Era um novo ano escolar, tudo estava andando perfeitamente, como todos queriam. Como sempre era.
               Como sempre o grupinho dos garotos mais populares da Escola Federal Alemã de Hamburgo havia chegado na escola e estavam observando todas as meninas. O Kaulitz mais velho, Tom, era o famoso pegador da escola e adorava contar vantagem para seus amigos sobre o mar de garotas que já havia pego.  Afinal, ele era o pegador da escola, sempre pegava mas nunca se apegava. Por que não continuar assim? 
                Meramente porque alguém iria faze-lo mudar de idéia em questão de minutos.
                Uma garota de cabelos negros de mechas verde-água, longos e desfiados com uma franja reta, vestindo calças masculinas pretas e uma camiseta do AC/DC atravessou o portão principal e foi caminhando calmamente pelo largo corredor de mármore com seus óculos de aviador de lente escura e sua mochila preta cheia de logos de bandas e penduricalhos da Disney.
 Bill, o Kaulitz mais novo de cabelos espetados, soltou algumas risadinhas discretas ao notar que seu irmão estava contemplando a suposta perfeição da garota nova que passou por eles há pouco os ignorando.
 -- E ai? – Bill perguntou rindo bobamente do irmão apaixonado – Paixão a primeira vista?
 -- NÃO! – Tom exclamou assustado ao sair de seus devaneios – Não estou apaixonado. Só a achei bonita.
 -- Verdade, ela é gata – respondeu Bill fechando seu armário
 -- BILL! – Tom o repreendeu
 -- O que? – o garoto de cabelo espetados ergueu a sobrancelha rindo -- Eu também tenho direito de achar ela gata. 
 -- Tudo bem tudo bem – disse Georg, um dos garotos do grupo – Mas qual de vocês vai chegar primeiro nela?
 -- Eu ajudo meu irmãozinho a chegar nessa garota – Bill disse sarcástico
 -- Não está de brincadeira? – o garoto de dreads perguntou e seu irmão assentiu – Sem brincadeiras?
 --Caramba! – Bill exclamou irritado – Qual a parte de que eu vou te ajudar que você ainda não entendeu?
 -- Nossa Bill! É sério! – Tom exclamou entusiasmado fazendo quase todos ao redor olharem – Você não sabe o quanto eu amo ter você como irmão nesse momento!
 -- É eu sei – Bill respondeu secamente fazendo os outros dois rirem
 -- Mas como você vai falar com ela? – perguntou Gustav, um garoto forte um pouco mais baixo que os outros – Vai chegar assim do nada e puxar assunto?
 -- Por que não? – o garoto esguio sorriu maliciosamente pegando sua mochila – Sempre funcionou.
                Assim o Kaulitz mais novo foi até sua sala, diferente da dos outros três garotos e foi diretamente para seu lugar, no fundo da sala, enquanto Anna, sua antiga amiga de escola, vinha para cumprimentá-lo. Abraçaram-se e ele a ergueu um pouco por ela ser mais baixa que ele. A garota de cabelos castanho-escuros desfiados e olhos também castanhos sentou-se no colo do amigo e os dois ficaram conversando até finalmente a sineta do começo da aula começar. Enquanto trocavam histórias de férias, Bill notou que a mochila preta cheia de penduricalhos da Disney e logos de bandas estava na cadeira ao seu lado e perguntou a garota em seu colo de quem era.
 -- É da garota nova, Cassandra Amsterville. – piou Anna com um sorriso malicioso nos lábios – Por que? Está interessado nela?
 -- Não! – rebateu rapidamente – Não estou interessado nela. Tipo, ela é bonita mas não! O interesse é do meu irmão.
 -- Você que diz.—a garota de 1,80m respondeu dando de ombros -- Mas de qualquer modo, ela é bem legal e foi transferida de Melbourne pra cá depois de um acidente de carro que matou o pai dela. Ela tem uma irmã mais nova de 12 anos chamada Jasmine e a mãe é cardiologista no hospital local.
 -- Er...como você sabe de tanto sobre ela? – Bill questionou a amiga com a sobrancelha erguida
 -- Bill você me conhece ! – ela exclamou saltitante – E nem te falei Billy!
 -- Diga então – ele sorriu de modo casto e pousou a cabeça no corpo da garota em seu colo enquanto ela lhe afagava o cabelo
 -- Conheci um garoto lindo nas férias! – ela disse animada enquanto o garoto que a segurava sentia-se quebrar por dentro – O nome dele é Andreas e ele é de Berlim. Ele foi tão perfeito comigo nessas férias...
 E Anna começou a contar-lhe todos os detalhes das coisas que haviam acontecido com ela e com esse garoto do qual ela estava falando. Bill ainda a segurava firmemente em seu colo, enterrando a cabeça na curva do pescoço da amiga, forçando a si mesmo a ouvir pacificamente cada detalhe mínimo daquela história, sem pensar na vontade de usar suas unhas para estraçalhar a pessoa que seria Andreas. Anna era sua melhor amiga, mas ele a amava. Ele a amava de todos os possíveis modos que se era possível amar alguém, não apenas como amiga. 
                 Ele continuava ouvindo tudo. Queria tê-la apenas para ele sem pensar que todas as férias e feriados ela arrumava alguma nova paixonite, algum novo garoto perfeito. E Bill era seu melhor amigo que a acompanhava desde os oito anos. Dez anos e ela não havia sentido nada a mais por ele? 
                  É, esse era um bom complexo amoroso e pessoal? 
                  O sinal do começo da aula tocou e Anna roçou os lábios nos de Bill, fazendo-o sentir as pernas fraquejarem, antes de voltar para seu lugar. O garoto de cabelos espetados encostou-se na parede e ficou observando a amiga a sorrir inocentemente sentar-se em uma das primeiras cadeiras da fileira ao lado até sentir uma bolinha de papel atingir sua cabeça. A bolinha de papel lilás o acordou de seus devaneios e quando ele olhou ao redor viu a nova aluna sorrir para ele e olhou novamente para a bolinha que estava escrito em canetinha preta grossa “Leia-me”.
                   Ele abriu a bolinha e encontrou um bilhete escrito em caligrafia impecável perguntando se estava tudo bem. Ele escreveu que sim na bolinha e jogou de volta para a garota de cabelos preto e verde. Ela entortou a cabeça e escreveu uma resposta. “Tem certeza? Parece deprimido :/” por um instante Bill se questionou o porque de a garota estar tão interessada no bem estar dele, mas esse era um bom modo de aproximar-se da tal garota pelo qual seu irmão havia se interessado tanto.  
                 “Não, estou bem. E vc? E a propósito, meu nome é Bill” ele respondeu na bolinha e jogou de volta “Tá, eu acredito. Mas estou bem :) Meu nome é Cassandra, e uma curiosidade: vs está apaixonado pela Anna não é?” ela jogou de volta com sua caligrafia impecavelmente perfeita “Prazer em conhecê-la, mas não! Eu não estou apaixonado por ela, ela é só minha melhor amiga” Bill jogou a bolinha de volta e o professor de matemática fez uma cara meio séria, fazendo com que Cassandra escondesse a bolinha dentro do estojo antes de devolve-la “Sei que vs ama ela mais do que amiga. Vi o jeito que vs olha pra ela e que se encaixa em cada curva do corpo dela enquanto ela ta sentada no seu colo. Ps.: Não responda se não o psor vai pegar ;] E prazer em conhecê-lo :]”.
                   Assim Bill a olhou com uma cara completamente inconformada. Será que era tão obvio que ele estava apaixonado e que amava sentir o cheiro de seu Amour by Kenzo, que ele amava aquele cheiro adocicado entrando por suas narinas enquanto ele se perdia em seus devaneios? Das duas uma: ou ele deixava muito explicito seu amor por sua melhor amiga ou Cassandra era muito boa com deduções.
                    Assim ele quase adormeceu enquanto as aulas corriam e mesmo que Cassandra tivesse orbes oculares verdes perfeitas, não era suficiente para mantê-lo acordado e agitado, diferentemente de Tom que quem o observava tinha a impressão de que ele estava com insetos dentro das largas calças.
                    O Kaulitz de dreads estava agitado na carteira do fundo da sala torcendo e rezando com todas as suas forças para que o irmão mais novo tivesse ido falar com a garota que estava ocupando sua cabeça mais do que os inúteis escritores do Classicismo alemão e inglês. Ele detestava literatura e neste momento havia uma garota que não o deixava prestar atenção nesta aula que ele considerava tão sem sentido. Mexia os dedos freneticamente, imitando na mesa, os movimentos que se faz quando se está tocando uma guitarra. Não conseguia parar de pensar nela, não conseguia parar de pensar na garota de mechas coloridas e óculos de aviador.