ele pedira para uma garota loira de olhos azuis e muito bonita, para que ela chamasse Mark até o local, não demorou para que um rapaz forte demais para alguém de 14 anos adentra-se no recinto. Trajava uma camiseta laranja, calça de camuflagem e coturnos, cabelos loiros bem aparados e olhos escuros com um brilho estranho - intimidador ou cruel, não sabia definir ao certo - ela o reconheceu, poderia estar quase desmaiada no momento, mas o reconheceu como um dos rapazes que lhe ajudara contra a hidra.

—Clarisse, esse é o conselheiro do chalé 5 e o seu irmão mais velho, o nome dele é Mark. - informou o centauro coçando brevemente a barba.

A garota levantou uma das sobrancelhas gradualmente quando escutou a palavra "irmão", novamente muita informação para a sua cabeça. Ela olhou para o rapaz que agora tinha um sorriso mínimo nos lábios e não parecia dos sorrisos mais amigáveis do mundo, ou talvez fossem apenas os seus instintos de se proteger que estivessem em alerta.

Quíron lhe deu algum tempo para assimilar todas aquelas informações, dormiu profundamente logo em seguida, como há muito tempo não fazia.

 

~***~

 

No dia seguinte o mesmo garoto, Mark, lhe buscara na Casa Grande como fora combinado no dia anterior, o conselheiro ficaria responsável por lhe mostrar as instalações e explicar coisas mais específicas. O loiro lhe levara até o chalé 5, apontando e explicando o que eram algumas coisas pelo caminho, chegaram até um ponto onde haviam vários chalés dispostos em formato de um arco de cabeça para baixo, cada um com sua numeração e bem distintos, pararam em uma instalação pintada de vermelho sangue, uma enorme cabeça de javali no topo e arames farpados cobrindo o teto.

—Cuidado onde pisa, tem algumas minas pelo terreno. - informou o loiro com o sorriso cruel e divertido no rosto.

Clarisse foi apresentada para mais alguns adolescentes, todos maiores e mais fortes que ela. Os olhares maliciosos e sorrisinhos de escárnio pareciam ser um traço característico entre os seus meios-irmãos, não pareciam ser muito amigáveis, mas a garota já estava acostumada com tratamentos bem menos receptivos, por um momento pensou se as pessoas lhe viam daquela forma também. Mark lhe mostrou o seu beliche e depois seguiram pelo resto do tour pelo extenso acampamento. Por onde passavam havia vários jovens de idades distintas conversando, brincando, correndo pelos terrenos ou em atividades que consideraria bem mais perigosas como duelos de espadas - réplicas em madeira e de verdade - e arco e flecha. 

Aquilo tudo ainda era muito estranho e novo, Clarisse estava acostumada a não ter ninguém, a ser sozinha e se virar e do nada ela descobrira que possuía uma família - por mais disfuncional que fosse - que Ares, o deus da guerra era o seu pai e que suas "visões" e "devaneios" na verdade era a mais pura realidade, que ela não estava louca de fato… Porém essa última parte ela não sabia se era exatamente uma coisa boa ou ruim.

 

~***~

 

Os primeiros dias foram um tanto quanto estranhos, mas não era exatamente dos ambientes mais difíceis para se adaptar. Tinha regras, muitas regras, das quais Clarisse não decorara de início, tinha muitas atividades, atividades que nunca sonhara em executar na vida - talvez fossem normais para um soldado ou cidadão da Grécia clássica, mas não para alguém como ela - e tinha horários rígidos a seguir na maior parte do dia. Claro que aquilo sequer chegava perto do que vivia no orfanato, ali sim era um verdadeiro inferno, o acampamento não era exatamente às mil maravilhas, mas se fosse comparar os dois lugares sua atual moradia era quase como o paraíso.

Analisara tudo ao seu redor com atenção, os chalés, seus ocupantes, a forma que se comportavam, atividades… Notara que de todos caíra justamente com os meio-irmãos mais barulhentos e briguentos, estavam sempre metidos em encrencas e claro empunhando armas afiadas e perigosas. Eles implicavam com Clarisse por ser a mais nova dali, não era exatamente uma implicância pessoal, faziam isso uns com os outros, mas sempre que precisava de ajuda com os treinamentos os membros do chalé 5 eram bem receptivos a lhe ensinar, mesmo que o intuito maior fosse lhe bater um pouco no processo.

 

~***~

 

—Vamos garota! - insistia o superior enquanto o grupo fazia uma corrida pelo perímetro do acampamento após uma longa sessão de abdominais e flexões. - você não quer atrasar o pelotão, quer?

Clarisse estava exausta, o suor escorria por sua testa e pingava pelo queixo, suas pernas estavam doloridas e pesadas como chumbo, não sabia por quanto tempo aquela tortura iria durar, mas sabia que tinha de aguentar, mesmo com toda aquela parafernália que fazia seu corpo pesar no mínimo o dobro. Mark sempre pegava pesado com os treinos, mas quando se tratava de torturas particulares La Rue era a que sofria com as piores.

—Não senhor! - disse mantendo o ritmo no começo do pelotão juntamente com o líder.

—Eu não escutei garotinha, fale mais alto! - provocou o loiro aumentando um pouco mais o ritmo.

—NÃO SENHOR! - retrucou entredentes forçando ainda mais as suas pernas, tirara forças da sua raiva para poder continuar a acompanhar as passadas rápidas.

 

~***~

 

No final do dia sentia que sua alma queria lhe deixar, não havia uma só parte em seu corpo que não estivesse dolorida, mesmo assim tinha algo importante a fazer. Comeu juntamente com os seus irmãos no pavilhão refeitório, fez sua oferta, detalhes que estava se acostumando com o passar do tempo, porém no lugar de se reunir com os outros ao redor da fogueira para a cantoria coletiva ela esgueirou-se como um animal furtivo até a praia, não sabia exatamente o que fazer, mas sentia que deveria fazer.

Pegou o caminho mais rápido até o estreito de Long Island, ninguém lhe seguira até ali, parou em frente ao templo com o perfume de rosas, olhou para os lados mais uma vez antes de subir os degraus que levava até o arco da entrada. Havia uma estátua da deusa do amor no centro e mesmo sendo apenas uma escultura Clarisse sentiu que seu queixo desmoronara com a bela imagem a sua frente, havia um braseiro ao canto e um altar. A garota pigarreou antes de falar alguma coisa:

—Eu não sei exatamente como fazer isso, então me desculpe se fizer algo errado. - tentou falar com a voz mais limpa possível, era a primeira vez que tentava falar com algum deus. Depositou no braseiro o cacho de uvas mais bonito que conseguira esconder na hora do jantar. - eu não sei do que você gosta minha senhora, mas procurei trazer o melhor para você… E, por favor, não se sinta ofendida com o "senhora". - tentou se corrigir de forma um tanto atrapalhada.

Clarisse viu o cacho de uvas ser tomado pelo fogo do braseiro e uma fumaça de aroma peculiar subir. Colocou as mãos no bolso da calça e deu um pequeno suspiro antes de continuar com o seu monólogo.

—Eu soube que Rachel é sua filha, acho que você lhe conhece por outro nome… Harmonia. - ela olhou para a estátua novamente, sentindo o rosto corar levemente. - eu só queria saber se está tudo bem… E queria agradecer, por ela sempre ter me protegido.

Desde que chegou ao acampamento sentia falta da morena e se preocupava com o que poderia ter acontecido a judia após tentar lhe salvar do manticore, aquela foi à forma que encontrara para tentar algum tipo de comunicação.

—Obrigada por me escutar. - agradeceu meio sem graça e deu meia volta, não poderia passar muito tempo ali, pois logo teria o toque de recolhida.

Ao chegar à entrada do templo de Afrodite sentiu uma brisa leve tocar seu rosto, quase como um afago. Ela sorriu brevemente e olhou uma última vez para a bela estátua antes de partir. Mal sabia ela que estava sendo observada por outra pessoa, na verdade, uma garota filha da deusa do amor, Clarisse não notara e talvez ainda demorasse até que os seus olhares se cruzassem, mas naquele momento ela despertara a curiosidade de Silena Beauregard.

 

~***~

 

Havia algo que ainda lhe inquietava naquele lugar estranho que agora era o mais próximo que poderia chamar de lar. Clarisse pensava bem mais do que realmente achava que deveria naquela "garota loira" que lhe ajudara, esquecera-se de perguntar a Quíron quando despertara na enfermaria seu nome ou a qual chalé pertencia, sabia que ela havia lhe procurado, mas após isso não se viram novamente.

Queria lhe agradecer, mas acima de tudo queria entender a sensação estranha que lhe invadia toda vez que pensava nela e não era exatamente uma sensação boa, pois uma das poucas coisas que lembrava era do sangue e o corpo machucado… Sentia como se o sangue fervesse por baixo da sua pele, atacou aquele monstro com uma força que sequer sabia que possuía.

Mas de todas as suas inquietações que lhe faziam perder o sono, a maior delas era a relacionada aquele estranho fio. Olhava para a fina cicatriz, quase que imperceptível no seu pulso esquerdo, "Rachel" lhe entregara aquele "fio" por meio de uma pulseira, lhe dissera que ele lhe guiaria até o seu destino, mas qual era o seu destino afinal?

Ser encaminhada até o Acampamento Meio-Sangue? Onde finalmente encontraria algo parecido com uma família… Ou seu destino de alguma forma estava ligado àquela garota? Poderia estar machucada, cansada e com diversas dores e alucinações naquela noite, mas ela viu com os próprios olhos, o fio lhe ligava aquela menina, mesmo que no pulso dela não houvesse uma amarra como o seu.

Estava na entrada observando Mark polir sua espada de bronze celestial antes do café da manhã quando finalmente encontrara novamente a "garota loira", não sabia como, mas só agora descobrira que seu chalé era de frente para o dela.

—Mark… - chamou-lhe, mas não obteve resposta. - Mark. - insistiu até ele resmungar e erguer o rosto. - quem é aquela garota?

O loiro olhou na direção indicada pela mais nova, a sobrancelha grossa ergueu-se aos poucos olhando da figura mais adiante para a novata. Não sabia qual o seu interesse, mas talvez fosse apenas pelo evento que se seguiu na noite em que chegou ao acampamento.

—Aquela é Annabeth Chase. - informou com um sorrisinho malicioso que Clarisse não compreendeu. - filha da deusa Athena.

Clarisse repetiu o nome mentalmente, como se fizesse uma nota para não esquecê-lo, acompanhou com o olhar a garota se afastar segurando uma pilha de livros com mais dois irmãos de chalé. Filha da deusa Athena… Pelo pouco que aprendera ela era a Olimpiana que rivalizava diretamente com o seu pai, o deus da guerra.


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Notas finais do capítulo

E então meus queridos, espero que tenham gostado e nos vemos nos comentários!



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