Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: King Princess - 1950



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Jughead Jones

Suas mãos soltaram-se das minhas quase que instantaneamente. Seu olhar se tornou vago e antes que eu pudesse explicar ela recuou até se sentar na beirada da cama. Eu sabia a merda que tinha feito, só não sabia sua dimensão e de que forma Elizabeth havia se ofendido. Quando ela se localizou novamente sua atenção voltou-se a mim e do contrário que imaginei sua expressão de espanto se tornou aos poucos uma gargalhada rápida. Eu permaneci sério e agora estava confuso com aquilo. Ela levou a mão ao rosto ainda sorrindo.

— Eu achei que não pudesse me surpreender com mais nada Jug. – ela pareceu tomar ar depois de gargalhar e levou a perna para baixo do corpo de forma que ficasse mais confortável.

Entendi que tudo estava bem e então me sentei ao seu lado, mesmo sem um convite para isso. Ela continuou:

— Como pode fazer uma piada assim e continuar tão sério? – apesar do sorriso leve sua expressão parecia carregada de dor.

Meus olhos se arregalaram por um momento.

— Não foi brincadeira Liz, você é uma heroína agora.

Ela engoliu em seco e pareceu pensar fitando a janela. Só então pude perceber o som da chuva. Estava tão concentrado nela que nem percebi que tinha começado a chover. Um relâmpago caiu acompanhado em seguida pelo trovão.

— Eu realmente não entendo. Não fiz nada demais.

— Você fez muito mais do que imagina, isso com certeza. Não é uma obrigação que aceite. Só achei que se te contasse agora você se sentiria melhor.

Ela deu um sorriso triste e me olhou ternamente. Finalmente meu coração se aqueceu.

— Ao menos você me fez rir. 

Concordei com a cabeça.

No silêncio que se seguiu eu pensei em mil coisas para falar e cada uma delas envolvia assuntos delicados como o que aconteceria ao seu pai, como encontraríamos sua mãe e o pior deles seria como ficaria ela agora. Por morar no lado Sul eu sabia que ela não poderia ficar sozinha tendo 17 anos sem um tutor maior de idade, sabia disso principalmente pela gangue cuja grande parte dos nossos eram órfãos que tinham seus pais presos ou fugitivos.

Em poucos meses Elizabeth era praticamente igual a nós, completamente o contrário do que eu a julgava ser. Ao mesmo passo ela ainda era ela mesma a julgar pela regata rosa e a calça moletom de unicórnio. Só faltava uma coisa para Elizabeth ser uma serpente completa agora e o assunto pareceu ser o mais comum possível.

— Liz. – chamei e ela se dispôs imediatamente.

— Hum?

— Já pensou sobre sua tatuagem?

Ela pareceu não entender e então continuei.

— Bom, nos serpentes todos temos uma. Já deve ter reparado a de Sweet Pea, – com o indicador toquei a lateral do pescoço – que é bem aparente. A de Toni é nas costas, perto do ombro e... – tirei minha jaqueta erguendo a manga da camisa – A maioria gosta de tatuá-la no braço.

Com as pontas dos dedos Elizabeth tocou a serpente percorrendo seu caminho sinuoso até a outra ponta. Reparei em seu rosto, ela parecia entretida.

— Seus dedos estão gelados. - ri.

Ela tirou a mão e sorriu também.

— Na verdade você é que sempre está aquecido. 

Dei de ombros baixando a manga da camisa que cobriu a tatuagem parcialmente.

— Deve ser meu único dom nessa vida medíocre.

— Onde mais vocês se tatuam?

Precisei pensar.

— Hm, no pulso, antebraço, costela... – pensei em Tall Boy que poderia ter que refazer a tatuagem depois do tiro que levou essa noite – no peito, am... no tornozelo – nada mais me veio então me lembrei de um membro que havia tatuado em um lugar peculiar e não consegui deixar de rir.

— Onde mais? – ela sorriu entendendo a situação.

— Teve um que tatuou uma das nádegas, não que eu tenha visto, só que foi uma coisa que circulou muito rápido na época.

Ela riu mais uma vez e meu coração se encheu.

— Eu vou querer saber quem é?

— Ele morreu tem uns anos, você não conhece... – disse da maneira mais natural possível.

— Ah... – respondeu com pesar - Fangs me disse que alguns serpentes foram baleados...

A cortei.

— Nada sério, a maioria foi para o White Wyrm fazer os curativos por lá. – Elizabeth fez uma cara de espanto – Não sou só eu que odeio hospitais e não é a primeira vez que alguns levam tiros. Tall Boy por exemplo já tinha levado dois tiros na vida. – tentei amenizar a situação. Não queria que ela ficasse mal de novo.

Ela assentiu e o silencio se seguiu novamente. Elizabeth bocejou espreguiçando-se. Era minha deixa para entender que já havia feito o meu papel. Segurei minha jaqueta sob o colo.

— Melhor eu ir agora. – percebi que a chuva também já tinha estiado.

— Não...- ela pôs a mão sob a minha e a retirou no mesmo momento que olhei para ela.

— Quer que eu fique? 

Elizabeth corou evitando me olhar nos olhos.

— Parece infantilidade eu não querer ficar sozinha agora? Essa casa parece assombrada. 

— Eu fico o tempo que você quiser. 

Ela concordou com a cabeça, mas ainda parecia constrangida.

— Posso ficar aqui no chão. Como te disse meu calor sobrenatural na verdade é um dom. – completei.

— Não sei como te agradecer Jug. 

(música)

Mesmo que eu achasse desnecessário Elizabeth havia insistido para tirarmos um colchão de um dos quartos vazios. Apenas uns edredons já eram de bom tamanho. Não precisou de muito tempo para que a chuva voltasse a cair novamente e mesmo que eu tentasse dormir algumas coisas não saiam de minha cabeça.

Ainda tínhamos o principal dos problemas a resolver e ele não poderia ser deixado de lado. Elizabeth tinha entrado para os serpentes semanas atrás com o objetivo de encontrar sua mãe e mesmo que eu tivesse tentado rejeitá-la, agora, ela era um dos membros mais importantes para a gangue. Fitei o teto de seu quarto e depois o papel de parede, meus olhos desceram até uma penteadeira onde várias fotos contornavam o espelho. Na cadeira em frente estava sua jaqueta serpente pendurada. 

Tentei reconhecer algum rosto nas fotos do espelho. De longe não conseguia enxergar tão bem e me concentrava em tentar distinguir qualquer um ali até que ela me assustou.

— Jug. – chamou erguendo-se na beirada da cama - Acho que tem espaço para nós dois aqui.

— Estou bem Liz, juro. – assegurei.

Só então sua expressão pareceu envergonhada. Talvez eu fosse idiota e reconhecer isso o tempo todo me dava a chance de concertar as coisas.

— Se você estiver com frio posso ficar aí com você. – seu rosto se iluminou de novo – Te dou minha palavra de que vou me comportar.

Ela sorriu.

— Sei que vai. – disse chegando para o outro lado.

◙ ○ ◙ ○ ◙

O corredor estava quente e cintilante pelo fogo que dançava no espaço apertado. Puxei a camisa até o rosto na tentativa inútil de não respirar aquele ar toxico que já estava por toda parte. Meus olhos lacrimejavam e ardia com a fumaça densa, mesmo assim me esforcei para ver mais longe. Um corpo pequeno se encolhia no final daquele labirinto de chamas. Eu nem imaginava como, só sabia que era ela. Assim que gritei seu nome seus olhos verdes encontraram os meus e ela parecia tão aflita quanto eu. Instintivamente corri em sua direção, porém um corpo franzino se colocou em minha frente. O homem usava um uniforme de Xerife e assim que tentei ver seu rosto percebi que não possuía feições, era apenas um borrão. Em sua mão esquerda ele levantou uma arma engatilhando-a para mim. Me desesperei em saber que precisava tirar Elizabeth dali e aquela figura só me atrasava. De nada me importava o que ele poderia fazer comigo. A figura pareceu perceber que não me afetava e se virou para Elizabeth disparando a arma antes que eu pudesse ter qualquer reação.  

Meu coração saltou me despertando do pesadelo. Olhei imediatamente para Elizabeth que dormia serena em meu peito. Acariciei sua bochecha com as costas dos dedos quase que minimamente. Não queria acordá-la agora. Não entendia porque ainda tinha sonhos assim se minha preocupação com sua segurança já tinha passado, ela estava bem nos meus braços! Poderia não ser o lugar mais seguro do mundo, mas eu me certificaria que se tornasse...

Olhei pela janela e já era dia. A chuva continuava a cair, mas agora estava mais serena. A verifiquei em meus braços mais uma vez. Eu queria aproveitar aquele momento ao máximo, porém encarei o visor do celular e Verônica me avisava que estava indo para a casa da Liz, sem saber que eu ainda estava lá. Tentei me movimentar o menos possível para sair da cama sem que a acordasse e deu certo. Vesti a jaqueta e me preparei para sair do quarto quando o celular vibrou mais uma vez.

“meu motorista está indo deixar umas roupas no trailer p vc

são só emprestadas, por isso não faça nenhuma loucura!!!”

“essa é a grife do ano passado e foi a única coisa que achei que serviria nesse seu corpo franzino  ;)”

Revirei os olhos. Eu iria responder que não precisava de nada que viesse dela apesar de não ter pensado em nada para vestir ainda quando ela mandou mais uma mensagem.

“ps: sua touca não é bem-vinda hoje.”

Poderia ser mal-educado e pirraçar a morena por me forçar a usar algo que não condizia com quem eu era. Pensei no que responder até que olhei para trás e vi Liz dormindo como um anjo. Sorri involuntariamente. Não poderia imaginar como ela estaria mais tarde e possivelmente eu deveria melhorar um pouco a aparência para fazer jus.

Voltei para o quarto e percebi um bloco rosa de anotações. Usei a minha melhor caligrafia para deixar uma mensagem para ela. Esperava que a encontrasse ao acordar, então dobrei o bilhete e deixei em cima do seu criado mudo ao lado da cama. Devagar dei um beijo no topo dos cabelos.

“Queria poder ter ficado até que acordasse, mas tenho que ficar apresentável para acompanhar você no baile. Hoje preciso te contar uma coisa que já não consigo esconder mais. Até mais tarde Liz...”

— Até mais tarde Liz. – repeti baixinho.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem :)
Quando Bughead sair vocês vão até enjoar de tão juntos que vão ficar!
Até daqui a pouco ♥