—Nossa, sua cara está horrível.  – Bella segurava com as duas mãos o copo com café. Precisava de um pouco de cafeína para voltar ao estado normal. – A viagem foi tão ruim assim?

—Não, Angela. A viagem foi ótima. – Surpreendente, ela diria.

—De novo? – Angela tentou segurar o riso, mas a careta que Bella fez foi impossível não rir. – Sinto muito. Deveria desistir desses encontros às cegas.

—Não finja compaixão quando sei que está se divertindo as minhas custas. – Reclamou, o que fez Angela rir ainda mais.

—Posso? – Perguntou abrindo a porta. – Rosalie, Bella teve um encontro. – As duas ouviram o som dos soltos dela batendo no piso.

—Conte tudo. – Pediu entrando ofegante na sala.

—Deveria demitir vocês duas.

—Pode contar como foi o seu encontro antes? – Rosalie perguntou rindo. Elas amavam ouvir sobre os encontros da chefe.

Na busca pelo cara perfeito, Bella se arriscava nos encontros as cegas e por indicações. Ela acreditava que quanto mais pessoas conhecesse, maiores seriam as chances de ela encontrar o amor.

—Achei que ia trazer um caubói lá do Texas. – Bella corou e as duas olharam com curiosidade. - Ele tem um cavalo branco?

—Se tem não sei. Andamos no preto.

—Andaram juntos a cavalo? – As duas perguntaram rindo e Bella cruzou os braços na defensiva.

—Sim. Agora podemos discutir sobre o casamento na Fazenda? – Ela foi ignorada e as meninas a encheram de perguntas. -Chega! – Pediu colocando ordem na conversa. Ela não queria contar sobre o fiasco total que foi o encontro, mas sabia que as duas não a deixariam em paz.

[...]

Bella resolveu caprichar no visual, sentia que dessa vez as coisas seriam diferentes. O encontro dela seria em um restaurante luxuoso, o que indicava que o cara tinha bom gosto.

Ela olhava atentamente para a porta a espera de um homem usando gravata vermelha. Quando finalmente apareceu, não era nada do que ele descreveu e nem do que ela esperava.

—Oi, você é a Bella? – Ela não gostava de usar nomes falsos, mas cogitava começar a usar a partir daquele momento.

—Sim e você é...? – Ela o conhecia apenas como Gatão24 e de gatão ele não tinha nada.

—Eduardo Ramos. – Droga! Justo quando ela estava começando a esquecer do caubói. – Sou do Brasil. – Explicou ajeitando a gravata. – Você é muito linda.

—Obrigada. – Não quis ser grosseira, mas não gostava quando mentiam para ela. Gatão24 disse que tinha 1,80 de altura e corpo atlético, mas Eduardo Ramos era mais baixo do que ela e parecia que nunca praticou um exercício na vida.

—Desculpe a demora. – Ah, sim, ele estava quase duas horas atrasado e Bella teve que usar todo o seu charme para não a expulsarem de lá. – O trânsito estava horrível. Podemos pedir?

—É claro. – Ela já sabia o cardápio de cor.

—Nossa! É bem caro aqui, hein? O que acha de dividirmos um prato e pedir só água? – Ela o olhou sem acreditar no que ele estava sugerindo. Foi ele quem reservou o restaurante, por que não reservou em um lugar mais simples?

—Estou com muita fome. – Ela não dividiria o prato com ele. – Pode deixar que eu pago a minha parte.

—Não pode pagar a minha também não? É que estou meio apertado. – Fez um careta e Bella bufou. Só não ia embora porque seria vergonhoso demais esperar aquele tempo todo e depois sair sem consumir nada.

—Tudo bem, eu pago. – Declarou chamando o garçom. Ela pediu uma massa e ele lagosta.

—E traga uma garrafa do seu melhor vinho. – Bella apressou em negar.

—Uma taça para mim e água para ele. - Eduardo ficou chateado, água não combinaria com a lagosta.

—Posso falar com sinceridade? – Ele inclinou para ficar mais próximo dela.

—Deveria ter sido desde o começo. – Resmungou e ele ajeitou a peruca.

—Sinto muito. É que uma mulher como você jamais sairia comigo, então tive que ocultar algumas coisas.

—Eu diria que você ocultou muitas coisas. – Ele sorriu sem graça e começou a mastigar o pãozinho, com a boca aberta.

—Agora você já me viu. – Deu de ombros. – Como eu disse, sou do Brasil e o meu visto expirou. Será que você não quer casar comigo para que eu possa conseguir o green card? – A boca de Bella abriu em choque. – Não precisa dormir comigo se não quiser, mas teria que morar na sua casa, porque estou meio sem grana no momento e... Ei, está indo embora? – Perguntou surpreso ao vê-la pegar a bolsa e levantar da cadeira.

[...]

—Você foi pedida em casamento. – Rosalie e Angela suspiraram.

—Temos que começar o planejamento.

—Odeio vocês duas. – Bella jogou um clips nas duas.

—Calma, Bella. – Angela segurou as mãos da chefe. – Você vai encontrar o cara certo.

—É claro que vai. – Rosalie completou. – Você é incrível e vai conhecer um cara decente e quente. – Piscou para ela.

—Deveria sair com o meu primo Mike. – Angela sorriu e teve que beliscar Rosalie para que ela não falasse nada. Bella não o conhecia, mas Rose sim e ela não diria que ele é um bom partido.

—Ele não é casado?

—Não mais. Já deram entrada no divórcio e deve sair logo. – A ex de Mike garantiria que fosse o mais rápido possível.

—Não sei, Angie. – Bella inclinou na cadeira. Ela queria dar um tempo dos encontros, mas sentia que a idade estava avançando e que precisava encontrar logo o seu príncipe encantado.

—Você vai adorar o Mike. – Angela garantiu e Rosalie balançou a cabeça. Na opinião dela, aquela era uma péssima ideia.

—Tudo bem. Mas se for um desastre vou culpar você por isso. – Não custava nada tentar. Bem, a noite anterior custou bastante a ela. A lagosta era muito cara e ela teve que pagar para evitar um escândalo. – Amanhã a noite. Hoje vou ir visitar a minha família.

—Obrigada, Bella. – Angela estava muito feliz e sabia que os tios a agradeceriam eternamente se ela conseguisse tirar Mike da casa deles.

—Agora podemos voltar aos negócios? – Perguntou abrindo uma pasta com ideias para o casamento de Alice e Jasper.

[...]

—Você não virou uma caipira. – Bella revirou os olhos e abraçou o irmão.

—Deveria fazer stand-up, irmãozinho. – Bagunçou os cabelos dele e depois retirou um chapéu de caubói de dentro da sacola e colocou nele.

—Que legal. – Seth correu até o espelho e tirou várias fotos. – Coloco hashtag melhor irmã do mundo?

—É claro que deve colocar e tem que me marcar. – Alertou indo até o quintal, onde sabia que o pai e Sue estariam.

—Chegou na hora certa. – Charlie abriu os braços para poder abraçar a filha. – Sentimos a sua falta, querida.

—Olha o que a Bella trouxe. – Seth apontou para o chapéu. 

—Deveria parar de mimá-lo tanto. – Sue depositou um beijo no rosto da enteada. Ela amava Bella como uma filha e ficava muito feliz por ela aceitar tão bem Seth.

—Mãe, ela é minha irmã mais velha, é obrigação dela me mimar.

—Ele está certo. – Bella apontou. – Trouxe presentes para vocês também. – Colocou duas caixinhas em cima da mesa.

—Como foi a viagem ao Texas? – Sue perguntou abrindo os dois presentes.

—Excelente. O lugar é lindo e o casamento vai ser perfeito.

—Andou a cavalo? – Seth amava ouvir as histórias sobre as viagens da irmã. Ela prometeu que o levaria em uma.

—Sim. E não foi tão ruim assim. – Sacolejava bastante, mas o fato de Edward estar a segurando e com o corpo colado no dela tornou a situação mais fácil.

—Você não sabe andar a cavalo. – Charlie colocou um prato com hamburgueres na mesa.

—Estava acompanhada. – Declarou corando e Sue riu.

—Então você arrumou um caubói por lá. – Provocou e Bella apressou em negar. O pai era muito ciumento e não aceitava que ela já era uma adulta independente.

—Não é nada disso. Ele é o irmão da noiva e estava me mostrando o lugar. Foi só isso. – Ela não contaria sobre o incidente no banheiro.

—Ele pode ser do Texas, mas eu também tenho uma arma e usarei sem hesitar. – Charlie declarou e Sue deu um tapa no braço dele.

—Querido, não trate Bella como se fosse uma criança. – O repreendeu e Bella agradeceu. Ela via Sue como uma segunda mãe. Ela dava ótimos conselhos e estava sempre disposta a ouvi-la.

—Sua mãe disse que dormiu fora. – Os pais dela só conversavam se fosse sobre ela. A relação deles não terminou muito bem, mas se fosse para cuidar da filha, eles deixavam todas as desavenças de lado.

—Deveria me mudar para um prédio que não tenha um porteiro tão fofoqueiro. – Bella não morava com a mãe, mas ela sempre sabia de tudo através de James, o maior fofoqueiro de Phoenix e o pior porteiro do país.

—Sabe que ela só está preocupada com você. – Charlie estava tentando ser sutil, mas queria que a filha dissesse onde passou a noite.

—Choveu muito onde estava, então Alice sugeriu que eu dormisse lá e conhecesse o lugar no dia seguinte.

—Com o irmão dela. – Charlie completou analisando a filha.

—Não me olhe assim, Capitão. – Bella apontou e ele ergueu as mãos fingindo inocência.

—Acho mais seguro que eu vá com a Bella da próxima vez. – Seth ajeitou o chapéu e colocou os pés na mesa.

—Primeiro, tire os pés da mesa. – Sue não precisou falar duas vezes. – Segundo, deixe a sua irmã em paz.

—Mãe, eu sou o único irmão da Bella. Se eu não cuidar dela, quem vai?

—Que tal eu mesma? – Bella sugeriu e Seth bufou. – Não preciso que um garoto de 13 anos cuide de mim. Já sou bem grandinha.

—É minha obrigação cuidar de você. Posso ter só 13 anos, mas sei defender a honra da minha irmã. – Bella deu um beijo na bochecha dele.

—Amo você, irmãozinho.

—Vou ter que dar uma lição em alguém? – Cruzou os braços e a olhou de lado.

—Não será necessário. – Garantiu e ele sorriu aliviado.

—Me avise se precisar. – Apertou a mão dela.

—Esse é o meu garoto. – Charlie deu um tapinha nas costas do filho.

—Homens! – Sue bufou. – Querida, depois me conte tudo. – Ela ouvia com atenção sobre os encontros de Bella e dava conselhos valiosos.

—Quando eles não estiverem ouvindo, conto sim. – Garantiu ansiosa por uma conversa entre as duas. Não gostava de falar sobre relacionamentos com a mãe. Renée sempre dizia para Bella esquecer o amor e se concentrar apenas na carreira.

Renée era uma boa mãe, mas não entendia o que a filha sonhava. Bella queria um amor verdadeiro. Alguém que a amasse e a fizesse feliz. Ela era feliz sozinha, mas poderia ser ainda mais feliz se tivesse alguém ao lado dela.

Tinha um apartamento enorme e no melhor ponto da cidade, mas para ela isso não valia de nada se não havia ninguém a esperando ou para compartilhar tudo aquilo.

Talvez o primo de Angela fosse o cara certo e ela esperava que tudo desse certo no encontro ou desistiria por um tempo.

[...]

Bella foi conduzida até a mesa e sorriu para o homem que a aguardava. Nada mal, pensou e estendeu a mão para cumprimentá-lo. Mike ganhou alguns pontos por ter chegado no horário.

—É um prazer conhecê-lo, Mike.

—O prazer é todo meu. - Ele tinha um sorriso encantador e Bella ficou mais animada. - Quanto a Angela está te pagando? - Perguntou assim que eles sentaram.

—Como é? - Bella piscou várias vezes sem entender a pergunta.

—Ouvi Angela dizer aos meus pais que pagaria alguém para sair comigo e me tirar de dentro da casa deles. Tive que voltar a morar com eles e parece que não ficaram muito felizes com isso.

—Tenho certeza de que a Angela só estava brincando. Ela é tão brincalhona no serviço.

—Trabalham juntas? - Ele parecia surpreso e constrangido. - Achei que fosse alguma garota de programa. - Confidenciou e Bella o olhou, esperando que ele dissesse que era apenas uma brincadeira, o que não aconteceu.

—Sou uma organizadora de eventos. - Explicou, um pouco irritada.

—Sinto muito. Eu realmente achei que a minha prima tivesse te contratado. Você parece ser boa demais para sair comigo por livre e espontânea vontade.

—Ora, Mike, não pense tão mal assim a seu respeito. Angela falou muito bem de você.

—Ela é uma boa prima. É que ainda é tudo tão recente. Estou me divorciando.

—Fiquei sabendo. - Bella pegou o cardápio.

—Esse é o restaurante favorito dela. - Mike olhou em volta, talvez a ex estivesse por perto. - Ela me trocou pelo instrutor de yoga. Achei que todos fossem gays.

—Acho que só um estereótipo isso… - Bella não queria falar sobre a ex dele, mas Mike estava disposto a manter o foco da conversa nela.

—Eu a incentivava a fazer yoga. Para ajudar com a ansiedade. E ela estava me traindo esse tempo todo.

—Deve ser difícil. Sinto muito por isso. O que faz da vida? - Perguntou tentando mudar de assunto.

—Estou desempregado no momento. Me demitiram depois que faltei duas semanas.

—Estava doente?

—Não conseguia sair de casa. Estava sofrendo muito. Jessica partiu o meu coração. Eu a amo tanto e ela nem atende as minhas ligações. - Bella afundou na cadeira. Não precisou de muito tempo para saber que aquele encontro seria um fracasso total.

—Acho que vou pedir um bife. - Bella fechou o cardápio doida para comer rápido e sair de lá.

—Ela amava bife. - Mike choramingou. - Ela se parece com você. Tão doce, apesar de ser uma traíra. Descobri que ela me traiu com o carteiro, o padeiro, com o nosso padrinho e até com o meu irmão.

—Acho que deveria seguir em frente, Mike.

—Eu a amo.

—Então por que não vai atrás dela? - Falou exasperada.

—Ótima ideia. - Levantou empurrando a cadeira. - Vou voltar para a Jessica. - Saiu a passos largos, deixando Bella de boca aberta.

—Vai pedir alguma coisa? - O garçom aproximou da mesa, após ter acompanhado de longe toda a conversa.

—Um bife e um taça do seu melhor vinho. - Já que ela estava ali, iria aproveitar. - Você vai pagar por isso. - Enviou a mensagem para Angela. - Chega de encontros Isabella. - Murmurou mordiscando um pãozinho.