Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Arctic Monkeys - Do I Wanna Know



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Jughead Jones

 Desde que minha mãe saiu da cidade com Jellybean eu e meu pai nunca havíamos nos entendido tão bem quanto agora. Eu o acusava ceticamente de ser culpado por isso, até o dia em que ele fora convidado pela prefeita McCoy para assumir um cargo de Xerife da cidade.

Em um determinado momento, cada vez mais jovens consumiam Jingle Jangle em Riverdale e a contenção da droga se tornou estupidamente ineficaz. Era um acordo perfeito entre os dois. Meu pai teria um emprego, não se entregaria mais ao alcoolismo e teria um objetivo heroico. A prefeita retiraria a imagem manchada que a cidade havia ganhado com a circulação de drogas, puniria uma das gangues com a prisão e provavelmente seria reeleita daqui um tempo. Tudo nos conformes.

Não passava pela minha cabeça questionar esse acordo. Não até o dia de hoje.

Uma sirene ecoou atrás de mim e suspirei parando a moto. Ele até que havia demorado a me encontrar e eu estaria mais aliviado se ele estivesse mais ocupado trabalhando do que me seguindo.

A viatura para ao lado da minha moto e para minha surpresa meu pai não estava com o uniforme de Xerife, mas sim com a jaqueta dos serpentes. 

— Você já matou muitas aulas, não acha? – FP desce do carro tranquilamente correndo o olho ao redor.

Me sentei a beirada da moto com os braços cruzados frente ao peito. Nada do que eu dissesse adiantaria. Bastava esperar o sermão sem atrasá-lo. Meu pai continuou.

— Eu pensei que te dar uma folga seria bom. – pigarreou se recostando na lateral do carro e cruzando os braços como eu – Mas acho que já é o momento de conversarmos. – continuei fitando o campo que agora não passava de um borrão escuro. Entretanto ele me observava fixamente – Eu sei o quanto pode parecer injusto e egoísta, mas eu preciso que você fique seguro, independente do que isso custar. Eu já perdi sua mãe e Jellybean, não vou perder você também.

Voltei minha atenção a ele por fim. Suas palavras soavam intrigantes para qualquer sermão, na verdade ele é quem parecia estar se justificando ao invés de mim.

— O que você quer dizer com isso? – questionei confuso.

— Eu sei o quanto deve ter ficado com o orgulho ferido por sair da liderança, eu também acho que Nick seja um pé no saco, mas te tirar dela foi um plano meu. Eu sabia o que você faria e coloquei o teste para que fracassasse de propósito. – ele passou a mão pela barba – Eu sinto muito, mas não estava disposto a deixar que você corresse o risco.

— Que risco pai? – me endireitei.

Meu pai deu um sorriso torto que costumava dar depois de algumas bebidas. Ele nunca havia mentido bem, pelo contrário disso, eu é que não havia percebido a insatisfação dele em apresentar Nick como líder no dia em que brigamos. Nick não fora nomeado com orgulho assim como eu. Havia certa insegurança em suas palavras e eu estava mais concentrado no nome de Elizabeth circulando o White Wyrm do que em reparar o comportamento de FP.  

— Nós não capturamos nenhum Ghoulie até hoje, eles estão um passo à frente. Sempre! – ele chutou o chão levantando poeira - Nós sabemos apenas o que eles deixam passar de propósito. – sua voz se tornou dura – Mas eles sabem tudo sobre nós Jughead. Eu nunca poderia te manter na linha de frente assim.

— Desde de quando você sabe disso? – eu não conseguia formular nenhum pensamento concreto.

— Desde a última emboscada na floresta que você liderou... – ele arqueou as sobrancelhas – Eles estão se deixando ser capturados.

Balancei a cabeça em negativo.

— Isso não faz sentido. Porque apanhariam? Passariam pelos rituais serpentes para entrar na gangue? – meu rosto se contorcia com a confusão que ia se formando.

— É muito simples garoto. Enquanto estamos ocupados lidando com alguns membros, o tráfico acontece e vem crescendo cada vez mais. Nós capturamos pessoas com falsas informações. – ele coça a barba erguendo o cenho – Eu pareço correr em círculos sempre que busco alguma coisa e... demorei a perceber isso.

A tarde de hoje veio a minha memória no mesmo instante. Elizabeth havia encontrado o real esconderijo deles, ela sabia onde era e apenas ela poderia nos levar lá. Me opus imediatamente a ideia. Se meu pai estava arriscando a cabeça de Nick para me colocar em segurança ele não tinha intenção de solucionar o tráfico, ou se tivesse, seus planos não me incluiriam.

— E o que você pretende fazer pai? - decidi tirar a prova.

— Vou te mandar embora de Riverdale por um tempo. – meu coração vacilou uma batida – Já conversei com sua mãe, tem uma escola lá perto e...

— Você quer que eu suma como Alice Cooper??? – perguntei exasperado - Eu não vou fazer isso! Não sou um covarde como você, pelo contrário, vou até o final disso tudo!

Meu pai deu um passo à frente aturdido, seus olhos minavam raiva. Ele segurou as golas da minha jaqueta me segurando rente ao seu rosto.

— Preste atenção garoto! Alice Cooper não sumiu! Ela fugiu! – seu olhar passeava entre meus olhos e brilhavam como quando ele bebia – Se você for esperto vai me obedecer.

Ele solta me dando as costas e eu cambaleio de volta ao banco da moto. O observei entrar na viatura, o qual bateu a porta com força.

— Direto para casa. – sua voz soa rouca e ele não olha para mim – Amanhã eu resolvo com o diretor sua transferência em sigilo, eu não quero que ninguém saiba para onde você vai.

— Amanhã? - sussurrei estático observando a viatura andar em ré até alcançar a estrada.

Assim que ele arrancou eu subi na moto e o segui. Conforme eu desacelerava a moto meu pai também reduzia a velocidade da viatura, sempre me acompanhando pelo retrovisor. Eu queria mais tempo, precisava pensar sobre tudo o que ele havia me dito. Agora que sabia sobre Alice muita coisa mudava, mas se eu estivesse longe ninguém ajudaria ou protegeria Elizabeth como queria que fosse. Eu precisava de algo convincente que me mantivesse aqui.

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(música)

O motivo pelo qual meu pai queria me afastar de Riverdale era o tráfico da gangue dos Ghoulies, eles não nos deixavam nenhuma pista real e nós nunca estivemos próximos de comprometer sua gangue. Coincidentemente, neste mesmo dia Elizabeth havia encontrado o que seria possivelmente um estoque de drogas. Agora que haviam sido descobertos, deveriam estar neste exato momento, esvaziando ou transferindo as coisas para outro lugar. Tudo o que eu precisava era de uma troca de informações, Elizabeth me mostrava onde era o tal lugar e eu contava a ela o que havia descoberto sobre sua mãe.

Parecia tarde demais, agora que meu tempo em Riverdale estava contado. FP havia praticamente me escoltado até a escola e assim que avistei a faixa pendurada na entrada uma ideia me atingiu. Depois que a minha mãe fora embora, apelar pelo sentimentalismo havia dado certo em todas as situações, talvez nessa funcionasse também. Ou talvez falhasse miseravelmente, visto que, eu odiava bailes da escola e nunca havia participado de um.

“Baile Anual de Primavera”

O baile aconteceria no próximo final de semana, eu teria tempo o suficiente para desvendar tudo o que estava acontecendo, com o pretexto principal de ser minha última chance de ter a experiência de um baile.

— Pai. – sussurrei antes de entrarmos.

Ele se voltou para mim. Sua expressão parecia irredutível. Franzi o cenho engolindo em seco.

— Pode parecer idiotice, mas eu tenho uma última coisa para fazer em Riverdale. – ele me observava fixamente – Foi a primeira vez que convidei alguém para o baile, não queria dar o bolo. – cocei a nuca fingindo estar embaraçado.

— E quem é a felizarda? – Meu pai riu tirando o chapéu de Xerife – Se quer que eu acredite nisso...

Nenhuma garota vinha a minha mente já que ninguém na escola realmente havia chamado a minha atenção. Pensei em inventar algum nome, mas sob a pressão da sua atenção em mim com certeza falharia. Na verdade, existia alguém sim.

— Ah, e-eu não sei se... – ele ergueu as sobrancelhas com um maldito sorriso sarcástico no rosto – E-Elizabeth Cooper.

Ele pareceu desconfortável e desviou seu olhar do meu colocando o chapéu novamente.

— Tudo bem então. – se virou descendo a escadaria – Você tem até o baile garoto. – disse em alto e bom tom.

Suspirei aliviado.

— Hey! – ele parou no fim dela – Nada de se meter em confusões, não se esqueça que sou os olhos e ouvidos de Riverdale!

Alguns alunos que ainda entravam na escola começaram a rir. Sua ameaça não passava de um pai preocupado dando bronca em um filho adolescente, o amaldiçoei por isso com o olhar.

Uma Scrambler parou ao lado da viatura e eu desejei ardentemente que não fosse Elizabeth, apesar de ser impossível já que ela não sabia pilotar. Um engasgo com a moto parada denunciou a falta de experiência chamando a atenção do meu pai que disse algo ao piloto. Por favor não tire o capacete agora. Ele fez que não com a cabeça respondendo a algo, meu pai observou por um segundo, deu de ombros e entrou na viatura saindo do estacionamento.

Madeixas loiras caiam sobre a jaqueta de couro revelando um rosto doce e delicado. Elizabeth desceu da moto desajeita e eu tentei conter o sorriso, sem perceber que a estava admirando enquanto ela caminhava até a escadaria da escola.

— Fiquei sabendo que andou treinando. – Toni parou ao meu lado e eu a olhei de relance - Foi isso que te fez faltar às aulas? – revirei os olhos e ela continuou – Se for para dar uma surra em Nick eu apoio.

— O que? – sorri e o sinal tocou.

— Ontem ele pediu que Sweet Pea entregasse uma caixa no limite de Greendale, ele não quis me dizer do que se tratava, mas eu acho muito suspeito. – ela sussurrou enquanto atravessávamos a porta entrando no corredor.

— E onde ele está agora? – olhei ao meu redor percebendo que não estava com Fangs.

— Dormindo, passou a noite fazendo isso. – ela balançou a cabeça em negativo e a preocupação tomou seu rosto.

— Toni, porque ele faria isso sem questionar? Quer dizer, Sweet Pea é um idiota, mas isso é claramente suspeito. – me lembrei que ele havia desmarcado de encontrar com Elizabeth.

— Quem é um idiota? – a voz de Elizabeth soa doce atrás de mim, me voltei a ela.

— É o que estamos tentando descobrir, quem é idiota o suficiente para não vir ao baile. – Toni se virou para mim com ar de deboche e eu mordi o lábio, não queria fazer isso na frente dela, mas Elizabeth precisava saber que viria comigo.

— Eu devo ser idiota então. – ela sorriu – Não estou no menor clima de baile... e vocês?

— A gente não costuma participar... – Toni disse confusa tentando compreender minha expressão – Mas, talvez, seja uma boa vir esse ano...? – ela arqueou as sobrancelhas e eu suspirei.

— Vocês não ouviram o sinal?! – Mr. Weatherbee caminhava a passos largos em nossa direção - Já para a sala!

Assentimos, e nos dividimos seguindo para as respectivas aulas. Seria sorte não ter Sweet Pea no caminho hoje? Me sentei ao lado de Elizabeth ainda tenso com a conversa anterior, Fangs me olhou por cima do ombro confuso e eu o cumprimentei com um aceno de cabeça.

— Esse é o lugar do Sweet Pea. – Elizabeth questionou aflita.

— Tudo bem, ele não vem hoje. 

— Sim, mas Fangs está aqui. – o apontou com a cabeça.

Bufei revirando os olhos.

— É difícil entender que quero sentar com você hoje? 

— Eu não sei lidar com suas mudanças de humor. – sua voz saiu rude.

— É bom acostumar. – disse baixo – Pois você vai ao baile comigo...

— O que?!

— Ei, silêncio vocês dois! – gritou o professor.  


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Notas finais do capítulo

Desculpem o sumiço :))



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