A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 29
O verdadeiro traidor


Notas iniciais do capítulo

Oii gente!! Mais um capítulo para vocês!!
Isto parece papo de fim de fanfic, mas eu queria fazer um agradecimento especial à Ingrid Luane, Jajabarnes e Luana dos Santos pelos comentários assíduos que estão me estimulando a escrever a história! É muito satisfatório ver vocês a cada capítulo compartilhando suas impressões e me contando o que esperam de A Última Chance!
Espero que gostem do capítulo e boa leitura!



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Na manhã seguinte…

Susana Pevensie

Fui embalada por um sono tranquilo que felizmente perdurou pelo restante da noite. O conforto dos braços de Caspian acalmou meu subconsciente e não tive sonhos perturbadores, ou coisa parecida. Apesar de termos ficado juntos durante toda a noite, me despertei ao sentir que não estava mais comigo.

— Bom dia - Ele sorriu para mim. Estava diante da fogueira com um graveto na mão, parecia ter reabastecido o fogo.

— Pelo visto foi sua vez de acordar antes de mim. - Observei. Espreguicei-me e me sentei, o cobertor caindo sobre as pernas ao fazê-lo. - Você dormiu bem?

Meneou com a cabeça.

— Mais ou menos. - Respondeu - A verdade é que não acho que este seja um lugar seguro. Além disso, queria ter certeza de que você estava bem.

— Não dormiu por minha causa? - Indaguei. Eu estava feliz por ele se preocupar comigo, eu estava precisando me sentir cuidada depois de tudo o que houve com meus pais, porém as pressões do governo e a crise decorrente da seca já eram motivo suficiente para tirar seu sono; saber que eu tinha me somado às suas angústias me fazia sentir culpada.

— Susana, achei que ia perder você! - Explicou. Seu semblante parecia mais cansado do que calmo - Queria ter certeza de que não teríamos outro susto.

Ele me contou um pouco de como me encontrou sob a neve. Eu teria ficado igualmente desesperada, com o agravante de que talvez não tivesse forças para tirá-lo do monte de neve acumulada. No fundo eu o entendia e estava imensamente agradecida por Aslam ter me dado a chance de conhecer um homem tão admirável.

— Não sabe o quanto eu sou feliz por amar você. - Confessei mirando seus olhos através das chamas da fogueira. - E mais ainda por saber que me ama.

— Não vai me fazer chorar a essa hora da manhã, vai? - Brincou e se levantou para vir até mim.

— Não! - Eu ri. Suspirei - Temos que continuar andando, não é?

— Se tivéssemos tempo hábil e estivéssemos num lugar seguro, - Sentou-se ao meu lado e colocou uma mecha de cabelo meu atrás da minha orelha. Caspian adotou essa mania recentemente - Eu diria que poderíamos tirar o dia para nos recuperarmos.

— Nunca desejei tanto uma gota do elixir de Lúcia - Comentei. A ferida na lateral do corpo puxava minha pele às vezes e o ferimento na perna de Caspian vez ou outra voltava a sangrar.

— No momento, temos que nos contentar com o unguento que Trumpkin fez para nós - Sorriu ele - Temos que comer e nos apressar para sair daqui.

Não perdemos tempo. Comemos o que ainda estava em bom estado dos nossos suprimentos e logo nos organizamos para partir. Caspian resolveu se livrar do máximo das evidências de nossa passagem pela caverna, afinal não queríamos que nossos inimigos refizessem nossos passos para nos perseguir na estrada.

— Deixe-me ver sua perna - Pedi antes de irmos. 

Caspian já tinha posto a bagagem nas costas, deixando a parte mais leve para mim, apesar de eu insistir para que me desse mais coisas, que não eram muitas. 

O rasgo que eu fizera em sua calça permanecia lá, favorecendo minha visão de seu ferimento. Estava melhor, mas ainda havia rastros amarelados de inflamação e a crosta ainda escarlate de sangue coagulado denunciava um sangramento recente. 

— Estou preocupada com isso. - Toquei a borda do ferimento com o dedo, exercendo um pouco mais de força e olhei para o rosto de Caspian, que reprimiu o esboço da sensação de dor.

— Vou me preocupar com isso depois. - Falou - No momento, só quero pegar a lança e derrotar essa feiticeira maldita.

— Vamos parar assim que possível - Avisei sem deixar margem para objeções - Não chegaremos a lugar nenhum se você perder essa perna!

— Acha que é para tanto? - Arregalou os olhos diante do meu exagero.

— Não sei, acho que não! - Falei séria, mas não pude evitar sorrir e ele balançou a cabeça rindo também.

— Vamos logo! - Decretou.

O tempo fora da caverna estava mais ameno, a nevasca havia cessado e um sol tímido despontava de trás das montanhas. A neve era um transtorno, formando bolos fofos na trilha nos quais nossos pés afundavam. Andamos o mais rápido que podíamos, não queríamos ficar expostos ao frio por muito tempo.

As montanhas passaram a ser mais escassas ao passo que caminhávamos e o frio ia diminuindo à medida que deixávamos o território arquelandês para trás. A floresta deixava de ser uma imensidão branca e os pontos verdes começavam a ser mais abundantes.

— Acho que estamos chegando à fronteira com o Grande Deserto - Observou Caspian.

O sol percorria o céu à medida que o dia passava e eu estava começando a achar que não chegaríamos ao desfiladeiro até a tarde. Foi quando o terreno arenoso passou a se pronunciar abaixo dos nossos pés, deixando a floresta para trás, bem como a neve parecia uma lembrança longínqua.

— Nem parece que a poucas horas atrás quase morremos de hipotermia - Comentei, dando de ombros.

— Eu espero que… - As palavras de Caspian foram interrompidas pelos ruídos da floresta que havíamos abandonado recentemente.

Gelo percorreu minhas veias e eletrizou meus nervos. Não pareciam passos de animais, porém tampouco eram cautelosos como soldados treinados, ou caçadores. Não fazia ideia do que poderia ser. Por Aslam, outra emboscada, não.

— Não vamos esperar para ver - Caspian pareceu ler meu lamento e sua advertência foi nossa deixa para apressarmos os passos.

O restante de vegetação que existia ali foi desaparecendo à medida que caminhávamos. O sol estava a pino, diferente do que tínhamos visto no território assolado pelo inverno de Jadis e a falta de vegetação e as rochas baixas dificultava nossa camuflagem no terreno.

O caminho em direção ao rio Flecha Sinuosa era um desfiladeiro que começava suave e ia se aprofundando à medida que o terreno montanhoso e alto de Arquelândia era deixado para trás. Descemos vários lances de rochas áridas, sentindo a poeira da areia amarelada subir com o impacto dos pés contra o solo.

— Ali! - Alguém gritou.

Senti o corpo gelar de novo e meus olhos encontraram os soldados calormanos no início do desfiladeiro, correndo em busca do caminho até onde estávamos.

 

Lúcia Pevensie

Rilian trabalhou arduamente para dar um enterro minimamente digno ao corpo de Windren e se compadeceu de Theodor também, enterrando-o um pouco mais atrás. Algumas poucas flores que haviam caído das árvores ainda estavam bonitas, não haviam secado, então teci ao meu jeito uma coroa de flores para colocar sobre o monte de terra e pedras que selava o túmulo da esposa de Glenstorm. Ele ficaria devastado. O casal havia sofrido perdas irreparáveis na guerra contra os telmarinos e agora o centauro estava viúvo.

Aslam nos concedeu algumas palavras de conforto, sobretudo para Rilian que sentia-se culpado de inúmeras formas. Havia sido alvo da ambição e da insubordinação de Theodor e pesava sobre seus ombros o fato de que Windren havia confrontado o telmarino por causa dele. E acabou morta, porque Rilian o subestimou.

Tomamos nossos cavalos e galopamos de volta o castelo, Aslam correndo ao nosso lado, a juba contra o vento. Era uma imagem muito bonita, apesar de a paisagem que nos cercava não ter a vivacidade esperada dos bosques de Nárnia. Eu ouvia os gemidos de agonia das dríades que sentiam suas árvores perecerem pouco a pouco, os animais silvestres, aqueles que não tinham a capacidade de fala, magros e infelizes, gastando os últimos resquícios de suas energias em busca de vegetais e frutas, folhagens e sementes e tentando não servir de presa para os animais carnívoros.

Por algum motivo, nossa jornada não durou todo um dia, era como se a terra estivesse mais curta, ou como se o sol estivesse mais lento. Obra de Aslam, eu imaginava. Os cavalos pareciam surpreendentemente mais dispostos, revigorados pela presença do Leão. Aslam não os assustava, não os fazia pensar que seriam devorados.

Quando subimos o monte em que o castelo de Caspian havia sido construído, encontramos a cidade relativamente vazia. A população telmarina não era assim tão grande, a pequena vila os comportava bem e boa parte deles morava no castelo, dentre nobres e serventes.

As casas estavam fechadas, as mercearias, a feira, a taverna de Arisia, a oficina do ferreiro, a pequena hospedaria, tudo trancado. Ao longe, pudemos ver os cidadãos reunidos atravessando a ponte, sendo orientados por guardas narnianos e telmarinos, que os levavam para dentro. Pedro já estava organizando tudo para partirmos para a batalha. Era uma questão de tempo até encararmos o exército de Calormânia, a serpente do deserto e a feiticeira branca.

 

Pedro Pevensie

Lúcia e eu havíamos nos apossado do gabinete de Caspian desde sua ida à Arquelândia e agora que Lúcia estava no Ermo do Lampião, tinha o escritório todo para que eu fizesse minha bagunça. Estendi mapas sobre a mesa a fim de verificar qual parte da fronteira seria mais vantajosa para nós no confronto.

O guarda bateu à porta e a abriu em seguida.

— General Glenstorm, majestade - Anunciou e eu fiz um sinal para que deixasse o centauro entrar.

Glenstorm tinha que baixar a cabeça para conseguir passar pela porta, afinal ele era bastante alto para ela. Ele trazia consigo o que eu cria ser papéis de carta e algumas moedas.

— Acho que encontramos o traidor - Explicou, colocando tudo sobre a mesa. Mirei as cartas à procura de um remetente, mas não havia um nome, apenas um brasão que eu reconhecia ser de algum lorde telmarino, porém não saberia dizer qual, afinal não estava familiarizado com os símbolos.

— Qual dos lordes? - Indaguei, levantando-me ávido pela resposta.

— Theodor - Pensei não ter ouvido muito bem quando Glenstorm pronunciou o nome. Franzi o cenho e virei um pouco o rosto, fitando o rosto do centauro, descrente - É surpreendente, porém o rastreamos a partir dos horários das entregas das mensagens confidenciais. Theodor passava pela serva telmarina nos corredores nobres do castelo e assim ela recebia a carta.  Ela era vista periodicamente indo na direção da ala leste, onde entregava a outro servo, que seguia ao pé da montanha para dá-la ao mensageiro calormano.

— Isso não é possível - Lamentei, apoiando as mãos em punho sobre a mesa de mogno.

— Encontramos papéis de carta em branco em seus aposentos, mas havia uma escrita - Ele me mostrou o referido papel - Aparentemente é uma carta inofensiva, contudo vasculhando melhor o aposento, encontramos uma espécie de código que decifra a mensagem oculta na carta. Theodor disfarçava suas cartas para que não fossem compreendidas por qualquer um. E - ele mostrou as moedas - Havia um baú nos fundos do seu guarda-roupas, atrás de fundo falso, com as moedas calormanas, iguais às encontradas com a serva.

— Canalha - Resmunguei - Julgou Rilian e Hiandra com tanto fervor, com senso de justiça inflado, tudo para camuflar seus próprios crimes! - Glenstorm concordou - Me perdoe por tê-lo retirado de seu posto para investigar isso, mas sem Garvis ou Trumpkin por aqui...

— Estou aqui para servir aos reis de Nárnia, majestade - Fez uma reverência - Esperemos apenas que Theodor não tenha ido sabotar a missão da Rainha Lúcia.

Um frio percorreu minha barriga. Não tive tempo de pensar nisso. Theodor estava perto demais de Lúcia, ele aparentemente era de confiança. Windren estava com eles, mas até que ponto a centauro seria perspicaz de desconfiar da lealdade de Theodor sem quaisquer indício de sua traição?

— Majestade! - Outro guarda abriu a porta, sua euforia inibindo seu hábito de bater nela e esperar autorização, não que eu me importasse muito com isso - O grande Leão, Aslam, está nos portões do castelo! A rainha Lúcia retornou da missão!

Uma troca de olhares com Glenstorm foi a nossa deixa.

 

Fortaleza de Anvard, Arquelândia

O pátio do castelo de Anvard havia sido esvaziado. Todos os canteiros de flores foram realocados no jardim, as mesinhas, cadeiras e bancos de ferro pintados de branco foram levados para um canto qualquer da fortaleza. Restava apenas a bela fonte no centro do pátio, que foi desligada.

— Eu quero uma mesa grande! - Ordenou Cietriz - Maior que um homem de média altura. Quero que tragam os utensílios do Templo de Tashbaan que estão nos aposentos da rainha. Quero lenha também.

Os soldados calormanos que foram enfeitiçados por Jadis eram mais adequados para aquele tipo de tarefa. Suas motivações foram alteradas, fazendo-os cegamente leais às duas feiticeiras, mas ainda estavam conscientes o bastante para operar serviços gerais. Os soldados mortos, que foram enfeitiçados por Cietriz através de necromancia, eram máquinas mortíferas, sacos de ossos e vísceras que serviam apenas como números.

Jadis adentrou no pátio ao ver a movimentação. Seu vestido branco e opulento deslizava pelo piso à medida que ela dava seus passos silenciosos.

— Vejo que ouviu meu conselho - Observou a feiticeira branca, pondo os olhos verdes sobre toda a nova organização do pátio - Acha que o sacrifício dará certo?

— Creio que sim - Confirmou Cietriz - Apesar de o sacrifício de um servo dedicado agradar a Tash, matar um inimigo em honra a ele sem dúvida o fará muito feliz.

— E como Tash nos ajudará na batalha? - Jadis indagou - Não que Edmundo me fará alguma falta, mas se a ajuda do seu deus não for de grande vantagem, não desperdiçaria sua vida com algo tão inútil.

— Ele dará forças aos soldados! Me dará mais poder sobre os soldados mortos e sobre a seca em Nárnia. Não quer destruí-la?

— Claro que quero - Seu tom era tranquilo, porém severo - Nada me satisfará mais que ver a terra que aquele Leão irritante tanto defende definhar sem que ele possa impedir. Anos e anos trazendo filhos de Adão daquele mundo para ajudar seu povo inútil, enganando a mim com sua maldita magia profunda! Quero a terra devastada e o Leão morto de uma vez por todas!

— Tash é a peça que falta para nos garantir a Vitória. - Concluiu Cietriz - Enquanto eu organizo o altar, por que não vai tripudiar um pouco da nossa oferenda. Certeza de que está se sentindo solitário. - Cietriz pronunciou a última frase com um falso tom de pena e Jadis deixou escapar um sorriso discreto, os cantos da boca se erguendo diante da oportunidade de fazer Edmundo sofrer ainda mais.

 

Lúcia Pevensie

A chegada de Aslam arrancou ruídos exclamativos dos súditos, tanto de receio e temor, quanto de alegria e esperança. Vi principalmente nos olhos dos narnianos a fé e a gratidão por seu líder supremo ter ido socorrê-los naquele momento de grande aflição.

Logo estávamos na sala do trono, na qual Pedro e Glenstorm já nos esperavam. Não convocamos uma reunião formal, mas alguns dos conselheiros se sentiram na obrigação de estarem presentes, afinal as notícias que trazíamos e a chegada do Leão eram cruciais para os nossos próximos passos.

A conversa que se seguiu foi difícil. Relatei em detalhes tudo o que houve nos arredores do Ermo, desde o sumiço de Liliandil, Windren e Theodor até minha ida com Rilian ao riacho e nosso confronto com o lorde telmarino. Aslam contou brevemente a prova à qual Liliandil foi submetida e aprovada e que já está trabalhando para salvar Edmundo. Neriah, por sua vez, relatou o ataque sofrido por sua caravana e a captura de seu noivo e pai; contou também do breve encontro com Susana.

A parte mais difícil, sem dúvida, foi contar a Glenstorm sobre a morte de sua esposa. Ele pareceu chocado, depois revoltado, e por último suprimiu algumas lágrimas. Pedro o liberou para que se recompusesse, afinal a estrutura emocional do nosso general precisava estar firme na batalha que se seguia.

— Nunca imaginei que Theodor fosse capaz de tudo isso - Pedro comentou quando a reunião se atenuou - Ele parecia alguém tão dedicado, era um dos poucos telmarinos em quem realmente confiávamos.

— Não admira que Caspian ainda enfrente resistência - Falei - É lamentável apenas que toda essa rebeldia tenha o levado a tamanha traição. Windren pensava que ele apenas queria corromper Rilian, porém sua perfídia foi muito além disso.

— E Hiandra tem passado todo esse tempo nas masmorras - Pedro acrescentou, o tom carregado de um sentimento de injustiça - Julgada por suas origens, acusada mesmo em falta de provas.

— Creio que esteja na hora de libertar a moça - Aslam decretou. Pedro ergueu o olhar para ele e assentiu.

Sorri.

— Tragam Hiandra de Tashbaan para nós - Pedi ao guarda que ficava à porta - E não esqueçam de lhe tirar as correntes. Ela não é mais uma prisioneira.

Os momentos que se seguiram foram de ansiedade. Neriah de todos nós era a mais expressiva, a princesa era de uma personalidade interessante e eu gostaria de me tornar amiga dela, como Susana era.

Quando a porta da sala do trono foi aberta, Pedro desceu as escadas que elevavam o nível do trono do rei e encontrou-se com ela no centro do salão. O sorriso de Hiandra me lembrou o raiar do sol após uma noite escura e solitária. Ela abraçou meu irmão sem qualquer pudor e eu admirava seu jeito delicado apesar de todos os calos da vida. Era uma moça tão talentosa e de coração tão bom.

— Provamos a sua inocência - Pedro segurou as mãos da calormana e contou a novidade fitando seu rosto. Hiandra suspirou aliviada.

— O verdadeiro traidor foi encontrado - Aslam explicou, sua voz imponente atraindo a atenção para si. O sorriso de Hiandra se desfez, porém não era tristeza que tomava o seu rosto. Era surpresa, admiração.

— Você é... o grande leão? - Ela indagou apesar da pergunta ser um tanto boba. Seu tom se assemelhava ao de uma criança que acaba de identificar algo novo. Eu entendia seu espanto.

— Este é Aslam - Pedro o apresentou - Aquele de quem falei.

Meu irmão trouxe Hiandra pela mão até nós e ela fez uma reverência ao leão, ainda absorvendo o choque do primeiro encontro com ele.

— É um grande prazer conhecer o salvador de Nárnia - Ela disse - Pedro trouxe a minha vida grande esperança ao falar de você. Me fez ver que eu tinha realmente uma chance de mudar toda a minha para melhor. De fazer a coisa certo.

— E está fazendo - Condescendeu o Leão - Assim como Aravis mudou o rumo de sua história ao sair de Calormânia para salvar Arquelândia das garras de Rabadash, vejo em você alguém que apesar das origens será uma grande heroína.

Os olhos de Hiandra brilharam em agradecimento.

Liliandil, a estrela

A luz do sol dificultava a visualização da terra durante o dia, mas eu não podia esperar por muito tempo. Edmundo provavelmente estava bastante ferido, ou coisa pior.

Observei a fortaleza de Anvard a fim de encontrar um local isolado, porém não fazia ideia de como encontraria o caminho correto até as masmorras.

Se é que a luz de uma estrela pode ser discreta, tentei pousar no solo chamando o mínimo de atenção. Escondi-me atrás das pilastras, porém não havia muitos servos circulando. Os poucos que vi tinham olhos assustados, passos apressados, fitando o chão diante de si e evitando contato com os soldados e guardas. Esses últimos estavam sinistros: eram calormanos e enquanto uns pareciam fantoches que animavam as festas da vila dos telmarinos, outros tinham as íris apagadas, a parte branca dos olhos estava azulada e eles pareciam mais conscientes que os fantoches, contudo não menos estranhos. Era melhor passar bem longe deles.

Evitei a sensação de medo de estar em um território inimigo, entre pessoas que eu sequer conhecia e que duvidava que tivessem boas intenções. Afastei o sentimento de solidão e de exposição, de fragilidade. Edmundo precisava que eu fosse forte.

Precisava me localizar, saber em que parte do castelo estava e onde procurar Edmundo. Neriah havia me dado a rota para nos esconder, mas sequer perguntei como chegar às masmorras.

Caminhei por um amplo corredor cujas paredes eram brancas com texturas em linhas horizontais e alguns recuos com mesas em meia lua e jarros de flores adornando a passagem em intervalos padronizados. O piso era de uma pedra rústica em tons de amarelo e tons rosados que pareciam ter pedaços de quartzo brilhante. Eu estava no térreo.

Percebi uma movimentação à esquerda, soldados carregando uma mesa e outros segurando utensílios de cozinha. As feiticeiras dariam um banquete? Foi o que me perguntei.

Esgueirei-me pelas pilastras, contando que o estado esquisito dos soldados comprometessem suas habilidades de vigia. Nunca havia feito aquele tipo de missão, nem tinha técnica de espionagem, sequer de luta. Eu ouvira dizer que algumas estrelas manipulavam tão bem o poder da luz que conseguiam utilizar a luz e a sombra para se misturarem ao ambiente, tornando-se invisíveis, entretanto nunca havia precisado daquele tipo de recurso, também não tinha tempo hábil para aprender.

Quase fui pega por um soldado que deixou uma faca cair, mas consegui me esconder no recuo de uma porta, prendendo a respiração e ficando de ponta de pés.

"Esteja bem, Edmundo... Não vou conseguir encontrar você tão rápido".

Continuei seguindo os soldados e quando menos esperei, o pátio do castelo se ergueu diante de mim. Duas mulheres se destacavam entre os servos e eu imaginei que elas fossem as nossas inimigas. A de vestido branco eu julguei ser alta. Sua ascendência jinn era denotada pela altura sobre-humana e a pele alva não ajudava no que diz respeito a fazê-la parecer uma pessoa. A outra, que pensei ser Cietriz, usava um vestido tipicamente calormano, esvoaçante, sensual, de cor forte e vibrante.

Os servos colocaram a mesa no centro do pátio, à frente da fonte desligada. Cietriz organizou um arranjo vasto de facas e outros utensílios cortantes em uma mesa auxiliar e pensei ler nos lábios das duas as palavras "sacrifício" e "Tash", o suficiente para me deixar atônita e preocupada.

Precisava achar Edmundo com urgência. Ele seria sacrificado a Tash e se eu não o alcançasse antes do horário do ritual, não conseguiria salvá-lo.


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Notas finais do capítulo

E então, gente? Gostaram?
Nossos inimigos alcançaram Susana e Caspian logo no curso do rio! Como acham que eles escaparão dessa?
Acham que a Liliandil consegue salvar o Edmundo a tempo? O que acham que vai acontecer?
Venho pedir que encarecidamente vocês que leem a fanfic comentem! Eu costumo deixar umas perguntinhas aqui no final justamente para ajudar vocês nisso e, convenhamos, não custa nada! Me ajudem nessa reta final!
Beijoos!



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