Brianna

  Sorri vendo Ethan indo à cozinha atrás da Olivia, eu amava meu irmão e tinha me tornado uma ótima amiga de Livy então queria mais que eles se acertassem, que ficassem juntos e fossem muito felizes, já que estava claro que era só isso que queriam. Quando minha nova amiga me contou sobre o beijo faltei pouco soltar fogos de artifício, mas depois ela me falou também de ter fugido de Ethan e que não tinha conversado com ele e como meu irmão não tinha feito nada a respeito, eu achava um absurdo! Então, agora, queria mais era que se acertassem de uma vez. Se era por uma boa causa eu não me importava nenhum pouco deles sumirem no meio da festa.

  A verdade era que eu preferia devanear sobre o relacionamento do meu irmão ao invés de encarar o fato de que Josh Taylor estava parado ao lado da mesa de salgadinhos da festa de aniversário do meu sobrinho. Como isso aconteceu? Bebo meu suco e lembro-me de minutos atrás quando abri a porta e o vi ali, como um fantasma me perseguindo, parado a minha frente. Mas eu sabia por que ele estava ali, e não era por minha causa, por que seria afinal se ele nem sabe da minha existência?

  Josh estava ali acompanhando a irmãzinha que eu recentemente descobri que era da mesma sala da Charlotte, a pequena Julie era uma das melhores amigas da minha sobrinha e eu só descobri isso há algumas semanas. Vi as duas passarem correndo a minha frente. Lottie parou mais adiante, pegou a amiga pela mão e voltou até mim.

  - Tia Bri, você conhece a minha amiga Ju? – ela pergunta me sorrindo. A pequena ao seu lado é a cara do irmão. Com os mesmo cabelos e olhos escuros. Ajeito os óculos no rosto e nego com a cabeça.

  - Não. Quem é ela?

  - Essa é a Julie, mas pode chamar ela de Ju tia, não é Julie? – Charlotte olha para a miga que assente pra mim. – E essa é minha tia Brianna, Julie, ela é irmã do meu pai.

  - Oi – a garotinha me cumprimenta tímida e sorrio para ela.

  - Oi, Julie, é um prazer conhecer uma garotinha tão encantadora quanto você – digo e vejo-a corar.

  - Tia Bri! Você sabe onde tá meu pai e a Olivia?

  - Seus pais estão ocupados agora, Lottie, por quê? – digo e me arrependo na mesma hora, uma coisa é brincar com Ethan sobre ele namorar Olivia, outra é fazer uma brincadeira como essa com Charlotte.

  - Ah, mas eu tô com fome! Quando eles vão terminar? – minha sobrinha pergunta para minha surpresa, sem se abalar, piscar ou mesmo perceber o que eu disse.

  - Não sei meu amor, não sei mesmo. Mas eu posso pegar comida pra vocês.

  - Precisa não tia, vou pedir pra vovó. Julie, quer ir procurar meu pai e a Olivia comigo?

  - Sim – a garotinha responde animada e elas somem outra vez por entre os poucos convidados.

  Depois que desvio o olhar do espaço antes ocupado por elas, meus olhos encontram os dele. Josh me olha de volta com seus olhos escuros intensos e logo em seguida desvia o olhar, faço o mesmo me sentindo boba e atrapalhada. Minhas bochechas queimam e resolvo sair dali. Sigo até a cozinha e estou prestes a me desculpar com o casal, mas eles não estão mais ali e não sei se isso é bom ou ruim e no momento essa não é minha maior preocupação. Pego um copo com água e tomo encarando a porta e os convidados passando entre a sala e a cozinha.

  Josh Taylor meu crush, minha paixão platônica há dois anos, desde que eu tinha entrado na faculdade está a menos de dez metros de mim e não sei o que fazer. No inicio eu gostava de observá-lo, esbarrar com ele na biblioteca, segui-lo pelo campus, ele é um nerd com pinta de galã de novela e acho isso totalmente injusto, olhos e cabelos escuros, braços grandes e um queixo quadrado que penso que só pode ter sido esculpido.

  Mas apesar de tudo isso ele parece não ter noção de sua aparência e seu jeito fofo foi o que me ganhou. Mas ainda assim, é mais do que platônica nossa relação, apesar de eu bancar a corajosa até hoje não tive coragem de falar com ele, e todos os diálogos que tivemos, eu inventei na minha cabeça.

  Só que o que pior de tudo é que se Josh fosse só um rostinho bonito era mais fácil eu desistir dele e deixar isso pra lá, mas não, além de lindo e fofo ele também é muito inteligente. Para conseguir uma bolsa num curso como engenharia mecânica é preciso muito esforço e inteligência. E eu meio que sei que pra ele, no mínimo, eu sou só uma patricinha deslumbrada e sem noção, cheia de amigos, com sobrenome importante, dinheiro e que ganha presentes como um carro, do irmão. Por que é isso que eu mostro, é o que eu deixo eles verem, eu não ligo para a popularidade, mas decidi há muito tempo que nunca mais deixaria ninguém se aproximar de mim por interesse outra vez.

  No fundamental eu tive uma amiga, que também era amiga de Holly, cujo único interesse era se tornar popular as minhas custas. Tirar fotos e pagar de minha amiga nas redes sociais e depois falar mal de mim pelas costas, que eu era estranha, que na época eu usava a parelho nos dentes e precisava de óculos, mas me negava a usá-los em público. Ela era uma falsa e me machuquei muito quando descobri, por isso decidi que não ia mais me mostrar a ninguém, era mais fácil e mais cômodo me esconder sob a fachada de patricinha popular, era seguro e eu não precisaria me mostrar realmente a ninguém, não a verdadeira Brianna.

  Não a garota que passa as noites de sábado lendo livros e vendo séries quando todos juram que está na balada ou em alguma festa. Não digo que sou viciada em chocolate e em comprar pantufas fofas, que amo ler e escrever e que quero publicar um livro, não mesmo, esses programas de nerd? Brianna Price não faz isso, ou pelo menos todo mundo acredita que não. Por isso não me surpreenderia se Josh me rotulasse como fútil e irritante, por isso não ligo de só observá-lo de longe. Mas isso não quer dizer que eu goste de ver a sonsa da Cindy Carson em volta dele ou vê-lo na sala da casa do meu irmão e não saber o que fazer. Romances pra mim só funcionavam na ficção mesmo, já aceitei.

  - Você sabe onde elas foram? – Josh pergunta surgindo no batente da porta e engasgo com a água que estou tomando. Ele arregala os incríveis olhos escuros se precipitando em minha direção. – Você está bem, Brianna?

  - Você sabe meu nome? – pergunto depois de me recuperar do meu acesso de tosse.

  - Claro a gente estuda na mesma faculdade há dois anos e todo mundo meio que conhece você – ele dá de ombros coçando a nuca num gesto muito fofo. Isso é muito surreal, nós estamos mesmo tendo uma conversa?

  - Duvido que seja todo mundo, mas tudo bem. Você, sabe... Tinha perguntado alguma coisa.

  - As meninas, Charlotte e Julie, você sabe onde elas estão?

  - Não tenho nem ideia – sorrio sem me conter, eu sou mesmo uma boba romântica. Essa situação toda é muito ridícula e eu estou aqui me acabando de sorrir.

  - Você tem alguma ideia de onde elas podem estar? Eu preciso ficar de olho na minha irmã e quero evitar que ela se meta em confusão.

  - Ela está com a minha sobrinha, Josh, então ela com certeza já se meteu em alguma coisa – digo divertida e ele sorri, um sorriso de verdade dirigido totalmente a mim que me pega de jeito, completamente desprevenida, fazendo o coração acelerar e a boca secar. Encaro seus lábios e me pego pensando qual seria o seu gosto.

  - Você sabe meu nome – ele diz como se fosse grande coisa me fazendo olhá-lo nos olhos outra vez. Se Josh se quer desconfiasse que eu sei até mesmo onde ele trabalha ele provavelmente ficaria chocado.

  - Você é um dos alunos mais inteligentes do campus, claro que sei seu nome – digo simplesmente, e em parte é verdade por isso nem me sinto mal pela meia mentira.

  - Não achei que alguém como você prestasse atenção em mim.

  - Alguém como eu? – pergunto com um misto de curiosidade e talvez irritação.

  - Popular.

  - E eu ser popular é um problema? – pergunto sem conseguir me conter. Eu devia ter mantido a boca fechada, mas não consegui.

  - Não foi o que eu disse.

  - Mas foi, no mínimo, o que pensou.

  - Você está colocando palavras na minha boca e essa nossa conversa não está nem mais fazendo sentido.

  - Nisso nós dois concordamos, essa conversa está completamente sem sentindo e nem sei por que ainda estamos aqui – digo irritada pelo rumo que as coisas estão tomando. Como foi que terminamos assim pelo amor de Deus?

  - Tem razão – ele diz num misto de raiva e algo que parece decepção. Estamos nos encarando, olho no olho, numa proximidade que nem nos meus devaneios mais loucos eu imaginei. Não é só a proximidade física, mas os sentimentos também estamos aqui na cozinha discutindo como amigos e quem sabe até algo mais. E isso, acima de tudo, é divertido. – Melhor eu ir procurar minha irmã.

  - Vai fugir? – pergunto num desafio quando Josh se vira para ir em direção à sala, mas no instante em que falo, ele para e se volta outra vez para me encarar. A ideia era só provocá-lo e a julgar pelo seu olhar irritado, eu consegui.

  - Fugir? Eu acho que estou evitando um desastre e nós dois concordamos que é melhor encerramos nossa conversa uma vez que ela não estava levando a lugar nenhum.

  - Desculpas – cantarolei e vi Josh cerrar os punhos, eu não devia fazer isso, nossa primeira conversa e estou fazendo-o me odiar, mas não posso me conter, quero continuar nossa conversa, nem que seja apenas para continuarmos discutindo. – Mas se você acha que tudo bem ir embora assim, pode ir, as meninas devem estar no quarto da Charlotte e eu acho que você devia arrumar umas amiguinhas novas.

  - Como é? – Josh pergunta e arregalo os olhos mordendo o lábio. Eu e essa minha boca grande!

  - Eu disse que as meninas...

  - Isso não – ele me interrompe. – O que você disse sobre minhas amigas?

  - Eu falei sobre elas? Desculpe-me devia estar pensando alto e você com certeza ouviu demais – me faço de louca e sorrio para ele que parece perto de gritar comigo. Por algum motivo essa cena toda me faz querer rir. É tudo tão surreal que só de pensar sobre isso me faz querer gargalhar.

  - Melhor eu ir já que você, aparentemente, está brincando comigo – Josh diz magoado e minha diversão subitamente desaparece. Ele faz meia volta e dessa vez não me dá tempo ou espaço para chamá-lo de volta.

  - Parabéns, Brianna! Você é idiota por acaso? Josh agora provavelmente me odeia e é tudo culpa minha! Argh! Que burra! – viro-me e apoio a cabeça sobre o mármore frio da pia. Acho que agora eu só quero sumir ou fazer a última meia hora ser apagada, o que fosse mais fácil.

  Mas como me afundar em autopiedade não vai resolver fiquei de pé. Ajeitei o cabelo e dane-se! A gente colhe o que planta e no momento minha horta murchou. Melhor mesmo eu ir ajudar mamãe com as crianças já que Olivia e Ethan ainda estão sumidos (pelo menos eu acho).

  Voltei para a sala, vi mamãe com Molly no colo cumprimentando uma senhora extremamente parecida com Olivia, tem um casal e um garotinho e um par de gêmeas loiras com ela. São um grupo eclético e mamãe parece bem animada na conversa com eles, Seth aparece, cumprimenta o garotinho e no segundo seguinte eles estão sumindo juntos e rindo de alguma coisa que só eles entendem.

  Pelo canto do olho vejo Josh do outro lado da sala, ele tem um copo na mão e parece estar evitando me olhar a todo custo, como se disso dependesse sua vida. Se arrependimento matasse eu não estaria nem mais aqui. Parabéns pelas péssimas escolhas, Brianna! Pior que isso só se eu tivesse o expulsado daqui logo de uma vez. Suspiro e quero só sumir no meu quarto e ouvir música triste, ler e contar a merda toda para Holly, mas não tenho essa opção, não quando mamãe acena me chamando para me juntar a ela e aos desconhecidos.

  Depois de hoje tenho certeza que romance não é pra mim, mas a esperança é a última que morre, vai que dá certo no final, não é?

  Sem outra escolha, coloco um sorriso no rosto e sigo até a minha mãe, apesar de tudo eu sou do tipo que acredita que tudo acontece por uma razão, então o que tiver que ser, será.