A Milésima versão de Crepúsculo escrita por TheFemme


Capítulo 9
Jasper Cullen


Notas iniciais do capítulo

Apreciem porque Jasper é maravilhoso, e quem concorda deixa seu comentário.



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POV Jasper

A escola é um inferno. “Você vai se sair bem”, meus irmãos disseram. Eu não estou nada bem. Hoje foi o terceiro dia de aula e é tão ruim quanto o primeiro, não pelo motivo que eu imaginei que seria. Os cheiros são tão sufocantes que eu não posso respirar – uma mistura de perfumes, sabonetes, shampoo, comidas humanas, que até ajudam os humanos a não cheirar como alimento, mas não é muito melhor. Há muitos cheiros por todos os lados. Muito som também – as vozes e ruídos ajudam a sufocar o som tentador de corações batendo e sangue correndo – então meu maior problema não é me controlar para não atacar alguém. Meu maior problema são os sentimentos, o dom que eu não consigo desligar. Os adolescentes estão transbordando de sentimentos – drama, paixão, tristeza, euforia. É uma loucura. Minha vontade é usar meu dom para acalmar todo mundo. Eu já chego na porta da escola querendo voltar para casa.

— Foi tudo bem hoje? – Alice pergunta quando entramos no carro.

— Sim. – eu respondo. – Horrível como sempre.

Eu não descobri ainda qual é a graça de fingir ter uma vida humana. Me parece muito trabalho por nenhuma recompensa.

— Você vai se acostumar em breve. – Edward diz.

Eu tenho certeza que não vou. Não ajuda que eu esteja todo o dia preocupado com uma recém nascida saindo pela cidade e fazendo um genocídio enquanto estamos na escola.

— Você teve alguma visão, Alice? – pergunto, preocupado.

— Não, Bree está bem.

Que ela está bem eu tenho certeza; se outras pessoas estão bem é que me preocupa. Se a garota decide fugir, Esme não terá força suficiente para segurá-la. Se Alice não tivesse tido uma visão ontem, algum pobre coitado iria perder a vida, e eu nem poderia culpar Bree por isso, pois se algum humano chegasse batendo á porta quando eu tinha dias de vida, eu com certeza também teria atacado. Graças á visão de Alice, Esme conseguiu levar Bree para longe antes do desastre ocorrer. Eu me pergunto quantos vamos conseguir evitar até chegar um que não vamos. Na minha opinião, não é uma questão de se vai acontecer, e sim de quando.

— Havia alguém na minha sala hoje com um cheiro estranho. – Rosalie fala de repente.

— Bom? – eu pergunto.

Algumas vezes nós encontramos humanos que tem um cheiro muito sedutor, mais tentador do que qualquer outro, quase impossível de resistir. É muito raro, no entanto. Eu felizmente nunca encontrei.

Rosalie faz careta.

— Ruim. – ela diz. – Como cachorro molhado.

Emmett ri.

— Eu também conheci uma garota assim. Talvez seja algum perfume?

— Não era perfume. – Rosalie diz com certeza. Nós temos um olfato apurado, não tem como confundirmos perfume com o cheiro de uma pessoa.

— Isso é estranho. – eu digo. – Eu nunca conheci um humano que cheirasse ruim. Pra mim todos eles cheiram naturalmente iguais.

Os cheiros de sabonete, shampoo, perfume, no entanto, altera o perfume das pessoas.

— Deveríamos falar com Carlisle sobre isso? – Edward indaga, obviamente preocupado.

— Não acho que devemos preocupar Carlisle com isso. – digo. – Ele está com muitas coisas na cabeça agora, com seus novos pacientes, cuidando de Bree e tudo mais.

Emmett ri.

— Quem está cuidando de Bree alem de você? – ele provoca.

— Não é minha culpa que ela queira ficar com o mais inteligente da família. – zombo.

Finalmente chegamos em casa e eu já posso sentir a tranquilidade de Esme e a ansiedade de Bree.

Alice estaciona o carro.

— Todos prontos? – ela pergunta alegremente.

— Eu aposto que ela vai atacar Jasper. – Emmett ri.

Eu reviro os olhos, isso não é mais engraçado. Como esperado, eu mal consigo sair do carro antes que Bree me ataque. Há seus lados ruins de ser o preferido, afinal.

Bree tem um olfato muito sensível, de forma que ela consegue sentir o cheiro dos humanos em nós – mesmo se não tocarmos em ninguém. Edward acha que ela tem um dom para rastrear, mas ainda não temos certeza, ela ainda é muita nova. Todo dia quando chegamos da escola, há esse ritual de cheirar. Meus irmãos acham isso muito engraçado – eu acho ridículo, já que eu normalmente sou o alvo numero um. A primeira vez que isso aconteceu quase se tornou um acidente. Eu posso ter jogado Bree em cima do Porsche de Alice, então as duas não ficaram nada felizes.

É justo – eu também não estou feliz de ser cheirado como comida.

— Okay, okay, você pode ficar com as minhas roupas, eu preciso tomar banho. – Eu consigo afastar Bree de mim usando toda minha força. Ela vai abraçar Rosalie em seguida, então eu escapo para o meu quarto. Emmett, Alice e Edward já se safaram, os espertinhos. Bree se dá muito bem com Rosalie, felizmente.

Eu tomo banho rápido, apenas para tirar o cheiro das pessoas de cima de mim – ou Bree vai ficar farejando a noite toda. Os outros estão fazendo o mesmo. Nós iremos caçar em breve, então de outra forma não seria inteligente tomar banho antes, já que nós caçamos e enterramos os cadáveres dos animais, para evitar suspeita. Com Bree em casa, no entanto, nós estamos tomando uma quantidade ridícula de banhos – o lado ruim de termos uma recém-nascida com um nariz super sensível.

Esme está na sala, com certeza querendo ouvir sobre o nosso dia, como a mãe preocupada que ela é. Ela me abraça, inundando meus sentidos com seu carinho e preocupação.

— Você esta bem? – ela pergunta.

— Melhor agora. - Os sentimentos tranquilos de Esme me acalmam. Depois de passar um dia com adolescentes alvoroçados, sentimentais e hormonais, os sentimentos serenos de Esme é um alívio. Esme é como um lago sem ondas.

— Hey, eu também quero abraço. – Emmett reclama, então Esme ri e abraça ele também.  Emmett é um bebê grandão.

Eu consigo me soltar das garras de Emmett e sento no sofá grafite que Alice adicionou á sala. Ela está fazendo progressos na decoração interior.

Bree parece ter se cansado de cheirar Rosalie e senta no sofá ao meu lado.

— Hey. – eu digo, agora que ela parece mais como ela e menos com uma vampira morrendo de fome. Eu checo sua sede por costume; ela está controlável. Seus olhos ainda são totalmente vermelhos, e seus sentimentos de inquietação estão altos e impossíveis de ignorar. Tanto por um pouco de paz em casa...

— O que você e Esme fizeram hoje? – pergunto.

— Esme está me ensinando a cozinhar. – Bree não parece animada por isso.

Eu não acho que cozinhar é uma habilidade útil para nós, mas entendo que Bree precisa de um hobby para manter sua mente ocupada, e Esme está se esforçando para encontrar algo que ela goste de fazer.

— Você está estudando o que Rosalie lhe ensinou? – pergunto.

Esme achou que seria uma boa idéia mantermos Bree aprendendo em casa, já que ela não poderá ir a escola pelos próximos anos. Rosalie se ofereceu para a missão de professora, felizmente. Eu já tenho muito em meu prato ensinando ela a lutar e mantendo seus sentimentos tranquilos.

— Sim. Eu já li todos aqueles livros e até decorei. Eu estou entediada presa aqui o dia inteiro. – Bree reclama, e ela parece tão adolescente quando faz isso que eu quero rir.

Eu bagunço seus cabelos.

— Eu também estava entediado na escola, então você não perde nada por não ir.

— Mas eu não tenho nada pra fazer aqui Jas. – ela geme.

Um dos lados ruins de ser vampiro é ter muito tempo livre e pouca coisa interessante para fazer. Eu entendo esse sentimento.  

— Edward vai lhe ensinar a tocar, certo Edward?

— Nunca. – ele responde. – Nem ouse chegar perto do meu piano. Você destrói tudo que toca, pior do que Emmett.

— Ruim. – Bree rosna para ele e eu rio.

— Edward, não seja mau com a sua irmã. – Esme repreende, mas ela está sorrindo. – Toque uma música para nós.

Edward, como o filho obediente que ele é, começa a tocar uma canção suave. Bree deita a cabeça no meu ombro, seus sentimentos ainda são chateados. Mesmo com Esme fazendo o melhor para fazer companhia á Bree, ela é uma adolescente e uma recém-nascida, ela quer estar sempre em ação. Eu tento mantê-la ocupada o máximo possível quando estou em casa.

— Vocês conheceram pessoas legais? – Esme pergunta com curiosidade.

— Sim. – Alice responde, ocupando o lugar ao lado de Esme. – Eu sou a única que está fazendo amigos, mãe.

— Isso é porque você parece uma criança, as pessoas não tem medo de você – eu zombo.

Alice me mostra a língua e diz:

— Você está com ciúmes da minha simpatia.

Eu reviro os olhos.

— Você está me dando língua; você tem cinco anos de idade? – provoco. – Eu acho que Bree tem mais maturidade que você.

— Vocês, duas crianças, parem de brincar. – Rosalie fala. Ela está ocupada pintando as unhas, mas obviamente está prestando atenção na conversa.

— Desculpe, eu não queria ofender a sua antipatia Rose. – respondo alegremente e Rosalie rosna para mim. Isso é muito Rosalie, eu já estou acostumado com seu pavio curto, mas Bree rosna de volta para ela, então bem, eu tenho que rir. Não é ruim ser o favorito, afinal.

Emmett está gargalhando.

— Rose, não é sensato provocar um recém-nascido. – ele diz e Rosalie está á um passo de jogar algo em Emmett quando Esme intervém:

— Já chega, crianças. – ela diz suavemente. Apenas Esme chamaria cinco criaturas centenárias de crianças. – Parece que vocês estão se divertindo na escola, afinal. Faz um tempo que vocês não brigam tão animadamente.

— É muito legal. – Alice diz animadamente. – Eu conheci varias pessoas.

— Mike Newton está apenas querendo entrar na sua calça, e Eric acha que você é a mulher certa pra casar com ele e ter cinco filhos. – bufa Edward. Ele obviamente esta se divertindo ouvindo os pensamentos dos alunos.

— Fazer amizades não vai contra o nosso propósito de manter um disfarce? – pergunto, curioso.

— O propósito de fingirmos ser humanos é convivermos e aprendermos com os humanos. – Alice responde. – Certo, mãe?

— É claro que precisamos nos socializar com as pessoas, na medida do possível. Isso faz bem á nossa mente. Viver isolados apenas entre nossa espécie não é saudável. – Esme fala. – No entanto, nos apegar demais as pessoas é um risco que precisamos decidir se queremos ou não assumir, afinal, os humanos se vão com muita rapidez e facilidade.

Eu concordo com Esme; não vejo sentido em fazer amizade com seres humanos – eles se vão muito rapidamente, e há o fato de que nós podemos terminar matando-os.

— Eu gosto dos humanos. – Alice diz. – Minha amiga Lilian está com 68 anos e eu a conheci aos catorze; eu sempre a visito na Califórnia. Ana também, e Marli, e Christian.

— Não há nada de errado em fazer amizade com humanos. – Esme concorda.

— Quando eu vou poder socializar com os humanos? – Bree questiona ansiosamente.

— Você me cheirou como se eu fosse um cervo apenas porque eu estava perto de pessoas; o que você acha? – eu respondo e Bree faz beicinho. Ela é uma adolescente total.

— Você poderá em breve, Bree. – Esme diz de forma tranquilizadora. – Você está se adaptando rapidamente. 

— Estou? – Bree pergunta á mim.

— Sim. – respondo. – Embora... Você poderia acelerar na parte de aprender a lutar.

— Eu vou aprender! Me ensine agora. – Ela é tão fácil de provocar. Eu sorrio e levanto.

— Tudo bem, vamos la fora.

— Eu vou assistir. – Emmett diz, empolgado. Rosalie nos segue também, tendo terminado de deixar suas unhas perfeitas. Eu sei que ela esta mais preocupada com Bree do que interessada em ver uma briga. Por mais brava que ela seja, Rosalie detesta violência de todo seu coração.

Bree é muito parecida com Rosalie nisto; em duas semanas eu já percebi que ela não tem um osso violento em seu corpo, e ela tem tanto medo de uma briga que é quase cômico. Ela definitivamente não é o tipo de recém-nascida que eu estou acostumado a lidar.

— Postura. – eu digo a ela, e ela coloca seus braços á frente e endireita suas costas. – Apoio das pernas. – eu lembro. – Me ataque.

Bree tem um senso de auto preservação imenso, e isso obviamente fez com que ela sobrevivesse á situação em que foi criada. Isso também faz com que ela seja excelente na defesa, mas um desastre no ataque.

— De preferência hoje ainda. – provoco.

Bree faz uma tentativa muita fraca de me acertar, mas parece pensar melhor e recua. Ela tem uma percepção muito avançada; ele percebe que ela esta em desvantagem e ela quer esperar um momento melhor para atacar – isso é excelente. O problema é que se eu aguardar ela encontrar o momento melhor para atacar ficamos rondando um ao outro toda a noite e ela nunca vai atacar.  

— Você tem a vantagem da força. – eu lembro á ela, tentando animá-la. – Me ataque diretamente.

Ela faz isso e consegue me empurrar para trás com força bruta. Ela tenta chutar minhas pernas para me derrubar, mas eu evito seu ataque.

— Vamos lá, Bree, esfregue o chão com ele! – Emmett grita. Ela vira para olhar para o idiota, então eu aproveito a chance e derrubo ela com uma rasteira. Fácil como tirar doce de criança.

— Você não tira os olhos do seu inimigo durante uma luta. Se fosse uma briga real você já teria morrido umas três vezes. – digo á ela.

— Oito vezes. – Emmett diz e eu faço careta pra ele.  

— Emmett, eu estou tentando animar ela aqui. – rosno.

Bree faz careta e cruza os braços. Ela está irritada, e isso é o mais próximo que eu consigo faze-la chegar a reagir como um recém-nascido volátil. Eu tentei encontrar seus instintos de ataque, usando a provocação ou a força; ela reage melhor á provocação, mas seus instintos violentos estão em algum lugar muito profundo que eu ainda não descobri como alcançar.

— O alvo maior é atacar sempre a cabeça. – digo para ela. – Se você não tem habilidade suficiente para arrancar a cabeça imediatamente, ataque sempre os braços primeiro. Arrancando os braços de um vampiro, você destrói 50% do seu poder de ataque. Qual é a segunda força maior de ataque de um vampiro?

— As pernas.

— Exatamente. Mais uma vez.

Eu repasso com Bree todos os movimentos de defesa, de ataque, deixo ela me derrubar algumas vezes, mas ela obviamente detesta isso. Rosalie logo se cansa de assistir e vai para a garagem brincar com seus carros; Emmett em seguida vai jogar videogame. Eu insisto com Bree mais um pouco, porque no ritmo em que ela está indo, um ano é pouco para ela aprender a lutar, e eu não duvido que os Volturi irão cumprir sua promessa e voltar para ver o progresso dela. Jane parecia muito surpresa ao ver o tamanho da família de Carlisle, e eu acho que isso não é bom. Se o pior acontecer, eu quero que Bree seja uma força de batalha e não um peso. Eu só preciso encontrar seus instintos mais ferozes – se é que existem. O mais feroz que eu já vi ela chegar é fazer cara feia. Edward acredita que a forma e o lugar onde Bree foi criada afetaram seus instintos profundamente – eu estou começando a acreditar que eu estou lidando com um tipo totalmente novo de recém-nascido. A ferocidade é uma das principais características de um recém-nascido. Bree parece que só herdou a sede descontrolada.

Nós lutamos por quase duas horas – eu posso basear a passagem do tempo pelo céu. Bree reclama e rosna, mas ela não esta mais perto de entrar em contato com seu lado feroz do que ontem.

Quando o sol está se pondo eu ouço o carro de Carlisle se aproximar. É muito reconhecível para os meus ouvidos, pela maneira como ele dirige.

— Vamos fazer uma pausa. – digo e Rosalie aparece imediatamente na porta:

— Vou levar Bree para caçar. – ela avisa. Eu e Rosalie nos revezamos em sair para caçar com a recém-nascida.

— Okay. Não vá muito longe e evite as estradas.

Rosalie revira os olhos.

— Eu sei caçar, obrigado Jas. – Ela olha para Bree. – Vamos? 

As duas correm para a floresta e eu entro na sala. Emmett tira os olhos da TV por um segundo. Ele esta entretido com um videogame na TV de cinquenta polegadas. É uma exagero visual, mas Emmett gosta dos melhores brinquedos.

— E ai, Bree derrotou você? – ele pergunta.

— Estamos fazendo progresso. – digo. Mais devagar do que eu gostaria, mas estamos progredindo.

— Eu acho que ela vai esfregar o chão com você ate o fim do ano. – ele diz animadamente. – Quer apostar?

— Eu aposto que ela não vai ter coragem de me atacar seriamente até o fim do ano.

— É uma aposta. Nós vamos definir o que o vencedor ganha depois.

Eu reviro os olhos para a empolgação de Emmett. Eu já sei que ele não vai querer nenhuma recompensa material, mas algo do tipo constrangedor – se ele ganhar, o que eu duvido.

— Olá Carlisle – digo quando ouço a porta abrir. Carlisle traz consigo um sentimento de alegria e satisfação quando chega em casa. Seus sentimentos são muito tranquilo em comparação com o turbilhão que é Emmett e Bree. Ele sorri ao ver eu e Emmett.

— Olá, filhos. Bree e Rosalie saíram?

— Caçar. – respondo.

— Ela está melhorando nas aulas de defesa? – ele pergunta, enquanto tira o jaleco.

— Ela está ótima na defesa. – digo com sinceridade. O ataque eu prefiro não mencionar.

— Que bom. Alice estava certa, ela vai se adaptar muito bem á nossa família. – Carlisle diz com satisfação. – Há algum assunto urgente?

— Não. – respondo – Tudo foi bem na escola.

— Você esta se adaptando bem?

— Mais ou menos. A quantidade de sentimentos é o mais difícil. – respondo com sinceridade.  

— Você vai se sair bem. – Carlisle diz, e ele acredita nisso. – Bem, eu irei me aposentar; falamos mais tarde filho.

Eu concordo e Carlisle sobe as escadas para encontrar Esme. Emmett me olha:

— Quer uma revanche maninho?

— Nao, obrigado. – Com Emmett nunca é apenas um jogo; ele sempre quer mais um.

Eu subo para o meu quarto, esperando ter um pouco de descanso antes que Bree volte da caçada, mas Alice entra antes que eu consiga fechar a porta. Há poucos momentos de solidão numa família tao grande.

— Posso falar com você? – ela pergunta.

— Claro.

— Eu tenho algo pra lhe mostrar. – Alice diz. Sua ansiedade me deixa desconfiado.  

Ela me entrega seu caderno de desenho. Alice sempre fez questão de me mostrar seus desenhos e eu compartilho minhas pinturas com ela já que somos os únicos da família interessados em arte. Edward é mais um artista para a musica. O desenho que Alice me mostra, no entanto, é novidade. É uma pintura, e Alice nunca se interessou por pintura. Ela desenha mais como consequência de suas visões, para ajudá-la a entender, ou roupas.

— Esta tentando um novo estilo? – pergunto.

— Na verdade, não. Eu conheci um garoto na aula e ele tem esse talento incrível. Ele é muito bom, certo?

— Ele é. Para uma pintura em folha, ele tem algum talento. – reconheço. Os humanos podem fazer arte; eles nunca serão melhores do que os vampiros, no entanto. Nós temos uma visão melhor, uma precisão melhor, uma criatividade maior. De vez em quando eu encontro uma arte humana que me acha atenção; Alice obviamente encontrou uma.

— Porque você está me mostrando isso? – pergunto com curiosidade.

— Porque eu sabia que você gostaria.

— E? – pergunto, porque conheço Alice. Ela sorri brilhantemente.

— E eu queria que você reproduzisse numa tela, para colocar na sala.

— Quando?

— O mais rápido possível.

— Okay. Eu posso fazer hoje. – Não é como se eu tivesse algo para fazer alem de ser babá de recém-nascido.

— Obrigado Jasper, você é meu irmão favorito! – Alice sorri.

— Ei, como assim? – Emmett abre a porta e entra sem ser convidado. – Eu sou o seu favorito, Alice.

— Os dois já podem sair do meu quarto. – digo.

— Cuide bem do meu caderno! – Alice falar antes de sair. Emmett felizmente sai com ela. Eu adoro Emmett, mas sua animação constante e sua habilidade de falar sem parar é cansativo.

Eu preparo minha tela e as tintas e começo a pintar imediatamente. Pintar é algo que eu faço sem esforço, a criatividade apenas me alcança. Eu me concentro nas cores e traços, e minha mente esta em paz, sem se preocupar com nada. Infelizmente, nós vampiros fazemos as coisas muito rápido. O tempo parece se arrastar para nós. Nós se movemos no ritmo humano quando estamos disfarçados, mas somos naturalmente rápidos, então há uma quantidade de pintura que eu posso fazer ate se tornar tedioso.

— O que é isso? – Bree pergunta ao entrar no quarto. Ela obviamente já caçou e já se limpou, seus sentimentos de inquietação quase sumiram.

— Um lobo.

— Você que desenhou? – Ela está olhando para o caderno com um misto de admiração e irritação.  

— Não, foi um amigo de Alice. Não toque no caderno. Alice pode me matar se isso for destruído.

Bree suspira e se aproxima mais da tela. Ela olha por alguns segundos e sua insatisfação aumenta.

— Com quem você aprendeu a pintar? – ela pergunta.

— Sozinho.

— Você é bom em tudo. – Bree reclama, então vira as costas e pula sobre a cama. Eu reviro os olhos; adolescentes. Eu nunca vou entende-los.

— Alice, está pronto. – aviso e minha irmã entra no quarto correndo. Seus sentimentos de euforia estão cantando ao ver a pintura. Eu nem preciso perguntar para saber que ela esta satisfeita.

— Isso ficou perfeito. – ela diz, animada. – Vai estar seco até de manhã, certo?

— Sim.

— Ótimo. Vou pendurar amanhã mesmo. Obrigado Jasper. – Alice me abraça rapidamente com gratidão. – Eu vou deixar vocês para a noite. Boa noite Bree.

— Boa noite.

Eu termino de guardar meus pincéis e tintas, então apago as luzes e deito na cama. Não é como se eu fosse dormir, mas Bree esta esfregando seus costumes humanos em todos nós, de certa forma – Alice e Edward até compraram camas. A mente de Bree ainda é muito humana. A quietude na casa deve dar á ela a impressão de que é a hora de dormir – os Cullen meio que oficializaram que a madrugada é a hora de ficarmos sós, então a casa esta normalmente quieta de madrugada – tao quieto como pode ser para vampiros. Eu posso ouvir o fone de ouvido de Edward, tocando música clássica, e o de Emmett com os barulhos de seu jogo de carros. Nunca é totalmente silencioso para um vampiro. Isso é uma das coisas que leva um tempo para acostumar. Carlisle e Esme estão conversando em seu quarto, então eu coloco uma musica para tocar, para fingir que há alguma privacidade. Com nossa audição, o meu dom e o de Edward, que é o mais invasivo, não há privacidade. Edward usa fones de ouvido para tentar abafar os pensamentos dos outros, mas não é de muita utilidade. Eu ainda não encontrei nada para amenizar meu dom. Essa falta de privacidade pode ser muito irritante as vezes – eu muitas vezes saio para bem longe, apenas para ficar só. Bree ainda não sabe sobre os dons que temos, então ela está tranquilamente agindo, pensando e sentindo apenas como ela mesma – o que é a intenção, pelo menos ate termos certeza de que ela é totalmente confiável. Eu acho que vai acontecer mais rápido do que eu previa – ela é um tipo de recém-nascido totalmente diferente dos que eu conheci.

Bree é uma espécie de polvo misturado com uma coala - eu mal deito na cama e ela esta colocando os braços ao meu redor e se ajeitando de forma confortável – que é jogar as pernas em cima de mim. Eu tenho sorte de não sentir calor. Ela passa os dedos sobre minha mão esquerda, contando as cicatrizes, e eu apenas sei que virão mais perguntas. A noite esta apenas começando.

Fiel é minha expectativa, ela pergunta:

— Como você conseguiu tantas cicatrizes? Os outros não tem.

— Lutando. – respondo.

— Com vários vampiros?

— Sim.

— Porquê?

— Minha criadora tinha um exército de vampiros, três vezes maior que o de Victoria. Havia brigas por território na época. – Eu não acho que uma garota de quinze anos entenderia sobre o que era a guerra – humana ou vampira – então não digo mais. A guerra não é um dos meus melhores momentos para relembrar.

— Ela ainda vive? – Bree questiona.

— Não sei, separamos caminhos há muito tempo.

Faz muitos anos que não penso em Maria. Aquela vida parece há muito tempo atrás.

Bree reflete um pouco, então continua:

— É normal o vampiro criador cuidar do vampiro criado?  

— É normal alguém ter tantas perguntas?

Ela me empurra com força. Eu consigo rolar para o chão sem quebrar nada, então levanto sorrindo.  

— Voce deveria fazer isso quando estamos lutando.

Bree me olha com expectativa.

— Então? – ela insiste. Sua curiosidade não pode ser dissuadida. Eu desisto de fugir do assunto. Pelo menos na questão de obter respostas, ela sempre vence.

— Há uma regra para que seja assim. – respondo. – Os Volturi determinaram. Quem cria um vampiro e não cuida dele durante seus primeiros anos é culpado pelos atos do recém-nascido.

Eu volto para a cama, esperando que Bree tenha terminado suas perguntas, mas eu não tenho tanta sorte – sua curiosidade apenas aumenta cada dia:

— Você já criou vampiros? – ela pergunta.

— Esse é um assunto que eu prefiro não entrar.

Bree levanta a cabeça do meu peito para me olhar.

— Porquê?

Eu cutuco sua testa com força.

— Porquê, porquê, porquê você é tão curiosa?

Bree sorri então se joga em mim e me abraça com força. Eu gemo. Eu sabia que ela ia usar isso uma hora. Eu me arrependo de ter sugerido ela á fazer isso com Emmett.

— Eu não sou curiosa, você é que é misterioso. Rosalie já me contou toda sua vida e você não me conta nada.

— Tudo bem, você vence. Eu vou contar. – digo, e ela me encara com duvida.

— Sobre você?

— Sim.

— Bem – ela me solta, então rapidamente me jogo sobre ela e a seguro como da vez que nos conhecemos, e prendo seus braços. Eu sou vingativo.

Bree rosna.

— Você mentiroso.

Eu rio.

— Se você não é boa pra lutar, você deveria aprender a arte de enganar seus inimigos.

Bree se debate então eu a solto antes que ela quebre a cama e o chão. Ela fica de joelhos na cama e me olha como se estivesse pensando em pular sobre mim.

— O que, você finalmente quer brigar? – provoco.

Ela rosna, mas volta a deitar. Ela não esta realmente irritada, então eu volto para a cama também. Bree se enrosca de volta. Eu ligo a TV e coloco um filme. É um bom método para distrair a mente. Como seres que pensam o tempo todo, nós usamos vários métodos para descansar a mente – eu pinto, Edward toca piano, Alice desenha, Carlisle lê. Os filmes também funcionam bem. É um método ainda melhor para fazer recém-nascidos curiosos pararem de fazer mil perguntas. Bree olha para a tela sem piscar – um dos primeiros costumes humanos que ela perdeu. Se ela tiver que se disfarçar um dia, vai ser uma cadela para aprender a fazer isso de novo – lembrar de piscar, lembrar de respirar, lembrar de se mover a cada poucos minutos. Eu ainda sou horrível nisso, a maior parte do tempo eu esqueço de respirar, de piscar e de me mover, ao mesmo tempo.

Eu fecho os olhos e deixo minha mente vagar pelos sons – da televisão, Esme rindo, Emmett e Rosalie discutindo sobre carros, Edward virando as paginas de um livro. As noites são os piores momentos para ser um vampiro domestico. O tempo é muito longo. Eu poderia desenhar, pintar, escrever, tocar, e ainda haveria muito tempo. Quando eu era um viajante solitário não era melhor. Não havia ninguém com quem conversar, nenhuma companhia alem dos humanos que eu caçava, então o tempo era ainda mais longo. Com Maria, entre lutar, ensinar, matar, transar e planejar, o tempo havia sido algo menos perturbador. Com o passar dos anos, no entanto, nada daquilo realmente me dava mais prazer e eu não tinha nenhum desejo mais de viver na guerra, então sai para vagar sozinho. A vida imortal é dura. Eu ainda não tenho certeza de que vale a pena – eu tento manter o mesmo otimismo de Carlisle e a esperança de Esme, mas é difícil. Eu ainda passo muitos dias tentando entender qual o sentido dessa nossa vida. De todas as fases da minha imortalidade eu não posso negar que os Cullen foram a melhor, no entanto. Eu aprendi mais com carlisle em vinte e cinco anos do que em um século.

Eu sinto os primeiros raios de claridade começarem a entrar pela janela, então abro os olhos. Bree está olhando para mim, com seu habitual sentimento de curiosidade e admiração. É assim que ela olha para todos nós, eu acho que ela ainda esta deslumbrada pelos vampiros.

— Não. – ela resmunga. Eu sorrio, lá vamos nós outra vez. Não há falta de momentos divertidos por aqui.

— Eu preciso ir pra aula.

“Preciso”. Querer eu realmente não quero.

— Mas eu não quero ficar aqui sozinha. – Bree reclama, me lançando seu olhar de cachorro chutado.

— Eu vou voltar daqui a pouco, coala, e Esme vai estar com você.

— Eu também quero ir pra escola.

Alice felizmente abre a porta, ou podemos passar minutos nesse argumento outra vez.

— Estamos saindo. – Alice avisa, sorrindo ao ver a expressão insatisfeita de Bree.

— Estou indo. – digo.

Bree me olha emburrada. Eu gostaria de poder ser Edward para saber que tipo de vingança ela esta planejando.

— Se comporte. – digo, então aperto suas bochechas. – Seja uma boa menina para Esme, eu voltarei em breve.

Eu fecho a porta em sua cara infeliz. Ela sabe que a hora não vai passar rapidamente, e eu também sei. Eu só acho que ela estará numa situação melhor do que eu, e não sabe. Se ela soubesse como é terrível uma escola, para um vampiro, ela iria brigar para ficar em casa.

— Eu vou cuidar dela. – Esme diz. – Se divirta na escola.

— Obrigado, Esme.

Não é possível me divertir na escola, mas pelo menos eu estou mais aliviado ao saber que Esme tem Bree sob controle.

Emmett me lança um olhar de zombaria quando entro no carro.

— Pra quem estava todo "temos que matar essa recém-nascida perigosa" ate que você se adaptou rápido, Jas.

Eu sou muito velho para cair nas provocações de Emmett. Dou de ombros:

— Ela esta bem. – De todos os tipos de recém-nascidos que Bree poderia ser, ela não é ruim. Eu posso ter exagerado um pouco quando a conheci. Ela obviamente é uma adolescente com todas as birras de adolescente, mas ela é muito mais inteligente e pacifica do que eu poderia ter imaginado. Eu não tenho do que reclamar, há muitos recém-nascidos piores. Nós tivemos sorte com Bree – ou melhor, nós tivemos Alice.

— Vamos jogar baseball sábado. Bree vai amar. – Alice diz alegremente.

— Bom, ela precisa ser boa em alguma coisa. – zombo e ouço Bree rosnar de dentro de casa. Edward pisa no acelerador com força. Não que isso fosse ser nada para um vampiro acompanhar, mas Bree é muito comportada para sair sem permissão. Com todas suas reclamações e birras, Bree é uma adolescente comportada.

— Você tem tanta sorte que Bree é pacifica. – Emmett ri.

— Eu já teria arrancado sua cabeça cem vezes – Rosalie rosna, então me dá um olhar duro. – Pare de provocar ela.

Sorrio.

— Eu vou fazer as pazes com ela. – digo, então viro para Alice. – Tudo vai ficar bem?

Ela sorri, hoje ela está um pouco mais animada do que o normal. Eu não entendo como ela pode estar animada ao ir para a escola.

— Não vejo nada dando errado. Vai ser um bom dia. – Alice diz com confiança. – Emmett, apenas tome cuidado na Educação Física.

— Eu só tenho isso amanhã. – Emmett diz.

— Então tome cuidado amanhã.

Alice é a primeira a descer do carro, saltando animadamente como se estivesse indo para uma caçada.

Eu ando ao lado de Edward; ele está me passando sentimentos de preocupação que são um tanto incomum.

— Há algo acontecendo? – pergunto.

— Eu não sei. Você já ouviu sobre a tribo quileute?

— Não. Eu não estou presto muita atenção no que os alunos falam. – respondo. Eu nem sabia que havia uma tribo em Forks. – O que há com a tribo?

Edward faz careta.

— Eles tem pensamentos estranhos.

— Como estranho?

— Estou tentando descobrir. Fique de olho neles.

— Okay. – concordo. Se algo esta incomodando Edward, provavelmente não é besteira. – Me diga se você descobrir algo. Alice não teria visto nada?

— Não. Alice está tendo problemas com suas visões.

— Problemas? – pergunto, confuso. Desde que eu conheço Alice suas visões são excelentes. Claro que são mutáveis por influencia da decisão das pessoas, mas isso nunca foi problema.

Alice vira para nós com um olhar presunçoso:

— Eu não tenho problemas. Eu apenas tenho a impressão de que não consigo ver algo que deveria estar vendo. Minhas visões estão perfeitamente bem. E você deveria tomar cuidado com a garota Swan na sua aula de Biologia, Edward.

Ela salta para longe de nós, entrando no refeitório. Eu encaro Edward, que está com uma expressão dolorida.

— Acho que eu deveria matar Biologia hoje. – ele fala.

— O que Alice viu?

Nós entramos no refeitório, então Edward apenas balança a cabeça. Com certeza não foi uma boa visão, mas também não deve ser algo terrível se Alice falou tão despreocupadamente. Eu espero.

Alice esta sorrindo para nós quando chegamos á mesa.

— Você consegue, Edward. – ela fala para ele. – Seu autocontrole é quase tão bom quanto o de Rosalie.

Para Alice estar alfinetando Edward, ela com certeza esta chateada por ele ter dito que suas visões estão com problemas. Alice pode ser um pouco narcisista sobre seu dom.

— Você não é engraçada, Alice. – Edward responde, sentando. Eu sento ao seu lado.

— O que estamos discutindo? – Emmett questiona.

— Nada. – Edward responde.

Eu pego meu celular para verificar as mensagens, mas ainda não há nada de Esme. Ela me mantêm atualizado sobre como Bree esta se comportando.

— Esme não vai mandar mensagem hoje. – Alice avisa. – Bree quebrou seu celular.

Eu franzo a testa. Agora eu estou verdadeiramente preocupado.

— Elas vão ficar bem. – Alice garante, então levanta e pega sua mochila. – Eu vou falar com um amigo. Ate mais tarde!

Edward balança a cabeça.

— Alice esta escondendo alguma coisa. – ele geme.

— Descubra isso o mais rápido possível, por favor. – peço. Eu detesto ser manipulado em qualquer situação.

Edward assente.

— Ela não pode esconder nada de mim por muito tempo. – Ele não é presunçoso, apenas afirmando um fato. Ninguém consegue esconder nada de Edward por muito tempo. – Jasper, respira.

Eu respiro, mas eu detesto a mistura de cheiros ao nosso redor. Bree tem tanta sorte de estar em casa e ela nem sabe. Eu já estou arrependido de não ter ficado em casa; eu poderia estar caçando, ensinando algo á Bree, correndo por algum lugar silencioso.

— Eu vou matar aula amanhã – prometo – e ninguém pense em me impedir.  


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Notas finais do capítulo

Obrigado á todos que leram e estão comentando. E á Rose, adoro suas criticas e sugestões, você me dá varias ideias!
Até o próximo, que eu espero vai chegar mais rápido que esse rs - eu deixo o capítulo pronto mas reviso durante dias até ficar satisfeita kk.