Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Hozier - Take Me To Church (cover)



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Elizabeth Cooper

(música)

Estar com Jughead era como segurar uma faca de dois gumes, sua presença trazia um ar tão pesado tanto quanto era leve estar com ele. Eu queria entender seus comportamentos contraditórios, mas também tentava organizar a contradição que existia em meus próprios sentimentos.

Ontem pela manhã sua ausência me causava náuseas de ansiedade e eu desejava confrontá-lo, questioná-lo e expor minhas opiniões negativas. Mas agora que ele segurava minha mão, tudo havia ficado para trás. Novas incertezas e questionamentos surgiam e eu apenas gostaria que ele se mantivesse lá por mim. Como um herói sem capa...

— Você parece ter torcido o tornozelo. – ele comenta me segurando firme pela mão, assim como havia feito no Pop’s.

— Eu tropecei em uma árvore e cai. – ele contorceu o rosto e fez menção em dizer algo, mas comprimiu os lábios apenas observando meu pé tocar o chão – Não está doendo tanto.

Assim que desço da moto ele me solta, deixando um vazio antes preenchido pelo calor de sua mão. Espio o assoalho da casa confirmando a ausência de Hal, de alguma forma isso me incomoda um pouco, já que ele tem estado sempre ausente de casa. Sinto Jughead suspirar atrás de mim e volto minha atenção a ele que desvia seu olhar imediatamente. Eu coloco as mãos nos bolsos da jaqueta me encostando na garupa da moto. Entendo que ambos queremos dizer algo, mas ninguém sabe o que e nem como.

Após um tempo encarando meu tornozelo Jughead se abaixa diante de mim e segura meu calcanhar com as duas mãos, contorço o rosto sentindo pequenas pontadas ali.

— Ai! – grunhi quando ele começou a girar meu pé lentamente.

— Tenta girar ele sozinha agora. – ele me olha ainda abaixado soltando meu pé.

Coloco as mãos ao meu redor me apoiando no banco de couro enquanto giro o pé devagar. Pequenos estalos ressoam até que o pé para de doer. O coloco no chão assim que me canso de girá-lo.

— Não parece ter uma luxação, mas acho melhor colocar gelo se inchar. – ele se levanta e agora está diante de mim novamente.

— Tudo bem. – concordo com a cabeça observando meu pé.

A deixa perfeita surge para que cada um se despeça e siga seu caminho, mas não sei como me despedir dele, uma vez que quero que ele fique.

Mil coisas deveriam estar passando pela minha cabeça, os questionamentos anteriores haviam sumido e eu não tinha desculpa alguma para continuar ali em sua frente. Qualquer coisa parecia patética demais para ser dita, mesmo assim penso em algo, com o simples objetivo de quebrar o silêncio.

— Você esteve sumido esses dias... – arrisco.

— Estava resolvendo umas pendências. – ele passa a mão pelos cabelos negros jogando-os para trás, mas algumas mechas caem novamente em seu rosto. De alguma forma isso me soa extremamente atraente. 

— Hum. – concordo como se soubesse do que se tratava.

Seu silêncio é doloroso, mas não quero me despedir ainda.

— Você ainda está bravo comigo?  

Seu rosto demonstra clara dúvida. Ele abre a boca para balbuciar algo, mas desiste e movimenta a cabeça em negativa.

— Eu não estava bravo com você.

— Estava bravo com o que então? – retruco de imediato.

Jughead observa rapidamente o ambiente ao seu redor e pousa seus olhos em mim após muito tempo sem o fazer.

— Você não entende o perigo em que se meteu, não é? – ele contrai suas sobrancelhas. – Os Ghoulies são uma gangue rival Elizabeth. Eles têm traficado Jingle Jangle em Riverdale desde muito tempo. Há uns meses nós perseguimos seus membros, apreendendo algumas mercadorias. Com certeza um prejuízo, mas nada muito grande. De alguma forma eles reapareciam com novos membros e outras mercadorias. – ele faz uma pausa e desvia seu olhar do meu - Eu não imagino a raiva que eles possam ter pelos serpentes, ou do que são capazes de fazer com um dos nossos. – seus olhos pousam nos meus novamente e agora estão preenchidos por compaixão – Eles tem o seu rosto Elizabeth... você estava com essa maldita jaqueta e eles te viram... – ele leva sua mão à minha bochecha a envolvendo cuidadosamente.

Nada a nossa volta merecia mais atenção do que ele nesse momento. Nosso entorno não tinha tanta importância quanto apreciar seus olhos verdes que buscavam os meus em um ar sério.

— Jughead...

 – Eu quero te pedir uma coisa. – sua voz sai rouca.  

Ele dá um pequeno passo à frente. Seu hálito doce colide contra meu rosto me queimando por dentro. Deixo meu rosto pender sob sua mão sentindo toda a minha determinação evaporar com seu calor. Pretendo questionar o que ele quer pedir, porém minha voz falha quando ele leva uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, o gesto mais doce que já havia visto dele até ali.

— Por favor Elizabeth... – ele sussurra tão baixo que é quase inaudível – Deixe os serpentes... Ainda é tempo de você ter outra vida.

Ele leva a outra mão até meu rosto o segurando com ambas, seu corpo parece cada vez mais próximo do meu e uma corrente elétrica me atravessa descendo até a ponta dos dedos. Permaneço ali, estática, olhando para cima a gravidade de sua expressão analisando a minha. Minha atenção se volta aos seus lábios que jamais estiveram tão próximos dos meus e me permito apreciar seu contorno tão bem desenhado.

 – Eu encontro sua mãe, te deixo segura, resolvo todos os seus problemas, mas faça isso por mim. – seu olhar era intenso, parecia querer amolecer meus ossos, me tornando suscetível a qualquer proposta.

Eu penso em findar o espaço entre nós. Meu corpo lateja em uma queimação insaciável que deseja beijá-lo naquele instante. Todavia, um questionamento me irrompe e somente Jughead poderia confirmá-lo.

Eu queria saber dele. Não de Toni, não de Archie, nem de qualquer outra pessoa que quisesse garantir. Eu queria que ele dissesse com todas as palavras, sem fugir nem desconversar. Não havia mais espaço para isso, eu já não suportava ter que lidar com suas mudanças repentinas de humor. Porque eu deveria fazer algo por ele?

— Me dê um bom motivo Jughead... – minha voz soou determinada – Me dê apenas um bom motivo e eu faço o que você está pedindo.

— A sua segurança não é motivo suficiente? – suas mãos pendem lentamente abandonando meu rosto.

— Lembra do dia que apertei a corrente da sua moto? – grunhi.

— Sim... Foi um favor retribuído, eu acho. - ele forçou um sorriso lateral. 

 

— Ah... – ele gemeu baixinho.

Jughead engoliu em seco, visivelmente incomodado. Chutou algumas folhas no chão enfiando uma das mãos nos bolsos da jaqueta e passando a outra no cabelo como havia feito antes, mas agora encarnado o céu enegrecido pela noite.

— Eu não posso ser egoísta a esse ponto. – ele parou por um segundo, como se decidisse se diria ou não alguma coisa. Sua expressão tornou-se triste.

— O que você quer dizer com isso? – minha testa se enrugou.

 – Você merece coisa melhor do que um motoqueiro do lado Sul que não tem futuro algum. – ele suspirou voltando seu olhar para mim novamente – E é claro que isso inclui Sweet Pea. – baixou o cenho.

— O que? – fiquei perplexa – Você não pode decidir isso Jughead.

— Eu sei que não. Mas você não o conhece tão bem como eu. – pela sua voz era evidente que seu humor havia se transformado. Em menos de um minuto ele havia passado da figura doce e delicada para o garoto ranzinza que eu odiava. 

— Também não te conhecia a ponto de descobrir o quanto é arrogante. E você nem sempre foi assim! – um sorriso genuíno brotou em seu rosto.

Não era o que eu queria dizer. Lamento por ter dito isso quando deveria dizer que não me importava de qual lado da cidade ele morava, que se eu quisesse ficar com ele a decisão seria minha. Mas o conjunto de informações me atordoa e me deixo levar pelo sentimento de frustração.

— Somos todos produtos do meio no qual vivemos. Três semanas nessa gangue e você ficará pior que eu. Tenho certeza disso. – ele arqueou as sobrancelhas, quase cuspindo as palavras como laminas enquanto um sorriso sádico se formava em seu rosto.

— Eu não vou precisar ficar tanto tempo. – cruzo os braços frente o peito feito uma criança emburrada.

— É o que eu espero Elizabeth. – ele caminha para trás até onde havia deixado sua moto – Te vejo na escola. – ele finalmente se vira. Sua voz soa dura e ele nem sequer olha para trás antes de ir.

— Droga. – o observo arrancar a moto a acelerando bruscamente ao entrar em contato com o asfalto.

Sweet Pea tem razão. Jughead precisa instalar freios, mas precisa também admitir seus sentimentos. Principalmente agora que eu havia entendido os meus.

 


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