Modus Operandi: Dias Negros de Ocultgard escrita por Nemo, WSU


Capítulo 12
Histórias


Notas iniciais do capítulo

O capitulo de hoje promete muitas emoções.



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Depois da guerra, meu povo antes guerreiro se acomodou, seus corações perderam a fúria de serem Jardyanos, e os bravos soldados que sacrificaram suas vidas foram completamente esquecidos, mas nós nunca esqueceremos nosso pai, embora eu tenha tentado…” — Bravell.”

 

589, Jarnyan

 

— Pai, o senhor não vai, para a guerra vai? — questionou o garoto moreno, Bravell.

— Fui requisitado para compor a cavalaria, — falou o homem se agachando e passando a mão na cabeça do filho. — Seu velho sabe se cuidar.

— Quem vai cuidar de nós? — questionou Anazak surgindo ao lado do irmão.

— Seu tio Fausto, mas não se preocupem, comigo lá, ela não vai durar muito! — disse o homem em animação.

— Porque vai fazer isso pai? — Foi a pergunta copiosa de Bravell, estava com medo.

— Por nosso povo, por vocês. — disse ele de forma amorosa. — Vocês dois são as coisas mais preciosas para mim e eu vou protegê-los, afinal não é isso que os pais fazem?

— Sempre amarei vocês. — puxou os dois para um caloroso abraço.

 

 

 

Tempo presente, Lyon

 

O pôr do sol se iniciava no tranquilo vilarejo de Lyon, uma grande ravina verdejante situava os casebres humildes dos lenhadores, agricultores e daqueles cujo o sustento era tirado da natureza. Nos limites dessa ravina ao norte, leste e oeste havia uma mata densa, cuja a periculosidade e os diversos incidentes, faziam dela um lugar a ser temido.

Ao sul, o rio perpassava ora ruidoso pelas corredeiras, ou silencioso nos pontos de assoreamento, onde se tornava largo e a concentração de areia aumentava. Na copa de uma árvore, um caminhante observava, ainda que não gostasse tanto da natureza, ir a lugares altos, onde a brisa soprava forte elucidava sua mente.

Antes imaginava que a humanidade tinha aprendido com a última guerra, as perdas foram arrasadoras, mas a verdade é que não aprendemos, nossa tão sonhada paz é mantida por um caçador solitário nas sombras. Enquanto alguns riem e vivem felizes, pessoas são mortas… e seu assassino é obrigado a isso. É doentio.

Agora quem está certo? Alayhin ou Guardyhan? Liberdade ou segurança? Eu sou um caminhante, droga, eu deveria saber a resposta desde o princípio… mas, por que estou com tantas dúvidas? Por que cada vez mais, esse maldito trabalho parece não valer mais a pena?

Ele suspira e chacoalha a cabeça em negativa, por fim encontrando seu verdadeiro objetivo ali:

Mas ainda assim, vou continuar nele. Para proteger e cuidar da única pessoa que me deu uma casa, quando eu não tinha nada… Gadamer, você é meu pai de coração. Seu olhar acompanhou o pôr do sol, memórias dolorosas surgiam.

 

 

 

Anos atrás

 

O assustado Kay continuou a correr, lágrimas e suor se confundiam numa mistura salgada enquanto o rio estava cada vez mais próximo, agora estava sozinho na estrada da vida. Sentiu uma pontada na mão, algo se cravou ali, e começou a ferver o local, ele só pode saltar por cima de uma moita, mas seu pé acabou preso o conduzindo a um tombo.

Ao abrir os olhos, estava diante de três homens, cada um com uma capa diferente, a tríade das ordens se reunia para conversar, partilhar informações e dividir uma refeição em comum.

— O que está acontecendo aqui? — indagou o Inter-reinos com sua capa verde escura.

— Parece que tem gente perseguindo o garoto. — observou o Guardião sacando sua espada. O caminhante rumou para Kay, analisando-o mais de perto:

— Ele foi alvejado na mão, flecha envenenada? — disse ele notando o aspecto anormal da ferida, sentiu o odor e imediatamente constatou — É da Crucyatus…

O guardião lançou a espada para o caminhante, que ao apanhar, ergueu a espada e desceu sobre o braço do rapaz.

 

 

Tempo Presente

 

Kay, fitou seu braço direito por alguns instantes, coberto constantemente por uma luva negra, seguida pelo resto da vestimenta. Por fim decidiu descer, e se reencontrar com os outros, Hadyle tinha algo a dizer a eles.

Após um banho e uma refeição nem tão saborosa, eles se reuniram a mesa de seu quarto.

— Por falta de oportunidade, não relatei algo a vocês.

— É sobre a fórmula? — questionou Gadamer. Ela fez que sim e passou as anotações para eles.

— Estive pensando nos componentes, como eles se interligam e me dei conta de uma possibilidade. Talvez a fórmula da alma… tenha haver com a alma.

— Então você acha que o fator de fracasso… é a personalidade? — questionou Kay incrédulo.

— Acho que seja tudo. — Ela vai foleando os papéis — Para fórmula funcionar, ela precisa de certos componentes.

— O sangue do Draghard é a base, suas células deveriam absolver e modificar as outras, ampliando tudo, infelizmente ninguém sobreviveu a uma transfusão pura em grande quantidade que seria o necessário para uma mudança efetiva.

— E em pequena? — questionou Gadamer.

— Depende muito da pessoa, em alguns casos ele mata quem está fraco… e em outros, ele restaura e cura, mas não é de forma imediata, leva tempo… e pode haver rejeição.

— Essas informações e termos que você usa… eu nunca ouvi nenhum, nem mesmo no ramo da medicina. — falou Kay confuso.

— Esses conhecimentos são de Midgard ou Terra, a medicina e a ciência são muito superiores à nossa. Guardyhan, esperava poder introduzi-los aos poucos, para melhorar a qualidade das pessoas. Tudo isso veio do Draghard.

Infelizmente descobri isso, após a morte da minha irmã. Ela pensou cabisbaixa.

— Por que ocorre rejeição? — Foi a pergunta de Kay.

— Embora a maioria das células se empenhem na cura, o sangue dos Valkgards é especialmente mais forte do que de um humano comum, não sendo adequado para um corpo mais fraco. — Ela cruza os dedos com um olhar paciente — Por natureza é incompatível, mas as células se esforçam para se assimilar ou tornar o organismo parecido consigo… se houvesse alguém que partilhasse de uma genética semelhante como um irmão, talvez a assimilação fosse total.

Essa garota é muito inteligente. Mais do que eu presumia. Pensou Kay, espantado.

— Como podem ver, a mistura pura é quase letal, matou os roedores que serviram de cobaias. Então meu pai adicionou a seiva da Árvore Imortal, para que com suas propriedades, auxiliasse no grau de aceitação. Mas não foi o bastante…

— Para acelerar a cura e conferir o espírito de um guerreiro, o sangue de dragão foi adicionado. Infelizmente, esses materiais não pareciam querer se sincronizar, e nem se ativar mutuamente… até que encontraram o quarto ingrediente.

— Uma pedra da alma. — emendou Gadamer — É legendário.

— O que é isso? — questionou Kay confuso.

— Era apenas uma lenda antiga, algo que surgia de tempos em tempos, e tinha o poder de conceder algo aquele que a portasse, poderia ser benéfico ou… maléfico.

Gadamer continuaria, mas foi interrompido por Hadyle:

— Duas pedras foram encontradas, uma delas consumiu o Guardião que a tocou. A outra foi para as mãos de Guardyhan, ele retirou lascas introduzindo na fórmula, acreditava que estabilizaria tudo e ativaria.

Ela se levantou e indo até sua mochila:

— Ele estava certo, mas não totalmente… nos roedores deu tudo certo, mas nos humanos houve quatro efeitos, e tenho uma teoria sobre isso. — Ela colocou uma luva branca e mergulhou dentro da mochila retirando um curioso objeto — A chave é a alma!

Uma pedra perolada reluzia em suas mãos, imitindo múltiplas cores, de formas diversas e em ritmos suaves. Isso era a Pedra da Alma, era hipnotizante e o desejo de tocá-la era naturalmente tentador.

— A fórmula assim como a alma, é algo vivo, você não escolhe o resultado, ela escolhe você. Ela observa o fundo do seu ser, o que você foi e fez… o resultado pode ser digno… ou não.

— Mas como determinar? E se isso acontece qual é a sua explicação dos resultados? — questionou Gadamer, coçando a cabeça.

— Eu estudei a vida dos voluntários, suas mentes… seus jeitos. O primeiro, era Skyner, ele era um sujeito sem grandes perspectivas de vida, sua fé no projeto não era forte, tinha medo, mais do que qualquer outro… sua determinação falhou, como ele também. — Ela para se sentando na cadeira — Aquele que ficou insano, queria o poder meramente para matar os inimigos da ordem, sem algo nobre, se tornou um bestial Berseker… — Ia dar mais detalhes sobre o que sabia disso, afinal não tinha sido por mero acaso que Skyner tinha se tornado aquilo, mas Kay a interrompeu indagando:

— E a guardiã?

— Adrya… era uma boa pessoa… queria o poder para fazer jus a uma verdadeira Guardiã, proteger os que não podiam… pois ela não pode fazer o mesmo por sua família, e detestava a ideia de que outros sentissem o que ela sentiu. — Hadyle colocou a mão direita sobe os olhos, na tentativa de não chorar.

Depois de um tempo devolveu o objeto de volta na bolsa, apanhando uma caixa, destampando-a e exibindo três fracos:

— Por fim Kardiff, perdi a conta de quantas vezes, implorei a Guardyhan, para encontrar outro voluntário… ele era egoísta, tal qual um dragão, só queria saber de crescer e enriquecer às custas da organização.

— A determinada se tornou excelente, e o egoísta se tornou pior. — Foi a conclusão de Kay — Essa fórmula amplia tudo, como você disse… e cria algo a imagem do Valkgard original.

— Perfeito exemplo — Ela diz orgulhosa.

— O que mais tem na sua bolsa? — questionou Gadamer curioso. Ela removeu dois saquinhos, ambos amarrados, mas um menor que o outro.

— Isso são a base de uma substância altamente explosiva… pólvora, se formos emboscados posso usar o primeiro para criar uma nuvem de fumaça… já o segundo só será usado se não tivermos mais o que fazer.

 

 

 

Jarnyan 589, três meses depois

 

— Entendido, obrigado mesmo assim. — disse o tio para o emissário do exército, sua voz saiu engasgada, abaixou a cabeça ao dizer a última palavra fechando a porta pesaroso.

— Bravell e Anazak… tenho algo para contar a vocês…

Os dois jovens vieram animados, estavam no quintal brincando.

— Sim, tio? — questionou Anazak, não percebendo o que se passava ali.

— O seu pai vai continuar combatendo por mais um tempo, ele não voltará tão cedo. — disse Fausto, tinha agora um semblante alegre. As crianças se animaram pela notícia e logo voltaram a brincar.

O pobre rapaz, caiu de costas ali mesmo no batente da porta e chorou: Me desculpem crianças, o pai de vocês foi emboscado enquanto dormia a dois meses atrás. Ele não vai mais voltar para casa, mas… ainda pode ser um herói para vocês.

 

 

 

Tempo Presente, de manhã

 

Perdemos a hora, mas não posso contra argumentar, faz tempo que não sei o que é uma cama de verdade. Pensou Gadamer, de pé observando Hadyle e Kay dormindo, cada qual em sua cama. Todos esses anos, e você continua com essa mesma cara de bobão enquanto dorme.

Esses dois são fortes e tem muito em comum, ambos viram o inferno e perderam seu chão, mas aqui estão eles… achando um jeito de sobreviver, quem sabe um dia… nós possamos rir de tudo isso. Calculou ele, procurando se lembrar dos bons momentos que passaram juntos.

 

 

 

Alguns anos atrás

 

— Precisa colocar mais força nisso! — instruiu Gadamer para seu aluno, que fazia abdominais com apenas uma mão, a outra estava dobrada nas costas, ofegava e seus músculos tremiam no esforço de completar mais um movimento.

— Se quiser ser um Caminhante e fazer justiça de verdade, vai ter que se esforçar muito mais. — disse o mestre de braços cruzados. Kay sabia que não conseguiria completar vinte abdominais, sempre foi seu limite, ao perceber que esse pensamento vinha lhe ocorrendo, Gadamer, cerrou os punhos gritando de forma imperiosa:

— Viva!

O rapaz sentiu seus sentimentos aflorarem, e com essa súbita explosão ele conseguiu completar seu vigésimo primeiro movimento, chorando ao se lembrar da irmã com um sorriso no rosto:

Você consegue meu baixinho”

Kay se manteve erguido por mais alguns segundos antes de começar a ceder, mas Gadamer o segurou pela camisa dizendo:

— Te peguei!

 

 

 

A noite naquele mesmo ambiente

 

Os dois estavam juntos a frente de uma fogueira, as brasas iluminavam mestre e aprendiz, os peixes assando enchiam o ambiente com o saboroso odor, enquanto eles contemplavam as estrelas.

— O senhor tem um sonho? — perguntou Kay olhando seus olhos castanhos e envelhecidos.

— Antigamente, eu sonhava com a possibilidade de um mundo mais pacífico, sem guerras ou conflitos grandiosos, hoje isso é quase uma realidade. Mas tem algo que eu sonho sim.

— O que é? — questionou Kay, preenchido por curiosidade.

— Ver você realizar seu sonho! Nada me faria mais feliz, claro… se eu ficasse rico… — murmurou Gadamer pensativo, recebendo uma leve ombreada de Kay, os dois riram e ele continuou, desta vez olhando para os assados:

— Mas por hora, vamos atacar! — estendeu a mão pegando dois peixes pelos palitos, e estendendo-o a Kay. — Vamos, coma.

 

 

 

Tempo Presente

 

Ele sorriu satisfeito, mas a satisfação deu lugar a preocupação: Será que Ashak e Hadack, estão bem? Por fim concluiu que isso não era relevante para o cenário atual, chamou por Hadyle, enquanto desferiu um safanão em Kay.

— AÍ.

 

Após arrumarem suas coisas, e partilharem – às pressas – uma refeição até boa, o grupo retornou sua jornada, desta vez sairiam da vila, até se defrontarem, com pessoas feitas de reféns por homens armados e um casal atípico:Um homem bem-vestido e outro com uma armadura negra de dois metros ao seu lado.

— Afinal, encontrei vocês. — disse Anazak, ou como ele gostava de se chamar: Negativo.


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Notas finais do capítulo

A parada ficou séria não acham?



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