Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: New Blood - Zayde Wolf



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Elizabeth Cooper

(música)

“Sabemos muito pouco o que nós somos e menos ainda o que podemos ser”, será que Lord Bryon escreveu essa frase justamente para um momento como este? Mesmo que não, ela não saia da minha cabeça por nenhum minuto enquanto sentia o vento assoprar contra meu rosto de olhos fechados. Meu coração palpitava enquanto a adrenalina da velocidade tirava qualquer força de minhas pernas, comprimidas contra aquele que pilotava a moto. Mesmo que agora não estivéssemos tão rápidos quanto antes, o pavor de estar em cima de uma motocicleta me tomava por inteira e meu corpo não poderia reagir de outra forma.

Essa noite me fez perceber que a gangue de motoqueiros ‘Serpentes do Sul’ eram muito mais do que meros delinquentes irresponsáveis. Eles provavam fielmente que a união era a base forte de uma família, e de certo modo, eles eram uma. Claro que como toda família, haviam os tios e os primos que não se aproximavam muito, ou que se odiavam. Os Blossoms eram um ótimo exemplo para isso. Mas no geral, assim que Nick – o cara que havia me entregado a jaqueta – me apresentou a todos, eu me senti acolhida e bem recebida.

No mais estive mais próxima de Toni, Sweet Pea e o que conheci como Fangs, por já termos contado na escola. Alguns vieram me cumprimentar e se apresentar, outros me observavam de longe e cochichavam entre si. De certa forma, naquele momento o álcool não permitia que eu me importasse, ou que decorasse determinados nomes, apenas me fazia me sentir como se estivesse em casa, em família.

Mesmo assim eu ainda não entendia o que havia mudado em mim a ponto de me fazer ultrapassar determinadas barreiras. Era por isso que tentava me convencer à ideia de que se fosse o contrário minha mãe iria até os confins do inferno por mim, ultrapassando barreiras talvez maiores que as minhas.

Senti uma mão gelada tocar a minha e relaxei os braços levemente.

— Está tudo bem Fada, já chegamos. – abri os olhos desprendendo meu corpo do seu, ele riu – Não foi tão ruim assim, foi?

Ergui meu tronco ainda sentada na garupa, ele olhou para trás analisando minha expressão e a preocupação tomou seu rosto. Eu sorri gentilmente.

— A culpa não é sua Sweet Pea, acho que foi só uma primeira experiência muito ruim. – depositei meu peso na perna esquerda descendo da moto ainda desajeitada com as pernas trêmulas.  

— Jughead? – Sweet Pea contorceu suas feições confuso – Ele fez de propósito?

Fiz que sim com a cabeça após retirar o capacete.

— Eu sinceramente não entendo aquele cara. – Sweet Pea fitava o guidom na moto e seu rosto demonstrava clara contradição.

Lhe entreguei o capacete, passando a mão nos fios de cabelos desgrenhados e bagunçados pelo vento. Eu também não o entendia, nada nele fazia sentido. Jughead havia aparecido com um olho machucado e até um momento antes de ter agido como um idiota comigo eu queria lhe amparar fazendo um curativo.

— O que aconteceu com o rosto dele? – indaguei.

— Ele meio que comprou uma briga por você. – ele se endireitou me encarando – Mas isso não condiz com ele ter te assustado na moto...- fez uma pausa enquanto encarava o horizonte, por fim dando de ombros ao me encarar – Eu já desisti de tentar entender o que passa na cabeça dele.

Mil coisas passavam pela minha cabeça e eu só pensava em como queria confrontá-lo, perguntar qual era o problema dele comigo. Os olhos fixos de Sweet Pea em meu rosto me fizeram desviar o olhar para qualquer outro ponto em meu campo de visão. Meus olhos se assentaram em uma luz acessa na cozinha de casa fazendo meu coração disparar. Meu pai havia voltado.

Busquei pelo celular no bolso da jaqueta sobressaltada, havia acabado a bateria sem que eu percebesse. Retirei a jaqueta e o ar gelado me abraçou no mesmo instante, fazendo com que meus pelos se eriçassem.

— Sweet Pea, muito obrigado pela carona! – dei-lhe um abraço rápido e desajeitado.

— Não foi nada! – ele respondeu em alto tom quando eu comecei a subir os degraus da escada em pulos desesperados.

Ao chegar até a porta fechei os olhos nervosa tentando pensar em qualquer mentira que me livrasse de uma bronca ou um castigo. Por sob os ombros percebi Pea ainda no mesmo lugar me encarando. Alguém havia me deixado em casa, Verônica estivera ali, ele provavelmente havia ligado para ela. A mentira começou a tomar forma em minha cabeça.  

◙ ○ ◙ ○ ◙

— Querida, quer uma carona para a escola? – meu pai gritou da sala e eu me assustei.

— Sim! Só um minuto pai!

— Estou te esperando no carro!

Na madrugada anterior eu estava na casa na casa de Verônica onde acabei dormindo. Afinal, como todos sabem eu odeio com todas as forças ficar a sós com minha própria sombra. Sem conseguir falar comigo, meu pai ligou para ela que confirmou minha presença por lá, uma verdadeira dama do crime. Porém, ao acordar e receber a notícia de que meu pai havia voltado, não me contive em saudades e pedi ao Smithers, motorista particular da família dos Lodges para me deixar em casa. Um bom abraço e um beijo acalentador em meu querido pai deixava tudo em ordem, com a mentira mais deslavada do universo.

Devo omitir deste relato a jaqueta que ficou escondida no assoalho da entrada da casa? Talvez. Manter meu pai longe de tudo isso seria o melhor a ser feito, mesmo que com mentiras. Uma pena que meu pai não soube mentir tão bem quanto eu. Ao ser questionado sobre sua “cobertura do jornal” entrou em contradição e se embolou afirmando sigilo à matéria até que fosse autorizado a relatar certas informações.

Encarei o espelho mais uma vez, me certificando de que minha imagem condizia com quem deveria parecer. Essa pessoa a quem eu via já estava tão intrínseca em mim, que de certa forma éramos uma afinal. Mordi os lábios insegura, seria o meu primeiro dia na escola como uma serpente, qual o próximo passo agora?

Coloquei a jaqueta dos serpentes na mochila, buscando evitar que meu pai descobrisse sobre isso antes que eu pudesse colher qualquer tipo de informação. Do mesmo modo eu sabia que deveria conquistar a confiança deles, para que me acolhessem em seu ninho e me contassem seus segredos obscuros. Eu deveria me adequar de todas as formas, inclusive usando a maldita jaqueta.

Assim que entrei no carro, meu pai se virou para mim confuso analisando minhas roupas e maquiagem e após um constrangedor minuto de silêncio ele deu a partida suspirando. O trajeto parecia como uma tortura inacabável, como se fossemos dois estranhos lado a lado e, de certo modo, agora éramos já que escondíamos coisas um do outro.

— Obrigado pai. – eu disse retirando o cinto quando ele finalmente parou em frente à escola. 

— Betty, eu sei que tudo isso é muito repentino para você... – ele encarou minhas roupas e voltou seu olhar ao meu quando me virei para ele – Mas afinal, o que aconteceu com suas roupas?

— Pai... – eu quis me explicar e ele continuou.

— De qualquer forma, eu sei que você ainda é uma adolescente e essa é sua forma de expressar sua dor e a falta que sente de sua mãe e de Polly. – ergui as sobrancelhas aliviada, caso ele quisesse pensar assim, que fosse – Mas só quero me certificar de que você está bem e saiba que pode contar comigo.

— Eu sei disso pai. - engoli em seco o abraçando, desejando que o mundo não passasse mais disso.

Em todos os meus dezessete anos eu nunca havia mentido para os meus pais, ou feito uma streap tease em um bar, ou andado em uma moto, ou até mesmo entrado para uma gangue. Porém, agora eram as circunstâncias que ditavam as novas regras, e por mais que eu desejasse segui-las, seria o momento de as estabelecer.

Assim que desci do carro esperei meu pai ir embora para vestir a jaqueta e entrar na escola. Olhares curiosos me fitavam como na semana anterior, provavelmente eu seria o assunto principal por algum tempo até que Cheryl roubasse a atenção novamente com alguma cena desnecessária.

Ao contrário do que pensei, minha fama se misturou com a sua. Não existia outra pessoa melhor para que ela pegasse no pé.

— O que é isso prima? – Cheryl encarou meu tronco retirando um pirulito da boca.

Ela apertou a gola da jaqueta como se analisasse a qualidade do tecido. Por fim, se voltou a mim sorrindo.

— Até que enfim um couro de qualidade! Onde conseguiu isso? Com certeza não é de Riverdale.

Sorri de lábios fechados tentando me desviar do seu corpo, mas ela se colocou em minha frente com um passo para o lado. Meus olhos reviraram automaticamente em repulsa à sua voz escandalosa.

— Hoje não Cheryl! – sussurrei percebendo os olhares ao redor.

— O que foi? Não posso pegar dicas de moda com você só porque tem mal gosto? – ela fez um bico como se estivesse ofendida.

Desviei meu corpo do seu caminhando até meu armário, fazendo-a perceber a serpente estampada nas costas.

— Serpentes do Sul? Você surtou como Alice e Polly? – ela gargalhou indo atrás de mim com o pirulito na mão – Vai sair da cidade também ou papai Cooper vai te abandonar antes disso?

Senti meu rosto queimar e por um impulso me virei para ela a empurrando contra um dos armários que responderam com um som alto de carne contra metal. Cheryl me encarou aturdida deixando seu pirulito cair da mão e se estilhaçar de encontro ao chão. Percebi por entre os ombros figuras se aproximarem e quando dei por mim relaxei o braço tentando me recompor.

— Por favor Cheryl, hoje não. – repedi quase sem voz me afastando lentamente com um passo para trás.

Cheryl continuou ali, me encarando assim como os outros. Ninguém estava mais surpresa do que eu, que sentia o peito se aquecer e explodir em êxtase por ter feito algo que no fundo sempre tive vontade. O ego que me preenchia cessou no mesmo momento em que ouvi a voz de Verônica disparar pouco à frente.

— Não é ciúmes Archie! – fingi ter deixado algo cair para não me aproximar – É só que vocês são melhores amigos desde sempre e fui eu quem me meti no meio disso.

— Ronnie, por favor, me escuta. Betty é como uma irmã para mim e eu a amo por isso, eu a defenderia em qualquer situação! – Archie praticamente suplicava e me opus a ver seu rosto – Eu sei que está insegura pelo que aconteceu naquele dia, mas eu sou completamente apaixonado por você!

Ela pareceu bufar e Archie a abraçou, puxando-a pela mão quando o sinal tocou. Aproveitei a deixa para fitar os dois virando o corredor. Os estava sacrificando pelos meus próprios interesses, assim como cogitei fazer com Kevin e seu romance com Joaquim. Tudo o que conhecia estava prestes a explodir relevando a sujeira por baixo do tapete e por mais que eu os quisesse em minha vida, estava na hora que mantê-los longe da bagunça.

Quando estava prestes a seguir para a sala de aula, um braço grande envolveu meus ombros arrastando-me corredor à fora, o que encarei surpresa. Sweet Pea me fitou de lado com um sorriso torto. Toni apareceu do meu outro lado esbarrando seu ombro no meu como em um cumprimento. Fangs apenas me cumprimentou com um balanço de cabeça.

— Gostei de ver a forma como lidou com a Cheryl, parece que agora tenho uma amiga à altura nessa escola de merda – ela riu e eu apenas comprimi os lábios evitando uma risada que acabou escapando.

 


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