Vozes dos Ancestrais escrita por Fanny Tanlakian


Capítulo 7
Olhares marcantes


Notas iniciais do capítulo

Olá mais um capítulo!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779375/chapter/7

Beatrice olhava a marca na mão tinha parado de doer mas ainda sim não sumia, como explicaria para as pessoas sobre aquilo. No notebook o Google traduziu aqueles trechos em latim, porém uma ferramenta nunca é perfeita, algumas palavras não faziam sentido. Seu café já estava frio com certeza, ainda jogado perto dela o gravador que estranhamente tinha gravado vozes além da srta. Death. Escutou barulhos em baixo da cama parecendo algum rato remexendo atrás de algo, ela agacha para enxergar e acha uma caixa branca, pega o objeto abrindo. Tinha várias fotos, livros, pergaminhos, uma pena junto ao recepiente cheio de tinta.

A tela desliga repentinamente e o ambiente fica frio, uma sensação ruim percorre ela, seu coração acelerasse cada vez mais. Tenta religar o notebook mas não tem sucesso, no meio dos cobertores o gravador funcionava sozinho, as conversas que deveriam estar ali eram ouvidas no fundo entretanto chiava muito e estava tudo distorcido.

Apertava no botão querendo desligar então a porta abre lentamente, no corredor moscas andavam pelas paredes Beatrice caminha apreensiva, sentia as pernas querendo desobedecer seus comandos. O cheiro podre penetra no nariz dela, avistava a poucos centímetros de si um corpo num estágio avançado de decomposição, estava enforcado e pendurado numa corda.

Estática observava aquilo, a boca da mulher morta havia sido costurada, sangue cobria o chão e paredes. Ouve um som baixo que adentrava na alma, paralisada, tremendo, sua respiração pesada sufocava. No quarto da avó aquela mesma sombra encarava ela, desconhecia o motivo mas andou até a forma estranha, a melodia aumenta junto com os batimentos cardíacos, foi aumentando conforme os passos que mal conseguia pensar.

Assustada via seu corpo criar vontade própria, risadas soavam, cada vez mais próxima temia pelo o que poderia acontecer. Quando não aguentou mais gritou fechando os olhos depois abre após um tempo, tudo tinha sumido. Sua mão encontrava-se pousada no trinco da porta, levanta o rosto e encontra a face da avó sorrindo sombriamente, seus glóbulos oculares totalmente pretos, em seguida desaparece na escuridão do quarto.

Cansada de tudo aquilo, desde que veio não dormiu mais tranquilamente, sentia algo ruim, como se a qualquer hora alguém entraria no seu quarto e faria algo contra ela. Precisava ir embora, gostava de onde morava com sua família.

Tudo ficou silencioso, ela dominada pelo horror observava o chão, sem coragem para encarar nada. Sally bate no ombro da outra mas não obteve resposta, chama então Mário para ajuda-la. O homem carrega a mulher até sua cama enquanto tentava tira-la do transe.

A psicóloga apenas ouvia as vozes confusas .

— .... deixou a madame sair.

— E agora?

— Precisamos achá-la.

— Quem cuida da garota?

— Fique encarregado disso.

Atenta aos passos da governanta se afastarem, sente ele passar as mãos no rosto dela retirando os fios castanhos claros espalhados pela face. Desacostumada com carícias assim, foi motivo para se levantar, notou que não estava no seu quarto, o cômodo era até grande tinha várias prateleiras com diversos livros, uma cama bagunçada e alguns pôsteres curiosamente o homem gostava de rock.

— Você está bem?

— Sim, agora me sinto melhor.

— Quer um pouco de água? - indagou se levantando.

— Não! - berrou desesperada - Por favor não me deixe sozinha!

— Ei calma - disse ele a abraçando - Vou ficar aqui.

Beatrice percebeu seu rosto molhado das lágrimas na camisa dele, Mário respirava no pescoço dela transmitindo um conforto, o cheiro de perfume masculino era suave mas hipnotizava, queria ficar ali sentido aquele aroma agradável.

— Te sujei?

— É somente choro - comentou rindo.

— Falavam sobre minha avó ter saído do quarto.

— Não se preocupe srta. Death vai encontra-la.

— Quero ajudar.

— Já sofreu demais.

A mulher levantou e perguntou dos livros para desviar do assunto.

— Tem de vários temas.

Foi folhear alguns mas o homem tomou da mão dela.

— Que tal sairmos? Precisa esquecer o que presenciou.

Apesar de achar estranho resolve acompanha-lo a um restaurante perto da casa situado à alguns quarteirões. O lugar era encantador inúmeras luzes numa linha como pisca-pisca de natal só que maiores iluminavam aquele local, tinham escolhido uma comida simples. Ele pega a cartilha de bebidas mesmo sob os protestos dela dizendo não consumir algo assim, após vê-lo insistir muito Beatrice é convencida e pedem dois licores de abacaxi com hortelã.

— Gostei daqui.

— Sim adoro vir para se divertir.

— Você já teve visões assustadoras?

— Não muitas.

— Uma vez Robert disse que a madame tinha demônios para ser expulsos.

Ele riu alto atraindo encaradas das pessoas ao redor.

— Não acredite em Bob.

— Foi a mesma coisa dita por Sally.

— Como é sua graduação?

— Desculpe mas me chamou prometendo descontração e quer conversar sobre faculdade - exprimiu sorrindo - Prefiro ouvir você comentar sobre tua vida.

— Não tem muita coisa. Quer saber? Está certa, posso pular para o ponto que te chamo para dançar.

Constatou que poucas pessoas tinham ido com seus pares, ao mesmo tempo outras ficaram no canto observando, eles vão juntos onde estava os outros casais.

´´I have a problem but I cannot explain

Tenho um problema mas não posso explicar

I have no reasons why it should have been so plain,

Não tenho motivo por que tem de ser tão simples

Have no questions but I sure have excuse

Não tenho perguntas mas com certeza tenho desculpas

I lack the reason why I should be so confused,

Falta-me a razão porque estou tão confuso

I know, how I feel when I'm around you,

Eu sei, como me sinto quando estou perto de você

I don't know, how I feel when I'm around you,

Eu não sei, como me sinto quando estou perto de você

Around you,

Perto de você

Left a message but it ain't a bit of use,

Deixo uma mensagem, mas ela é inutil

I have some pictures, the wild might be the deuce,

Tenho algumas fotos, mas pode ser excessivo

Today you saw me, you saw me, you explained,

Hoje você viu, você me viu, explicou

Playing the show and running down the plane

Tocando o show como combinado´´

A música tinha um toque calmo, com o passar dos minutos as pessoas tomavam coragem e iam dançar.

— Faço uma ação voluntária num lar de crianças órfãs, alegro o dia delas é bem divertido. Gostaria de ir comigo?

— Ah.... claro.

— Ótimo!

— Você parece ser uma pessoa boa e até pura porque mora naquela casa?

— Sinto lisonjeado pelo elogio entretanto estou longe disso.

— Porque?

— Todos cometemos erros, ninguém é santo somos todos seres pensantes num caminho de redenção.

— Mesmo quem é mal por natureza?

Ele a encara rindo, analisava os atributos físicos dela, tinha cabelos castanhos claros longos na maioria das vezes presos parte numa presilha e o restante soltos cobrindo a costa, corpo magro mas tinha curvas suaves. Era pequena e delicada, olhos cor de mel e lábios rosados.

Iniciou outra música dessa vez mais agitada com sons de guitarra no estilo que ele gostava, a rodopiou vendo ela soltar um sorriso contido. Depois de se cansarem sentam nas cadeiras e ficam contemplando os fogos de artifícios coloridos no céu.

´´Signs of your face

Sinais em seu rosto

Slowing your pace

Diminuindo seu ritmo

I need your guidance

Preciso da sua guia

I need to seek my inner vision

Preciso seguir minha visão interna

Inner Vision

Visão interna´´

A letra parecia ser uma trilha sonora daquele momento.

— Que lindo!

— Por sorte viemos no aniversário de Ângela, sempre sabe dar boas festas.

— E quem seria ela? - indagou rindo.

— É a dona do restaurante.

— Concordo com você esse ambiente é bem bonito. Ainda não me respondeu sobre o nosso diálogo.

— Augusto Cury no seu livro O vendedor de sonhos, escreveu: " Rousseau disse que o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe. Mas, essa ideia precisa de reparos: para mim, o homem nasce neutro e o sistema social educa ou realça seus instintos, liberta seu psiquismo ou o aprisiona. E, normalmente, o aprisiona......Todo bebê nasce com uma memória instintiva capaz de bancar a agressividade, o individualismo, o personalismo, a exclusão. É necessário que a educação lapide como artesã essa memória, arquivando milhares de experiências existenciais no córtex cerebral para abrandar e dominar os instintos e produzir o altruísmo, a compaixão, a amabilidade, a capacidade de pensar antes de reagir´´. O caminho da redenção a ser buscado depende de cada um, pode trazer coisas ruins ou boas.

— Pelo jeito é um leitor que faz o dever de casa.

— Não, sou apenas curioso sobre a vida.

Chegam no casarão faltando alguns minutos para meia-noite, tudo se encontrava silencioso nem parecia ter pessoas habitando ali, os dois dão despedidas reprimidas e andam até seus respectivos quartos. Beatrice cai com tudo na cama fazendo barulhos nas molas do colchão, as imagens do que viu invadiu a mente dela. Veste rapidamente seu pijama, dominada pelo medo bate na porta da enfermeira e esta atende convidando ela para entrar.

Srta. Death usava uma camisola fina azul claro rendada, os volumosos cabelos presos num coque desajeitado.

— Como está minha avó? - falou meio amedrontada lembrando daquele rosto sombrio da parente a encarando.

— Bem, deu um pouco de trabalho principalmente convencê-la a entrar no quarto.

— Que tipo de coisas ela teve?

— Não impor...

— Sim! É muito relevante! Ela é minha família preciso saber o que acontece - afirmou convicta.

— Sempre ocorre o mesmo. Fica agressiva, fala coisas absurdas e depois toma os remédios em sequência dorme, no outro dia levanta como se tivesse feito nada - disse a mulher sentando na cama.

— Ainda bem não houve nada de grave.

— Você veio ....?

— Ah... hã..... é que eu estava c-com med-do de dormir ...... sozinha - enrolou olhando para baixo.

— Entendo. Pode deitar comigo.

— Ah obrigada.... hã... minha avó deu essa folha disse ser uma amarração.

— Quais foram as medidas?

— O que? - perguntou sem entender - Ela só proferiu sobre ser lida em voz baixa e a noite.

— Então faça isso - expressou simplesmente.

´´A voz da deusa entoar/ Nada na natureza à assusta/ Venha para nosso ciclo e celebre a prosperidade, liberdade / Ouça as vozes dos ancestrais´´— leu depois sente a marca na sua mão sumir.

— Está feito - disse srta. Death.

Permite ser puxada pela enfermeira que a envolve com o cobertor, os braços da morena contorna ela sentindo vergonha por aquele toque. Revira na cama por muito tempo, a posição não ajudava. Os grandes seios pressionados contra sua costa provocava um calor nela, sentiu os dedos da outra deslizar pelo seu corpo até parar na região do ventre. A psicóloga fechou os olhos tentando dormir e não pensar na mulher perto dela.

                                            ..........

— Hoje de manhã chocou a cidade quando as plantações amanheceram todas secas, os agricultores sofrem e já calculam os prejuízos. Ainda é desconhecida uma possível causa para tal acontecimento, conversamos com o engenheiro agrônomo..... - relatava a repórter mas ela já não prestava atenção.

Lucy secou seus cabelos na toalha azul, tinha acabado de sair do banho, enquanto isso o almoço era aquecido no micro-ondas. Deixa cair a tolha observando seu reflexo nua, desde que viu aquela enfermeira nunca mais esqueceu, principalmente as formas sinuosas. Vestiu uma roupa simples, vai para sala e escuta o som da campainha tocando.

— Srta. Morgan?

— Sim.

— Encomenda para senhorita, assine aqui.

Ela escreve no lugar indicado e despedi do carteiro.

— Que esquisito não lembro de pedir nada.

Abre a caixa de madeira marrom, detalhe esse que a impressionou. O conteúdo dentro faz Lucy se assustar, de repente uma queimação na mão e o desenho simples de um indivíduo aparece. Ali com os olhos de plástico focados nela havia a cabeça da boneca suja, tinha um buraco enorme na bochecha, porém o mais estranho foi quando aquele brinquedo piscou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)
As músicas são do System Of A Down - Innervision e Roulette



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vozes dos Ancestrais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.