Internamente Evans escrita por psc07


Capítulo 14
Capítulo Treze


Notas iniciais do capítulo

Feliz dia 18!!!!!! Eu fico sempre muito feliz quando chegamos nesse ponto do mês pra postar nossa história querida!!!!

Espero que gostem e prometo muita interação Jily aqui!!!!!!



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Dizer que Frank foi compreensível só seria mais redundante que relatar a cara emburrada que Snape exibia. Após o banho apressado que tomara, Lily achou mais coerente ver logo os pacientes para depois fazer a evolução completa no sistema.

Quando ela chegou na sala de prescrição, todos os residentes estavam discutindo seus pacientes com os internos, então os computadores estavam livres. Lily sentou em um deles o mais discretamente o possível, e se pôs a fazer seu trabalho.

Quando ela terminou, procurou James ou Frank, e percebeu que os dois estavam livres.

—Vai primeiro com Frank, Lily – James disse, indicando o colega. Lily assentiu e pegou os papéis, mas antes dela sentar, James colocou um sanduíche em sua mão – Eu sei que você não tomou café – Ele explicou simplesmente.

—Isso não tem cafeína – Lily replicou, erguendo uma sobrancelha. James sorriu. – Obrigada, mas não precisava.

—Só ajudando uma amiga… – Ele disse dando de ombros. E Lily não podia retrucar, pois ela dissera exatamente a mesma coisa sobre Remus.

—Desculpe, Frank… – Ela pediu assim que sentou. O garoto sorriu.

—Ei, nada disso. Muito legal o que você fez por Remus, Lily. Fica tranquila. Já fiz as prescrições hoje, vamos só dar uma olhada na evolução.

Lily sorriu em agradecimento, e eles se puseram a discutir. Logo em seguida James apareceu, e repetiram o processo. Aquele era dia de Moody passar, então eles adiantaram para terminar a tempo.

Mas Moody chegou alguns minutos antes, e ainda faltava terminar o último paciente.

Snape, claro, foi extremamente rápido em dizer que o atraso ocorrera porque Lily havia chegado dez minutos atrasada.

—Me desculpe, Dr. Moody – Ela pediu sentindo as bochechas arderem – Um amigo teve um problema de saúde  e tive de ajudá-lo. Dr. Potter e Dr. Longbottom, meus residentes, estavam cientes, então não houve prejuízo. Mas não acontecerá novamente.

Moody apenas olhou entre ela e Snape – perdendo o olhar furioso que James exibia para o residente que havia “delatado” Lily. A ruiva, contudo, percebeu, e assim que pôde, alertou James que não valia a pena.

—Para de querer procurar confusão por minha causa – Lily pediu quando Moody saiu – Principalmente com Snape. Ele já acha que sou favorecida, imagina se você ficar fazendo isso!

—Quem se importa com o que Ranhoso pensa? – James desdenhou. Lily cruzou os braços.

Eu me importo. Esse tipo de coisa voa. Você é residente, seu futuro está bem definido, você pode não se importar. Eu sou uma interna, e pretendo fazer prova aqui. Tudo isso conta.

James suspirou, mas sabia que Lily estava certa, então ele apenas assentiu enquanto os dois caminhavam para o quarto de Remus. 

Ao abrirem a porta, viram Tonks deitada na cama do acompanhante com um livro na mão, enquanto Remus descansava. Quando ela viu quem estava chegando, os olhos dela brilharam.

—Graças a Deus! – Ela sussurrou – Eu estou com uma dúvida em anatomia mas não queria acordar Remus…

Lily sorriu e sentou ao lado da mais nova, enquanto James cruzava os braços observando.

—Você não tem que almoçar não? – Lily desafiou erguendo uma sobrancelha – A enfermaria não vai ser cuidada sozinha…

James riu.

—Você também precisa almoçar, Lily – Ele lembrou. A ruiva pegou a mochila e mostrou o pote de comida que Marlene havia trazido.

—Vai embora, tá tudo sob controle.

James sorriu e se despediu, retomando seus afazeres. 

—Então…? – Lily perguntou assim que a porta fechou. Tonks abriu um imenso sorriso.

—Conversamos mais um pouco. Fiz o cabeça dura entender que eu também mereço dizer alguma coisa. Estamos namorando!

Lily comemorou em silêncio, e Tonks mordia o lábio para impedir a gargalhada escapar.

—Pelo menos alguma coisa certa… – Lily disse. Tonks assentiu.

—Aqueles quatro podem ser muito tapados! – A mais nova colocou – Mas eles são fantásticos.

Lily concordou.

—A Hematologista passou aqui? – Ela perguntou. Tonks confirmou, e disse que Remus faria uma transfusão pela tarde. – Então vamos ver qual é a sua dúvida.

Lily não se incomodou em nada pela tarefa de ajudar Tonks – pelo contrário, se lembrou dos tempos de início da faculdade. Tonks, por sua vez, decidiu que recorreria à ruiva com dúvidas no futuro (quando, claro, Remus não estivesse disponível).

O plano de Tonks era sair do quarto silenciosamente depois de terminar de estudar, de modo que Remus não acordasse, mas ela tropeçou na cadeira e derrubou os materiais que tinha na mão. O barulho foi suficiente para acordar Remus, e a cena, para fazer Lily gargalhar na cama.

Remus olhou ao redor confuso, mas sorriu ao ver Tonks reunindo o material no chão.

—Ia sair sem se despedir? – Ele perguntou com a voz rouca. O sorriso de Lily só não foi maior que o de Tonks, que se aproximou da cama, se abaixou e beijou levemente os lábios dele.

—Não queria te acordar. Você precisa descansar – Ela justificou.

—Estou descansando – Ele replicou, e ela lhe deu outro beijo. – Boa prova.

—Obrigada. Vou para casa depois para pegar uma muda e venho.

Remus assentiu e eles trocaram mais um beijo. Ele não corava facilmente por ser negro, mas Lily conseguia perceber que ele estava levemente constrangido por Lily ter assistido àquela cena, mas ela não conseguia parar de sorrir.

—Oi, Rem – Ela disse. O residente olhou para ela e Lily não conteve o riso – De nada.

—Algo engraçado? – Ele perguntou, mas estava sorrindo.

—Não, não… é só que… – Lily suspirou dramaticamente, e se deitou na cama, tirando o sapato – O amor propaga alegria, sabe? É lindo! 

Remus revirou os olhos, mas continuou com a mesma expressão.

—E é muito gratificante saber que eu ajudei. Fiz duas pessoas mais felizes. 

—Ok, cupida – Remus disse rindo – Me diz como estão meus pacientes.

—Pff, não mesmo. Você só precisa saber que eles estão bem, e os R2s assumiram todos. Esquece isso, Rem.

Ele suspirou, o sorriso escapando do rosto.

—Você pode ser bem… obstinada, ein? – Remus falou, estreitando os olhos.

—Sim, posso. É um dos meus defeitos. Estou trabalhando nisso. 

Ele não teve chance de responder pois nesse exato momento a porta do quarto foi aberta para a entrega do almoço dele. Lily pegou a “marmita” e se juntou a Remus na refeição, e até deu um pedaço do chocolate que Marlene colocara na sua mochila.

Eles ficaram conversando a maior parte da tarde: Remus contou um pouco mais sobre as dificuldades que encontrava por ser negro, e também pela anemia falciforme. Lily escutava atentamente, relacionando com alguns gestos que o amigo fizera e agora ela entendia o motivo.

Também falaram de assuntos menos pesados – como Lily conheceu Mary, e logo em seguida Marlene, descobriram que gostavam de muitos livros e filmes em comum, e discutiram longamente sobre eles.

No final, Lily estava certa no sentimento de que Remus seria um ótimo amigo.

Eles estavam falando sobre o mérito de algumas adaptações cinematográficas quando Sirius, James e Peter entraram no quarto. 

—Ah não, agora são dois deles! – Peter exclamou com desgosto. Lily revirou os olhos e se espreguiçou, mas Sirius deu dois tapinhas em sua perna. Lily ergueu as pernas, e as colocou no colo de Sirius quando este sentou.

—Você deveria ficar feliz que ele vai ter outra pessoa com quem conversar isso – Ela retrucou, ajeitando as mangas do casaco.

Os outros riram e James deu um tapa na cabeça de Peter, se aproximando de Lily e entregando um copo de isopor. Ela ergueu as sobrancelhas, e ele revirou os olhos.

—Qual é, Lily. É um chocolate quente. Foi ideia de Sirius – James informou, e Lily aceitou o copo, se erguendo para ingerir a bebida. James aproveitou a deixa e ocupou o lugar em que o tronco de Lily estava.

—Já fez a transfusão? – Peter perguntou, se jogando na cadeira. 

—Ainda não, mas deve ser a qualquer momento.

Mal Lily falou, a enfermeira apareceu com a bolsa de sangue. Ela fez uma careta para a quantidade de gente no quarto, mas não reclamou.

—Quando terminar, é só pedir para alguém avisar que eu volto para desinstalar – Ela informou. Remus agradeceu, sendo seguido pelos outros, e a enfermeira saiu.

—Eu que doei essa vez – James anunciou com um sorriso. – Eu e Sirius temos o mesmo tipo sanguíneo de Remus, então nós acabamos doando quando necessário.

Sirius e James começaram a discutir qual sangue era o melhor, baseado na resposta que Remus apresentava. Peter relembrava alguns fatos aleatórios, mas sem tomar um lado. Remus observava os amigos, meio exasperado, meio divertido, enquanto Lily apenas ria.

Sirius acusava James de ter muito colesterol no sangue e James se defendia dizendo que era o colesterol bom porque ele se exercitava quando a porta abriu novamente, fazendo os dois se calarem.

Dr. Moody e Dra. McGonagall entraram no quarto ainda vestindo seus jalecos e ergueram as sobrancelhas para a quantidade de gente. Lily rapidamente tirou as pernas de cima de Sirius, fazendo com que Dr. Moody desse uma leve risadinha.

—Boa tarde – Dr. Moody disse – Lupin, como está?

—Bem melhor, senhor, obrigado.

—Descanse o quanto for necessário, sim? Não queremos que você se precipite. Seus colegas estão absorvendo seus pacientes, e está tudo funcionando perfeitamente.

Lupin assentiu.

—Eu espero não ter mais que te ameaçar novamente, Dr. Lupin – Dra. McGonagall comentou, desviando o olhar rapidamente para Lily. Remus deu um pequeno sorriso e assentiu novamente – Nem que ninguém tenha que ameaçar. Boa recuperação, Remus.

***

E ele teve uma boa recuperação. Não foi tão rápida quanto ele queria, mas foi o suficiente. Ele ficou sete dias internado, recebendo o antibiótico e fazendo fisioterapia respiratória. Como Remus procurou atendimento ainda no início, o quadro não foi tão grave.

Nesse período, Lily, Tonks e os garotos se revezaram para dormir com Remus no quarto. Com seus pais morando longe e sem conseguirem ir sem aviso prévio maior, seus amigos se responsabilizaram pelo internamento, e todos concordaram que Remus não deveria passar as noites sozinho nessa situação. Ele insistia que não precisava, mas nisso ninguém lhe ouvia.

Marlene e Mary visitaram algumas vezes, assim como os outros residentes também passavam para ver como o colega estava.

Um dos momentos mais divertidos para Lily foi quando um dos residentes de clínica médica estava avaliando Remus e Sirius entrou no quarto – ele e o residente haviam brigado inúmeras vezes por causa de discordâncias médicas e rixas de especialidades. Mas Sirius teve que ficar calado daquela vez, e isso lhe rendeu uma tarde fazendo birra.

Outro momento levemente desconfortável foi quando Bertha Jorkins – que Lily sabia ter sido ex-namorada de James – ficou sabendo que Remus estava internado e foi visitá-lo. Sirius e Peter tentaram fingir não ter nenhuma hostilidade, mas apenas Remus realmente conseguiu esconder qualquer desavença com a residente.

Snape ficou intragável no período; reclamava na enfermaria quase de hora em hora de estar sobrecarregado – mesmo que ele não estivesse fazendo nada a mais do que faria –, como alguns R1s eram privilegiados, e principalmente sobre a postura dos internos. A única hora que ele não reclamava era quando precisava substituir Remus em alguma cirurgia.

Lily ficou feliz de estar longe do residente. Ela tentava ajudar mais James, Sirius e Frank com os pacientes de Remus, e eles aceitavam a ajuda de bom grado. Por isso, acabava saindo mais tarde e chegando mais cedo, mas não se importava. 

No dia em que Remus voltou ao serviço, Lily o ajudou a entender o que estava acontecendo com seus pacientes. Ele estava mais corado do que quando iniciou a tosse, e também mais disposto. Sirius e James insistiram para o amigo ainda assim pegar leve; dessa vez, Remus os ouviu.

Ainda assim, ele seguiu a escala e foi juntamente com Lily e Marlene para a emergência. Estava um dia calmo – a chuva que castigava a cidade desde o dia anterior diminuía a quantidade de pessoas que saía de casa.

Mas também deixava as estradas mais perigosas.

Esse ‘porém’ que Remus contou quando Marlene citou a chuva se provou ser verdade com a chegada de um paciente regulado de outro hospital menor que havia sofrido um acidente de moto no dia anterior.

Os três foram juntos receber o paciente, que já estava intubado e com acessos e sonda vesical. O médico que trazia o paciente junto com a ambulância não estava com uma feição muito feliz.

—Olha, na verdade trouxemos o paciente porque não temos neurologistas na nossa unidade – Ele explicou – Suspeita forte de morte encefálica, e precisamos abrir logo o protocolo. A carteira dele indica que é doador de órgãos. Já falamos para a família vir para cá.

Remus assentiu e o paciente foi acomodado em um leito da emergência enquanto o neurologista chegava. O outro médico entregou os exames para Lily e Marlene, e elas se puseram a olhar atentamente.

—Eles fizeram alguns exames clínicos lá – Remus comentou mostrando o prontuário para as garotas – que realmente corroboram. Mas precisamos seguir os critérios. Vocês sabem o protocolo?

Marlene então sorriu e começou a falar – neurologia era fundamental nesse processo de morte encefálica. Falou tão bem que o neurologista chegou e continuou ouvindo.

—Muito bom ver internas atualizadas – Ele disse com um sorriso – Suspeita de morte encefálica, é isso?

Remus confirmou, e eles se puseram a olhar o prontuário e os exames.

—Realmente, a tomografia mostra um hematoma extenso. Isso aqui não é reversível. Já temos uma das exigências. Já solicitou os exames laboratoriais?

—Já sim. O senhor quer ver se precisa de mais algum?

O neurologista avaliou a lista que Remus lhe ofereceu e disse que não.

—Bom, então vamos fazer o exame clínico pra abrir o protocolo. Vou fazer o exame completo, mas não seria necessário. Depois vamos fazer o teste da apneia e se for positivo, abrimos o protocolo.

Ele foi explicando o passo-a-passo do exame, os pontos importantes que eram necessários para qualquer médico que trabalha numa emergência de grande porte. Fez o teste de apneia e pediu ajuda das duas garotas e, no final, suspirou.

—Realmente, vamos abrir o protocolo. Aqui eu não acho que vá mudar, mas temos que manter sob observação por seis horas no serviço e pedir um exame que comprove que não há mais atividade cerebral. Eu vou pedir a angiografia cerebral, que é mais fácil pra gente aqui no hospital. Daqui a uma hora outro colega vem avaliar.

Lily e Marlene observaram atentamente a ficha e como deveria ser preenchida. Como estava com a emergência vazia, foram acompanhar Remus e o paciente no exame. O radiologista assinou o laudo (escrito manualmente) comprovando ausência de atividade cerebral.

Quando eles retornaram à emergência, o neurocirurgião já estava à espera deles, e a segunda avaliação corroborava com a primeira. Era uma situação triste, pois o paciente era jovem.

O finalzinho do plantão coincidia com o final das seis horas de observação. Nesse momento, um médico representando a central de transplante juntamente com o neurologista inicial apareceram. Era hora de pedir autorização à família.

A mãe do paciente estava compreensivelmente chorosa; Lily teve de engolir os seus próprios lamentos quando os médicos começaram a falar.

—Eu não… o que está acontecendo? – Ela perguntou – Como ele pode estar morto se o coração dele está batendo?

—O cérebro dele não funciona mais – O neurologista explicou num tom dócil – Tudo que está mantendo ele vivo agora são nossos aparelhos. Se tirarmos tudo isso, a respiração vai parar, o coração vai parar, e ele vai morrer do jeito que a gente conhece normalmente.

—Ele está vivo! O coração… 

—O coração dele está vivo – O médico da central confirmou – Os órgãos dele estão vivos. Todos exceto o cérebro. Ele consegue ficar nessa situação mais algum tempo, mas nunca vai voltar a ser quem ele era antes.

—O que vocês querem de mim? – A mãe perguntou, fungando.

—Nós entendemos e compartilhamos o luto da senhora – O médico continuou – mas em situações como essa, nós podemos fazer algo. Seu filho pode fazer o bem. Essa é a situação que permite doação de órgãos.

—Não. Vocês não vão matar meu filho! – Ela exclamou, se levantando e se colocando entre a maca e a equipe.

—Senhora, ele não… 

—Ele está sim!

—Ele era doador de órgãos, senhora. Ele queria salvar outras vidas.

—Eu quero que vocês saiam do quarto do meu filho – Ela vociferou – Não me importo com o que digam.

Os médicos assentiram e todos saíram do quarto como desejado.

—Não há nada que possamos fazer? – Marlene perguntou – Nada mesmo?

—Não – O neurologista negou – Não importa o que ele queria antes. A família que decide por ele agora. Por isso a importância de conversar sobre o assunto com os familiares. Ele poderia ter salvo a vida de cinco a sete pessoas, e melhorado a vida de mais duas.

***

Marlene ficou mais abalada do que Lily dessa vez. Mary e Tonks perceberam, e, depois de ouvir atentamente, colocaram o episódio favorito de Brooklyn 99 de Marlene depois do jantar

—Semana que vem é meu aniversário – Tonks anunciou enquanto elas viam televisão. 

Lily sorriu e cutucou a mais nova.

—Vamos comemorar então! Dezenove, né? 

—Sim – Tonks confirmou – Também quero comemorar. O que sugerem?

—Você quer festa grande ou pequena? – Mary perguntou.

—Hum. Não sei. 

—Podemos ir no Três Vassouras na sexta-feira – Marlene sugeriu – Sempre tem música ao vivo e tem desconto para aniversários!

—Hum, vamos ver… não sei se Remus vai estar bem o suficiente… – Tonks ponderou.

—Fala com ele e faz uma lista – Lily disse – pra gente ver quem vai. Seus amigos da faculdade, todas nós, os garotos… alguém de sua família?

Tonks fez uma careta.

—Minha família… como posso dizer…

As três garotas olharam para Tonks, que inspirou profundamente e pausou a televisão.

—Minha família não é boa coisa. As únicas pessoas que não são abomináveis são Sirius e minha mãe. Nós nos esforçamos para não manter contato com nenhum deles.

Lily ergueu as sobrancelhas.

—Eles são ricos. Podre de ricos. Mas são extremamente… bem, eles são preconceituosos pra caramba. São racistas, são machistas, são homofóbicos, xenofóbicos, e tudo o mais – Tonks explicou – Tive a sorte de minha mãe não ser assim, e de eu poder ter crescido o mais longe possível.

—E Sirius? – Marlene questionou. Tonks fez uma careta.

—Eu nem sei se eu deveria contar, mas… Sirius… com ele foi pior. Os pais dele já olhavam de cara feia para James, que só é meio moreno. Imagina como eles ficaram quando viram Remus. Foi muita briga. Minha mãe não pôde ajudar muito porque ela mesma estava brigando porque ela queria trabalhar e a família não aceitava.

“Sirius resistiu por um bom tempo. Ele apanhava muito dos pais por causa disso, até um dia que ele conseguiu dizer chega, e fugiu de casa. Minha mãe quando soube quis abrigá-lo, mas ele já havia sido acolhido pelos pais de James.

“Por isso não temos contato com o resto. E por isso definitivamente não chamarei nenhum daqueles vermes.”

Lily assentiu.

—Te apoio totalmente, Tonks – A ruiva concordou – Que bom que vocês dois estão bem agora.

Tonks sorriu e abraçou a perna de Lily, que era a parte do corpo mais próxima devido à bagunça de membros em que as garotas se encontravam.

Enquanto elas iam pegar os sanduíches de jantar, Lily foi checar o celular, e encontrou uma mensagem.

 

James Potter 18:29

Remus me contou o que houve

Você tá bem?

 

Se Lily dissesse que não sentiu alguma coisa mais aquecida dentro do peito estaria mentindo. Ela sabia que era diferente, mas não queria pensar muito a respeito.

E não daria motivos para ninguém questionar.

 

Lily Evans 18:30

Tô sim

Marlene ficou pior que eu

Mas botamos Brooklyn 99 e ela tá melhor

Obrigada pela mensagem

 

James Potter 18:30

Aaah entendi

Estenda minha preocupação para ela, por favor

E se precisar conversar, sabe onde me achar

 

Lily Evans 18:30

Sei sim

De verdade, muito obrigada, mas não precisa se importar tanto

 

James Potter 18:31

Bem… 

Tarde demais

 

Lily encarou a tela do celular. Ele havia dito “tarde demais” porque ele já se preocupara somente com aquilo, certo? Não tinha mais nada. Não era possível.

Ela não conseguiu pensar mais sobre – seu coração acelerado no momento – porque Mary retornou com um grande sorriso e o computador aberto na fanfic dela.

Lily se concentrou na tarefa – “veias não pulsam, Mary. Artérias pulsam. Você não pode colocar que o sangue estava pulsando nas veias!” e esqueceu das mensagens.

Talvez para o melhor.

***

Mary se juntou a Marlene e Lily no café da manhã mais cedo – teria um encontro com a orientadora infernal para finalmente terminar o TCC, e ela só podia esse horário. Nem mesmo Lily, que geralmente era a mais alegre pela manhã, estava falando. Elas tinham perdido a hora na noite anterior vendo televisão.

A ida ao hospital foi igualmente silenciosa. Lily tentou não se lembrar que também passaria enfermaria nesse final de semana. Ela só queria dormir.

—Bom dia! – James desejou quando as duas entraram na sala de prescrição. Elas apenas resmungaram enquanto pegavam seus materiais e James sorriu – Até mais tarde então!

Lily semicerrou os olhos e se segurou para não lhe mostrar o dedo do meio. Com um sorriso falso (que rendeu mais risos de James), ela saiu e inspirou profundamente. Os pacientes não tinham nada a ver com o seu sono, e definitivamente não mereciam qualquer tipo de mau humor.

Ela não cansava de perceber como estar com os pacientes lhe fazia bem. Explicar, ajudar quem precisava – era para isso que ela estava ali. Claro, ela também era apaixonada pelo ato cirúrgico em si, mas as pessoas eram mais importantes.

—Que mudança! – James exclamou rindo quando Lily retornou com um sorriso. A ruiva revirou os olhos e, discretamente, lhe mostrou o dedo do meio, fazendo Sirius, que havia acabado de chegar,  gargalhar – Agora estou magoado.

Lily ignorou o residente e foi se sentar no computador para concluir suas tarefas. Ela conseguia ouvir levemente James e Sirius conversando com Marlene, mas preferia ignorar. Queria terminar tudo logo para tirar dúvidas com algum dos meninos.

Contudo, Dr. Moody chegou mais cedo naquele dia, e Lily teve de deixar as perguntas para mais tarde. 

Finalmente ela puxou seu caderninho de anotações e se aproximou dos residentes novamente. Quando olhou para cima, James estava com uma expressão meio confusa, mas sorriu ao perceber a garota lá. Sirius e Remus estavam conversando com Marlene.

—Está mais acordada? – James perguntou. Lily o encarou duramente por uns instantes – Marlene me disse que vocês dormiram mais tarde.

—Nunca faça maratona de seriados já vistos se você tem que acordar cedo no dia seguinte – Ela sugeriu solenemente, fazendo com que ele risse.

—Mas devo admitir que me doeu o coração saber que você não transmitiu meus sentimentos e preocupações a Marlene – James continuou. Lily deu de ombros.

—Ela ficaria falando… – Ela virou a cabeça de lado, encarando James com a testa franzida – Espera, como você sabe disso?

—Er… 

—Você perguntou a ela se eu tinha passado os sentimentos adiante?! – Lily exclamou.

—Eu… não sabia que não era pra fazer isso… – Ele respondeu. Se ela não estivesse preocupada com o que ocorrera, teria achado cômica a cara de assustado que James estava exibindo.

—Tudo bem, eu não falei… É só… – Lily suspirou – Esquece.

—Não, sério, me diz – Ele pediu, franzindo a testa. Lily negou com a cabeça, levemente corada.

—Tá tranquilo. Vem cá, eu tenho algumas dúvidas sobre apendicite tardia. Pode me ajudar? – Como explicar o que Marlene iria falar sem deixar as coisas constrangedoras entre eles dois?

—Claro que sim. Manda.

Lily mostrou as dúvidas a James, e eles começaram a discutir sobre o tema. Eles ficaram tão entretidos que não notaram a enfermaria esvaziando – só perceberam que estava na hora de ir para casa quando Marlene limpou a garganta.

—Potter, você está atrapalhando minha carona – Ela anunciou. Lily revirou os olhos e James sorriu.

—Desculpe. Depois a gente termina – James disse, devolvendo o caderninho para Lily.

—Sem problemas – Marlene disse sorrindo – Você vai pro aniversário de Tonks, né, James? – Ele franziu o cenho.

—Nem sabia que ia ter – Ele comentou – Que dia? Se eu não estiver de plantão, claro que vou.

—Lupin lhe avisa direitinho – Marlene disse – Seria legal se você fosse. Eu, Mary e Lily também iremos.

LIly inspirou profundamente enquanto encarava Marlene, mas sentiu os olhos de James nela e foi obrigada a desviar o olhar. Ele tinha uma sobrancelha erguida.

—Vamos sim – Lily confirmou – Vai ser ótimo.

—Maravilha – James replicou – Mal posso esperar para a baixinha virar maior de idade – Ele disse, com uma piscadela para Lily.

Ele sabia exatamente o que ele estava fazendo: Remus começou a protestar dizendo que Tonks já era maior de idade, enquanto Sirius fechava a cara e dizia que ainda assim ela era muito nova e que certas pessoas deveriam ser bastante cuidadosas, e Marlene se metia dizendo que não tinha que ter cuidado nenhum, que Tonks sabia muito bem o que queria…

Lily sentiu os lábios se curvarem num grande sorriso, e o próprio James estava rindo, ambos se olhando como se compartilhassem um segredo.

—Nos falamos mais tarde – Ele murmurou. Lily assentiu.

—Estarei com o celular em mãos.

***

Lily tinha certeza que Marlene iria falar, então nem se iludiu quando a morena ficou calada no caminho para casa. Não era característico de sua amiga deixar isso de lado: uma chance clara de inferir que Lily estava ficando, bem… próxima de James.

Não que ela não estivesse. Talvez ela estivesse. 

Mas não do jeito que Marlene queria dizer.

A amiga lhe lançou olhares furtivos durante o dia. Lily entendeu que ela falaria no momento que considerasse mais oportuno. E o mais oportuno obviamente seria quando tivesse mais gente para ajudar na sua missão.

Então, sério, Lily não tinha como ficar surpresa que Marlene tivesse esperado Mary e Tonks chegarem em casa.

Mary tinha acabado de contar sobre o encontro com a orientadora, e um pequeno silêncio se formou. Quando Marlene limpou a garganta, Lily suspirou.

—Sabem o que eu descobri hoje? 

—O quê? – Tonks questionou no seu tom animado de sempre.

—Que Lily, nossa amiga Lily, continua trocando mensagens com um certo residente! Escondida!

A ruiva sentiu os olhos das três nela e suspirou novamente.

—Marlene está exagerando – Ela se defendeu – São apenas mensagens amigáveis.

—Sim, ele estava preocupado como ela estava por causa de ontem – Marlene explicou num tom condescendente. 

—Assim como estava preocupado com você – Lily retrucou.

—Vocês formariam um belo casal – Tonks comentou simplesmente. Não era a primeira vez que ouvia isso.

—Isso não tem o menor sentido! – Lily exclamou – Ele é bonito? É. Não sou cega nem louca. Ele também é extremamente legal. Mas ele é meu residente. E ele com certeza não entraria nessa loucura que vocês estão insinuando.

—Bom, parece que você é cega – Mary disse – Porque até eu que convivo pouco já percebi que ele te olha de um jeito diferente.

Lily negou com a cabeça. 

—Vocês estão falando besteira – Ela disse simplesmente – Tonks, já ligou para o Três Vassouras?

As amigas deixaram que Lily mudasse de assunto, mas Marlene tinha um sorriso de esperteza no rosto. 

Tonks confirmou que já tinha ajeitado tudo, e Lily se esforçou para manter o assunto longe de James, e de um jeito que Marlene não falasse muito mais.

Na realidade, ela nem precisou se esforçar tanto. Professor Moody, no dia seguinte, anunciou que faria um pequeno teste prático com os internos.

—Eu sei que vocês não gostam de provas – Ele dissera, as mãos atrás das costas – Mas eu não tenho a oportunidade de observar todos vocês durante o estágio. Por isso os residentes também dão nota.

Lily silenciosamente torceu pra Snape não participar da sua nota.

—Mas eu gosto de fazer essa atividade prática também – Dr. Moody continuou – Em que teremos procedimentos básicos de cirurgia e conhecimento da prática da clínica cirúrgica. Será sexta que vem pela tarde. É isso.

Com uma aceno da cabeça, ele se virou e saiu da sala. 

O burburinho dos internos foi imediato: a maioria reclamava de mais uma avaliação, e toda a pressão associada. 

—Por que eu já imaginava que você iria gostar de mais uma avaliação, Evans? – Sirius perguntou, seu sorriso zombeteiro esticando seus lábios.

—Quem disse que eu gostei? – Ela devolveu, cruzando os braços.

—Veja seus colegas – Sirius gesticulou para a sala de prescrição, onde uma fala sobrepujava outra de modo que não era possível entender nada – E você está aqui, quieta.

—Eu só acho que de nada adianta essa negação deles – Lily explicou – Não vão mudar a mente de Moody. E também acho interessante a ideia. Eu estou levemente temerosa de Snape me avaliar – Ela confessou.

—A avaliação dele não vai contar tanto assim – Ele disse, fazendo um gesto de indiferença com a mão.

—Ótimo.

—Gostei da forma que você enxerga a vida – Sirius disse, enquanto Marlene se aproximava – Sua amiga é muito madura, McKinnon.

—Por quê? – Marlene estranhou com a testa franzida. Quando Sirius relatou, ela começou a rir – Essa ruiva te enganou direitinho. Ela não reclama aqui, mas em casa solta os cachorros.

Sirius abriu o sorriso novamente, enquanto Lily dava de ombros.

—Tem que saber escolher a hora certa – A ruiva justificou.

Claro que ela reclamaria – qual estudante de graduação não reclama? 

Quando ela o fez, Mary sorriu em compreensão, e Tonks garantiu que chegaria super cedo no Três Vassouras para conseguir a mesa.

Então Lily e Marlene se puseram a revisar tudo que conseguiam lembrar. Lily queria manter a aparente boa impressão que tinha no hospital, e Marlene queria garantir uma boa nota para aumentar seu score.

Mary ocasionalmente parava para observar as duas garotas suturando esponjas e mostrando para Tonks como fazer. Tonks também pegava casos e interpretava – mas ela tinha a tendência a exagerar, então Lily e Marlene caíam na gargalhada e paravam de estudar.

Numa dessas vezes, Remus apareceu para levar Tonks para sair e observou a cena, um sorrisinho de divertimento no rosto. Quando a garota mais nova dramatizou em excesso, resultando em gargalhadas dos três, o residente invadiu a cena, puxando a namorada pelo braço e lhe beijando a testa.

—Você bem que podia ajudar as meninas, sabia? – Tonks disse com um sorriso, se esgueirando para depositar um beijo leve nos lábios de Remus.

—Seria injusto com os outros internos – Ele replicou.

—Vantagens de ter um amigo residente – Tonks tentou novamente.

—E também tiraria meu tempo com você… – Remus respondeu sorrindo. Ela franziu o cenho e suspirou.

—Você ganhou. Vamos! Estou faminta!

Ela pegou a bolsa que estava na cadeira e puxou o garoto pelo braço – o que foi bom, considerando que ela tropeçou no batente da porta.

Sirius não pareceu tão avesso à ideia quando Tonks comentou, mas Lily sabia que não era correto.

E não tinha nada a ver com o fato de James ter dito que elas não precisavam de ajuda deles para esse teste.

***

—Olha se não é a interna que tirou a maior nota da prova prática de Moody dos últimos quatro anos.

Lily revirou os olhos e fez uma careta, se virando para a cadeira ao seu lado.

—Olha se não é o residente que afirma coisas que não pode – Lily devolveu, fazendo James sorrir.

—Na verdade, nesse caso eu posso. Moody pediu para eu passar as notas para as cadernetas, e é um registro quase infinito e eu fui comparar – Ele explicou com uma piscadela – Maior que a minha, inclusive.

Lily sentiu o rosto ruborizando, e ela tinha (quase) certeza de que era mais pelo elogio do que por quem estava fazendo.

—Eu dei sorte – Ela respondeu dando de ombros – Tive pacientes parecidos.

—Ah, para com isso. Apenas aceite que você foi brilhante, Lily – James retrucou. Era de se admirar o tempo que ele conseguia ficar sorrindo sem doer as bochechas.

Lily se lembrou da prova, e achava que estava mais para o que ela tinha dito do que qualquer coisa. Tinham precisado fazer uma sutura específica, identificar exames de imagem, fazer diagnóstico de um paciente simulado (o ator, para grande divertimento de Lily, fora Sirius). Ela tinha plena ciência que fora bem, mas achava que James estava exagerando.

Ele percebeu isso.

—Deixa de ser tão desconfiada com seu desempenho, Evans. Vamos aproveitar a festa – James sugeriu, mostrando o Três Vassouras com os braços.

—Você que começou a falar da prova! – Lily exclamou num tom acusatório, mas caiu no riso com o residente.

—Tonks chegou? – Ele perguntou – Preciso cumprimentá-la. E dizer que esqueci de comprar o presente.

Lily revirou os olhos e se pôs a procurar pela aniversariante – ou por Remus, que era bem mais fácil. Quando não conseguiu identificar, franziu o cenho e se levantou, tentando ganhar mais visão por altura.

Se ela não estivesse tão concentrada na tarefa, teria visto o olhar de James rapidamente percorrer seu corpo e ele sacudir a cabeça logo em seguida.

Contudo ela viu Tonks e Remus rindo num canto no exato momento em que James também se levantou para ajudar na busca.

—Está sendo distraída por seu amigo – Lily comentou, apontando na direção do casal.

—Ah, maravilha. Vou lá. Até mais, Evans.

A resposta de Lily foi abrir um sorriso e assentir, observando o residente levantar Tonks num abraço apertado lhe roubando uma gargalhada.

Lily admirava demais o jeito que James se relacionava com os amigos. Era algo especial, mais parecido com família do que qualquer outra coisa. Os quatro se doavam um pelo outro sem nem pensar na consequência.

Como se lendo os pensamentos dela, Sirius logo se uniu aos garotos e Tonks, trazendo consigo Peter. James falava entusiasticamente, sendo ocasionalmente interrompido por Sirius ou o riso coletivo.

Ela também observava o jeito que Remus segurava a mão de Tonks, depositava leves beijos no topo de sua cabeça, e fazia questão de estarem se tocando em algum ponto. A garota parecia que tinha engolido um cabide, tamanho era seu sorriso.

Lily bebeu mais um gole de seu gin. A visão causou uma pequena fisgada de saudade em seu peito; não de Benjy em si, mas de ter alguém para ser carinhoso desse jeito com ela.

—Admirando a bela bunda de Potter?

As pessoas, Lily pensou, tinham que parar de chegar de surpresa desse jeito.

—Eu não estava admirando a bunda de ninguém – Ela respondeu simplesmente.

—Dessa vez – Marlene acrescentou. Lily sorriu e deu de ombros.

—Na verdade eu estava observando geral – Lily explicou – Cadê Mary?

—Se bateu com Bertram. O que é isso aí? – Marlene perguntou quando Lily sugou o que restava do gin.

As garotas foram pegar mais bebidas, e depois seguiram para onde o grupo de amigos estava. Sirius olhava meio desconfiado para Tonks e Remus, mas eles não pareciam se importar.

A banda ainda não tinha iniciado, mas o bar já estava cheio. Alguns amigos de Tonks também estavam presentes e se aproximaram para falar com ela.

Ninguém falava sobre hospital ou faculdade; conversavam sobre os filmes mais recentes que haviam assistido, trocavam histórias de quando não se conheciam, riam de tudo e de nada.

Lily não se lembrava da última vez que tinha se divertido tanto. Sirius e James tinham um… jeito para contar anedotas que era impossível não explodir de rir.

Quando a banda finalmente começou, Peter se ofereceu para pegar reposições de bebidas para todos.

Lily e Marlene conheciam o grupo que estava tocando – eles já tinham se apresentado no Três Vassouras antes – e começaram a dançar em todas as músicas.

Cerca de meia hora depois, Marlene deu um tapinha no ombro de Lily e se aproximou para lhe falar no ouvido.

—Vou procurar Mary e garantir que Bertram não esteja sendo muito inoportuno – Marlene disse. Lily mostrou os dois polegares confirmando que compreendera a informação.

A ruiva suspirou e se ajeitou. Dançar com Marlene era mais cansativo do que se podia imaginar.

—Me concede a honra?

Se a voz no seu ouvido não fosse conhecida, ela teria virado com uma careta e prováveis palavras levemente hostis – quem fala assim com um desconhecido?!

Mas ela conhecia a voz muito bem – e a voz lhe deu arrepios e um frio na espinha. 

Ou talvez tenha sido a barba por fazer praticamente raspando em seu pescoço.

James estava com a mão estendida e um sorriso, aguardando a sua resposta.

—Nem tem como dançar direito com essa música – Ela respondeu indicando a mão e aumentando o tom para que ele escutasse. James revirou os olhos e tirou o copo vazio da mão da garota.

—Claro que dá! 

Lily revirou os olhos, mas estava sorrindo quando depositou sua mão na de James e ele a puxou mais para perto.

Se girar e pular loucamente, e cantar a letra da música um para o outro pode ser considerado dançar, então sim, era completamente possível dançar.

Lily gargalhava em alguns momentos do jeito que James a rodava, dos estranhos passos que ele exibia e da própria risada estrondosa dele.

James a puxava mais para perto, e ela não sabia se o coração estava acelerando por estar se movimentando tanto ou porque ela estava dançando com ele.

James a girava rapidamente e ela tentava manter o olhar nele para não perder o imenso sorriso do garoto.

James a afastava e ela se perguntava rapidamente se não tinha como aproximar

Algumas músicas depois e a banda parecia ter lido o pensamento dela, anunciando que iriam tocar uma música nova e mais calma.

Com um sorriso torto, James a puxou para mais perto, bem mais perto, até que seus corpos estivessem quase em contato completo e a mão dele segurasse Lily pela cintura.

Ela disfarçou o arrepio, e passou os braços pelo pescoço de James, fazendo com outra mão dele imitasse a primeira.

Lily não achava mais a dança tão engraçada

—Tudo bem? – Ele sussurrou em seu ouvido, e Lily assentiu. No escuro e no barulho era mais fácil esconder o quanto ele a estava afetando. – Bom. 

Ela se aproximou mais dele, de modo que seus corpos realmente estivessem se tocando, e depositou a cabeça na junção entre o pescoço e o tórax de James.

Ela sentiu a bochecha dele repousando em seu cabelo, e abriu um sorrisinho.

Quanto tempo eles ficaram girando desse jeito, nenhum dos dois saberia responder; a música calma acabara e as batidas mais elétricas recomeçaram – e ainda assim eles permaneceram dançando lentamente.

Quando James engoliu em seco, Lily se afastou e o olhou nos olhos. As írises castanho-esverdeadas perdiam a briga por espaço com pupila dilatada, refletidindo com perfeição os próprios olhos da garota.

—Lily… – James sussurrou enquanto abaixava lentamente sua cabeça.

Ela não tinha dado o comando consciente, mas sentia suas pernas se elevando para não deixar todo o trabalho para James e também contribuir para juntar seus lábios com os do residente.

As pernas dela travaram.

Residente.

James também interrompeu o movimento, e abriu os olhos.

—Eu… me desculpe, não tive… – Ele começou a balbuciar, e Lily o calou com um dedo em seus lábios.

—Você é meu residente – Lily falou – Não meu, mas dividimos pacientes. Você está hierarquicamente acima de mim. Não podemos…

James assentiu, e depositou um leve beijo nos dedos da garota.

Ela fechou os olhos.

James tirou a mão dela de onde estava, e sorriu.

—Melhor encontrarmos com os outros então.

Lily concordou com a cabeça, e eles se afastaram, voltando para a mesa bem em tempo de cantarem os parabéns. 

Ninguém parecia ter visto o que quase ocorrera, e Lily estava agradecida por isso. Ela ainda não estava pronta para lidar com aquilo. E, entre trocar olhares com James durante o resto da noite e finalizar drink atrás de drink, sabia que precisaria absorver que sim, ela tinha uma queda gigantesca por James.

E nada poderia fazer sobre o assunto.


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