Internamente Evans escrita por psc07


Capítulo 22
Capítulo Vinte e Um


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, galera!!! Ansiosos para o capítulo de hoje? Espero que sim!

Só para lembrar que mês que vem é Outubro, que é o mês que celebramos nosso casal Jily. Eu e talentosíssimas amigas estamos organizando um Jilytober - mais informações no meu twitter (@/psc_07_)!

Espero que gostem do penúltimo capítulo e deixem seus comentários! Até próxima sexta!



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Quando Marlene recolheu Lily da emergência James e Bertha ainda estavam conversando – não que isso fosse da conta de Lily. Ela e James agora eram residente e interna, e nada mais. Talvez amigáveis? Como eram antes. E ela era amiga de Sirius e Remus. E Peter também.

De qualquer sorte, isso não importava.

Marlene ergueu as sobrancelhas, mas Lily disse que explicaria depois. Frank pediu desculpas mais uma vez enquanto elas saíam da emergência.

No caminho para o carro, Lily contou o que ocorrera para a amiga, que também expressou as condolências. Claro, ela também ficou curiosa para saber desse novo desenvolvimento com James. Lily deu de ombros e disse que achava que era o melhor. Não fazia sentido ficar evitando um residente, certo?

—Então quer dizer que podemos esperar um happy hour na casa dos meninos? – Marlene questionou. Lily franziu a testa.

—Eu não disse isso. Quis dizer no ambiente do hospital – Lily replicou – Talvez daqui a algum tempo.

—E quem era aquela falando com ele?

—Aquela era Bertha Jorkins, a ex-namorada de James – Lily contou, tentando manter a cara neutra.

—A que abordou você no vestiário e basicamente disse que quer ficar com James?

—A própria. Hoje ela chegou se fingindo de cínica. Saí o mais rápido possível, claro – Lily contou.

—Hum. James ainda ficou conversando com ela.

Lily deu de ombros.

—Ele é educado, né. E não importa muito agora – Lily falou. Marlene revirou os olhos.

—Você pode ficar incomodada sim. Ainda mais que vocês ainda vão voltar depois do rodízio.

Lily preferiu não comentar – ela sabia que só faria Marlene falar mais sobre o assunto, e ela queria esquecer um pouco daquilo.

O plano de Lily para o final de semana era passar todo na frente da televisão, completamente vegetando. Ela assumiu que Marlene estaria com ela pelo menos naquela sexta à noite, mas estava errada.

—Vai para aonde? – Lily perguntou do sofá, um balde de pipoca na mão e o controle na outra. Marlene estava com uma calça jeans bem justa e uma blusa roxa que Lily sabia que era nova.

—Três Vassouras – Marlene replicou, se olhando no espelho para conferir a maquiagem (estava perfeita; ninguém fazia um delineado como Marlene). Lily pausou o filme e se virou para a amiga.

—Encontro?

Marlene deu de ombros.

—Boa fossa – Ela disse, indicando com a cabeça o pijama longo e a meias de Lily.

—Obrigada! – Lily agradeceu com um sorriso – Bons beijos!

Lily escutou a porta fechar e abafar a risada de Marlene. Pouco tempo depois Mary se juntou a Lily, trazendo um balde de pipoca para ela também, e dizendo que não precisava voltar o filme. Tonks tinha saído mais cedo com Remus.

Lily só saiu do sofá naquele final de semana para ir no banheiro, tomar banho e pegar comida. Algumas vezes ela tinha companhia no sofá – as meninas iam e vinham, enquanto ela permanecia lá, inclusive dormindo no sofá entre os filmes e seriados.

Ela sabia que algumas pessoas julgariam, mas ela achou extremamente saudável seu momento de lixo, de esquecer qualquer coisa da vida e não se preocupar com tudo que vinha se preocupando recentemente.

Na segunda-feira ela estava pronta para abandonar seu comportamento antissocial; bem, em parte – o fone de ouvido ainda estava no bolso do jaleco, pronto para ser usado em qualquer momento de necessidade.

Mas não houve nenhum momento de necessidade.

Ela viu seus dois pacientes com um sorriso no rosto, e ignorou quando um funcionário olhou para ela de um modo muito mal disfarçado. A sala de prescrição só tinha ela e Marlene, e pouco depois Emmeline chegou, indo sentar ao lado de Marlene. Lily supôs que Emme talvez estivesse dando um tempo para Lily.

O que era bom, porque ela não precisou se isolar com o fone de ouvido, mas ainda não estava pronta para conversar alegremente como as duas estavam fazendo. Então Lily fez o que ela deveria fazer nesse momento: se concentrou nos seus pacientes e no que tinha que escrever.

Quando terminou, Lily saiu do computador e foi sentar num canto com sua cópia surrada de Crepúsculo – era seu livro conforto, e não importava quantas vezes ela lesse, ela sempre se sentiria bem, como se tivesse voltado para casa.

Mesmo num momento de dificuldade romântica como esse.

—Oh, Evans – Sirius disse se sentando ao seu lado. Lily sorriu – Eu não acredito que você lê esse tipo de coisa.

—O tipo de coisa que claramente foi menosprezada, julgada e criticada por ter sido feito para um público feminino adolescente, como todo material que é criado com esse foco sempre é? – Lily perguntou, uma sobrancelha erguida mas sem desviar o olhar do parágrafo – Tipo Justin Bieber, que era completamente julgado quando fazia sucesso com as garotas e depois que mudou o público, passou a ser “legal”? – Ela completou, virando a página – Não que ele seja legal ou que mereça direitos, mas você entendeu.

Sirius soltou uma gargalhada.

—Bem vinda de volta, ruivinha. Sentimos sua falta – Sirius disse com um sorriso – Trouxe para você.

Lily finalmente fechou o livro e olhou para o residente. Eram fios cirúrgicos. A garota sorriu e pegou o pacotinho que, apesar de não mais estéril, estava limpo.

—Uma técnica abriu a mais sem querer, e sobrou. A gente geralmente leva pra casa pra treinar, mas achei que você merecia um presentinho – Sirius explicou.

Lily agradeceu e, depois de guardar o livro, puxou um fio para treinar. Com mais um sorriso, Sirius saiu e deu lugar a Remus. Lily pôs o fio no bolso e passou o paciente com ele. Depois procurou Frank para discutir com ele também.

Pouco tempo depois, a garota voltou para seu cantinho e pegou o fio novamente, usando uma caneta como apoio.

—Hey, está bem melhor! – James disse com um sorriso enquanto Lily finalizava um nó. Claramente ela estava ignorando a última vez que ela estava treinando suturas manuais e o resultado final daquele dia.

—Bem, tenho praticado – Lily replicou, dando de ombros. James sorriu.

—Quem sabe você não tem a chance de fazer de verdade no nosso plantão diurno quarta, eh?

Lily sorriu e James se afastou.

Merda, plantão diurno com James quarta-feira.

Eles estavam bem. Estavam ok. Mas o destino bem que podia dar uma aliviada, né? Plantão com James ainda era um assunto sensível para ela.

Lily também sabia que ele tinha dito isso como uma maneira de avisá-la que eles estariam juntos na tarde de quarta-feira, para que ela não fosse surpreendida completamente no dia.

Ela continuou um pouco mais calada na enfermaria, se mantendo mais discreta nas discussões: a possibilidade dos preceptores terem ouvido os boatos – verdadeiros, mas ainda assim boatos – era absurdamente embaraçosa, e ela definitivamente queria evitar qualquer tipo de comentário vindo deles.

Lily continuou com sua anotação, e quando tinha dúvidas acabava direcionando para Remus ou Sirius, que sempre estavam felizes e satisfeitos em ajudá-la.

O pequeno pacote de fios que Sirius havia lhe presentado já encontrara seu fim quando a quarta-feira à tarde chegou. Sua dupla para aquele plantão era Dorcas, e o jeito hesitante da garota fazia Lily suspeitar fortemente que o boato verdadeiro chegara na colega.

Lily agia como se ela não soubesse de nada; não perguntou se tinha algo de errado, não iniciou nenhuma desculpa sobre o assunto. Falou com Dorcas normalmente, como duas internas sempre fazem num plantão, sempre arranjando algum assunto para discutir.

James e Caradoc estavam conversando afastados delas, e eles se encontravam quando tinha algum paciente. Lily sabia que James não tinha iniciado nenhuma discussão com o tempo parado por causa dela. Apesar de lamentar, compreendia e concordava em parte com a conduta.

E assim a tarde passou: o fluxo de pacientes habitual, conversas entremeando os atendimentos, uma pequena pausa para lanchar e muita observação.

Quando um paciente vítima de esfaqueamento no abdômen chegou faltando meia hora para o plantão acabar, Lily ponderou que qualquer pessoa que não fosse da área duvidaria da quantidade de pacientes que chegavam perto da hora da troca de turno – que se fosse uma história, seria apenas um recurso de narração.

Qualquer um que trabalhasse em hospital rapidamente confirmaria a veracidade dos atendimentos e admissões em fim de plantão.

—Vamos lá? – James chamou as duas enquanto passava para ir até a maca em que o paciente era colocado – Hey, cara, eu sou James, sou médico residente da cirurgia. O que aconteceu? Como é seu nome?

—John – O paciente respondeu, fazendo uma careta – Eu fui… assaltado e fui idiota o suficiente para reagir e ele tinha uma faca… e estamos aqui.

—E como está se sentindo? Além de dor? Ele te machucou em algum outro lugar?

Tinha sido “apenas” essa facada em questão, e nenhuma outra lesão. Lily anotou a história no seu caderninho com atenção, enquanto Dorcas auscultava John.

—Ele não tá em choque, não tem evisceração, mas fiquei em dúvida quanto a peritonite. Qual a conduta agora?

Lily esperou para Dorcas, que estava fazendo o exame físico, responder, mas a colega apenas de ombros.

—Exploração digital da ferida para avaliar se violou peritônio – Lily disse baixinho. James sorriu.

—Perfeito. Cheguem perto para ver como se faz. John, isso vai incomodar um pouco, mas preciso definir se precisa de cirurgia ou não, ok?

John fez uma careta, mas assentiu. Lily observou atentamente o dedo enluvado de James.

—É, John – Ele falou, retirando o dedo melado de sangue e o que Lily sabia ser conteúdo de intestino delgado por cima da luva – Você vai precisar de cirurgia, infelizmente. O que aconteceu é que a faca passou dos músculos abdominais, e pelo que vi aqui, perfurou intestino. Precisamos operar pra corrigir.

John não parecia satisfeito, mas entendia que era necessário. Lily lhe ofereceu um sorriso – ele estava mais calmo depois da analgesia começar a fazer efeito. Ela e Dorcas acompanharam James de volta para o computador. Dorcas sentou para escrever enquanto Lily e James observavam.

—O que tem de bom?

Lily olhou para frente e viu Sirius e Remus se aproximando alegremente do balcão. Lily sorriu de imediato.

—Já vou lhe dar de presente uma cirurgia! – James exclamou baixinho – Chegou agorinha e tenho certeza que você não vai negar uma laparotomia exploradora no início do plantão.

—Você está tentando me empurrar uma cirurgia, Pontas? – Sirius perguntou.

—Faltam dez minutos pro seu plantão, seu idiota – James retrucou – Quer saber a história ou não?

Antes dele começar a falar, Marlene e Emmeline também chegaram com sorrisos no rosto. Elas seriam as internas do plantão da noite.

—Meadowes, quer passar o caso? – Sirius perguntou – Vai entrar na cirurgia?

—Hum, é do plantão noturno, as meninas que escolhem – Dorcas disse.

—Por mim tudo bem, Cas – Marlene disse, e Emmeline deu de ombros.

—Lily, você quer? – Dorcas perguntou, e aparentemente estava explícito no rosto de que sim, porque os demais riram – Então pronto.

—Evans, então, fale – Sirius pediu.

Lily passou o caso rapidamente, enquanto Dorcas terminava de fazer a admissão no sistema.

—Já tem vaga no centro e ele vai em alguns minutos – James disse, após chegar o celular – Pedi para Caradoc ir lá checar. Tem seis horas de jejum, e é urgência – Ele se virou para Dorcas e Lily – Eu vou com ele pro centro enquanto vocês terminam. Dr Lupin carimba tudo pra vocês. Lily, só não demore muito para não se atrasar.

Lily assentiu e ajudou Dorcas a terminar a admissão em dez minutos. Marlene andou com ela até a entrada do vestiário.

—Só você mesmo pra entrar em uma cirurgia depois do seu plantão – Marlene disse e Lily deu de ombros – Como foi hoje? Ruim? Péssimo? Ok?

—Foi… normal – Lily respondeu após uma leve hesitação – Na verdade não normal, do jeito que éramos antes, mas normal do jeito que seria se fosse um outro residente qualquer? Eu não sei explicar direito. Mas no aspecto acadêmico foi bom.

—Que é o que importa.

—Obviamente.

Marlene suspirou quando elas chegaram na entrada e Lily pegava o pijama cirúrgico.

—Não odeie o garoto, vocês ainda vão voltar – Marlene pediu. Lily revirou os olhos e abraçou a amiga.

Ela gostava de fazer logo xixi antes de entrar no centro cirúrgico, para não ficar com vontade durante o procedimento, então se trocou, guardou a roupa num dos armários e foi para um dos cubículos com vaso sanitário.

O timing não poderia ter sido melhor (ou pior); ela estava terminando de subir a calça do pijama quando ela ouviu as vozes e segurou por pouco a vontade de berrar.

—Bertha, esse é o vestiário feminino! – James exclamou.

—E está vazio, perfeito para conversarmos, já que você se recusa a sair comigo! – Jorkins falou. James suspirou.

—Porque não temos mais nada pra conversar, Bertha – Ele disse cansadamente.

—Claro que temos. Como o fato de que você estava saindo com uma interna. Isso não é de seu feitio, James – Bertha disse.

—Eu sei que não é. – Foi tudo que James respondeu. Lily já sabia disso. Aparentemente todos sabiam disso.

—Ninguém te julga, sabe. Eu acho compreensível. A garota é até bonita, eu entendo você querer se divertir–

—Bertha…

—Juro, é normal! Uma jovem impressionada e deslumbrada deve ser muito bom para seu ego–

—Não fale assim – James cortou – Não fale assim dela.

—Ah, James – Bertha disse, rindo – Você gostou da pobrezinha!

—O que você quer? – James perguntou, completamente apático.

—Eu quero lhe dizer que está na hora de voltarmos, James. Chega dessa brincadeira de ficarmos separados. Você teve sua diversão com ela.

James riu – não, James gargalhou.

—Bertha, mesmo que eu não amasse Lily com absolutamente todo meu corpo e meu coração, mesmo que meu cérebro não concordasse com meu coração, mesmo que ela não me fizesse acreditar em destino e almas gêmeas pela primeira vez na vida, mesmo que meu corpo não vibrasse toda vez que eu a visse sorrindo… ainda assim, eu não voltaria com você.

Lily sentiu seu coração acelerando, mas logo se controlou.

Inspira, expira.

Não era mais época de ficar feliz com uma declaração dessa, até porque ele nem tinha falado para ela.

—Você me tratava com lixo, Bertha – James continuou – Não se importava comigo, de fato. Era mais importante pra você ser vista comigo do que estar comigo. Eu fazia tudo por você, e não recebia quase nada em troca.

—Isso é o que Sirius quer que você ache. Ele nunca gostou de mim, e só estava com ciúme por causa do tempo que a gente passava junto…!

—Sirius estava certo, mas eu fui muito trouxa para perceber. Agora, olhando para trás, eu consigo perceber quão idiota eu fui – James riu.

—Não foi idiota, James. Eu que fui idiota, eu não soube reconhecer uma coisa maravilhosa–

Esse foi o limite para Lily.

Inspirando profundamente mais uma vez – para dar coragem, claro – ela deu descarga, e ouviu as vozes no vestiário se calarem. O barulho da tranca foi incrivelmente alto.

Mas nada gritou mais alto que a careta de James quando ela saiu do cubículo; nem mesmo a raiva estampada no rosto de Jorkins.

Lily lavou a mão como se não estivesse acontecendo nada, como se fosse comum ver um residente homem no vestiário feminino todo dia. Em seguida, ela prendeu os cabelos e vestiu a touca, se virando para James, que agora passava uma mão pelos cabelos.

—Dr. Potter, já sabe qual a sala da cirurgia? – Lily perguntou, sem deixar a voz fraquejar em nenhum momento.

—Uh, é… sala quatro – Ele respondeu, a voz fraca. Lily assentiu.

—Muito obrigada – E se virou para sair, sentindo encaradas furiosas – Boa noite, Dra. Jorkins.

Lily saiu do vestiário com dignidade, pegando a máscara e indo diretamente para a sala quatro, onde Sirius já esperava com Dr. Weasley.

—Desculpe o atraso – Ela falou assim que entrou. Dr Weasley concordou com a cabeça e Sirius franziu a testa.

—Você está corada. Tudo bem? – Sirius perguntou.

Seu melhor amigo acabou de dizer uma das coisa mais bonitas sobre mim enquanto dava um fora na ex dele sem saber que eu estava ouvindo. O que você acha?

—Sim, sim, claro.

Sirius olhou para ela de modo desconfiado por mais alguns segundos, mas deu de ombros. Ela se adiantou para falar com John, e ele pareceu um pouco mais tranquilo ao ver um rosto conhecido. Lily falou um pouco sobre o procedimento, e garantiu que ele não tinha dúvidas antes de terminar com um sorriso.

Quando Lily se virou, James estava abrindo a porta e entrando na sala, provavelmente para falar com John também. Lily se afastou, olhando para o chão e o rosto corando mais uma vez. Ela se acomodou na parede, observando os dois residentes falando com o paciente.

Eles foram para a porta juntos, e Lily olhava para o chão, mas (claro!) eles pararam ao lado dela.

—Sirius – James falou – Evans estava treinando nós manuais e estava com jeito. Se tiver uma oportunidade para ela praticar durante a cirurgia, seria uma boa.

James saiu e Sirius olhou para Lily especulativamente, o sorriso característico inundando seu rosto. Lily ficou levemente assustada, e foi se lavar para entrar na cirurgia.

Sirius e Dr. Weasley entraram logo depois. Pelo que Lily percebeu, não precisava de um preceptor em sala: não tinha nenhuma lesão grave, apenas duas perfurações em intestino delgado, que não teria maiores problemas.

—Dr. Weasley, muito ocupado?

Eles olharam para a porta da sala, onde Remus estava com uma cara de desculpas.

—Estamos precisando de uma ajuda lá na emergência. Dra. McGonagall avisou que estaria atrasada hoje por causa de uma emergência em outro hospital.

Dr. Weasley ergueu as sobrancelhas e suspirou.

—Evans, você já auxiliou numa enterectomia? – Ele perguntou.

—Não, Doutor. Eu só auxiliei Dra. McGonagall numa rafia – Lily falou.

—Ah, verdade, verdade. Ela comentou. Sirius, acha que consegue levar com ela? Eu volto assim que possível.

—Claro, Dr. Weasley.

—Qualquer coisa mando Remus.

Dr. Weasley saiu pedindo o caso para Remus, que começou a falar imediatamente. Lily ergueu as sobrancelhas e ocupou o lugar do preceptor. Ela conseguia ver que Sirius sorria por trás da máscara.

—Vou precisar que você segure a alça pra mim com cuidado, Evans – Sirius disse. Lily assentiu – Você tem que segurar a alça com firmeza, mas delicadamente. Como se fosse… um pênis – Eles se entreolharam, e Sirius ainda sorria – Tenho certeza que já fez isso com Pontas antes. Segurar uma alça, quero dizer.

Lily revirou os olhos, mas não replicou; apenas se esforçou para manusear a alça intestinal com bastante cuidado. A cirurgia transcorreu sem intercorrências, e Dr. Weasley chegou quando Sirius e Lily já estavam fechando a parede abdominal.

—Bem, acho que está tudo tranquilo por aqui… Está tudo tranquilo mesmo? – Ele perguntou.

Sirius confirmou, orientando Lily ocasionalmente sobre alguns movimentos. Ao final do procedimento, Sirius ajudou Lily a guardar o material e saiu do centro com ela.

—Bom ver seu comprometimento, Lily – Sirius disse com um sorriso.

—Eu imaginei que fosse ser uma boa cirurgia – Ela disse, soltando o cabelo do coque. Sirius soltou uma risada.

—Você chegando atrasada e toda vermelha, depois Pontas dizendo pra você fazer coisa… vocês tiveram a famigerada recaída, huh?

Lily ergueu as sobrancelhas e riu. Ah, sim. Com certeza.

—Bem… primeiro que taí um motivo pra termos terminado. Você achar que ele disse pra você me deixar fazer alguma coisa por uma recaída – Lily disse e Sirius fez uma careta.

—Eu não quis dizer te desmerecer, Lily. Você sabe que acho você uma excelente interna.

—Eu sei que você acha isso, mas por que alguém não duvidaria se estivesse no seu lugar? Por que não pensariam que James está me beneficiando?

Sirius parecia que ia falar, mas Lily levantou um dedo o interrompendo.

—Eu cheguei atrasada e vermelha porque vim rápido da emergência e tive que ficar ouvindo seu grande amigo James conversando com Jorkins sobre o relacionamento deles.

A careta de Sirius, se era possível, apenas piorou.

—O que eles estavam falando?

Lily sentiu o rosto esquentar de novo.

“Mesmo que ela não me fizesse acreditar em destino e almas gêmeas pela primeira vez na vida”...

—Isso você vai ter que perguntar a ele. Obrigada por me deixar ajudar na cirurgia, Sirius. De verdade.

Sirius assentiu com a cabeça e Lily seguiu para pegar seu material e finalmente ir para casa.

***

Lily não relatou nada da conversa que entreouviu para Sirius, mas contou para Marlene, Mary e Tonks assim que as quatro se encontraram juntas em casa – com promessas da mais nova de não relatar nada para Remus.

—Uma pena você não ter terminado de ouvir tudo – Mary comentou – Mas dá pra ter uma noção de que James era a definição do uso atual do termo “gado”.

—Ele prefere o termo “romântico” – Lily corrigiu, torcendo o lábio para impedir seu sorriso.

—E ele disse pra Jorkins que te ama? Tipo, ainda te ama? – Tonks perguntou. Lily assentiu e suspirou.

—Não dou uma semana pra isso estar espalhado no hospital. Não duvido nada que ela tenha começado tudo. Os rumores, quero dizer.

—Esquece Jorkins – Tonks disse, revirando os olhos – Ele admitiu que te ama ainda, Lily. Isso não importa pra você?

—Claro que importa. Mas eu não posso fazer muito, posso?

—Eu particularmente gostei da sua saída – Marlene disse com um sorriso – “Dr. Potter, qual a sala?”. Sensacional.

Lily revirou os olhos, mas sorriu. Claro que Marlene ia se apegar nisso.

—Eu to é cansada dessa história toda – Lily disse, fechando os olhos e apoiando a cabeça na almofada atrás de si.

—Quer que o rodízio de cirurgia acabe logo? – Mary desafiou.

—Ugh. Vocês me conhecem bem demais.

Porque, apesar de tudo, ela não queria que seu tempo na cirurgia se findasse. Ela gostava dos pacientes cirúrgicos, gostava das emergências da especialidade, adorava os procedimentos e se encantava nas discussões.

Ela ainda se mantinha mais calada, e ela sabia que era perceptível. Então na semana seguinte não se surpreendeu quando Benjy se aproximou dela.

—Evans, eu tenho ouvido os mais loucos rumores! – Ele começou, com um sorriso. Lily suspirou e segurou sua bandeja com mais firmeza. Eles estavam na gigantesca fila do almoço; Lily ficaria na enfermaria e Benjy na emergência.

—Fala baixo, garoto – Ela murmurou. Benjy ergueu as sobrancelhas.

—Então é verdade? Tudo é verdade?

—Eu não sei o que é tudo – Ela replicou – Se você estiver se referindo a um certo relacionamento, sim. O resto eu não sei porque nem ouvi.

Benjy assoviou baixinho.

—Então foi ele que deixou os cookies?

Lily sentiu o rosto esquentando, mas confirmou.

—E vocês terminaram? Eu nunca lhe vi tão… sei lá, contente com um relacionamento antes, Lily. Nem mesmo comigo!

Lily fez uma careta e Benjy riu.

—Ele também parecia estar completamente na sua. O que houve? Eu preciso conversar firmemente com ele? – Ele perguntou, fazendo a garota sorrir – Eu ainda sou seu amigo, sabe?

—Ai, Benjy. A situação toda é complicada por nossas… posições hierárquicas.

A feição de Benjy foi tomada por uma careta de compreensão. Eles se calaram enquanto pegavam o almoço e achavam uma cadeira pra sentar.

—Mas… quem terminou? – Benjy perguntou.

—Eu, claro. É uma complicação muito grande pra mim, sabe – Lily disse, comendo a primeira garfada.

—Sim… mas pra ele também… eu não consigo imaginar Moody ficando nada além de chateado por um residente dele estar namorando uma interna. Assim, eu nem sei se isso é permitido.

—Não acho que seja proibido – Lily comentou – Eu nem tinha pensado por esse lado. Que seria tão ruim para ele quanto é pra mim.

—Bem, considerando o cookie de madrugada, eu não acho surpreendente que ele não tenha se importado com esse lado.

Lily apenas assentiu, perdida em pensamentos enquanto comia. Isso era a cara de James: não dar a mínima para as consequências que pudessem cair sobre ele por estar num relacionamento com Lily.

Será que realmente não era permitido? Eles fazendo algo mais do não encorajado apenas?

Ela saiu dos devaneios com uma risada constrangida de Benjy.

—O quê? – Lily perguntou, e ele sacudiu a cabeça.

—Estou apenas lembrando do dia que fomos pro bar com os residentes. Por favor, me diz que vocês já não estavam juntos quando eu dei em cima de você e disse que éramos ótimos namorados no passado.

Lily sentiu seus lábios se esticando e Benjy gemeu, fazendo Lily rir.

—Tudo bem, não tinha como você saber – Ela lhe confortou.

—Desculpe se lhe causou problemas. Eu ainda me arrependo de tudo naquela noite.

—Não causou – Lily garantiu mordendo o lábio e sentindo o rosto corar quando lembrava o que aquele comentário dele tinha gerado.

—Você vermelha desse jeito? Acho que mereço um agradecimento! – Benjy replicou. Lily revirou os olhos – Mas você tá tranquila? Te achei meio… sei lá…

—Eu tô tentando ficar mais quieta. Ver se esquecem logo.

Benjy assentiu e encarou Lily seriamente.

—Você sabe que pode contar comigo, certo?

Lily sorriu.

—Claro, Benjy. Mas obrigada mesmo assim.

Eles terminaram de almoçar conversando sobre assuntos mais triviais, e depois Lily subiu as escadas para a enfermaria. Remus já estava esperando por ela, com um sorriso. Não tinha nada programado para aquela tarde, então eles apenas ficariam disponíveis para caso houvesse alguma intercorrência.

Para não deixar a tarde parada, Remus propôs uma discussão de exames de imagem. Lily adorou; era o tipo de coisa que precisavam treinar durante a faculdade, ou sentiriam muita dificuldade depois de formados.

Remus, com sua paciência infinita, fazia parecer até fácil. Lily tirava fotos dos exames, com cuidado para cobrir os nomes dos pacientes, e anotava os sinais que ele mostrava. Não eram apenas exames da cirurgia em específico, mas de outras coisas importantes para qualquer médico também.

Eles estavam falando sobre uma tomografia quando Dra. McGonagall entrou na sala de prescrição.

—Nenhuma pendência? – Ela perguntou.

—Não, professora – Remus replicou – Estamos aproveitando para dar uma olhada em alguns exames de imagem enquanto isso.

A preceptora apenas assentiu e estava fechando a porta da sala, quando abriu novamente.

—Evans, antes de sair, me procure na emergência, por favor.

—Claro, Doutora.

A preceptora saiu e Lily se virou para Remus, uma expressão que era quase desespero.

—Lily…

—Ela quer me ver antes de sair? – Lily exclamou, a voz esganiçada.

—Talvez seja só para falar sobre seu internato, ou sua prova prática. Foi muito boa.

—Ninguém chama alguém desse jeito pra conversar pra falar de uma prova prática boa, Remus! Sabe o que é?

—Eu realmente não sei. Nem você – Ele replicou calmamente.

—Ela ouviu sobre James e eu e vai me demitir! – Lily sussurrou intensamente.

—Ela não pode te demitir, Lily. Você não é funcionária – Remus disse com uma risada.

—Mas ela pode demitir James!

—Também não. Pra sermos expulsos, e não demitidos, do programa, tem que ser algo realmente sério com advertências, ou então se não tivermos a menor condição de sermos cirurgiões.

—Então ela vai escrever sobre minha falta de profissionalismo na minha avaliação subjetiva, e eu vou carregar isso no meu currículo para sempre.

Remus riu mais uma vez.

—Lily, calma! Você sabe que avaliações subjetivas não vão pro currículo. Você não sabe sobre o que ela vai falar – Remus disse – Não adianta nada se estressar.

Lily fez uma careta, mas talvez Remus tivesse razão.

Então ela tentou se concentrar no que eles estavam discutindo, mas o iminente encontro com Dra. McGonagall estava no fundo de sua mente, pulsando como uma dor de cabeça no final do dia.

Quando o horário de Lily chegou, Remus estava segurando um pequeno sorriso.

—Não fica assim. Dra. McGonagall é completamente razoável.

Lily tentou sorrir de volta, e seguiu o caminho para a emergência. A preceptora estava no balcão, observando o que Sirius estava digitando. Quando ela viu Lily se aproximando, ela comentou alguma coisa para Sirius e indicou o caminho com a cabeça. Lily seguiu Dra. McGonagall, até que elas entraram numa sala de reunião.

—A senhora queria me ver, Dra. McGonagall? – Lily perguntou enquanto a preceptora fechava a porta e indicava uma cadeira em frente à que ela ocupava para Lily sentar.

—Lily – Ela começou – Está tudo bem com você?

—Uh, sim, professora – Lily confirmou, confusa.

—Você continua sendo competente, mas tem estado tão… quieta, não participa tanto das discussões, não tira tantas dúvidas quanto antes.

—Nada relevante, Dra. McGonagall – Lily respondeu, sentindo influxo de sangue no seu rosto. Dra. McGonagall abaixou seus óculos e encarou Lily.

—Ah, bem, eu imaginei que talvez tivesse algo a ver com o fato de Potter ter parado de cantarolar pelos corredores – Ela disse, e Lily arregalou os olhos, gaguejando.

—Dra. McGonagall, eu– olha, sabemos que– eu– a senhora ouviu isso aqui?

—Mesmo que não tivesse ouvido, não era difícil perceber. Acho que Potter nunca… esbanjou tanta felicidade assim.

Lily desviou o olhar, focando em suas mãos. Ela não acreditava que estava acontecendo.

—Dra. McGonagall, eu sei que é errado e antiético, e foi por isso que… uh… não está acontecendo mais nada… entre nós, eu digo – Lily balbuciou.

—Bom, não vou dizer que é a melhor das ideias, mas não chega a ser antiético. O hospital não tem nenhuma regra que proíba relacionamento entre interno e residente.

Lily pausou ao ouvir as palavras inesperadas, e teve que olhar para cima.

—É uma péssima ideia. Desde que começaram a falar pelo hospital… – Lily sacudiu a cabeça – A senhora sabe melhor do que ninguém que já é difícil para mulheres. Isso tira qualquer credibilidade minha, não?

Dra. McGonagall tirou os óculos, limpou na blusa e depois colocou de novo, juntando as mãos embaixo do queixo. Então suspirou.

—Lily, escute bem o que vou lhe dizer, porque serve para o resto de sua carreira, certo? Você, como mulher em uma área predominantemente masculina, vai precisar ser impecável. Competente não tenho dúvidas de que será. Mas você terá de ser duas vezes melhor, porque por enquanto é assim que temos que ser para sermos levadas a sério. Qualquer coisa que você faça, será motivo para questionarem suas ações. Se arrumou demais, tá querendo alguma coisa. Se arrumou de menos, é desleixada. Falou fino, é mulherzinha. Falou grosso, é rude. Não demonstrou reação, é uma frígida. Se envolveu demais com o paciente, é por isso que mulher não presta para cirurgia. Então entenda que tudo que você fizer vai ser motivo para os babacas falarem. Resta saber se você vai ouvir o que eles falam enquanto é feliz.


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