Sobre Balanços, Blacks e Potters escrita por IrinaGras


Capítulo 3
3




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3.

 

Sua respiração estava ofegante quando acordou. As cortinas de sua cama estavam fechadas e a escuridão a cercava. Estabilizando a respiração seus olhos foram se acostumando com o escuro, um pequeno feixe de luz contrastava uma finíssima linha por uma brecha entre suas cortinas.

Saindo da cama pegou seu relógio na cabeceira, lia-se 5:19am, não conseguiria mais dormir e o café da manhã só começaria as oito, suspirou, melhor se trocar.

 

Estava frio, olhou pela janela, o sol se escondia atrás das nuvens e da neblina, um típico começo de outono no Reino Unido.

Vestiu sua meia calça preta, sua saia, a camisa, ajeitou a gravata, calçou as sapatilhas e vestiu seu suéter indo em direção ao banheiro, fez sua rotina e parou em frente ao espelho, a luz era natural e vinha da grande janela de vidro. Em dias assim seu cabelo parecia mais branco e suas feições ficavam mais pálidas do que de costume, a única cor sendo seus grandes olhos azuis e o verde de suas roupas. Ela podia muito bem se fingir de morta que era capaz de acreditarem. Optou por um meio-rabo, o qual prendeu com um laço preto e saiu do dormitório da Sonserina em direção à cozinha.

 

O grande castelo estava vazio, nem sequer os fantasmas perambulavam e os quadros dormiam. Sorriu um pouco e fez cócegas na pêra, a pintura se abriu e ela entrou, não estava sozinha.

 

- Bom dia – ouviu dizê-lo educadamente.

 

- Remus Lupin, bom dia – respondeu de volta. Ele fez menção à cadeira em frente à sua e ela agradeceu, sentando-se.

 

Logo apareceu um Elfo Doméstico e ela pediu um chá e um prato de biscoitos, não tinha muita fome pela manhã.

 

Earl Grey... Sentiu a fragrância do chá fechando os olhos, degustando cada segundo assim que o líquido quente passou por sua garganta naquela manhã tão fria. Remus Lupin a observava um tanto curioso, olhou-o de volta de relance assim que este voltou a se concentrar em seu prato. Ele parecia tão... Acabado. Estava com olheiras imensas, os ombros estavam caídos e parecia estar fazendo um grande esforço para comer, e agora que via mais de perto, parecia ter ganhado uma cicatriz nova no canto esquerdo de seu rosto. Narcissa nunca conseguira ver o garoto de tão perto e só agora reparara que tinha uma pequena quantia de cicatrizes em seu rosto (que já eram velhas) e pescoço.

 

Imaginou se ele teria lutado com alguma besta durante a noite. Mas não perguntaria, e ele sabia que ela não perguntaria. Como ela também sabia que ele não perguntaria por que uma Sonserina o estava acompanhando ao café da manhã.

 

O café da manhã de ambos seguiu-se num silêncio, porém não era um silêncio incômodo, tampouco um silêncio cômodo... Era apenas um silêncio aonde ambas as partes chegavam a um acordo psicológico e um respeito recém nascido pairava no ar.

 

- x -

 

- Moony, você ta bem mesmo cara? – perguntou James.

 

- Sim, só um pouco cansado... Nada que algumas boas noites de sono não façam – respondeu o amigo com um sorriso cansado.

 

- Você não quer tentar falar com o Professor Dumbledore...? – o moreno agora olhava para os lados checando para ver se não havia ninguém por perto – a gente ta preocupado, parece que a transformação só piora, se a gente falar com o Dumbledore pode ser que ele arranje alguma coisa, uma planta Finlandesa ou uma poção, sei lá, qualquer coisa!

 

O menino de cabelos claros e olhos azuis sorriu e riu um pouco.

 

- Não se preocupe mesmo James, mas prometo que se na próxima Lua Cheia piorar, no dia seguinte vamos falar com o Professor Dumbledore, pode ser? – o tom de sua voz era quase uma imploração.

 

- Hm... Ta bom, eu acho... – respondeu o amigo meio incerto.

 

Logo a conversa foi ficando mais silenciosa e quando o sino tocou os dois amigos foram embora, nenhum deles realmente vendo o par de olhos verdes eletrizantes que pertenciam à Bellatrix Black.

 

- x -

 

Lucius,

 

Entrarei em contato com você novamente no final do seu ano escolar, até lá estarei ocupado. Nas comemorações de Natal a casa ficará vazia, aconselho que fique na escola. Que fique bem claro que a próxima vez que entrarmos em contato espero que esteja preparado, você é meu único herdeiro e futuro chefe da família Malfoy, portanto não me decepcione.

Eu e Cygnus Black planejamos celebrar o término de seu (e de suas filhas) ano letivo, juntos, isso, porém deve ser mantido segredo de Narcissa e Bellatrix, sua mãe, aparentemente pensa de Narcissa Black uma adorável menina. Não posso discordar.

Falando em sua mãe, não se esqueça de escrevê-la algo, ela sente sua falta profundamente.

 

Abraxas Malfoy.

 

Sua casa ia servir de encontro para Comensais da Morte no Natal, em Julho ele se tornaria um e agora seu destino já estava selado com Narcissa, o que ele já esperava que acontecesse e, ela provavelmente também. Suspirou...

 

- x -

 

- Potter...

 

Em meio a sua espera por Black ele deve ter pegado no sono sentado na janela.

 

- Potter...

 

Hm... Não tinha dormido bem na noite passada por causa de Remus, estava cansado.

Sentiu algo cutucá-lo de leve e resmungou um pouco, foi cutucado com um pouco mais de convicção e seus olhos foram se abrindo aos poucos, primeiro viu um vulto meio esbranquiçado e depois seus olhos focaram-se em um par de azul vibrantes.

 

- Se você quiser posso adiar nosso trabalho, mas se fosse você não dormiria na janela.

 

- N-Não! – isso saiu rápido demais – digo... Não tem problema, tava só um pouco cansado – segurando com um pouco de força a ponta do nariz, controlado a dor de cabeça, desceu da janela.

 

Hoje eles iam fazer toda a parte teórica para a próxima aula de Poções. James entregou o que tinha feito até agora e Narcissa começou a explicar a sua.

 

Ele sabia que devia estar prestando mais atenção no que ela falava. Mas ter Narcissa Black, o objeto que pairava em seus sonhos e mente desde aquela noite, tão próxima, onde ele podia observar os mínimos detalhes, precisava caracterizá-la melhor em seu sonho, isso... Enfim, concentração na fala era difícil quando sua visão estava tão focada.

 

Ela era uma visão adorável com seu cabelo preso daquele jeito e concentrada.

Reparou um pouco surpreso que o laço em seu cabelo era preto.

 

Cores esses anos quando usadas em Hogwarts queriam dizer muita coisa, Sonserinos sempre tendiam a ser mais extremistas do que de costuma, as meninas principalmente, suas jóias eram de brilhantes e esmeraldas, seus laços e tiaras sempre da melhor qualidade e verdes. Porém ela estava ali, sentada, a única indicação de que pertencia à Sonserina era sua gravata e o emblema do suéter. Ele tinha certeza que isso não era algo trivial, nada em Narcissa Black era trivial.

 

- Você realmente quer se casar com o Malfoy? – a pergunta saiu antes mesmo que ele pudesse pensar.

 

E ele realmente quis pegar nas mãos dela quando seus olhos olharam tristes por uma fração de segundo para os seus, mas não o fez.

 

- Não importa o que eu quero, nunca importou e nunca vai importar, você deveria conhecer os costumes melhor do que ninguém, mesmo que sua família não os siga, opção não existe para alguém como eu, não posso pensar, nem ver, nem sentir, nem escutar, sou uma boneca Potter, eu não existo – suspirando ela se levantou e foi embora. Não falou nervosa, nem triste, tampouco revoltada, sua voz era cansada, voz de alguém que já estava exausto demais para tudo isso, cansado demais para a vida.

 

Não sabia por que falara, sua boca abriu e as palavras começaram a sair, ponto.

 

Ele parecia tão sincero ao ter perguntado, talvez tivesse sido a voz, ou os olhos, tinha que tomar cuidado, aparentemente a influência dele sobre ela era muito maior do que imaginava.

 

Algo quente fez-se passar percebido por suas bochechas e sua visão embaçou e, com as pontas dos dedos ela pegou as pequenas gotas que caíam de seus olhos, há quanto tempo não chorava?

 

Entrou em um corredor vazio, encostou-se na parede e com uma mão cobriu o rosto, usando a outra para suporte, hoje... Só hoje ela não colocaria censura em seus sentimentos.

 

Logo fora engolida por um abraço e congelou na possibilidade de ser James, apesar de que não faria sentido, era tão errado assim existir essa dúvida?

 

Mas não era James, os braços que tão fortemente lhe seguravam e acariciavam sua cabeça tinham um toque que lembrava-lhe de Andrômeda, os abraços que ela lhe dava quando pequena quando chorava assustada por seus pesadelos, um conforto de um irmão que nunca teve, o que um dia Sirius chegara próximo, mas depois a abandonara.

 

- Lucius Malfoy...

 

Ele não respondeu, não falou nada, não perguntou nada, apenas a segurou.

 

Ela não percebeu a pessoa parada metros dali assistindo a cena com feições impacientes e os punhos fechados.

 

Foi Lucius quem o expulsou com o olhar, eles já não podiam escolher, não tinham a chance que teve Sirius Black, não tinham amigos ou proteção, sua proteção seria si mesmos e se pelo menos pudessem evitar mais sofrimento, pelo menos o de Narcissa ele a protegeria como uma irmã e com todas as suas forças.

 

- x -

 

Lily estava fazendo sua patrulha próximo às escadarias da torre de Astronomia quando escutou um grito, sabia de onde vinha. Correndo ela foi em direção às escadas a tempo de ver um vulto passando. Se fosse atrás da pessoa, pegaria o “culpado”, mas se fizesse isso podia ser tarde demais para o que quer que seja que acontecera lá em cima, e estava com um mau pressentimento. Diabos! Mas se subisse e estivesse tudo bem ela teria perdido o criminoso.

 

- Diabos! – disse novamente, só que em voz alta, gritando depois em frustração.

 

Subiu as escadas correndo e abriu a pesada porta de madeira escura. Vistoriou a área com os olhos e não viu nada fora do lugar, estaria ficando louca...? Não... Aquilo era... Aquilo... Um par de mãos?!

 

Sem nem pensar em mais nada ela saiu correndo, inclinou-se no chão e com as duas mãos puxou o braço e depois a cintura da pessoa, que era incrivelmente leve. Vendo que Lily nunca tivera muita força.

 

Seus olhos se abriram em choque quando se encontraram com os alarmados e assustados de Narcissa Black, que desatou a chorar como uma criancinha.

 

Sentiu o rosto encarnar a expressão tão conhecida e carinhosa de sua mãe e um pequeno sorriso apossar-se de seus lábios, aproximando-se da menina que estava sentada no chão, envolveu a loira em seus braços.

 

- Sh... Sh... – dizia acariciando os cabelos da menina e passando a mão por suas costas, como sua mãe fazia quando estava chateada ou triste.

 

Cantarolando uma melodia qualquer quando sentiu o choro dela diminuir para um choro silencioso, mas ao mesmo tempo em que segurava seu suéter vermelho com mais força. Ela estava puxando um pouco seu cabelo, mas não ia falar nada, não era importante agora.

 

Essa devia ser a primeira vez que via Narcissa Black demonstrar qualquer tipo de emoção, e se sentiu muito mal por ter pensado que essa deveria ter um coração de pedra, no final das contas, Black era humana como qualquer outra pessoa, quando posta em risco, a sua vida, e estando aos trinques da morte, sem ter o que fazer (notara a varinha da menina jogada no canto da torre, um Expelliarmus inesperado com certeza), o medo vinha em cheio, é claro que vinha!

 

Ela agora parara de chorar e a olhava com algo que Lily não conseguia distinguir em seus olhos.

 

- Lily, - a menina se surpreendeu por ser chamada pelo primeiro nome – muito obrigada.

 

Foram simples palavras, mas ditas com tanta sinceridade que tocaram a ruiva, seus olhos fotografando e guardando a imagem de Narcissa, apenas Narcissa, que lhe sorriu tão sincera como suas palavras... O que ela não esperava, e digo realmente não esperava mesmo! Foi quando;

 

Narcissa se inclinou, com uma de suas mãos segurou seu rosto e beijou seus lábios, não fora demorado, mas também não fora a coisa mais rápida do mundo, Lily tinha certeza de que o seu tempo decidira passar muito mais devagar do que o necessário.

 

A loira levantou, pegou a varinha com um rápido Accio e foi até a porta, virando-se mais uma vez para a ruiva que estava sentada no chão com uma expressão meio boba, fazendo-a rir um pouco.

 

- Lily Evans – isso ganhou um pouco a sua atenção – você é uma pessoa muito bonita, saiba disso, por dentro e por fora, se você sequer pensa em qualquer outra coisa senão salvar uma pessoa, ainda mais uma pessoa como eu, que não lhe causamos nada senão sofrimento, se você sente dentro de você o esforço para consolar alguém com a sinceridade que você fez comigo, eu não posso fazer mais nada senão ter esperanças de que um dia nosso mundo tenha seus olhos, - ela suspirou de leve – você tem muita sorte Lily, nunca duvide do que você julga certo e não deixe as coisas preciosas fugirem de você, acho que não preciso dizer para você não acreditar no que as pessoas da minha casa lhe dizem, porque é tanta bobagem que se torna ridículo escutar – sorrindo novamente a menina fechou a porta deixando a outra para trás, seu rosto competindo com a cor de seus cabelos, seus olhos molhados e a boca mordendo o lábio inferior.

 

Um pensamento bobo passou em sua cabeça e ela levantou.

 

- E eu que só esperava pegar alguns conhecidos fazendo atividades impróprias.


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Notas finais do capítulo

NÃO! Isso não é uma fic Lily/Cissy.