— Livy, por que o Seth veio trabalhar com o papai hoje? – Charlotte perguntou assim que eu estacionei a minivan em frente ao hotel onde Ethan trabalhava.    

  - Por que como hoje é sábado e seu irmão por algum milagre acordou cedo, então ele veio com o seu pai. Agora vamos que ainda temos que almoçar.

  - Nós podemos ir no parque depois? – Lottie perguntou com expectativa quando entramos no hotel passando pelas portas de vidro.

  - Primeiro o almoço, depois as compras e se sobrar tempo vamos sim, mas só se sobrar tempo, Ok?

  - Tá bom! – minha pequena exclamou animada quando entramos no elevador. As luzes piscaram por um instante, mas voltaram ao normal no mesmo minuto, por isso resolvi não pensar muito nisso.

  Quando chegamos ao último andar e saímos do elevador, Jennifer levantou os olhos do seu computador apenas para me olhar feio, ela me odiava, era nítido, desde o nosso primeiro encontro, no dia em que o Seth brigou na escola, eu sei disso. Imagino que ela gostasse de Ethan e como posso culpá-la quando ele é um cara incrível? Mas infelizmente eu sou ciumenta e não estou a fim de dividi-lo, então aceito de bom grado seu ódio uma vez que isso significa que posso subir até aqui a hora que eu quiser sem precisar me anunciar e que ela tem que assentir em silêncio enquanto passo por ela em direção à porta da sala de Ethan atrás dela.

  Charlotte é a primeira a entrar na sala, ela vai correndo até o pai e Ethan mal tem tempo de ver o que está acontecendo antes de pegar a pequena. Ela ri e eu sorrio também.

  - Oi, papai.

  - Oi, Lottie – Ethan diz sorrindo para ela e depois olhando para mim. – Oi, Olivia.

  - Oi, Ethan – devolvo o cumprimento divertida e vejo Seth no sofá da sala do pai com alguns papeis sobre a mesa de centro. – Oi, Seth.

  - Oi, Bruxa – ele diz sorrindo com as bochechas vermelhas. Desde aquele dia em que ele me pediu que eu fosse sua mãe meu garotinho encrenqueiro não consegue me chamar de “Bruxa” sem corar, como se o apelido ridículo fosse muito mais que isso. E acho que é mesmo, é um jeito único que o Seth tem de falar comigo, mesmo que isso tenha começado apenas pra me irritar.

  - Como foi a manhã das garotas? – Ethan pergunta e Charlotte se apressa em começar a tagarelar.

  - Foi muito legal, a gente comeu torradas, bolo, viu filme da Barbie, a Molly chorou, a Livy cantou a música da Barbie comigo pra Molly parar de chorar. E a gente vai no parque depois do almoço se der tempo. Mas é só se a Olivia deixar.

  - Tudo bem matraquinha, menos palavras por minuto, Ok? – Ethan sorri me olhando. – Isso é convívio com você.

  - Eu não sei de nada – digo divertida ajeitando Molly em meus braços. Ethan fica de pé com Charlotte no colo e vem até mim, me dá um selinho apenas para arrancar caretas das crianças e pega a bolsa de Molly dos meus ombros. - E a manhã dos meninos, como foi?

  - Eu trabalhei com o papai, estava aqui separando esse monte de papel – Seth aponta para a bagunça sobre a mesa de centro e ficando de pé também. – Foi bem legal. Eu posso vir de novo, Olivia?

  - Claro, sempre que seu pai quiser e puder.

  - Quando quiser, Seth – Ethan olha para o filho e vejo todo o amor que sente por ele refletido em seus olhos azuis. Agora é fácil vê-los como pai e filho, vê-los demonstrando seus sentimentos, é normal e eu gosto disso, gosto de pensar que ajudei com isso, ajudei-os a chegar a isso.

  - Semana que vem? – Seth pergunta animado quando começamos a sair da sala de Ethan e o mesmo sorri.

  - Tenho que ver, mas sim, Seth, semana que vem.

  - Isso! – o pequeno comemora quando passamos pela mesa de Jennifer e ela apenas força um sorriso quando nos vê.

  - Tenha um bom almoço, Sr. Price – ela diz me fuzilando com o olhar e ele assente, eu me limito a sorrir.

  - Obrigado – Ethan agradece e depois se vira pra mim - Pelo menos dessa vez ele me pediu, já é um avanço – ele diz divertido sem notar o olhar da secretária colocando Charlotte no chão. Ofereço a mão para a pequena e ela se gruda a mim.

  - Depois de pedir pra mim.

  - Como se eu conseguisse ganhar de você – ele dá de ombros.

  - Vamos de escadas papai? Apertando os botões do elevador que nem quando a gente subiu? – Seth pergunta empolgado e fico sem acreditar olhando de um para o outro.

  - É o que!? Vocês subiram de escadas Sá pra atrapalhar as pessoas no elevador. Seth? Ethan?

  - Foi ideia do papai! – Seth acusa e Ethan o olha parecendo chocado.

  - Seth! Achei que fossemos parceiros e você me entrega na primeira oportunidade!?

  - A ma... A Olivia vai brigar com a gente! Eu não quero levar bronca!

  - E vai me entregar pra sua mãe assim!? – Ethan pergunta indignado sem parecer notar o que disse.

  “Sua mãe” foi o que ele falou, meu coração bate tão rápido que me assusta, não consigo fazer outra coisa que sorrir como boba ao observar a discussão infantil dos dois. Os dois homens da minha vida. Um deles já sabe disso, só preciso ter coragem de dizer ao ouro. 

  - Melhor o senhor levar bronca que eu!

  - E eu posso, é?

  - É – Seth diz simplesmente e estou rindo. Simplesmente por que não consigo me conter, ambos olham pra mim com expressões exatamente iguais de incredulidade.

  - Chega vocês dois, só vamos descer logo de uma vez – digo depois de me recuperar.

  - Em minha defesa estavam concertando o elevador quando chegamos e só apertamos os botões por que não tinha ninguém nele – Ethan se defende e olho-o sem acreditar em como um homem de negócios pode ser também um garoto encrenqueiro, mas um garoto encrenqueiro crescido.

  - Sei... Vem Lottie, eu não sei se o seu pai e o Seth vão vir com a gente, mas eu estou com fome – chamo a garotinha que me segue até o elevador.

  - Vamos pai – Seth chama Ethan indicando as escadas e depois olha pra mim. – Só dessa vez, Olivia, por favor.

  - Por favor – pede Ethan também e eu reviro os olhos. Como poderia negar qualquer coisa a ele depois do que disse agora há pouco?

  - Vejo vocês lá em baixo – digo apertando o botão para as portas se fecharem. Quando o elevador para no andar debaixo e não há ninguém a espera do elevador eu sei que vou matar Ethan e Seth quando os alcançar. – Só pode ser brincadeira - murmuro quando a porta de metal do elevador volta a se abrir para um hall vazio, outra e outra vez.

  Quando o elevador para pela o que me parece a milésima vez estou a espera das portas se abrirem para o vazia outra vez, mas nada acontece, a caixa metálica em que estou treme e as luzes piscam, Charlotte grita e se agarra a minha perna. Estou prestes a pedir a pequena para que se acalme quando o elevador treme outra vez e as luzes piscam repetidamente até se apagarem por completo.

  Charlotte começa a chorar e sei que mesmo que não entenda nada, toda essa agitação está assustando Molly que não vai demorar a chorar também. Em outras circunstancias eu entraria em pânico e seria outra a começar a chorar, mas com as meninas dependo de mim não posso me dar a esse luxo mesmo que esteja apavorada. Abaixo-me para encarar Lottie e mesmo com a pouca luz posso ver seus olhos azuis brilharem pelas lágrimas.

  - Hei meu amor, calma, eu estou aqui. Vai ficar tudo bem, Ok?

  - Livy, o que está acontecendo? Por que a luz apagou? Eu quero o papai! – ela funga e sento-me no chão para poder puxá-la para o meu colo. Ajeito Molly em um dos braços e com o outro amparo Charlotte que esconde o rosto em meu peito que abafa um grito seu quando o elevador treme outra vez.

  - Eu também quero o seu pai – sussurro apertando minhas garotinhas contra mim.

  Eu não tenho medo do escuro, nem de elevadores, pelo menos não tinha, o que me assusta mesmo é o medo de Molly e Charlotte, e não poder fazer nada a respeito disso, não poder acalmá-las, confortá-las e cuidar delas quando mais precisam de mim. Começo a cantar a musiquinha do filme da Barbie de hoje de manhã, não é grande coisa, mas isso faz Lottie parar de chorar para me acompanhar. No refrão estamos as duas no elevador cantando alto o suficiente para Molly se acalmar também, quando as luzes voltam a se acender Charlotte sorri terminando a canção.

  O elevador volta a descer, dessa vez sem as portas se abrirem a cada andar. Quando as portas de metal se abrem outra vez ainda estamos as três sentas no chão. Ethan e Seth parados de frente para as portas, com os olhos arregalados e as expressões de medo exatamente iguais parecem ainda mais assustados que nós.

  - Graças a Deus vocês estão bem! – Ethan exclama vindo até nós sem nos dar chance para ficar de pé, ele me abraça apertando juntos as meninas, ali mesmo no chão do elevador. Sinto os braços de Seth ao nosso redor também.

  Eles só se mexem e nos soltam quando Molly reclama por espaço.

  - Sr. Price acho melhor você e sua família saírem logo daí. Vamos fechar esse elevador e usar apenas o do lado sul – um homem de macacão, talvez um técnico ou eletricista, usando o próprio braço para segurar a porta diz.

  - Vem – Ethan diz ficando de pé e levando Charlotte consigo, ele me estende a mão que aceito. Seth me olha assustado e vou até ele e lhe dou um beijo na testa.

  - Eu e suas irmãs estamos bem.

  - Você tem certeza?

  - Absoluta. Vem, vamos.

  Apesar do susto fomos almoçar, talvez por causa da confusão foi que Ethan e eu não decidimos cancelar o almoço. Para nos distrairmos. Molly e Seth ainda pareciam assustados, mas conseguimos comer, fomos ao restaurante tropical do nosso primeiro “jantar em família”, o que gerou memórias sobre a primeira vez em que as crianças viram Ethan e eu nos beijando. Eles até resolveram ir ao parquinho o que eu definitivamente considerei uma coisa boa.

  Depois de voltarmos pra casa consegui fazer Charlotte dormir assim como Molly e Seth foi o único a ficar comigo e Ethan, fizemos um “sanduíche” com o garotinho entre nós no sofá para ver um filme de desenho que estava passando na televisão. Nenhum de nós estava realmente prestando atenção, mas só a companhia um do outro já era o suficiente, não demorou até Lottie e Molly acordarem e virem se juntar a nós. No fim éramos um emaranhado de pessoas emboladas no sofá.

  - Eu gosto de ficar assim, bem pertinho do papai, da Olivia, do Seth e da Molly. As pessoas que eu mais amo no mundo todinho! – Charlotte disse sorrindo animada. - São as suas pessoas também não é Seth? As que você mais ama? Você também disse que amava todo mundo!

  - Lottie! Eu... Eu... – o garotinho corou me fazendo apertá-lo num abraço, Ethan que estava com Molly no colo se limitou a sorrir para os filhos. – É, eu amo todo mundo também.

  - Até a Olivia, não é? – Charlotte insistiu e Seth parecia querer fugir, mas eu não deixei o apartando mais contra mim.

  - Se não quiser não precisa responder. Mas eu amo você! – disse a ele. – Amo demais você e suas irmãs.

  - Também amo você – Seth resmungou escondendo o resto em meu pescoço e me fazendo sorrir.

  - Eu estou realmente aliviado que nada tenha acontecido hoje – Ethan suspirou. – Quando eu e Seth chegamos à entrada e não as vimos eu entrei em pânico. Acho que nunca senti tanto medo na vida.

  - Eu com as meninas no elevador também, acho que nunca fiquei tão assustada. Mas estamos todas bem. Podemos nos acalmar, já passou.

  - Eu não quero mais andar de elevador lá no hotel do papai! – Charlotte disse e eu sorri me soltando de Seth.

  - Acredite, Lottie. Nem eu.

  - Dá próxima vamos de escada pra apertar os botões, o que acha? – perguntei divertida e ela concordou.

  - Oba!

  - Achei que fosse contra – Ethan sorri e dou de ombros.

  – A meninas também podem se divertir. E, a partir de agora, ficar longe do elevador do seu hotel até alguém me garantir que é seguro.

  - Mas em outro hotel, você andaria? – Ethan pergunta e fico sem entender.

  - Talvez. Por que a pergunta?

  - Por que em dois meses vou ter uma grande festa com alguns empresários do ramo da hotelaria em um resort e lá tem alguns elevadores. O que me diz, consegue aguentar mais alguns elevadores?

  - Se isso for um convite, até lá a gente vê – digo sorrindo. Ethan se inclina por sobre as crianças amontoadas entre nós e me beija só para ouvirmos um “Eca!” coletivo e nos separarmos sorrindo.

  - Isso com certeza foi um convite.