Sem Ti escrita por Liz Setório


Capítulo 1
Senti


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Você havia ido embora. O que mais  eu poderia fazer? Sem, você João Paulo, eu não sabia viver. Sem ti eu questionava a minha realidade, a minha humanidade.

  Não queria me matar, sabia que não morreria, a queda era pequena, mas ao menos, tinha a certeza de que daria de cara no chão. Aquele salto no nada me traria novamente a entrega e a incerteza que só o seu amor e os seus beijos eram capazes de me dar, pois contigo cada dia era preenchido de forma completamente louca e inesperada. Um dia eu era o seu amor, outro o seu pecado.

Ah, João Paulo, ah como os seus doces beijos faziam falta. Todo dia eu esperava uma mensagem, um telefonema… Entretanto nada vinha, você me deixava entregue à minha falta, ao meu vazio, ao meu nada. Por que me castigava de tal forma?

De repente fui surpreendido, esperei o chão, todavia ele não veio. Parei em meio ao ar, Deus, em ato piedoso, me segurou. Com certeza, teve pena, não quis ver eu me estabacando no chão por causa daquele amor tão insensato.

Ali, pairando no ar, paralisado no nada, lembrei de tudo. Tudo, tudo, tudo… De como o meu coração batia forte ao te ver, de como você me tirava a razão... Contigo tudo era lindo. Inverno se transformava em primavera e meu coração floria, meu corpo inteiro ria, ria só de ouvir o melódico som de sua voz. Sempre fui apaixonado por vozes, porém a sua, a sua era de outro mundo, você não tinha voz de homem, mas sim de Deus.

Voz divina que parecia ter pacto com o Diabo, me alucinava enquanto dizia delicada e deliciosamente o meu nome: Fer-nan-do…

O vento que batia suavemente na minha face, me trazia uma sensação de plenitude, parecida com aquela sentida quando você, dirigindo a mais de cem por hora, descia a ladeira, a ladeira do meu coração.

Fechei os olhos por um breve instante, me permiti aproveitar aquele momento proporcionado pela Divindade, que teve pena de mim e me segurou no ar. Sentia-me como Jesus andando sobre as águas. Eu era também uma Divindade? O que poderia haver de divino em mim, homem tão pecador?

Os pensamentos vinham, eu lembrava de nós dois, como Caetano juntava o antes, o agora e o depois. Haveria depois? Não conseguia esquecer o seu jeito travesso de me perturbar, de soltar frases motivacionais, você sabia que eu as odiava. De me beijar após dizer algo trágico. De soltar do nada um Eu te amo.

Mais vento no rosto, mais memória. Aquele vento que beijava a minha face era como os seus lábios, delicados e espertos, sabiam me tirar do sério como ninguém.

Todavia, um dia você foi embora, me abandonou assim de repente, não me deu seu endereço, me deixou ali sozinho, sem sequer se importar. Eu não era nada?

Deus foi me soltando aos poucos, fui sentindo levemente a minha queda, pedia a Ele para me segurar. Perguntei o motivo Dele estar fazendo aquilo. Não obtive resposta. Quando dei por mim cheguei ao chão de forma bruta, senti uma dor imensa. Notei que estava vivo. Eu era real?

Gritei como um bezerro desesperado. Estava só, imensamente só, por mais que gritasse ninguém poderia me ouvir. Berrei, urrei, chamei a minha mãe. De repente, vi uma luz, uma luz que foi tomando forma, a sua forma. Você, então com sua forte voz habitual, como sempre misturando doçura e maldade, disse:

“Venha para a luz”

Eu fui, te segui, passo a passo. Quando percebi estávamos num lugar lindo, só nós dois, senti ali o insentível, o insano, o profano, o Divino. Até me questionei se ao invés de Deus era você quem me segurava. Você era o meu Deus?

Porém antes de eu ao menos tocar a sua face, tomei um susto com os gritos de uma mulher: 

“Moço, moço.”

Não sabia com quem ela falava. Até que você foi sumindo, a sua imagem foi se dissipando, desaparecendo no ar e dando lugar a face de uma mulher desconhecida.

“Está tudo bem?”

Antes de eu pensar em uma resposta, ela completou a fala:

“O senhor se jogou lá de cima sem mais nem menos. Queria se matar?”

“Não, a altura era muito pouca. Eu só queria ser real de novo” respondi melancólico.


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Notas finais do capítulo

OBS: Essa história foi pensada como uma one, então NÃO haverá continuação.



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