Império do Dragão escrita por Holanda


Capítulo 1
Capítulo 1: Mau-Presságio




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 Capítulo 1: Mau-Presságio

 

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Yang estava de volta em sua terra natal, Mistral, o reino mais oriental do mundo. Sua casa, o local onde ela era a guardiã, claro, como super-heroína, ela cuidava no mundo, mas com tantos heróis por aí, ela não precisava se preocupar tanto. Depois de anos, não, décadas, muitas coisas aconteceram, vitórias, inimigos, derrotas, amizades e rivalidades acirradas. Era uma verdade, nem sempre sua relação com os companheiros foi gentil, mas no final, todos eles eram heróis e faziam o que era certo. 

Mas havia alguém que era mais do que um companheiro, era um amigo. E ele foi seu amigo mais próximo a mais de quarenta anos, desde a infância, para ser mais preciso. Mas agora tudo que Yang tinha era uma lápide fria com uma fotografia esverdeada de seu velho parceiro. 

— Aquele lugar não é o mesmo sem você. — Ela disse para a pedra fria. — A imortalidade era menos dura com você por perto. 

A sua paz no cemitério foi abruptamente interrompida. 

— Yellow Dragon? É você? — Um velho coveiro chamou, Yang se virou para ele rapidamente disfarçando seu desagrado com a importunação do homem. 

— Só vim visitar um amigo, cuide bem dele. — Ela disse já começando a flutuar. 

— Pode deixar, você cuida de nós. — Ele sorriu para ela, mas Yang não pode sorrir de volta, ela apenas saiu voando rapidamente dali fazendo as folhas das árvores se agitarem violentamente quando ela passou em hipervelocidade. 

O velho coveiro se aproximou, ele certamente não esperava encontrar a heroína mais aclamada em Mistral, Yang era praticamente adorada como uma deusa por alguns, melhor, por muitos. Depois de salvar o reino tantas vezes, não era de se admirar que o templo onde Yang morava recebia devotos da Yellow Dragon. Ele se aproximou da lápide e leu o nome escrito:

— Lie Ren. 

 

~Alguns Meses Depois~

 

— WEISS?! — Ruby gritou vendo sua colega feiticeira voar longe ao ser atingida pela cauda de Scorpius. 

— Hahaha! — O vilão riu histericamente. — A próxima vai ser você, chapeuzinho vermelho. — Ele se aproximou com sua maldita armadura nova, a cauda escorpiana pingando veneno logo atrás enquanto placas de aço negro o protegia. 

Ruby viu Blake correr para perto de Weiss. A gata a olhou diretamente:

— Eu cuido dela, leve essa luta lá pra fora, não se contenha! 

Ruby assentiu, ela voou na direção dele, o raio prateado saiu de seus olhos o atingindo, Tyrian, o escorpião, foi atirado violentamente na direção da parede da mansão branca a quebrando, ele atingiu o lado de fora quebrando várias estátuas de mármore que Weiss mantinha para decorar seu jardim, ele caiu dentro da fonte e um querubim branco caiu em cima de sua cabeça e depois dentro da água aos seus pés. 

— MALDITA! EU TE ODEIO! EU VOU TE MATAR! — Ele gritou enfurecido, os mecanismos de sua armadura rangeram e garras enormes surgiram em seus braços, feitas de aço afiado em formato de pinça. — Eu vim aqui para isso, e não vou embora sem te matar! — O vilão saiu da água e caminhou em sua direção. 

— Pare, nós não precisamos lutar! Eu não entendo por que você faz isso! 

— Você nunca entende nada! Essa sua ingenuidade me enoja! Me dá vontade de te estuprar, te matar e depois violentar seu corpo ainda quente! 

A expressão de Ruby se fechou. 

— Se você não vai se render, então eu vou te derrotar e te levar a justiça! 

— É melhor que consiga, porque se não conseguir… Ha! Eu já disse o que eu vou fazer com você! — Ele esticou os braços e os extensores se ativaram e as garras voaram na direção de Ruby que voou desviando do ataque com facilidade. 

Ruby foi em sua direção, quando chegou perto, Tyrian usou sua cauda e Ruby foi obrigada a se afastar então optou por uma estratégia de ataque a distância usando o raio prateado dos seus olhos, mas algo estranho aconteceu, a energia que seus olhos disparou atingiu o peito dele e foi sugada para dentro de um pequeno círculo brilhante no dorso do Scorpius. 

 — O que? Como? — A caçadora vermelha exclamou surpreendida e em seu mínimo momento de distração, Tyrian atingiu Ruby com a ponta de sua cauda. 

— Hahaha! Peguei você, chapeuzinho vermelho! — Ele debochou se aproximando ao ver que atingiu a perna de Ruby e o seu veneno estava fazendo efeito. — Gostou do meu novo soro? Foi feito especialmente para você! 

— Não… — Ruby murmurou se sentindo repentinamente fraca e sua visão embaçada. 

— Parece que hoje é o meu dia de sorte! — O círculo brilhante em seu peito girou rapidamente e de repente uma rajada de energia prateada foi atirada na direção de Ruby. 

A Caçadora Vermelha foi atingida em cheio e gritou de dor ao voar longe, suas costas atingiram uma coluna a partindo no meio, os escombros caindo sobre sua cabeça. 

— Opa! Será que doeu? — Tyrian riu alto. — Gostou do meu novo brinquedinho? Presente do Doutor Watt! — Tyrian deu um salto e caiu bem em cima de Ruby que gritou quando o poderoso impacto atingiu seu corpo com um grande estrondo e criando uma cratera circular ao redor deles. 

— Eu… não… vou… deixar… — Ruby tentou, mas foi atingida pela cauda dele bem no estômago e arfou de dor quando mais veneno se espalhou pelo seu corpo, sua cura acelerada não estava fazendo efeito. — Como? 

— Como? Garotinha irritante? — Scorpius começou. — Eu venho me preparando para me vingar de você a bastante tempo, claro, das outras vezes não deu certo, mas agora? Bem, sabe o que dizem sobre aprender com seus erros, não é? E cada vez que você me deixava vivo depois de um embate eu ficava mais forte, e apreendida mais sobre você, sobre suas fraquezas. — A cauda dele se moveu, a ponta afiada deslizando na sua bochecha de forma ameaçadora, Ruby sentia-se cada vez mais fraca e lenta. — A minha armadura foi projetada para resistir a seus poderes, o núcleo de reação criado para absorver e atirar de volta àqueles seus malditos lazeres! E quanto ao meu veneno… Esse foi feito com uma nova mistura que faz o metabolismo desacelerar, se apenas 0,00001% desse soro entrasse em contato com a corrente sanguínea de um ser humano comum, seria o bastante para que todo e seu corpo parasse, a dose que eu injetei em você, é suficiente para matar um milhão de pessoas! — Ele riu após seu longo monólogo. 

— Você… não vai se… safar dessa. 

Ele riu de novo. 

— É aí que se engana, quem vai te salvar agora? — O ferrão de sua cauda fez um corte em sua bochecha, o veneno gotejando em sua pele. — Eu acho que a única pessoa ao seu alcance sou eu. — A garra de sua mão recolheu e o dedo dele deslizou pelo pescoço de Ruby enquanto ele abria um sorriso sádico. — E agora que você está tão indefesa, eu posso fazer o que eu quiser. 

Antes que a pele de Ruby fosse exposta, algo atingiu o rosto de Tyrian com força jogando o escorpião longe, ele caiu dentro da fonte novamente, mas daquela vez, suas costas atravessam com tudo a escultura central e ele caiu na borda mais distante a quebrando e fazendo a água se espalhar pelo chão do jardim de Weiss. 

— Mas que merda foi… — Ele se cortou ao se levantar e seus olhos se arregalaram ao ver a figura parada de forma protetora na frente da Caçadora Vermelha. — Então, o dragão resolveu dá as caras? Que merda, em? Eu estava tão perto! Tão perto! — Ele amaldiçoou. 

— Realmente, você esteve muito perto. — Yang disse de forma completamente séria, ela olhou por cima do ombro para Ruby. — Você está bem? 

— Yang? — Os olhos dela brilharam. — Sim, cuidado com ele, ele está preparado. 

— Sim, eu ouvi. — Yang respondeu ainda em seu tom severo. — Eu ouvi tudo. 

— Yang? Você veio. — Blake disse, ela apareceu no buraco que ficou na parede, Weiss se segurava em seus ombros. 

— Cuide dela. — Yang disse apontando para Ruby. — Eu cuido dele. — Ela olhou ameaçadoramente para o inimigo. 

— Se não tem outro jeito, vamos dançar, dragãozinho.

— Vou te dar uma última chance em sua vida, desista, mude e nunca mais chegue perto de Ruby. — Yang falou severa se aproximando com passos calculados.

Tyrian ainda piscou fazendo uma expressão meio confusa por meio segundo, depois começou a rir alto de forma quase animalesca.

— Que piada! Nunca! Nunca eu vou mudar! Eu nunca vou parar! Heróis como vocês, jamais terão descanso! Eu adoro ser mau! E sabe o que eu mais gosto nisso? Fazer palhaços coloridos que falam sobre justiça e o bem como vocês quebrarem a cara! Porque o mundo nunca vai ser bom! — falou cheio de confiança.

Yang não parou sua caminhada até está de frente para o vilão, seu rosto a centímetros do dele quando flutuou para seus olhos estarem na mesma altura dos dele.

— Ninguém pode dizer que eu não dei uma chance. — Assim que terminou aquela frase, os olhos de Yang piscaram em vermelho e ela acertou o soco no meio do peito dele, aquele núcleo de energia se espatifou entre os nós de seus dedos e o escorpião caiu sentindo o buraco que ficou no meio de sua armadura.

— Maldita! — Ele gritou atordoado, seus olhos caíram no punho de Yang que ainda estava fechado, vapor saindo do corpo dela, o bracelete com o formato da cabeça de um dragão tinha seus olhos vermelhos incandescentes. — Hey, vai com calma, não precisa exagerar, não é? — Agora havia medo em seus olhos.

Yang apertou ainda mais os dedos fechados, seus olhos ficaram em um tom vermelho ainda mais perigoso. Como ele se atrevia? Machucou sua irmã de alma, seus amigos, cometeu inúmeros crimes, e ainda pedia para ela não exagerar?

— Você… — Ela disse com os dentes cerrados. — Como se atreve! — Tyrian tentou atacar com sua cauda mesmo deitando no chão, Yang agarrou o ferrão com as duas mãos e o segurou com força. — Você por acaso não exagerou quando matava pessoas inocentes por diversão? Por acasos não ia exagera quando estava em cima de Ruby? Ou quando feriu a Weiss?

— Ficou bravinha foi? — Ele riu debochado. — Uma pena que você sempre tem de se conter, não é? Aposto como ia adorar me matar, não é mesmo? Eu sei que sim! Mas você é a mocinha, a heroína salvadora, o bom exemplo para as criancinhas remelentas do mundo, um ídolo íntegro, não pôde fazer nada errado. 

Yang cerrou os dentes. 

— Hey! Espere, o que está fazendo? — Ele exclamou quando Yang começou a puxar sua cauda, ele gritou quando simplesmente ela a partiu em dois pedaços, o líquido bio-sintético esguichou quando seu membro artificial foi mutilado.

— Você… não, vocês! — Yang agarrou-o pelo pescoço e o ergueu do chão. — Gente como você nunca muda, nenhum de vocês nunca muda! Não importa quantas vezes nós os derrotamos, vocês nunca aprendem, sempre voltam a fazer maldades e a cometer crimes. — Ela puxou as placas de aço que formam sua armadura o despindo de sua proteção tecnológica.

Ele riu:

— Só agora notou isso, oh beleza do sol? Será que não é óbvio? Se nos arriscamos e continuávamos a fazer isso, é porque amamos ser os vilões, assim como vocês adoram ser os mocinhos em fantasias ridículas!

Yang o atirou com força no chão, ele se ergueu ativando suas pinças de braço e tentou atacar, mas ela desviou facilmente de todas suas investidas.

— É inútil! Não importa se você me derrotar, não importa quantas vezes vocês nos derrotarem, nós vamos voltar e tentar de novo, uma hora, conseguimos, assim como aconteceu com a sua amiga ruiva. — Ele sorriu sádico ao ver que suas palavras atingiram Yang.

A raiva piscou em vermelho no rosto da heroína, seu cabelo começou a brilhar em fogo enquanto a temperatura aumentava significativamente. 

— Yang? — Ruby chamou, ela estava sendo curada pela magia de Weiss com Blake lhe dando apoio. 

Yang não a olhou, ela encarou Tyrian por alguns segundos e depois sua expressão se esvaziou de sua fúria ficando apenas uma máscara de severidade. 

— Você tem razão. — Ela disse surpreendendo ele. — Eu escutei tudo que você disse, vocês não tem conserto e cada vez ficam mais fortes graças a nossa misericórdia… Só há uma forma de acabar com isso. Uma forma definitiva. 

— Do… Do que você está falando? — gaguejou o escorpião. 

— Yang? Não! — Ruby gritou de algum lugar atrás deles. 

Yang avançou com enorme velocidade fechando a distância entre eles em milésimos de segundo, quando o vilão se deu por conta, o punho junto com parte do braço da heroína dragão, havia atravessado completamente seu peito saindo pelas costas. Ela colocou sua outra mão na cabeça dele e se inclinou perto do seu ouvido. 

— Agora, você não poderá fazer mal a mais ninguém. — Ela puxou seu braço de volta, Tyrian ficou com a expressão paralisada em seu rosto, uma mistura de choque e dor, ele caiu para trás morto sem conseguir dizer uma única última palavra. 

— Não… não pode ser… — Ruby correu na direção dela. 

— Ei! Espere, sua tapada! Eu ainda não terminei! — Weiss ralhou ficando de pé, ela cambaleou e Blake a segurou. 

— Você também não está completamente bem. — Ela a repreendeu. 

— Pare de bancar a mãe preocupada e me ajude aqui. — respondeu Weiss mal-humorada. 

Ruby parou perto do corpo do vilão antes conhecido como Scorpius, seu velho inimigo. Havia um buraco feio em seu peito, o sangue corria para o chão formando uma poça vermelha ao seu redor, um careta estática arruinando seu rosto. 

— Yang… Por que você fez isso? Por que você o matou? — Ruby terminou gritando, seus olhos ficando estranhamente molhados. 

— Derramando lágrimas… por ele? 

— Era um ser humano! Uma vida! — argumentou.

— Era um perverso degenerado! — Yang não escondeu seu choque pela reação dela. — Um criminoso! Ele teria a matado! Ele teria te estuprado! Como fez com muitas outras pessoas! 

— Ele já estava derrotado! Não precisava ter sangue aqui. — Ruby se ergueu olhando com firmeza para a outra heroína.

Yang deu um passo à frente, se inclinou para perto dela e com sua mão esquerda, tocou a bochecha direita de Ruby, seus dedos rasparam no corte que o ferrão de Tyrian fez ali, coletando um pouco de sangue seco.

— Aparece que já havia sangue aqui. — Ela disse e o rosto de Ruby se enfureceu, ela agarrou bruscamente a mão direita de Yang.

— Tem muito mais sangue em suas mãos! 

Yang ainda ficou em silêncio por um segundo ao se afastar dela.

— O seu sangue é inocente, este! — Ela ergueu sua mão suja de vermelho. — Esse é sangue de um assassino perverso que já fez inúmeras vítimas e agora não poderá mais machucar ninguém.

— Você matou ele, o que você é senão uma assassina também?

— O que está acontecendo aqui? — Weiss e Blake chegaram perto, a feiticeira branca olhou para o corpo de Tyrian no chão. — Espero que isso não manche granito. 

— É com isso que você está preocupada? — Ruby indagou.

— Típico, ela não liga para nada a não ser coisas materiais. — Yang disse começando a flutuar. — Eu já fiz minha parte, se precisarem de ajuda de novo, e certamente precisarão, sabem como me ligar.

— Ei! Espere! Nós ainda não acabamos de conversar! — Ruby chamou. 

— Vocês estão brigando? — Blake pareceu confusa. 

— Ruby não aceita o destino dele. — Yang apontou com a cabeça para o vilão morto, seus olhos se demoraram nele, ela procurou alguma pena em seu coração e não achou nada, pelo contrário, Yang sentia repulsa por ele, não conseguia para de pensar que o mundo seria um lugar melhor sem a existência daquele psicopata abominável. 

— Nós somos heróis! Heróis não matam! — Ruby disse. — Senão, vamos ser iguais aos vilões. 

Yang gastou alguns segundo de silêncio contemplativo, ela se voltou para Ruby ainda muito séria e com uma expressão vazia no rosto, disse:

— Não. Não é igual. 

Ela voou para longe deixando o trio para trás. 

— Tinha algo de diferente com ela? — Blake perguntou um tanto insegura.

— Não sei… — Ruby murmurou para si mesma, mas com a superaudição de Blake ela certamente ouviu. 

— Devemos nos preocupar? — Blake olhou de relance para Weiss procurando alguma resposta. 

— Ainda é cedo, vamos ficar de olho. — Weiss respondeu olhando para cima, na direção onde Yang saiu voando. 

Ela sentiu os olhos de Ruby sobre ela e se voltou para a colega recebendo uma expressão preocupada. 

— Ei, não tô acusando nada. 

— Talvez ela esteja sob a má influência de alguma entidade? Isso já aconteceu antes. — falou Blake. — Lembra quando a mãe dela, a rainha do inferno, tentou dominar o mundo? 

Ruby não comprou a história. 

— Sem mais informações, vamos tratar como um caso isolado. — Weiss disse. — Não há motivos para não damos um voto de confiança a Yang e sem falar, ele era realmente desprezível, estou aliviada que esteja morto. 

Ruby percorreu os olhos entre o corpo de Tyrian e as amigas, por fim, assentiu por confiar em Weiss. 

 

~**~

 

— Como você está se sentindo? — Blake perguntou gentil se sentando na borda da cama de Weiss. 

— Eu não sou mais a mesma, aquela maldição da Emerald enfraqueceu muito meu corpo, e esse golpe de hoje só piorou. — Weiss estava deitada em uma cama enorme toda branca em seu quarto suntuoso.

 — Você ficará bem? — Se preocupou Blake. 

— Só preciso de alguns dias para me recuperar, a relíquia da criação vai ajudar do processo. — Como se tivesse consciência própria, o cristal azul no topo de seu cajado brilhou ao lado da cama.

— Que bom. — Blake sorriu para ela, mas logo sua expressão se abateu. 

— O que foi? Pensando em Yang. — Weiss adivinhou. — Não fique preocupada, é muito cedo para julgá-la. — Ela tranquilizou. — A não ser que você saiba de algo que eu não saiba. — Seu tom ficando mais sombrio. 

Blake a olhou em silêncio, seus olhos desviaram para longe como se muita coisa passasse por sua cabeça. 

— Como você disse, é cedo para julgá-la, mas talvez eu deva fazer uma visita no templo e conversar, como velhas amigas. 

— Amigas é um pouco eufêmico. — Weiss satirizou. — Na melhor das hipóteses, o relacionamento de vocês é… Hum… — Ela procurou a palavra certa. 

— Complicado. — Blake terminou por ela. — Sempre foi. 

— Vou realmente ficar mais tranquila se você for falar com ela. 

Blake assentiu, nesse momento a porta do quarto abriu, um rapaz de cabelo muito loiro, beirando ao branco, entrou hesitante, ele deveria ter 15 anos, no máximo. 

— Walter? O que faz aqui? — Weiss perguntou no momento que Blake se levantou e adotou uma postura mais profissional. 

— Estava preocupado com você, o que parece? — Ele parou meio sem jeito, mas fazendo um grande esforço para mostrar certa indiferença. 

— Você não se envolveu, não se machucou, isso que importa. — Weiss disse. — Vamos reforçar a segurança depois desse ataque. — Ela olhou para Blake. 

— Entendi, vou cuidar disso. — Ela se curvou levemente e depois que Weiss assentiu ela saiu do quarto deixando os dois as sós. 

— Então, ficou preocupado com sua mãe? — Weiss sorriu para ele, Walter coçou a parte de trás da cabeça, quando fazia aquilo, se parecia tanto com o pai. — Vem aqui, que tal assistirmos a um filme antes de dormir. 

Ele sorriu e foi para o lado de sua mãe deitando na cama ao lado dela no momento que Weiss ativou o dispositivo para a TV na parede ligar. 

 

~**~

 

No início, Weiss achou estranho e meio assustador a ideia de sonhos lúcidos, era atormentada quando criança com a sensação de esta presa em um sonho, sabendo que era um sonho, mas sem poder fazer nada a respeito. Com os anos, ela aprendeu a controlá-los e ficou tão boa nisso que ela poderia até mesmo induzir em si mesma um determinado sonho. Era aquilo que ela fazia todas as noites.

Dizem que todos tem um lugar seguro, Weiss não admitiria a ninguém que tinha um desses “lugares seguros”, mas ela tinha. Era naquele sonho que ela criava, onde estaria ao lado de Jaune e Walter em algum lugar bonito, às vezes era sua sala de estar, às vezes era no seu jardim, daquela vez, na fantasia que Weiss criou, eles estavam na sala de cinema de sua casa, era uma atividade que eles costumavam fazer quando Walter era mais novo e Jaune ainda estava vivo.

Ela olhou para seu filho de apenas oito anos sentado no chão de carpete brincando com seus bonequinhos e carrinhos de brinquedo, Weiss estava com sua cabeça encostada no ombro de Jaune. Todos estavam felizes e confortáveis, mas não, havia algo de errado. Weiss sentiu os pelos de sua nuca se arrepiarem e de repente ela começou a ouvir gritos e pedidos de socorro, de onde vinham? 

Ao olhar para Jaune ela o viu estático como uma estátua de pedra, isso era comum nos sonhos, ela olhou para o pequeno Walter e a criança também estava parada como se tivesse sido congelado no tempo, o seu braço erguido segurando um de seus bonequinhos. Weiss levantou ainda mais os olhos, diretamente para a tela da enorme TV e o que viu foi uma cena de horror: Uma cidade queimava com labaredas amarelas gigantescas, pela tela ela pôde ver de onde vinham os gritos, as pessoas correndo pelas ruas pedindo socorro.

— Quem? Quem fez isso? — Ela murmurou para a TV, Weiss podia controlar seu sonho, então ergueu a mão e forçou a imagem a se mover. — Me mostre quem ou o que fez isso?

A cena acelerou correndo pelo horror que se espalhava por todas as partes, foi quando viu algo a distância, duas silhuetas sobrevoando a cidade em chamas, as duas figuras se batiam como se travassem uma batalha de gladiadores superpoderosos, Weiss tentou focalizar ainda mais a imagem, mas houve um brilho prateado forte e um dos lutadores foi jogado violentamente na direção do solo. O outro lutador ficou flutuando no ar acima do caos de chamas logo a baixo.

— Quem é você? — Não importava o que ela fizesse, ela não conseguia ver nada sobre o misterioso vencedor da batalha.

De repente, um brilho intenso surgiu atrás da cidade, o brilho tomou a forma de um dragão dourado coberto de chamas, o dragão alongado oriental serpenteou pelo céu negro, Weiss o observou quase hipnotizada com sua beleza assustadora, o dragão virou sua cabeça em sua direção, a boca cheia de dentes  incandescentes expostos, os olhos oblíquos piscaram em vermelho selvagem e o místico animal atacou, voando diretamente para ela, como se fosse um filme em D3, o dragão saltou para fora da tela e Weiss ergueu os braços em sua última tentativa de se defender quando foi engolida pela boca infernal do dragão.

Weiss acordou em um sobressalto, sentindo o suor cobrir seu corpo e suas mãos tremerem.

— Isso não foi um sonho, foi um mau-presságio. — disse para si mesma ainda sentindo um arrepio percorrer sua espinha e o gelo que parecia esfaquear seu coração.

 

~**~

 

Blake olhou intrigada para a placa que dizia “Fechado para Visitação”, aquilo era estranho, o templo onde Yang vivia e cuidava a duas décadas nunca ficou realmente fechado. Ela olhou para o lado, sempre haviam pessoas ao redor, tirando fotos, esperando para ter um vislumbre da Yellow Dragon ou vendendo souvenir.

 — Bom dia, moça, quer uma bonequinho da Yellow Dragon? Tem de três tamanhos diferentes. — Uma vendedora de meia idade falou para Blake.

— Na verdade, vou querer sim. — Ela se aproximou da mulher.

— Que bom, as vendas ficaram meio fracas ultimamente, sabe. — A mulher disse enquanto Blake pegava um bonequinho qualquer da Yang que estava exposto na barraquinha.

— Há um motivo para as vendas estarem fracas? — Ela perguntou tentando descobrir alguma informação relevante. — É por que o templo está fechado?

— Sim, sim, a… eh, você sabe, ela, também não é vista a bastante tempo. — A mulher pegou o dinheiro que Blake lhe deu pela lembrancinha barata. — Antigamente, ela saia todos os dias, a gente via a Yellow Dragon rasgando o céu de dia e de noite e isso nos dava segurança, era como se ela dissesse; Não temam, eu estou aqui para proteger vocês! — A mulher fez uma expressão abatida. — Mas faz meses que ninguém a ver, claro que sabemos que ela está lá dentro e se algo acontecer, ela virá nos salvar, mas…

— Eu entendo. — Blake disse quando pareceu que a mulher havia perdidos as palavras. — Espero que tudo melhore no futuro, vamos ter um pouco de fé. — Ela disse o mais gentil que pôde e foi recompensada com um sorriso agradecido da mulher. — Eu agora tenho de ir, boa sorte nas vendas. 

Blake se afastou e quando a mulher já não podia vê-la, seu sorriso sumiu dando lugar a uma cara de preocupação, ela ergueu o boneco em suas mãos e o olhou, no brinquedo, Yang praticamente brilhava, ela tinha um sorriso largo e confiante no rosto e fazia uma pose heróica vestida em seu uniforme, aquela era a Yang que Blake conheceu a muitos anos atrás, uma jovem animada e gentil, ela pensou na última vez que a viu, quando houve o acidente com o Scorpius na mansão de Weiss. Aquela Yang era completamente diferente, ela era severa e dura. 

Em vinte anos, todos eles mudaram muito, a própria Blake era outra pessoa daquela ex-assassina fria que foi criada para ser uma arma, ela aprendeu o valor da amizade e da gentileza, teria Yang feito o caminho inverso do dela?

Ela chegou na fronteira do templo, era longe da entrada principal para que Blake pudesse entrar de forma discreta, mas essa discrição era apenas para as pessoas comuns, Yang poderia sentir sua presença assim que ela colocasse o pé dentro do terreno do templo do Dragão Amarelo.

— Eu sei que você pode sentir, eu estou entrando. — Ela disse para aparentemente o nada, e deu um passo adiante, nada aconteceu e Blake caminhou na direção da construção que ficava no alto da colina.

A construção tinha a aparência dos velhos templos orientais da antiguidade, era colorido e a torre central se erguia em quatro andares, os dragões feitos de jade guardavam o perímetro e a entrada da escada que levava a única porta do lugar. Blake subiu a escada já vendo um dos sacerdotes a esperando no alto.

— Olá, Bolin. — Ela cumprimentou o homem vestido em roupas tradicionais em seda amarela. — Queria falar com sua… deusa?

Ele riu suavemente disso.

— Olá, senhora Belladonna, como deve ter notado, o templo está fechado.

— E isso significa? — Ela levantou uma sobrancelha.

— A Suma Sacerdotisa está em meditação profunda e não deseja ser incomodada por ninguém.

— Entendi. — Ela disse e simplesmente passou por ele entrando no local, Blake passou por alguns outros sacerdotes que cuidavam se seus afazeres de manutenção do templo e caminhou pelos corredores que ela já conhecia até o centro, ela sentiu Bolin a seguindo de perto, mas sendo respeitoso, ele sabia que ela estava quebrando as regras, mas também sabia que se Yang quisesse, ela já poderia ter aparecido e expulsado Blake em um segundo sem o mínimo de esforço.

Dentro do templo, os poderes de Yang eram equiparados a de um deus, como onisciência e onipresença, mas apenas dentro do perímetro sagrado do templo, isso inclui a área interna e externa.

Quando Blake chegou bem no centro, viu o meio da torre que era toda aberta, os andares formavam um círculo com mezaninos ao redor, ao olhar para cima, se via o céu azul de Mistral, no solo, um jardim com um lago artificial no meio onde carpas nadavam tranquilamente, no centro do pequeno lago, uma base de pedra lisa onde Yang estava sentada, suas pernas cruzadas na posição de lótus e os punhos fechados tocando um no outro na altura de seu peito, seus olhos estavam fechados e seu rosto era uma máscara de completa neutralidade vazia.

— Quanto tempo ela está assim? — perguntou sabendo que Yang ouviu o que ela disse. 

— Sete semanas. Não, para ser mais preciso, 47 dias. 

— Hum… — Exatamente o período que aconteceu o acidente com o Scorpius na mansão. — Eu posso cuidar dela agora, muito obrigada. — Bolin entendeu a indireta e se despediu deixando Blake a sós com Yang. 

Ela circulou o local até esta de frente para a loira, como só havia água onde as carpas nadavam separando elas, Blake simplesmente se sentou no chão e a encarou, mesmo Yang permanecendo de olhos fechados. 

— O que veio fazer aqui? — Yang perguntou ainda sem se mover um milímetro. 

— Conversar. — Quase um minuto se passou sem nenhuma das duas falar ou se mover, então Blake resolveu tomar a frente. — Weiss está preocupada. 

— Claro que está. — Ela abriu os olhos encarando-a com uma cor violeta escura na olhos. — Ela está sempre preocupada com tudo. 

— Você ainda está ressentida com ela pelo que aconteceu naquele tempo, não é? — Blake não esperava que Yang respondesse. — Você sabe que a Weiss não teve culpa pelo que aconteceu com o Ren. 

— Eu não a culpo. — Yang disse severa, mas quando voltou a falar, seu tom era mais lamentoso do que qualquer outra coisa. — Se teve um culpado foi todos nós. 

— Não, ele morreu como o herói que ele era. 

— Você não vê… — Não havia raiva na voz dela. — Emerald provocou a rachadura na aliança instigando uma rivalidade estúpida entre mim e Weiss que provocou toda aquela catástrofe. — Yang tinha um ar sóbrio e sério. — Ela nos conhecia, sabia o que fazer para nós brigássemos, e foi ridiculamente fácil nos dividir e quando estávamos brigando uns com os outros, ela se fortaleceu. Ela tinha um plano, usou nossas falhas contra nós. — Yang a olhou nos olhos, sua expressão ficando mais rígida. — E você sabe o por que isso aconteceu? 

— Porque ela não consegue esquecer o que aconteceu com Cinder e queria vingança. 

— Errado, Blake. — Sua voz saiu pesada. — Já ouviu o ditado, o que não te mata, te fortalece? Foi o que aconteceu com Emerald! Foi o que aconteceu com o Scorpius! Nós lutamos contra eles, e depois eles voltam mais fortes, mais espertos, mais preparados do que antes e nossos amigos morrem. Pessoas inocentes morrem. E tudo porque… nós mesmos estamos fortalecendo nossos inimigos. 

— Foi por isso que você matou o Scorpius na frente de Ruby? 

— Aquilo não foi planejado. — Ela pareceu ficar mais pensativa. — Mas depois daquilo, eu vim para cá e meditei sobre esse acontecimento, sobre as palavras que foram ditas… Sobre tudo, na verdade. 

Blake sentiu o pequeno nó se formar em sua garganta:

— E que conclusão você chegou? 

— Estou maturando essa ideia a anos, e depois de muito pensar. — Yang se ergueu e começou a flutuar sobre a base de pedra do centro do lago. — Eu tive um momento de epifania, ou o que os cientistas modernos chamam de insight, a solução surgiu em minha mente. 

— Que solução é essa? 

— Quando um jardineiro percebe que há ervas daninhas em seu jardim ele se muni de armas para combatê-las, mas se ele simplesmente cortá-las, elas voltarão e crescer, para eliminação completa, só arrancando todas pela raiz. 

— O que você quer dizer com isso? — Blake se levantou erguendo junto seu tom de voz. 

— Você sabe o que heróis fazem? 

— Combatem o mal! 

— Exato! E para combaterem o mal, o mal precisa existir, porque caso contrário, heróis não seriam necessários, não é mesmo? 

— Não estou gostando do rumo dessa conversa. O que você está sugerido? Que eles devem ser mortos? Esse não é o jeito certo de fazer as coisas. 

— Por que não? Quantos inocentes poderiam ter sido salvos caso Tyrian tivesse sido morto antes? Quantos, Blake? 

— Mas você quer combater um crime cometendo um crime? 

— Por que tirar a vida de um assassino para impedir que ele tire a vida de muitos outros, seria um crime? 

— Fazer justiça com as próprias mãos, Yang? Você nunca foi dessas. 

— Talvez tenha sido esse o meu erro. 

— Não cabe a nós, fazer isso! Nossa tarefa é entregar os criminosos à justiça… 

— A justiça humana é fraca e corrupta! E ela é fraca e corrupta porque é feita por humanos e humanos são fracos e corruptos!

— Se a justiça não for feita por humanos, ela será feita por quem? 

Yang a olhou por alguns instantes e muito séria, sem demonstrar nenhuma emoção, disse:

— Por mim! 

Ela voou para cima rapidamente e saiu pela abertura no alto do teto, Blake ficou olhando atordoada. 

— Oh não… oh, não. 


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