Say Something escrita por Andreza Cullen


Capítulo 9
Chapter eight


Notas iniciais do capítulo

Gente, me desculpem pela demora, mesmo! Meu computador foi para o mato e agora só consigo postar quando alguém me empresta. Realmente espero conseguir comprar um notebook ainda esse ano, mas peço que não desistam da fic, pq eu nunca vou abandonar ela ou nada do tipo. Desculpem algum erro de português, mas como o note é emprestado tenho que postar rápido e não deu tempo revisar. Comente, okay? Adoro conversar com vocês ♥



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Janeiro de dois anos atrás   

Eu murmurava os feitiços rapidamente enquanto tentava reanimá–lo com massagem cardíaca.   

Peguei a varinha e murmurei mais um feitiço de coque no peito dele.  

Nada.  

Mais um.  

E outro.  

E outro.  

Os sinais vitais já haviam parados a 10 minutos, mas eu não podia desistir, era só um adolescente. Um adolescente em coma alcoólico.  

Mais um.  

E outro.  

E nada. Ele continuava ali, gelado e sem pulso.  

Vamos garoto, você consegue. Vamos!  

Massagem  

Choque  

Massagem  

Mais voltagem.  

Não adiantaria, e no fundo eu sabia disso. Ele já havia ido, e eu não conseguirá salva–lo.  

Era uma luta perdida, mesmo que eu estivesse disposto a passar horas lutando.  

Infelizmente desnecessário. Ele estava morto. Já havia chego morto.  

Mais um.   

Só mais um.  

Gemi derrotado, enfim me afastando do corpo magro e novo do jovem depois de cobri–lo com o lençol branco.  

Ele era só mais um. Só mais um jovem órfão, sem família que havia cedido e se tornado um alcoólatra e viciado em poções.  

Apenas escolhas erradas, mas quem poderia culpá–lo? Ou melhor, quem ele poderia culpar?  

Dei a notícia a minha equipe fui para o meu escritório, precisando de um tempo sem me tocar sobre o horário.  

Sentei na cadeira macia e encarei a plaquinha de “Dr. Malfoy” em frente a minha mesa, sem pensar em nada exatamente.  

Mentira, eu pensava. Pensava em Harry, e como ele poderia ter tido o mesmo destino daquele garoto infeliz. E se ele houvesse se revoltado com todo aquele fardo? Resolvesse experimentar uma garrafa hoje, duas amanhã...   

Um suspiro aliviado me trouxe de volta ao presente. Harry estava bem, vivo e era um marido e pai incrível. Às vezes eu só queria poder voltar a quando ele era uma criança e abraçá–lo, mimá–lo e dar todo o carinho que lhe foi recusado.  

Olhei a foto de capa do meu celular e sorri ao olhar para a nossa família. Um Scorp sorridente enquanto cada um dos pais beijava um lado de sua bochecha.  

Scorp, como eu amava aquela cobrinha. Por Merlin, eu faria qualquer cosia por ela.  

— Ah, droga!  

Scorp! Me toquei após ver o horário no celular, que eu deveria ter pego na escola uma hora e meia atrás.  

Disquei o número do meu marido, que atendeu no primeiro toque.  

— Porra Draco, aonde você tá?! Como você esquece de pegar o nosso filho na escola?! – a voz dele estava bem irritada.   

— Já estou chegando – desliguei, não querendo prolongar aquilo e indo para o meu carro.  

Dirigi, ainda abatido pelo paciente que não consegui salvar, e me sentindo mal por ter esquecido de pegar Scorp. Mas eu tinha que tentar, não poderia simplesmente sair quando ele chegou, eu tinha que tentar!  

Estacionei na garagem do nosso sobrado e tentei colocar um sorriso no rosto.  

Assim que abri a porta, dei de cara com um Scorp sentado sobre um banquinho com os braços cruzados me olhando.  

— Você vai desmanchar esse bico se eu prever que amanhã de manhã terão panquecas no café? – perguntei, me sentando como índio na sua frente. Se quiser o perdão de Scorp, tinha que pegá–lo pelo estômago. Ele abriu um sorriso e pulou nos meus braços.  

— Eu já tava preocupado, papai. O que foi? – ele ficou em pé entre as minhas pernas, me olhando – Papai não tá bem.  

Sorri para o meu filho, sabendo que eu sou um maravilhoso mentiroso.  

— Não foi nada, cobrinha. Vamos jantar? Vá lavar as mãos que eu vou ajudar seu pai.   

Ele saiu do meu abraço e subiu as escadas. Eu sabia que ele acabaria parando para jogar no celular.  

Encontrei Harry na cozinha de costas, mexendo alguma coisa no fogão.  

Fui até ele o abraçando por trás.  

— Cheguei.  

Ele não se virou para mim ou parou de fazer o que estivesse fazendo.  

— Já não era hora, não é? – seu tom foi tão frio que quase me cortou.  

O soltei, dando uns dois passos para trás.  

— O que deu em você, hã?  

Ele se virou, parando de mexer e me encarou com o maxilar trincado.  

— O que deu em mim?! O que deu em você! Nosso filho ficou lá, como um palhaço, te esperando! Se não fosse por Sírius ter ido buscar Teddy e trazer ele, ele ainda estaria lá! Cadê a droga da sua responsabilidade, Draco?  

Provavelmente meu queixo havia caído. Eu começava a ferver de raiva. A única coisa que eu queria quando chegasse em casa era abraçar o meu marido e saber que estava tudo bem. Ele me confortaria, como sempre fez. Harry era meu porto seguro.  

— Eu não sei se você sabe, cicatriz, mas eu sou um medibruxo, eu estava tentando salvar um garoto que já havia chego morto até as minhas mãos! E ainda fui idiota de pensar que chegaria em casa e teria carinho do meu marido! – falei, sem em nenhum momento deixar de encarar aqueles olhos. Sustentei o olhar acusatório.  

E ele riu.  

Isso mesmo, uma risada de escárnio.  

— Você mesmo disse que é um medibruxo, liga com a morte todo maldito dia! E se ele já estava morto, porque perder tempo?  

Eu não acreditei no que ouvi. Aquele não era Harry, não o meu Harry.   

Endireitei minha coluna e o olhei da cabeça aos pés com a melhor postura arrogante que eu tinha.  

— O sofá é seu hoje, Potter.  

Sai da cozinha, indo para o quarto depois de dar um beijo no meu filho e dizendo que estava com dores de cabeça, por isso me deitaria cedo. Entrei no quarto e tranquei a porta. Apoiei meus braços na madeira escura e bem polida, tentando entender se o que eu mais sentia no momento era culpa por não ter conseguido salvar a jovem alma ou raiva do que havia acontecido.  

  

Alguns meses depois, ainda dois anos atrás  

Estava mexendo a panela com o jantar usando magia enquanto ouvia música no meu iPhone. Potter passou pela porta depois de ter levado nosso filho pela rede de Flu para a festa de pijama da Melanie. Ele veio até mim, passando seu braços pela minha cintura e depositando um beijo no meu ombro coberto pela camisa.  

— Nem acredito que vamos ter a casa só pra gente hoje – Harry disse enquanto me soltava e ia até a panela, provando um pouco do molho.  

— E eu não acredito que esqueceu de alimentar a Feyre outra vez. Francamente, amor, eu deixei um bilhete na geladeira – me virei, tentando controlar a irritação na minha voz. Cheguei em casa e a nossa coruja estava quase desmaiando de fome, e esse não era a primeira vez – E por Merlin, comece a estender a toalha depois do banho e não deixá–la jogada em cima da cama... – fui até a pequena adega embutida ao armário enquanto falava, retirando um vinho e pegando duas taças.  

Ele me olhou com a sobrancelha erguida, e eu lhe estendi a garrafa.  

— Realmente, não existe recepção mais calorosa que a sua, querido – ele usou o tom cínico, mas eu sabia que não foi sua intenção ser grosseiro. Ele abriu a garrafa e serviu as duas taças, me entregando uma e indo com a outra provar novamente o molho.  

— O que quer dizer com isso? –indaguei, sentando em uma das banquetas enquanto bebericava a bebida.  

— Nada.  

— Com você nunca nada é nada, Harry. E por favor, deixe o molho cozinhar – ele largou a colher na qual provava o molho mais uma vez.  

— Quer saber? Tem razão, nada não é nada. É só que eu chego em casa depois de levar nosso filho para passar a noite fora, te trago sua sobremesa favorita crente de que vamos ter um tempo para aproveitarmos sozinhos e a primeira coisa que você faz é me criticar – Harry não parecia bravo, mas sim cansado.  

Bom, eu estava ficando bravo. Aquilo foi uma acusação injusta.  

— Eu não falaria nada se não houvesse o que falar! E em nenhum momento foi a intenção quebrar o clima, Potter.  

Ele encheu mais uma vez nossas taças e riu do meu comentário.  

— Já virei Potter pra você, Malfoy? É tão fácil assim te irritar? – ele estava tentando disfarçar a irritação, mas a única coisa que estava acontecendo era me deixar mais nervoso caçoando de mim.  

— Não, não é. Mas a partir do momento que você quase mata a nossa coruja de fome umas duas vezes por semana e não consegue pendurar a droga de uma toalha, sim, fica fácil me irritar.  

Ele revirou os olhos e começou a perambular pela cozinha.  

— Nós dois trabalhamos, cuidamos da casa e do nosso filho, mas precisamos de organização pra isso funcionar. Não deveria ser minha função checar se você cumpriu as suas – soei arrogante sem ao menos perceber. Bom, mas Potter percebeu.  

— Até porque a sua função primordial dês do primeiro ano em Hogwarts é me enlouquecer, não é?!  

Levantei da banqueta, agora estávamos frente a frente.  

— Foi você quem negou a minha amizade! Não me venha com essa de...  

— Você humilhou os meus amigos, queria que eu fizesse o que? Te abraçasse? – me perguntou, dando um passo na minha direção na defensiva.  

— Eu não disse que estou orgulhoso disso, mas não venha jogar toda a culpa em mim!   

— Mas a culpa foi toda sua! Você fazia de tudo para me humilhar, me rebaixar e irritar. E mesmo assim fui EU quem salvei a pele sua e da sua mãe depois de ter ganho a guerra! – ele cuspiu as palavras, mas seus olhos se arregalaram logo após proferidas.  

Aquilo fez eu me afastar na hora.   

Ele havia tocado naquele ponto. Jogado na minha cara justo aquilo.  

O olhei expressando toda a raiva que estava latejando nas minhas veias.  

— Quer uma reverência agora, santo Potter? Talvez eu deva beijar o chão onde você passa e deixar você usar minhas costas como descanso de perna.  

— Amor, eu não quis dizer isso. Me desculpa...  

Ignorei suas palavras, sentindo algumas lágrimas se formarem nas bolsas dos meus olhos, mas as obriguei a ficarem ali, escondidas, já que elas nem deveriam existir. Me afastei no segundos que seus pés se moveram para se aproximar de mim, tentando ter toda a distância que eu poderia ter dele, subi as escadas e fechei a porta do quarto assim que entrei, trancando-a.   

De todas as coisas, aquilo era demais. MINHA mãe havia salvo a sua pele, mesmo que corresse um risco enorme. EU entreguei minha varinha para que ele pudesse derrotar Voldemort.  

ELE sabia o quanto aquele assunto era intocável. Minha mãe fora a melhor pessoa que eu tive na vida, e eu ainda sentia sua falta em cada segundo que se passava desde quando ela. O que ela mais queria era netos, e nem chegou a conhecer Scorp.  

Ouvi a fechadura se mexer e logo em seguida batidas na porta.  

— Draco, abre. Precisamos conversar.  

Não respondi. Era a primeira vez em todos aqueles anos que ele havia tocado naquele assunto, ainda mais nesse contexto.  

As batidas continuaram.  

— Vamos Draco, abre isso!  

— Não sei se minha companhia duvidosa seja o suficiente para o salvador do mundo – carreguei minha voz de desprezo. Ele merecia, merecia cada nó de tensão causado pela raiva que eu sentia naquele momento.   

Ouvi um suspiro arrependido do outro lado.   

— Draco, você tem cinco segundos para abrir essa porcaria antes que eu a coloque para baixo.   

Conhecendo-o como conhecia, era exatamente isso que ele faria. Destranquei a porta e o encarei. Ele estava com o cotovelo escorado na parede e olhava para o chão. Pareceu surpreso por eu abrir.  

— Eu sei que dentre todas as drogas que eu poderia falar, essa era a imperdoável. Amor, me desculpa. Sua mãe foi uma mulher extremamente corajosa e maternal quando não me entregou para Voldemort, mesmo que corresse o risco de ser morta. E você – ele falava enquanto adentrava o quarto – Você se colocou em risco, atravessou toda a arena sabendo que poderia ser morto e mesmo assim acreditou em mim e me entregou a varinha – talvez ver ele todo humilhado e derrotado tentando se desculpar estivesse me acalmando um pouco. Só um pouco 

 – E eu sei que mereço que você me lance um Crucio depois da besteira que eu disse, e não vou me opor a isso.  

Um Crucio seria fazer cócegas perto do que eu queria que ele sofresse. Mas respirei disfarçadamente até que meu sangue não estivesse mais fervendo e minha raiva e mágoa mascarada. Não deixaria que ele me visse tão desnudo, frágil. Coloquei a máscara de arrogante mimado que eu usará por tanto tempo, agora revivendo a com Potter.  

— A sua sorte, Potter, é ser gostoso – fui até ele, passando meus braços pelo seu pescoço – mas e deveria mesmo era te deixar sem sexo por uns bons meses depois disso.  

Eu quis rir da expressão alarmada no seu rosto, mas me mantive sério, ainda olhando.   

— Quantos crucius você quiser, meu amor. Mas isso não, pelo amor de Merlin.  

Calei aquela maldita boca com um beijo um tento quanto agressivo. Uma pequeníssima parte minha, lá no fundo daquela escuridão, começará a amolecer. Mas me toquei no que ele havia dito sobre minha mãe e logo aquilo sumiu quando descontei minha frustração na mordida em seu lábio, lhe tirando uma merecida gota de sangue.  

— Eu já disse Potter. A sua sorte é que é gostoso.   

O beijei novamente, já tirando sua camisa e mascarando com sucesso como eu estava magoado.  

Ele havia se arrependido do que tinha dito, eu sabia. Sabia também que uma hora ou outra minha raiva passaria, e eu não o olharia mais querendo enforcado. Mas uma coisa eu sabia, lá no fundo, sempre teria aquilo me incomodando. Sempre saberia que no impulso de raiva, era isso que ele pensava sobre eu e minha mãe.  

  

Atualmente  

Assim que terminei de transmutar a cama em duas, procurei automaticamente meu celular para colocá–lo ao lado da cama, já que ele era o meu despertador. Meu sangue ficou frio quando percebi que ele não se encontrava no meu bolso.  

Fui até a minha mesa que estava totalmente organizada e procurei embaixo dos relatórios que eu estava analisando mais cedo, mas não havia nada ali.   

Potter entrou no quarto e fechou a porta com um estalo baixo, trancando-a.   

— Os dois já estão fingindo dormir, e olha, eles são bem convincentes – comentou, sentando na sua cama e tirando os sapatos. Balbuciei um “uhum” sem o olhar e fui checar as gavetas do guarda–roupa, mesmo sabendo que eu não havia mexido ali. Às vezes os eletrônicos ficavam estranhos perto de magia, quem sabe ele simplesmente apareceu ali.  

— Agora Scorp quer que deixemos ele fazer uma mecha rosa, já que o cabelo de Teddy está dessa cor.  

— Deveria ficar surpreso? – respondi distraído. Sempre que Teddy resolvia mudar a cor do cabelo, Scorp teimava em fazer alguma coisa. Da última fez foi verde, e fizemos uma tinta enfeitiçada que durava apenas dois dias, foi o suficiente.  

Estava começando a ficar nervoso pensando que havia perdido meu celular. Várias fotos que eu não havia feito upgrade estavam nele, nunca mais as teria de volta.   

— O que você tanto procura? – ele já havia trocado a calça por um moletom e procurava alguma camiseta velha para dormir.  

Lhe joguei uma camisa de pijama enquanto ia para a cômoda ao lado da minha cama, vendo as gavetas.  

— Celular.  

Com um Lumus iluminei bem ao fundo, mas nada.  

— Ah sim, está comigo. Eu esqueci que coloquei no bolso quando entrei no carro hoje – ele mexeu no bolso da calça que a pouco havia usado e tirou o iPhone de lá. Controlei um suspiro aliviado.  – Eu me mandei a foto do seu protetor de tela. Ficou linda – Potter se referiu a foto que eu havia tirado alguns dias atrás, dele e de Scorp dormindo.  

Dei de ombros e peguei o celular de sua mão, mas nossos dedos de roçaram por alguns segundos. Não vou dizer que foi como se uma corrente elétrica estivesse correndo pelas minhas veias. Mas senti algo, como uma picada de abelha. Me afastei, sem voltar a olhá-lo nos olhos.   

Ele não pareceu notar, por foi até o banheiro logo em seguida para tomar banho.  

Claro que ele não notou, ele nunca notava nada.  

  

  

Abri meu olhos quando meu sono foi interrompido pela melodia que saia do meu celular. A cama ao lado da minha estava vazia e de um jeito desengonçadamente arrumada. A noite de sono parecia não ter feito efeito algum, pois eu poderia jurar que todos os meus músculos estavam inchados competindo espaço em mim de tão cansado e dolorido que eu estava. Maldita cama de solteiro.  

Me dei ao luxo de um banho de banheira e desci para a cozinha, no intuito de adiantar o café já que hoje teríamos visita.  

Desci as escadas pronto para encontrar Potter no sofá com a TV ligada enquanto ele dormia e babava. Mas ele não estava lá, aliás, não haviam indícios dele ter estado lá.   

Segui para a cozinha, pensando em algo rápido de se fazer para aquietar o estômago de três comilões.  

Potter também não estava na cozinha. A porta que dava para o quintal estava aberta e as cortinas também. Me servi de um copo de água antes de pegar as coisas para preparar um café. Assim que coloquei o copo na pia ele cruzou a porta, ainda de pijama e com os cabelos naturalmente um desastre, mas com os óculos.  

— Bom dia – murmurou, secando as mãos molhadas no moletom. Não lhe respondi, mas lhe joguei um guardanapo que ele usou para enxugar as mãos e o rosto – será que você pode fazer a calda do bolo de chocolate? A sua sempre fica melhor. Ele está em cima do fogão. Acho que daqui uns cinco minutos a torta de palmito já vai estar assada. Acabei me molhando todo lavando a roupa, preciso de um banho. Fica de olho nela, por favor? Eu acordo as crianças quando sair – Potter falou enquanto se secava, sem me olhar nos olhos e não esperou pela minha resposta, subindo as escadas.  

Continuei encarando o espaço que antes ele estava, atordoado.   

Bolo de chocolate, torta de palmito e roupa lavada antes das 7:30 da manhã?   

Tirei a torta do forno, coloquei o café para fazer na cafeteira, fiz a cada do bolo e Potter com as crianças entraram no mesmo instante que eu mexia um suco de laranja. Coloquei o sobre a mesa com o restante das coisas. Tanto o bolo quanto a torta cortados, e eu já havia separado meu pedaço.   

— Teddy, você tem que ser rápido. Scorp é um esfomeado – informei ao metamorfo, que logo agarraram um pedaço do bolo.  

— Bolo de chocolate do pai com a cobertura do papai é o melhor bolo do mundo! – um Scorp todo lambuzado de chocolate falou, pegando outro pedaço enquanto a jarra enfeitiçada enchia seu copo.  

— Mandei uma mensagem ontem para Moony deixar as coisas de Teddy prontas. Aparatei quando acordei e já as deixei no quarto deles. Não precisa passar lá antes da escola – Potter me informou enquanto os dois menores conversavam sobre quadribol.  

Aquilo não estava cheirando bem. Eu tinha que ficar atento, prestar atenção nos detalhes. Eu estava certo de que nosso acordo silencioso de nós tratar bem estava em vigor, mas ele não incluía um Potter extremamente prestativo, que falava diretamente comigo, olhando para mim e com aquele ar divertido e travesso dos tempos da escola. Ele parecia mais corado do que os últimos meses. Sua pele estava com mais brilho e até os cabelos pareciam mais fortes.   

Me levantei da mesa, indo para o quarto dos meninos arrumar as coisas da escola.  

Senti o olhar dele nas minhas costas enquanto eu subia as escadas, e eu sabia que ele me seguiria.  

  

A porta se abriu poucos segundos após eu a ter fechado. Estava arrumando a mochila de Scorp e de Teddy, checando a agenda para ter certeza que não faltaria nada quando Potter entrou. Continuei meu serviço fingindo não ter percebido sua presença.  

— Dia da leitura para Scorp? – ele se manifestou perguntando, depois de me ver colocar algumas HQ’s na mochila do mais novo. Murmurei um “uhum” torcendo ser o suficiente para ele sair do quarto.  

Bom, para o meu inferno pessoal, não foi.  

Maldito Grifinório insistente.  

— Quer que eu faça alguma coisa?   

Deixei as mochilas de lado e o olhei rapidamente. Potter estava parado no meio do quarto com as mãos no bolso, obviamente desconfortável.  

— Quero que desça e olhe as crianças.  

Ele voltou até a porta, e eu estava certo de que acataria ao meu pedido quando ele a fechou e voltou a me olhar.  

— O que eu fiz de errado dessa vez? – indagou, mas respeitando meu espaço pessoal sem se aproximar.  

— Não sei do que você esta falando.  

Fui até o guarda–roupa, pegando uma muda de roupa extra de Scorp para os dois e as dobrando perfeitamente.  

— Draco.  

Continuei meu serviço, ignorando–o. Mas ele parecia não entender que o que eu menos queria naquele momento era conversa. Eu estava irritado, mas não sabia o motivo ao certo, então procurei qualquer um, e encontrei.  

 Potter, o perfeito Potter. Sempre tentando resolver as coisas, sempre sendo o Herói. Além de ter salvo o mundo bruxo, ser tão piedoso e bondoso ao ponto de não condenar os Malfoys a Askaban, se casar com o filho de comensal da morte e ainda acordar cedo para cuidar da casa? Oh, eu deveria ajoelhar e agradecer a Merlin todos os dias, já que não sou digno de tanta excelência.  

Continuei a dobrar as roupas, separando a pilha de Scorp e de Teddy.  

— Draco, será que pode pelo menos olhar para mim?  

— É o mínimo que eu deveria fazer ao santo Potter, não é?  

Eu estava tão cansado. Ele pode ter salvo o mundo bruxo, mas não ouse pensar que pode estalar os dedos e vamos voltar ao normal. Nosso casamento não é como um vaso quebrado que se cola.   

Um rangido tedioso veio do outro lado do quarto.  

— Você não me deve nada, e sabe muito bem disso. O que as pessoas falam...  

— É a verdade, não é? – falei, enfim largando as roupas dobradas e o olhando – Lá no fundo, é a verdade para você. Talvez eu deva ser um marido impecável como forma de agradecimento por ter salvo a pele minha e da minha mãe...  

— Draco. – seu maxilar estava travado e seu tom era de censura.   

— Até porque, você teve toda a piedade em se casar com um filhote de comensal e...  

— Malfoy. – meu sobrenome saiu quase como um rosnado pelos dentes cerrados.  

— Ele ainda é ingrato o suficiente para se negar a ser o marido perfeito e agradecido que...  

— Malfoy, cala a boca! – ele enfim explodiu – Qual a droga do problema?! Você acha o que, que eu me orgulho da droga que eu falei aquele dia?  

— Orgulho é uma coisa que você entende muito bem – nos encarávamos agora. Ambos com os lábios cerrados e o olhar desafiador. O brilho dos olhos castanhos de mais cedo havia se esvaído, dando lugar a uma cor opaca.  

— Não, você estava errado quanto ao meu título. Eu não sou o orgulhoso ou o santo Potter. Eu sou o Potter iludido. Iludido por achar que enfim, me casando com o homem que eu amo mais do que tudo, eu teria a família que eu nunca tive!  

Aquilo foi pesado. Me senti vacilar assim que ele terminou a frase.   

Levei minha mão direita até a testa, massageando as têmporas enquanto desviava o olhar. Potter soltou um suspiro, mas nada falou por alguns segundos.  

— Eu... – comecei a frase, ainda meio desnorteado e ligeralmente arrependido – Eu não sei o que deu em mim.   

— Você nunca vai me perdoar por aquilo, não é? – aquilo era uma pergunta retórica, mas não pude deixar de responder.  

— Você não precisa que eu te perdoe por algo que você pensa.  

Vi que ele iria contestar, então coloquei um fim naquilo.  

— Realmente não precisamos gastar mais tempo com essa briga, Potter.  

Fui para a porta, pronto para sair do quarto, mas ao passar por Potter seu braço segurou minha cintura e ele me olhou com aquele olhar pidão. Não recuei quando ele me abraçou, e o abracei de volta.  

— Scorp não poderia ter um pai melhor do que você. Ele te ama, Potter – murmurei em seu pescoço, ainda abraçados.  

— E você, me ama?  

Não respondi, ainda permitido os braços fortes a minha volta. Não sei se fiquei mais assustado com o que o Potter poderia pensar desse silêncio ou se foi o fato de eu saber que vacilaria quando tentasse falar “não”.  


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