Internamente Evans escrita por psc07


Capítulo 5
Capítulo Quatro


Notas iniciais do capítulo

Olá mais uma vez, gente! Sejam bem vindos a mais um capítulo de Internamente Evans! Prometo nesse capítulo um pouco mais de interação entre James e Lily...

Espero que estejam gostando da aventura de Lily, e que curtam esse capítulo! Os comentários estão sempre abertos e boa leitura :D



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—Oi, mãe.

Lily estava deitada na cama com as pernas apoiadas na parede, o celular ao seu lado.

Oi, Lily! Por que a ligação está assim? – Lily sorriu com a pergunta.

—Tá no viva-voz, mãe – Ela explicou – Estou aproveitando esse tempo pra pintar minhas unhas.

Me sinto menos especial agora – sua mãe reclamou, fazendo a garota rir.

—Não se sinta. Estou apenas unindo o útil ao agradável.

Não quero nem saber quem eu sou nessa conversa.

—As duas, mãe. Como foi a semana?

Eu que pergunto! Quase não nos falamos esse tempo todo.

—Desculpa, mãe – Lily pediu – o rodízio de cirurgia começou segunda e eu estava muito focada, acabei me desligando um pouco do mundo.

Ah, começou? Que ótimo! E como está sendo?

Lily sorriu. O apoio incondicional de seus pais era tão confortante! Ela sabia que era mais fácil receber o apoio tendo escolhido um curso mais tradicional, mas não deixava de ser um alívio contar com a família nos momentos mais importantes.

—Bem legal – Lily contou – Já entrei em três cirurgias como instrumentadora, e os pacientes são ótimos. Os residentes também, e os preceptores são sensacionais. É muito bom mesmo.

E dá para aprender realmente?

—Sim! É um hospital preparado para receber alunos, então é bem melhor para aprender.

Fico feliz. Mas os hospitais aqui são bons para a residência também, sabe... – Lily riu com a indireta da mãe.

—Eu tenho certeza que sim, Sra. Evans. – Ela concordou rindo, e suspirou – Também estou com saudades, mãe.

Quando você pode vir?

—Eu não sei. Vou tentar articular alguma coisa, porque mesmo nos finais de semana que eu não tenho que ir para o hospital, eu tenho que estudar, mãe.

Ah, eu entendo, meu amor. Quando você puder avisa, mas não deixa de estudar por nós, tá bom? Seu futuro é mais importante que seus pais bestas.

—Pode deixar – Lily disse, sentindo um nó na garganta.

Mas não esquece de se divertir também, tá? Não vou ficar enchendo o saco, mas desde que você e Benjy terminaram você tem saído menos...

—Fica tranquila, não sou só eu. Mas semana que vem vou sair com Mary e Marlene.

Ótimo! Mande fotos e manda um beijo pra elas.

—Mando, claro. Papai está aí?

Ainda não chegou, Lil. Peço pra ele ligar quando chegar.

—Certo. Obrigada, mãe. Amo vocês.

Ah, Lily. Também te amamos.

Lily desligou o telefone e ficou encarando o teto. Logo que ela se mudara a falta que sentia dos pais era imensa. Ligava todos os dias, só para falar ou pedindo ajuda porque como que se passa uma droga de jaleco?

Depois ela foi se acostumando, e não sabia se conseguiria morar novamente com eles. Mesmo assim, em alguns momentos a saudade apertava, e o coração encolhia um absurdo, ficando tão pequenino que chegava a doer. E às vezes ela precisava ouvir a voz de sua mãe para lhe acalmar e tranquilizar.

Hoje fora um dia desses. Dr. Lupin tinha autorizado que ela retirasse o sangue para uma gasometria arterial – que era mais difícil que para um exame de sangue comum, além de mais doloroso por ser tirado sangue de uma artéria – e com muita dificuldade, ela conseguira. Mas ficara muito animada com o sucesso, e derrubou o frasco com a coleta no chão.

Conseguiu segurar a vontade de chorar na hora, e Dr. Lupin fora muito gentil, dizendo que aquele tipo de coisa acontecia com todo mundo, e para ela não ficar sentida, que ela só precisava colher outra amostra. Lily pediu para ele colher – já fizera o paciente sentir dor o suficiente, não faria de novo. Dr. Lupin conseguira de primeira, e foi entregar o sangue no laboratório enquanto ela limpava a meleira que tinha feito.

Para completar, Dr. Snape passara com Dra. McGonagall na hora que ela estava limpando, e fez questão de comentar sobre a desatenção da garota.

Só de lembrar ela sentia o pescoço queimando e os olhos marejando.

Ela suspirou e logo em seguida a porta do quarto foi aberta, revelando Mary e Marlene, que entraram sem convite e sentaram ao seu lado na cama.

—Por que minha Ariel está assim? – Mary perguntou.

—Eu tava pintando a unha – Lily disse, mostrando as mãos agora com o esmalte já seco.

—Muito bem, um tom bem claro – Marlene comentou.

—Mas você está triste – Mary insistiu.

—É a gasometria ainda? – Marlene perguntou. Lily fechou os olhos e praticamente rosnou de frustração.

—O que houve? – Mary perguntou.

—Lily derrubou um pote com amostra de sangue de um paciente, de um exame que dói mais pra fazer, e um R1 teve que tirar de novo. Depois o R1 que odeia ela passou e falou algumas besteiras na frente de uma preceptora.

—Não é só "uma" preceptora, Lene. É Dra. Minerva McGonagall. Ela é uma lenda! A cirurgia de trauma não seria a mesma sem ela. Ela é minha inspiração! Ela é tudo o que eu quero ser! – Lily exclamou – E eu fiz cagada, e tinha que ter Snape me humilhando na frente de Minerva McGonagall – Ela terminou, chutando a parede repetidamente em frustração enquanto escondia o rosto no travesseiro.

—Bom, ela é solteira, você realmente quer ser solteira? – Marlene ponderou.

—Ela não é solteira, ela é viúva, Lene.

—Lily, você é uma interna – Marlene disse depois de suspirar e tirar o travesseiro de Lily e jogá-lo no chão – é óbvio que você vai fazer besteira, por melhor que você seja. Não é a toa que somos a base da cadeia alimentar da medicina. Interno é o culpado mesmo quando não é culpado.

Lily esboçou um sorriso. Aquela era a máxima que corria entre os internos, e todos sabiam ser verdade.

—O que vai te tornar melhor é o que você faz com seu erro. O que você aprendeu?

—Nunca ficar animada por ter acertado alguma coisa – Lily disse – E nunca puxar demais o êmbolo da seringa. Foi por isso que eu derrubei.

—Lily, pelo que Marlene fala, você está brilhando – Mary disse – é chato errar, mas você sabe que ninguém é perfeito.

—Eu sei. Mas... sei lá, ainda me sinto mal.

—Sabemos – Marlene disse, sorrindo.

—Por isso viemos lhe chamar para aproveitar conosco a pizza que pedimos e depois o sorvete que eu comprei na volta para casa, tudo isso enquanto assistimos a Amizade Colorida.

Lily sorriu e concordou.

Sua família de sangue podia estar longe, ela refletia enquanto Mary criticava as suas unhas, mas a de coração estava ali sempre.

***

Lily pegou o celular para checar quais pacientes ela passaria naquele sábado. A enfermaria no fim de semana era dividida pela alunos de maneira que apenas metade tivesse de ir ao hospital. Desse modo, cada interno via quase o dobro de pacientes, então eles tinham que ser mais objetivos.

Os residentes também estavam reduzidos pela metade. Sabendo disso, os preceptores davam mais tempo para os internos e residentes concluírem as evoluções e prescrições.

Ainda assim, Lily não gostava de demorar muito mais. Naquele dia, ela passaria seus três pacientes, além dos dois de Amos.

Marlene compreendia a visão de Lily, e concordava – quanto mais cedo terminassem, mais cedo poderiam sair.

—Eu sei que você não se importa tanto com isso, mas eu gosto do fim de semana, Evans – Marlene disse quando Lily comentou que a amiga não reclamara da hora.

—Eu também gosto – Lily discordou – Gosto de estar lá, mas sou uma jovem também.

—Temos planos hoje?

—Vi uma receita nova na internet, e queria experimentar no almoço – Lily comentou enquanto entravam no hospital.

—Ah, maravilha! Adoro quando cozinhamos.

—Só precisamos passar no mercado para comprar alguns ingredientes.

—Sem problemas. Aproveitamos e compramos algumas bebidas, huh? – Marlene disse, piscando para Lily.

—Ah, preparando uma festinha, McKinnon?

Lily e Marlene se viraram ao ouvir a pergunta e deram de cara com um sorridente Dr. Black olhando para elas.

—Talvez... – Marlene respondeu, sorrindo de volta.

—Não vai convidar seus residentes? – Ele questionou, erguendo as sobrancelhas.

—Desculpe, nenhum cromossomo Y convidado.

—Que pena... a festa poderia ficar um pouquinho mais divertida... – Dr. Black comentou. Marlene ergueu uma sobrancelha e revirou os olhos, soltando uma leve risada.

—Nós conseguimos nos divertir muito bem sozinhas, Dr. Black – Marlene disse, um meio sorriso na boca – talvez mais até do que você imagina...

Marlene deu um sorriso satisfeito quando viu Dr. Black escancarar a boca e puxou Lily.

—Lene, eu alucinei ou você insinuou pra um dos nossos residentes que iríamos fazer uma festa com–

—Relaxa, tava zoando com a cara dele. "Um pouquinho mais divertida com ele"... – Marlene bufou – é por causa de homens como ele que sinto pena de você ser hétero, sabe, Lil.

—Marlene, você também fica com homens – Lily lembrou a amiga.

—A maior prova de que não é opção sexual. Se fosse opção eu nunca ficaria com homens, decepção na certa – Marlene disse. Ela ergueu uma sobrancelha, olhando para cima pensativamente – Bem, às vezes me surpreendem.

Lily riu e sacudiu a cabeça, acostumada com Marlene pensando alto.

—Vamos trabalhar então que aparentemente temos uma festa para nos divertir.

Marlene suspirou e concordou. As duas garotas deixaram suas mochilas na sala de prescrição e saíram com as pranchetas e estetoscópios para avaliarem os pacientes.

Tendo um tempo mais limitado, ela não pode conversar sobre outros assuntos com os pacientes como geralmente fazia (com seu Jonathan de volta na enfermaria, quase pronto para alta, as provocações com a clássica rivalidade entre Inglaterra e Escócia, o país de origem do paciente, podiam durar mais de 10 minutos).

O sistema parecia estar sentindo a pressa de Lily, porque nunca esteve tão lento – ela observou com impaciência o programa dos resultados de exames carregar, e nem mesmo a evolução conseguiu fazer.

—Péssimo dia para informática – Lily disse assim que Marlene se sentou no computador ao seu lado. A morena fez uma careta.

—Perfeito – Marlene disse sarcasticamente – Snape que está nesse fim de semana, e ele vai adorar saber disso.

Lily suspirou. Claro que tinha que ser Snape. 'O sistema parou' não seria uma desculpa que ele aceitaria, e Lily conseguia imaginar exatamente o que o residente falaria.

—Voltou, Lil.

Ela tirou foto dos exames que precisava e partiu para fazer as evoluções o mais rápido o possível. Com seus próprios pacientes conseguiu trabalhar de maneira mais rápida, contudo os novos ela precisou de mais tempo para organizar a evolução e a prescrição.

O sistema travou mais algumas vezes, mas ela usou esses momentos para passar os exames das fotos para as folhas especificadas nos prontuários. A toda hora ela checava o relógio, ansiosa para terminar antes que Dr. Snape chegasse.

Mas Lily era apenas uma interna, e internos simplesmente não dão esse tipo de sorte.

—Acho que vocês não entenderam muito bem como funciona o fim de semana – O escárnio e a satisfação de ver os internos não cumprirem o horário era tão evidente na voz de Dr. Snape que Lily parou de digitar, inspirou profundamente e voltou a fazer a evolução como se ele não houvesse falado.

—Dá um tempo, Snape. O sistema está ruim desde ontem à noite, ainda não deve ter normalizado. O pessoal da informática só chega mais tarde.

Lily não precisou olhar para Marlene para saber que a amiga estava sorrindo com a resposta de Dr. Longbottom, que chegara junto com Snape; ela apenas continuou a digitar.

—Isso não importa. Eles deveriam ter chegado mais cedo – Dr. Snape continuou.

—Snape, como R2 e de maior hierarquia no momento, eu digo para deixar os internos em paz. Já já um deles acaba – Dr. Longbottom disse.

—E vai atrasar a nossa passagem de caso para os preceptores. Mas se você é o de maior hierarquia no momento, não terá problemas para falar com Dra. McGonagall...

Lily parou de digitar por mais um segundo e retornou antes mesmo da resposta de Dr. Longbottom.

—Pode deixar que eu falo, sem problemas – Ele disse, num tom tranquilo.

A porta se abriu mais uma vez, e Lily ouviu Dr. Snape ralhar com outro R1, Dr. Dearborn, pelo atraso.

—...essa deve ser a quinta vez que você atrasa, e só não está atrapalhando a visita porque os internos... – Dr Snape dizia. Lily levantou da cadeira com os papéis em mãos e se virou para os residentes.

—Perdão pela demora, o sistema está muito instável. Com quem discuto primeiro?

Infelizmente, Dr. Longbottom sinalizou que deveria começar com Dr. Snape antes que o colega tivesse um infarto. Como os demais internos ainda não haviam acabado, os três residentes participaram da discussão.

Logo Marlene também terminou, e Dr. Dearborn se voltou para ela. Lily ficou satisfeita em ter terminado os pacientes de Dr. Snape rapidamente, só faltando dois para discutir com Dr. Longbottom, que era tão legal quanto os outros internos haviam dito.

Quando Dra. McGonagall chegou Lily já havia terminado de discutir todos os seus pacientes, então Dra. McGonagall a chamou imediatamente.

Lily tentava não ficar intimidada pela preceptora, mas era difícil. Além de ser uma cirurgiã do trauma, a fama que Dra. McGonagall tinha era algo impressionante, e Lily não estava nada imune a essa fama. A médica explicava as dúvidas de Lily levando a garota a chegar à resposta, e Lily adorava esse sistema.

—Severus, não achou necessário solicitar uma gasometria para o Sr. Lincoln?

Lily deixou o olhar focado nos papéis. Dr. Snape já a odiava o bastante sem que Dra. McGonagall contestasse sua conduta.

—Na verdade, não. Estava controlando pelo PCR.

—Ele chegou ontem da UTI, ainda está com suporte ventilatório, mesmo que esteja estável. Sugiro que solicite gasometria todos os dias até que o lactato volte para a normalidade e que não necessite mais de oxigênio suplementar. Não podemos menosprezar sepse.

—Sim, senhora.

—Enquanto vocês terminam, vou com Evans para que ela colete a gasometria. Ela já terminou todos os pacientes e pode levar a amostra para o laboratório.

Lily observou a boca de Dr. Snape se crispando, e a encarada mortal do residente quase fez com ela desviasse o olhar.

—Vê se não derruba hoje, Evans.

Lily sentiu o intenso influxo de sangue no rosto e no pescoço, e apenas abaixou a cabeça, juntando todos os prontuários para levá-los para o local correto.

—Vá separando o material e me encontre no leito, sim? Já deixe suas coisas prontas pois está liberada e já pode levar a amostra na saída.

—Ah, eu vou esperar Marlene, Dra. McGonagall, estamos no mesmo carro.

—Pode demorar um pouco ainda com ela – a preceptora alertou, olhando Lily por cima dos óculos.

—Não tem problema, eu fico observando as discussões e aprendo sobre os outros pacientes também.

Se Lily não tivesse desviado o olhar tão rapidamente, poderia jurar que vira os lábios da preceptora se curvarem minimamente em um tímido sorriso.

***

—Então quer dizer que Marlene está flertando com residentes?

Lily soltou uma risada ao ouvir a pergunta de Mary, enquanto Marlene parava de fazer os drinks para as três.

—Não estou! – A morena exclamou.

—Eu estava lá, Lene. Definitivamente foi um flerte. – Lily disse, enquanto a amiga se virava de costas para ela novamente.

—Não é com residentes, no plural. Foi só com Black.

—Eu pensei que tivesse alguma coisa proibindo esse tipo de coisa – Mary falou, pegando um drink da mão de Marlene.

—Não é exatamente proibido, acho – Lily disse, franzindo o cenho e pegando o copo que Marlene lhe oferecia – Não é bem visto, claro, mas o residente não é oficialmente nosso professor nem nada assim, então é menos pior, eu acho.

—Viu? Não é proibido! – Marlene disse, batendo levemente na ponta do nariz de Mary com o indicador, enquanto a garota revirava os olhos.

—Não significa que seja a ideia mais inteligente de todas, não é mesmo? – Mary contrapôs – Lily, me apoia aqui.

—Bem... – Lily começou, dando um gole do drink colorido – as coisas podem ficar meio estranhas, sabe?

—Estranhas como? – Marlene questionou.

—Imagina que vocês vão adiante, e de repente o cara transa mal – Mary disse.

—Lily conhece Black. Seria uma ironia terrível se ele transasse mal – Marlene interrompeu.

—Garota, hoje mesmo você disse que era por causa de homens como ele que você tinha pena de mim – Lily rebateu, rindo.

—Bem, sim, mas ele parece ser bom de cama mesmo assim – Lene respondeu, dando de ombros.

—Que ele seja bom de cama – Mary continuou como se não tivesse sido interrompida – De repente vocês não dão certo e fica aquele clima esquisito no hospital! Ou então dão certo, mas têm que esconder, aí alguém descobre e fica aquele clima esquisito no hospital! Ou então dão certo como amigos com benefícios, e não conseguem se desgrudar, e ficam se... encontrando muitas vezes no hospital, e isso começa a afetar o trabalho de vocês até que o chefe de cirurgia tenha que interferir pessoalmente...!

—Meu pai amado... – Marlene disse, bufando.

—Mary, acho que você deveria maneirar em Grey's Anatomy – Lily disse gentilmente.

—Você que me viciou, Lily! – Mary exclamou.

—E eu me arrependo levemente disso todos os dias – A ruiva expressou solenemente.

—Não se arrepende nada – Marlene contradisse – Só ela pra aguentar esse seu vício.

Sem poder discordar diretamente, Lily apenas fez uma careta.

—Mary, as pessoas não ficam transando no conforto médico como em Grey's – Lily disse. – Elas dormem, então sem tempo para outras atividades horizontais. Ou espaço.

Mary olhou para Lily com uma expressão de choque e surpresa que fez Marlene gargalhar.

—Você não precisava ter me dito isso, Evans!

—Ah, precisava sim – Marlene discordou – é cada coisa irreal que esse seriado coloca...

—Não pense que vamos esquecer do assunto principal somente porque vocês estragaram minha fantasia – Mary disse – Ainda temos que convencer Lene que não é uma boa ideia.

—Relaxa, Mary. A gente só se vê no hospital. Não vai rolar nada. St. Mungo's não é Seattle Grace.

—Eu vou ignorar completamente tudo que vocês falaram e seguir acreditando nos acontecimentos de Seattle Grace.

—Mas... – Lily começou a falar, e Mary ergueu um dedo, calando a amiga e fechando os olhos.

—Derek Shepherd é meu pastor e nada me faltará!

—Ele não tinha...? – Marlene murmurou para Lily.

—Eu sei! – Mary choramingou – Não precisa ficar jogando na minha cara. Vamos, rápido, mudemos o assunto!

Lily arregalou os olhos e balbuciou a primeira coisa que pensou, que era sobre o garoto que Mary estava saindo.

—Eu não estou saindo com Bertram. Só fomos para dois encontros.

—Mas como foram esses encontros? – Marlene instigou. Mary suspirou.

—Bom, acho que vamos precisar de outro desses – Mary falou, apontando para o copo.

***

Lily conferiu pela segunda vez que tinha que tinha pego tudo que precisava. Estetoscópio, lanterna, termômetro, oxímetro, caderninho de anotação, canetas... além de lanche, garrafa de água, escova e pasta de dentes e uma blusa extra.

Aquela noite ela daria seu primeiro plantão noturno, e estava levemente ansiosa. Esses plantões na emergência eram sempre muito falados por todos os estudantes, e ela tinha altas expectativas: os primeiros procedimentos mais invasivos dos alunos eram feitos nesses plantões, como intubação, por exemplo.

—Quem estará com você hoje? – Marlene perguntou quando Lily saiu do quarto.

—Amos. – Lily respondeu, pegando um copo de suco da mesa em que as amigas estavam e bebendo com cuidado para não sujar o jaleco.

—Por que vocês não estão juntas? – Mary quis saber.

—Acharam melhor misturar para esses plantões noturnos, já que não são fixos. – Marlene explicou.

—Ah sim. Acha que chega antes de eu sair? – Mary questionou.

—Chegaria, mas vou passar enfermaria. Devo chegar em casa no meio da manhã. Lene, já sabe como você vai amanhã?

—Nosso caro amigo Benjy disse que pode me dar carona.

Lily assentiu e se despediu das amigas, seguindo para o St. Mungo's. Quando os internos chegavam para o turno noturno eles tinham autorização para estacionar o carro nas vagas reservadas aos funcionários, mediante apresentação de crachá.

Ao sair do carro, Lily checou o relógio. Estava vinte minutos adiantada, mas era melhor assim – conseguiria ouvir dos colegas os pacientes que estavam lá e liberaria os outros no horário correto.

—Oi, Lily!

Ela se virou e viu Benjy saindo da emergência.

—Hey, Benjy! Como foi hoje?

—Ah, foi tranquilo, nada demais. Dia de semana geralmente não tem muita coisa, fim de semana que é mais movimentado – Benjy disse, dando de ombros – Vai ficar pela noite?

—Vou sim. Amos já chegou?

—Ainda não. Eu só vim pegar uma caneta no conforto médico que a minha sumiu.

—Vou lhe acompanhar então, para deixar a minha mochila e você me passa logo o que precisa.

Benjy sorriu e Lily o seguiu.

—Aqui a gente deixa nossas mochilas e vem para descansar. Tem uma outra sala, que na verdade é um quarto, que é para dormir durante a noite nos horários de descanso, mas acho que não tem lugar pra internos – Benjy explicou no caminho – Pelo que entendi, os internos dormem aqui mesmo.

—Não esperava nada diferente – Lily respondeu, sorrindo.

Ela vestiu o jaleco e pegou todo o material que precisaria, seguindo Benjy para a sala de emergência, onde ele iria lhe dizer as pendências dos pacientes. Lily rapidamente pegou seu caderninho.

—Não temos grandes pendências – Benjy lhe disse – Aquele senhor caiu e bateu a cabeça, e ficou um pouco confuso depois, então fizemos a tomografia de crânio e estamos esperando o neurologista, mas não parece ter nada demais. Aquele ali foi um acidente de moto, e está com uma laceração de fígado, veja a tomografia depois. Mas aparentemente está estável, e o sangramento controlado, então vai ser conduta conservadora. Mas é bom você ir lá checar os sinais vitais e se o abdome irrita. Estamos esperando uma vaga de semi-UTI...

Lily anotou tudo que Benjy lhe passou.

—Realmente nada demais – Ela concluiu, e olhou para o balcão onde ficavam os profissionais de saúde. Sentiu um peso no estômago ao ver Snape no celular – Dr. Snape já estava aqui?

—Quê? Sim, sim.

—Ele vai dobrar? – Lily conseguia conviver bem consigo mesma admitindo que não gostaria de passar o plantão com Snape como residente, ainda mais um Snape fazendo 24 horas de plantão.

—Acho que não... Ah, olha só! Potter chegou, ele que deve ficar pela noite.

Lily olhou para a entrada e viu o R2 sorrindo. Ao notar os internos, Potter se dirigiu imediatamente para eles.

—Chegando ou saindo? – Ele perguntou.

—Saindo – Respondeu Benjy, ao mesmo tempo que Lily disse "Chegando". Potter soltou uma risadinha.

—Certo, certo. Como foi o dia? – Potter perguntou, e Benjy deu de ombros.

—Nada muito emocionante. Algumas testas partidas. Passei tudo para Lily.

A garota assentiu e indicou o caderninho com um leve movimento.

—Ah, maravilha. Pode ir então, Fenwick. Eu e Evans damos conta por enquanto.

Benjy sorriu e, para surpresa e constrangimento de Lily, deu-lhe um meio abraço e um beijo na testa, como ele costumava fazer quando ainda namoravam. Lily ficou olhando para o caderninho em suas mãos, esperando o fluxo sanguíneo deixar seu rosto.

—Quem vem hoje além de você? – Potter perguntou, começando a andar em direção a Snape.

—Amos Diggory – Lily respondeu, seguindo Potter e checando o relógio discretamente. Amos estava atrasado um minuto.

Quando eles se aproximaram do balcão, Snape olhou para os dois.

—Em cima da hora, Potter.

—Eu estava avaliando um paciente no andar, Snape. Por coincidência, é seu. Não se preocupe, já fiz o acesso central quando você disse que estava ocupado aqui – Potter respondeu. Snape crispou os lábios e saiu sem mais nenhuma palavra. Potter sorriu levemente e se virou para Lily novamente.

—Ele pode ser bem temperamental às vezes.

Lily segurou a língua para não soltar o que realmente achava de Snape, mas aparentemente Potter conseguiu interpretar, porque soltou uma leve risada.

—Bem, é. Vamos deixar em temperamental, certo?

—Melhor para mim – Lily concordou. Amos finalmente chegou, andando preguiçosamente.

—Está atrasado, Diggory – Potter notou. O garoto franziu a testa e jogou os cabelos loiros cuidadosamente penteados para trás.

—Eu cheguei no estacionamento às 19h.

—Você tem que estar na emergência às 19h – Potter disse – Se por um acaso for se atrasar, é bom avisar a algum colega, está bem?

Amos assentiu com a cabeça. Lily acenou levemente para ele, que retribuiu.

—Vamos ver as pendências então? – Potter sugeriu, indicando o caderninho de Lily – Mesmo com suas anotações, eu gosto de ir em cada maca para ver se tem algum paciente precisando de alguma coisa. Vamos, então?

Lily e Amos seguiram Potter pela emergência, parando em cada paciente para confirmar as pendências de Lily com os prontuários. O processo levou menos de meia hora, e logo eles voltaram ao balcão, à espera de novos pacientes.

Para a surpresa e agrado de Lily, logo Dr. Lupin entrou na emergência, com um passo apressado.

—Hey, Aluado – Potter cumprimentou.

—Desculpa, depois que eu terminei de descrever o acesso tive que avaliar mais dois pacientes na clínica médica, e os prontuários estavam imensos.

—Relaxa – Potter disse.

—Oi, Diggory. Lily, como vai? – Dr. Lupin cumprimentou.

—Tudo ótimo, e com o senhor?

—Lily, por favor! – Dr. Lupin pediu.

—Oh, droga. É o costume, me desculpe – Lily pediu.

—Tudo bem, eu sei que pareço muito velho e acabado mesmo – Lupin brincou. Lily conseguia perceber a palidez no residente, principalmente com o contraste das mucosas esbranquiçadas com a pele negra.

—Ele sempre foi o pai da turma – Potter disse, achando tudo divertido.

—Vocês se conheciam antes da residência? – Amos perguntou. Potter e Lupin trocaram sorrisos cúmplices.

—Nós estudamos juntos desde os 10 anos de idade, na verdade. Nós dois e Sirius. No caso Dr. Black. – Lupin explicou, mas logo teve de sair porque uma enfermeira chamou um médico na porta da emergência. Ele conversou com a mulher por algum tempo, mas chamou Potter logo em seguida.

—Ainda bem que não estamos só com Lupin hoje – Amos comentou.

Lily franziu a testa.

—Por que diz isso?

—Ora, Lupin é R1 e Potter e Black são R2. Se eles estudaram juntos por tanto tempo, era para serem R iguais, mas não são. Então ou Lupin entrou depois na faculdade, ou perdeu semestre, ou perdeu a residência da primeira vez que fez.

—E daí?

—E daí que ele não é tão bom quanto os outros por isso – Amos disse, dando de ombros. Lily revirou os olhos.

—Como se vestibular e prova de residência avaliassem quão bom médico a pessoa é – Ela disse – Ele também pode ter tido algum problema, ou preferido trabalhar antes de prestar a prova de residência. E se quer saber, ele é um excelente residente, pelo menos com os internos.

Amos olhou para Lily por um tempo e sorriu em escárnio.

—Será que você finalmente superou Fenwick e agora tá afim de Lupin?

Lily revirou os olhos mais uma vez.

—Como você pensa pequeno, Amos. Honestamente.

Não só Lily não sentia nada mais por Benjy do que amizade como ela não tinha uma queda por Dr. Lupin. Ele era bonito, claro, mesmo com o ar de cansaço que sempre carregava, mas tinha algo... fraternal nele que Lily não conseguia ignorar.

Lily e Amos se revezavam para receber os pacientes. Eram algumas quedas, braços quebrados, cabeças batidas e pequenos cortes. Era uma ótima sensação quando ela atendia o paciente, falava com algum dos residentes e a conduta que ela sugeria estava certa.

—...então acho que dá pra mandar ele pra casa já – Amos dizia para Dr. Potter. O residente franziu a testa.

—Ele tem quantos anos?

—Uh... acho que 59 – Amos respondeu – Como não é idoso acho que não precisa de tomografia, certo?

—Vamos conversar com ele?

No final, ele era sim idoso; Amos apenas havia esquecido de perguntar.

—É meio que protocolo, entende, Diggory? – Dr. Potter ia dizendo – Idoso com queda quase sempre faz tomografia de crânio. Idoso tem a vascularização mais frágil, então uma queda da própria altura já é suficiente para causar uma hemorragia.

Lily assentiu com a cabeça, enquanto Diggory, com a testa franzida, solicitava o exame.

—Bom, já que temos aqui um caso que nos deixou com dúvidas quanto a solicitação de TC de crânio em paciente com trauma, por que não revisar? – Dr. Potter sugeriu e Lily acenou em concordância – Já sabemos que idoso com trauma encefálico indica. Me digam mais...

Era assim que Lily gostava dos plantões – plantões em que ela pudesse aprender.

Logo, logo Remus se juntou aos três, e ajudou na discussão. Eles estavam quase avançando mais no assunto, mas tiveram de parar com a chegada de dois pacientes que necessitavam de sutura; Lily foi para um e Amos para o outro.

—A história é que eles estavam vendo quem subia mais rápido na mesma árvore – Lily contou, revirando os olhos levemente – Não foi muito surpreendente que eles caíram. O meu paciente, Mark, nega ter batido a cabeça, mas eles estavam bebendo, então não sei quão confiável o relato é. Ele tem alguns cortes na perna, um no tronco e um no antebraço.

—Qual a altura da queda? – Dr. Potter questionou.

—Ele não sabe precisar muito bem, mas acha que menos de 3 metros.

—Você fez o atendimento inicial como se fosse politraumatizado?

—Sim, fiz, mas não tinha alterações. Vias aéreas pérvias, traqueia centralizada, ausência de estase de jugulares, sem cervicalgia à mobilização–

—Certo, certo – Dr. Potter interrompeu, rindo de leve – Você quer pedir algum exame complementar para ele?

—Bom... ele é jovem e nega trauma encefálico, mas ele bebeu... a escala de Glasgow já fica comprometida, assim como o relato em si. Apesar de ter negado vômito, náuseas, ou perda de consciência, acho que temos que pedir a tomografia sim.

Lily se esforçou para deixar os lábios imóveis quando viu o residente sorrir.

—Mais alguma coisa? Radiografia de cervical?

—Não, não tem clínica sugestiva – Lily discordou – Se fosse para escolher um raio-x eu pensaria mais em tórax, mas ele não tem nenhuma sintomatologia.

Dr. Potter assentiu com a cabeça, sorrindo, e ajeitou os óculos.

—Você estará algum dia na emergência com Dra. Minerva? – Ele perguntou.

—Sim, estarei.

—Que bom. Acho que vocês se darão muito bem.

 


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