Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato
Notas iniciais do capítulo
Música do Capítulo: Lollipop - The Chordettes
Elizabeth Cooper
Oh lolli lolli lolli, lollipop, lollipop ♪ ♫ ...
Comprimi o travesseiro contra a cabeça cada com mais força, enquanto o celular continuava tocando.
Oh lolli lolli lolli, lollipop, lollipop ♪ ♫ ...
Minha cabeça pulsava sem complacência ou piedade do meu estado catatônico.
Oh lolli lolli lolli, lollipop, lollipop ♪ ♫ ...
Reuni a única energia restante do meu corpo para levantar da cama e procurar o celular que havia arremessado para longe quando começou a tocar.
— Alô – bocejei atendendo sem nem mesmo conferir de quem se tratava.
— B! Está tudo bem? Que droga eu estou te ligando já faz mais de meia hora – Verônica gritava aflita – Onde é que você está?
Olhei ao redor para conferir se realmente estava no meu quarto, sem me recordar com clareza sobre como havia parado ali.
— Eu estou no meu quarto V – ela riu.
— Ok, mas talvez fosse melhor que estivesse na escola, gracinha – me virei imediatamente para o relógio despertador ao lado da cama, já era quase uma da tarde – Seu pai já chegou?
— Não...– sussurrei colocando a mão na cabeça que latejava intensamente – Merda... acho que estou de ressaca.
Ela riu e ouvi ao fundo Archie perguntando sobre como eu estava.
— Tome um banho, beba água e tente comer alguma coisa, vou ao Pop’s depois da aula resolver alguns últimos preparativos do Inferninho e à noite tento passar na sua casa – ouvi o sinal tocar.
— Não precisa V, eu estou bem – tentei mentir.
Assim que ela desligou segui suas orientações, tomei um banho acalentador, como se eu estivesse lavando minha própria alma; tomei quatro copos de água e um analgésico, parecia que havia acabado de chegar do deserto e aquele líquido incolor atiçava meu paladar como se fosse minha bebida preferida agora. Tentei comer um sanduíche natural de frango, sem apetite, jogando-o fora após a primeira mordida. Assim que fechei o lixo ouvi o som estridente de uma moto passando em frente à casa, verifiquei por detrás das cortinas da janela da sala.
Jughead caminhava lentamente até a escada da entrada com as mãos nos bolsos da jaqueta, sua respiração emanava fumaça devido ao tempo nublado e com leve chuva. O que ele estaria fazendo aqui? Um amontoado de memórias confusas passava pela minha cabeça como em um flashback, me lembrei vagamente de ter tomado várias doses coloridas de coragem.
A imagem de virar copos se repetia incessantemente, explicando a enxaqueca. Me lembrei de ter pedido Sweet Pea para me ajudar a escolher uma música “sexy?”. Me sentei no braço do sofá transtornada enquanto fitava o chão, me recordei de subir em um palco encarando uma multidão de serpentes, homens e garotos que me engoliam cruelmente com o olhar enquanto eu deixava meu vestido deslizar pelo corpo até tocar o chão. E depois? Me forcei a evocar as lembranças da noite anterior, meus olhos estavam arregalados.
Jughead! O ouvi batendo a porta. Ele havia me puxado do palco furioso me cobrindo com a própria jaqueta, fomos para um armazém isolado onde me vesti e o beijei, ou não – ele bateu à porta de novo. Eu era uma serpente agora? Ele estava aqui para me dar a notícia e me entregar a jaqueta?, pensei desesperadamente tentando organizar as informações que tinha. Verônica havia me perguntado no telefonema onde eu estava, conclui. Como vim para casa? Jughead bateu à porta novamente. Decidi o atender e fingir confiança, como se lembrasse de tudo o que havia acontecido.
— Jughead – abri a porta, ele se virou para mim lentamente.
— Oi
— Oi – repeti, e ele levantou as sobrancelhas com um leve sorriso, eu provavelmente estava horrível.
— Você está péssima, sabia? – concordei com a cabeça sem saber ao certo o que dizer.
Ele encostou o ombro no batente da porta ainda com as mãos no bolso me encarando sério, esperando que eu dissesse algo ou o deixasse entrar, mas ficamos em silêncio por quase meio minuto. Parecia uma eternidade quando finalmente ele irrompeu o silêncio.
— E então? – ele continuava me encarando e eu fiquei afita, não sabia se deveria perguntar o motivo pelo qual ele estava ali.
— E então? – eu repeti e ele sorriu de canto.
— Elizabeth, você se lembra como chegou em casa? – coloquei a mão sobre o rosto decepcionada, minha farsa não funcionaria nem em um milhão de anos – Imaginei que não. Seu pai já voltou?
— Como sabe qu– me dei conta de que ele havia me deixado em casa percebendo a ausência de Hal – Ah... entra.
Jughead entrou devagar e depois o percebi reparando em minhas roupas me olhando de baixo para cima, desviando o olhar quando percebeu que eu o observava também. Eu estava usando uma calça moletom escura com meias cinzas, uma camisa branca e os cabelos presos em um coque onde os fios rebeldes pendiam sobre meu rosto. Ele se sentou no sofá retirando a touca e eu me sentei ao seu lado em uma distância segura.
— Eu vim ver como você estava, sabe, depois de ontem – pigarreou.
— Jughead, ontem nós – apontei para mim e depois para ele – nós fizemos alguma coisa?
Ele sorriu malicioso.
— Não, por mais que você implorasse pelo meu corpo eu só te mandei trocar de roupas e quando você dormiu eu fui embora – levantou as mãos sorrindo – fica tranquila, não vi nada. Mas você me pediu que ficasse até que pegasse no sono, e eu fiquei.
Suspirei aliviada revirando os olhos sobre sua pequena arrogância, ele tinha sido um cavalheiro.
— Bom – dei de ombros – como posso te recompensar? – ele se aproximou devagar com a expressão séria.
— Eu acho que – alternava o olhar entre meus olhos e meus lábios, os mordi ansiosa.
— O que? – senti sua respiração quente em meu rosto quando ele se aproximava e fechei os olhos esperando.
— Acho que devo ir Elizabeth – ele afastou-se bruscamente e eu abri os olhos confusa vendo-o se levantar – Eu só vim verificar se estava tudo bem com você.
Me levantei também sem compreender o que havia acontecido.
— Eu não dormi nada, preciso descansar um pouco - ele caminhou até a porta segurando a maçaneta um pouco tenso.
— A sua moto está com problemas na corrente – disse atônita me indagando em seguida o motivo pelo qual tinha o impedido de ir – eu ouvi o estalado quando você chegou, posso dar uma olhada para você se quiser. Assim nós ficamos quites...
Ele se virou para mim surpreso colocando sua touca sob os cabelos.
— Conhece isso?
◙ ○ ◙ ○ ◙
Puxei um banco para me sentar próximo à moto agora dentro da garagem, ele se aproximou desconfiado encarando a corrente assim como eu.
— Veja aqui – puxei – ela está folgada demais, isso é normal devido ao uso, mas quando afrouxa demais faz um ruído como se estivesse sendo mastigada. Pode pegar a chave de boca número onze? – apontei para a parede onde haviam inúmeras ferramentas penduradas.
— Você me surpreende de várias formas Elizabeth – me entregou a chave – nunca imaginaria que você conhecesse sobre essas coisas.
— Eu e meu pai costumamos consertar carros velhos juntos, motos são diferentes, mas é praticamente a mesma linha de funcionamento...
Afrouxei o parafuso e puxei a corrente para o eixo certo até que se encaixasse. Apertei o parafuso novamente e pude sentir Jughead atrás de mim avaliando o que eu fazia. Quando o silêncio ficou constrangedor decidi mostrar conhecimento sobre o que estava fazendo.
— A manutenção da corrente é muito importante para a segurança do piloto, se ela se soltar em alta velocidade pode até causar um acidente – disse girando a roda suspensa.
— Então você se preocupa com a minha segurança? – ele sorriu irônico.
— Bom, você se preocupou com a minha segurança ontem à noite – me levantei limpando as mãos sujas de graxa no pano, ele deu de ombros.
Já estava anoitecendo e a luz fraca da garagem realçava seus olhos verdes e provavelmente os meus também. Jughead emanava uma onda de calor de seu corpo, como se fosse o próprio Sol, ele me fitava sério e apreensivo, deixando de lado a personalidade confiante e zombeteira que eu conhecia melhor. Me lembrei do meu pedido para entrar na gangue e de minha iniciação interrompida por ele na noite anterior.
— Eu queria esclarecer algumas coisas – me aproximei colocando a ferramenta na mesa, ele arqueou as sobrancelhas aguardando minha fala, ainda sério – eu fiz a iniciação, sou uma serpente agora?
Ele suspirou desviando o olhar decepcionado se encostando sob a mesa apreensivo.
— Isso foi um erro Elizabeth – ele disse rouco – quando é que vai desistir disso? - dei mais um passo em sua direção me aproximando tentando compreender sua expressão.
— O que mais eu tenho que fazer para te provar? – retruquei com voz baixa, pouco confiante sobre o que diria – sou plenamente capaz de me cuidar, mas não acho que o problema seja esse.
— É? E qual é o problema? - ele também deu um passo em minha direção deixando pouco espaço entre nós.
Agora, mais próximo da luz podia ver a tensão em volta de seu olhar, ele parecia tão inseguro e ameaçado quanto eu.
— Eu tenho a teoria de que você é, de alguma forma, apaixonado por mim e quer me defender de algo que não te diz respeito – esperei que ele gargalhasse zombando de mim, mas ele permaneceu sério me encarando por alguns segundos.
— Se depender de mim você não vai se arriscar dessa maneira – ele não me olhava nos olhos mais – eu te ajudo a encontrar sua mãe, mas você não precisa fazer isso.
—Jughead - eu senti compaixão em suas palavras enquanto ele parecia perdido em meus olhos.
— Aliás você nem terminou sua iniciação - ele disse sorrindo se afastando imediatamente.
Jughead desviou-se de mim caminhando até a moto descendo a roda traseira novamente sobre o chão, irrompendo cruelmente com o clima tênue que havia se formado entre nós. Talvez ele não quisesse deixar transparecer seu lado amigável por temer alguma coisa, ou simplesmente por temer a mim, afastei a ideia por ser egocêntrica demais. Ele subiu na moto dando a partida me olhando enquanto colocava o capacete.
— Você não respondeu nada do que perguntei.
— Obrigado por apertar a corrente da moto – ele piscou para mim antes de arrancar a moto e sair com ela da garagem.
Que filho da mãe, pensei ouvindo a campainha tocar. Fui até a sala para atender assim que abaixei o portão da garagem.
— O que Jughead Jones estava fazendo aqui? – Veronica perguntou sorrindo e olhando para trás.
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