A Lenda da Raposa de Higanbana escrita por Lady Black Swan


Capítulo 9
08: Ela não é uma garota!


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo do ano!

GLOSSÁRIO:

Hashis: são os palitinhos utilizados como talheres em parte dos países do Extremo Oriente, como a China, o Japão, o Vietnã e a Coreia. Os pauzinhos são usualmente feitos de madeira, bambu, marfim ou metal, e modernamente de plástico.

Mangá: Nome dado aos quadrinhos de origem japonesa.

Obentô: semelhante a nossa marmita, porém na versão japonesa. É normalmente uma porção para uma pessoa, servida em uma bandeja com repartições. Com vários tamanhos e formatos, há modelos caseiros simples ou elaborados ou modelos prontos vendidos em lojas de conveniência.



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Higanbana estava florida, havia lírios aranhas desabrochando em todo canto da cidade, brancos, amarelos e vermelhos, principalmente vermelhos, que emprestavam à cidade certo ar sobrenatural, e davam a impressão de que, de repente, todas as suas lendas ganhavam vida e mostrando verdadeiramente o porquê de seu nome.

E como sempre acontecia nessa época do ano, com as flores vinham os turistas, e com os turistas a cidade voltava à vida, graças a isso, pelo menos 30% dos quartos da pousada Shibuya já haviam sido ocupados, e haviam ainda mais reservados, o que aumentava a carga de trabalho e conseqüentemente o número de empregados necessários ali.

Eram os “empregados de resto de ano”.

Essa era uma expressão popular ali na cidade, os “empregados de resto de ano” eram pessoas que na época de baixa temporada de turistas não conseguiam trabalho, e precisavam procurar por empregos de verão fora da cidade, mas sempre voltavam para trabalhar em Higanbana durante o resto do ano, quando havia muitos turistas e empregos.

Yukari não os compreendia, é claro, ela mesma se tivesse a oportunidade de sair de Higanbana não procuraria simplesmente um emprego para o verão fora dali, mas sim um emprego para a vida toda.

Ainda assim, a pousada e cada de banhos Shibuya possuía, no mínimo, oito empregados de resto de ano.

Eram um cozinheiro e seus dois ajudantes, um jardineiro e, duas empregadas de período integral começando, sendo que uma delas estava começando a partir daquele outono — a última havia se casado durante o verão e agora vivia uma vida de dona de casa, por isso fora preciso procurar uma nova — e, trabalhando ali desde a primavera do ano passado, uma empregada de meio período que era uma estudante do ensino médio assim como Yukari — embora fosse um ano mais velha —, esta última não era exatamente uma empregada de resto de ano, já que, sendo uma estudante, ela ficava na cidade durante o ano inteiro, mas o pai de Yukari a dispensava durante os desocupados meses de verão de uma forma ou de outra, e além deles havia um antigo funcionário que atuava como “faz tudo” realizando todos os serviços de manutenção necessários, e que também não era exatamente um empregado de resto de ano, pois sempre vinha e ia quando pedido, conforme a necessidade.

Somente os membros da família tinham permissão para ficar no caixa, e havia alguns quartos nos fundos da propriedade, ao lado do velho galpão e do lado oposto à casa da família Shibuya, que servia de alojamentos aos empregados que quisessem morar ali durante seu período de serviço — atualmente ocupada somente pelo cozinheiro e as duas empregadas integrais.

E ainda assim Yukari tinha que trabalhar no serviço de limpeza à noite, a tarefa de hoje era cuidar de ambas as termas, masculina e feminina, que eram exclusivas aos hóspedes e só abriam durante as temporadas.

Bufando a garota retirou o esfregão do balde de água.

Mas o som de água resultante disso arrastou-se por mais tempo do que deveria, como se algo estivesse nadando... Repentinamente erguendo os olhos Yukari percebeu a grande nuvem de vapor para além da porta de correr aberta sem, porém, atravessá-la, como se uma barreira invisível houvesse sido posta ali.

Com passos rápidos e a mão firmemente agarrada em volta do cabo do esfregão Yukari aproximou-se de lá.

—Mas o que está...?!

E por entre todo aquele vapor ela discerniu o formato da raposa, em forma de homem, porém com a calda e as orelhas expostas, movendo-se pela água como se nadasse cachorrinho, o quimono e o chapéu de palha estavam abandonados ali perto, e girando a cabeça ele ergueu o braço ao avistá-la.

—Ah, Yukari! — cumprimentou — Esse lugar é ótimo, não é?

E então submergiu, para emergir novamente na margem, próximo às pedras afastando os cabelos para trás.

—Bem melhor que as casas de banho, sem dúvida! — elogiou e recostou-se com um suspiro às pedras.

Yukari virou-se de costas, embora mal fosse capaz de discernir sequer suas feições em meio a todo aquele vapor.

—O que você está fazendo aí?! — perguntou irritada.

—Tomando banho, é claro. — Gintsune respondeu com um sorriso satisfeito, mais relaxado impossível — Eu venho tomando banho aqui desde a semana passada... Como foi que demorei tanto tempo para achar esse lugar?

Bem, é claro que a raposa havia gostado das termas, a pousada Shibuya tinha a maior e melhor fonte termal de toda Higanbana — devidamente dividida ao meio por uma parede de madeira para o lado masculino e o feminino.

—Porque as termas ficam fechadas durante o verão. — ela respondeu, irritada — E este lugar é exclusivo aos hóspedes.

—Oh... Mas eu sou um hóspede. — ele sorriu cinicamente.

—Até parece! — ela respondeu irritada.

Havia uma bandeja feita de madeira com uma garrafa e uma taça de saquê e o seu cachimbo em cima flutuando na água perto de Gintsune — que Yukari não reparara na breve olhada que dera para dentro da terma antes de virar-se — ele esticou o braço e a puxou para perto.

—Eu uso os quartos da pousada para dormir.

—Mas não paga!

—Se preferir que eu pague, eu posso pagar... — ele levou o cachimbo aos lábios.

—Para você nos enganar com ilusões de folhas, gravetos e pedras? — ela cruzou os braços — Não obrigada!

 —Ok, então, apenas se lembre de que foi você quem recusou meu pagamento antes de reclamar de novo. — ele comentou virando o rosto para o outro lado e soltando a fumaça.

—Cínico! — ela o chamou.

Na água Gintsune servia-se de saquê com a mão livre.

—Além do mais, esse é o lado feminino! — Yukari prosseguiu em suas reclamações.

—É mesmo? — ele tomou um gole de saquê olhando ao redor. — Eu nem reparei, muitos dos youkais não ligam muito para coisas de sexo e gênero, entende? Especialmente aqueles capazes de mudar de forma, como as raposas.

—Mas os humanos ligam! — ela retrucou irritada ainda de costas para ele — E você está no lado feminino!

—Entendi, entendi. — Gintsune suspirou enfadado, pousando a taça de saquê de volta à bandeja flutuante — Pronto, melhor assim?

Mesmo sem olhar Yukari percebeu a mudança na entonação de voz.

—Você se transformou em mulher?! — ela virou-se com os olhos arregalados.

Todo aquele vapor tornava a visão difícil, mas ainda assim ela foi capaz de discernir que a figura na terma agora tinha seios, e não era Ayaka Shiori, a colegial, que se banhava lá, não, era uma mulher adulta e madura.

—Virei. — ele respondeu — Está melhor assim?

—Claro que não!

—Por que não? — Gintsune estranhou.

—Essa é a terma feminina!

—Eu sou uma mulher agora.

—Se transformar numa mulher não te faz mulher.

—Claro que faz. — ergueu a taça de saquê, num brinde.

—E você está bebendo no banho! — ela escandalizou-se.

—E fumando. — acrescentou pousando a taça na bandeja e dando mais um trago no cachimbo — Essa é a melhor forma de se relaxar numa terma, afinal.

—Fumar e consumir qualquer tipo de bebida ou comida nos banhos é terminantemente proibido! — ela o repreendeu.

—Yukari. — chamou virando-se na água até ficar de bruços, e cruzando os braços sobre as pedras — Você reclama demais. — afirmou — Mas, já me adiantando às suas próximas reclamações, quero dizer que dessa vez não roubei o saquê de seu pai, eu comprei numa loja de conveniências.

Ainda segurando o esfregão Yukari cruzou os braços.

—Numa loja de conveniências?

—É.

—E você pagou?

—Paguei.

Seu olhar se tornou ainda mais desconfiado.

—Com dinheiro de verdade?

—Até o por do sol! — piscou.

—Oh, você! — ela girou os olhos.

—Está vendo, Yukari? É por isso que eu digo que você reclama demais!

—Só porque você me dá razões para isso. — e então, franzindo o cenho, perguntou: — Onde você está arrumando comida?

—Hã?

—É que já faz algum tempo que você não vem roubando comida da pousada...

—Oh, que fofo. — ele deitou a cabeça sobre os braços cruzados — Está preocupada comigo, Yukari?

—Na verdade com meu pai. — ela respondeu.

—Com seu pai? — repetiu — E por quê?

Yukari cruzou os braços.

—Há semanas as contas de meu pai vinham dando errado, ele estava praticamente enlouquecendo com isso, e começou a ficar paranóico, desconfiar que tinha alguém morando aqui escondido, algum vagabundo...

—Eu não sou um vagabundo. — Gintsune bocejou — E você não pode culpar apenas a mim por seu pai quase ter enlouquecido, você sabe sobre mim e nunca disse nada, só deixou-o ficar lá...

—E o que eu podia dizer?! — ela irritou-se — Chegar e dizer “papai a verdade é que temos uma raposa na pousada, rápido, chame um exorcista!”.

—Seria interessante! — Gintsune riu.

—O ponto. — Yukari continuou — É que há dias as contas dele vêm dando certo, sem nenhum erro mais.

—E isso é bom, não é? — perguntou cínico.

—Aí depende. — respondeu.

—Depende de que?

—Se as contas estão realmente certas, ou... — cerrou os olhos — Se você está manipulando a mente de meu pai.

E Yukari sabia que a raposa era capaz daquilo, porque ele mesmo havia confessado isso a ela algum tempo atrás, quando ela lhe perguntara como, em nome dos deuses, ele havia feito para conseguir se matricular na escola.

“Não foi difícil, na verdade” — foi o que ele lhe dissera — “Tudo o que tive que fazer foi criar algumas ilusões para que umas folhas em branco se parecessem com documentos de verdade, e depois manipulei a mente do diretor, coloquei-o para dormir, invadi seus sonhos e os fiz parecer reais o suficiente para que ele acreditasse que realmente um casal de pais havia ido ao seu escritório e matriculado uma nova aluna em sua escola. Foi bom eu fazer minhas pesquisas.”

—Ah, então você acha que eu estou manipulando e sabotando as contas de seu pai? — Gintsune apoiou o rosto numa mão. — Eu até poderia. — confessou — Mas seria trabalhoso demais.

Descartou movendo-se e nadando mais para longe, tornando-se ainda mais um borrão no meio de todo aquele vapor.

—Como assim trabalhoso?

—Me matricular foi fácil. Uns sonhos realistas aqui, umas ilusões ali... Eles arquivaram tudo, mas se procurassem os documentos agora só iriam encontrar umas folhas em branco, mas por que fariam isso? — ele respondeu ainda nadando lentamente — Agora o seu pai? Não, o seu pai faz aquelas benditas contas todo dia, eu teria que soprar respostas erradas em seu ouvido todos os dias por horas a fio. — girou os olhos — Faz idéia de como isso seria tedioso e trabalhoso?

—Então... — Yukari hesitou — Você realmente não está mais roubando da comida da pousada?

—Não estou. — garantiu mergulhando.

—Por que você parou? — Yukari perguntou curiosa.

A raposa emergiu novamente no centro da fonte, ficando agora totalmente de pé, com a água batendo pouco acima dos joelhos, de costas para ela, ele passou as mãos pelos cabelos.

Mesmo sendo apenas uma silhueta, ainda era visível que a raposa era terrivelmente bela, ainda que num corpo feminino, de repente Yukari percebeu que havia passado todo aquele tempo olhando-o e falando diretamente com ele, sua forma feminina a havia feito baixar a guarda, mesmo que ela soubesse que na verdade se tratava de um homem.

Vexada ela rapidamente virou-se de costas novamente.

—Por nenhum motivo especial. — o ouviu responder.

Mas havia sim um motivo por trás das ações da raposa, quase sempre há.

Umas poucas semanas atrás — mais ou menos quando Ayaka Shiori começou a freqüentar a escola — o pai de Yukari havia reunido toda a família no escritório atrás da recepção da pousada, ao que parece ele estava convencido de que havia algum “vagabundo morto de fome” morando escondido na pousada, a avó teorizou de que, talvez, eles estivessem  sendo assombrados por algum tipo de espírito — ela era, no final das contas, uma velha muito sagaz — algo com o que Yukari, convenientemente, concordou e que assustou sua mãe.

As três já estavam tendo uma conversa sobre a possibilidade de chamar um exterminador quando o pai cortou aquela conversa pela raiz, não era nenhum espírito que os estava assombrando, era sim algo de carne e osso, a avó ainda insistiu que chamar um exterminador não faria mal, mas ele recusou-se, “pensem na reputação da pousada!” foi o que ele dissera “se um boato de algo assim se espalha, que chamamos um exterminador para dar jeito em algum espírito maligno, nossos clientes se afastarão!”, algo com o que as mulheres discordaram terminantemente, Higanbana era uma cidade de lendas, portanto, para elas, uma história desse tipo ligada à pousada só atrairia mais clientes. Quer fosse verdade ou não.

Mas ali era o pai que dava a última palavra. E ele havia decidido nada de exorcistas.

Porém, era preciso dar um jeito naquilo antes que os primeiros hóspedes começassem a chegar, assim enquanto as mulheres ficaram em casa e se certificaram de trancar as portas e janelas — o tal “vagabundo” podia acabar tentando escapar pra lá, e nunca se sabia o que uma pessoa dessas podia fazer — o pai e outros dois homens — que agora Gintsune reconhecia como os até então desconhecidos jardineiro e cozinheiro da pousada — passaram duas noite seguidas caçando o tal vagabundo escondido na pousada.

E não pense você que o que fez Gintsune deixar de roubar comida foram as caçadas desses homens, muito longe disso, aquelas foram até noites divertidas, afinal ele as passou inteiramente atormentando aqueles homens, fazendo sons e barulhos estranhos na pousada, levando cada um numa direção diferentes sempre com pistas falsas que os fazia acreditar estar perto de capturar o tal vagabundo... Sempre sem sucesso.

E apesar de tudo a comida continuava desaparecendo.

O que, sinceramente, os estava contrariando imensamente — e, justamente por isso, oferecendo uma diversão sem medidas a ele.

Mas então... O que o fez parar?

Foi o Zashiki Warashi.

O pequeno espírito de boa sorte realmente estava preocupado com o seu lar e tentando cuidar dele, assim criou barreiras em torno da dispensa, dos balneários, das termas, e até da própria pousada, para afastar a raposa, e não que qualquer uma daquelas barreiras fosse forte o bastante para surtir qualquer efeito — na verdade se Gintsune não tivesse visto o pequeno espírito fazendo uma delas ele sequer teria se dado conta da existência delas —, mas, como talvez já possa ter sido mencionado antes, não era intenção de Gintsune, de forma alguma, afugentar aquele menino de lá, mas se ele percebesse o quão inútil eram suas barreiras possivelmente era justamente isso o que aconteceria, então Gintsune o deixou pensar que pelo menos uma de suas barreiras surtira efeito e abrira mão da comida da dispensa.

Depois disso as “caçadas noturnas” do pai de Yukari haviam cessado também, certamente ele achou que havia conseguido afugentar o vagabundo — e bem a tempo da chegada dos primeiros hóspedes!

—Então onde está arranjando comida? — questionou Yukari.

Com o cabelo amarrado num coque no alto da cabeça Gintsune sentou-se sobre as pedras.

—Agora sim está preocupada comigo! Confessa! — provocou inclinando-se para frente e pegando novamente o cachimbo de cabo longo de sua bandeja flutuante.

—Estou curiosa. — Yukari respondeu — Se já não estás mais roubando comida daqui onde a está conseguindo então? E se agora já estás conseguindo comida em outro lugar significa que logo te mudará, eu fico aliviada, mas ao mesmo tempo com pena do pobre estabelecimento que arruinarás.

—Que mulher mais entediante! — Gintsune soprou a fumaça do cachimbo — Saiba que não estou indo a lugar nenhum, Yukari.

—Ah... Não?

—Faça-me o favor de não parecer tão decepcionada com isso, sim? — ele girou os olhos jogando a cabeça para trás ao dar mais uma tragada no cachimbo — Mas parece mesmo que não entende nada, não é mesmo Yukari?  Olha vê se entende, não importa o quão belo eu seja eu não deixo de ser inumano, entende? Sou um youkai e, portanto, não tenho a necessidade de comer, ou mesmo dormir, diariamente, eu o faço porque gosto, mas na verdade, dependendo do que ou do quanto como, posso ficar até meses sem precisar me alimentar e dormir por décadas se quiser. De qualquer forma a comida humana não pode me sustentar por muito tempo, como deve imaginar, por isso como-a diariamente.

—E... O que exatamente você precisa comer para conseguir passar estes longos períodos sem comer? — perguntou, apertando o cabo do esfregão, pois em seu interior já tinha uma boa idéia do que fosse.

—Outros youkais, é claro. — respondeu — E humanos. Humanos são sempre muito nutritivos. Mas não se preocupe já te disse que realmente não aprecio o gosto dos humanos, apesar de nunca os ter provado...

—É mesmo? — Yukari estava apertando cada vez mais o cabo do esfregão — E o que vai fazer quando começar a sentir forme? Quero dizer, fome de verdade, não há youkais por aqui, sua única opção vai ser devorar h...

—Menina boba. — ele a interrompeu baixando o cachimbo — Quem te disse que não há mais youkais aqui?

—Quer dizer que ainda...?!

Yukari virou-se, mas corou na mesma hora, sentado sobre as pedras a raposa estava completamente exposta e sem um pingo de vergonha, ainda que num corpo feminino, extremamente constrangida Yukari deu-lhe as costas novamente.

—É claro que ainda há youkais nesse mundo, você só não pode vê-los. — Gintsune respondeu — Enquanto houverem humanos com sentimentos ruins haverão youkais. Simples assim. — ele deu mais uma tragada no cachimbo e então o deixou de lado — De qualquer forma não é como se eu estivesse passando fome, eu continuo me alimentando diariamente, sabe? Posso não estar assaltando a dispensa de ninguém, mas ainda tenho meus meios de conseguir comida, eu como na escola, por exemplo, e há algumas lojas onde passo também...

—Passando dinheiro falso. — Yukari o interrompeu — Folhas de árvore que você disfarça com suas ilusões.

Mas de qualquer forma ela estava aliviada em saber que ele não sairia comendo humanos por aí...

—Deixando essa conversa de lado, Yukari, por que não vem tomar banho comigo? — ele a convidou de repente surgindo atrás dela e pondo as mãos em seus ombros — Não há problema, há? Afinal estamos entre garotas, e é mais divertido tomar banho com alguém...

—Deixa-me em paz! Pervertido! — Yukari gritou lhe acertado uma cotovelada no estômago para se soltar e empurrando o esfregão contra ele numa atitude defensiva antes de sair correndo dali.

—Oras... Mas pervertido por quê? — Gintsune perguntou ao nada, depois de ter sido deixado sozinho, e apoiando o queixo sobre o esfregão suspirou — O mundo humano é divertido, mas tão solitário...

É verdade que no mundo youkai ele deixou de encontrar diversão há muito tempo, mas ao menos lá ele nunca estava solitário...

—Oras! E aí está o jovem tengu daquela vez!

O pequeno tengu parou assustado, olhando para todos os lados, procurando quem o chamava, ele carregava nos braços um imenso vaso cheio de água que era quase de seu tamanho.

—Eu estou aqui em cima! Na árvore!

E ao ouvir isso ele rapidamente ergueu os olhos e viu o filhote de raposa com quem falara alguns dias atrás, deitado de barriga sobre um dos galhos da árvore.

—É você! — exclamou — Eu sabia que não tinha ido embora! A vila tem estado muito agitada desde uns tempos! A comida roubada, as roupas que sumiam...! Só podias ser tu! Eu bem que sabia!

—Eu não tenho nada haver com seja lá o que for que você está falando. — fez de inocente.

—Ah, não? — perguntou confuso, tolamente acreditando em suas palavras, mas então se lembrou que estava com pressa — Desculpa, mas não posso ficar para falar! Há fogo e precisam dessa água, por isso tenho que me apressar!

—Ah, claro, vai lá sim. — bocejou a raposa, mas antes que o tengu pudesse realmente se afastar completou: — Não que essa água vá adiantar de alguma coisa, claro.

O tengu parou imediatamente, e girou onde estava.

—O que quer dizer com isso?

A raposa estendeu a mão com a palma para cima e uma bola de fogo azul surgiu ali.

—Você já ouviu falar que é impossível apagar as chamas de uma raposa? — o menino tengu arregalou os olhos — Além do mais, para essa água conseguir apagar alguma coisa, primeiro seria preciso realmente ter algo pegando fogo...

—Mas o incêndio...

—Não há incêndio algum.

—Mas acabou de falar que as chamas de uma raposa...

—Não podem ser apagadas. — confirmou — Mas aquelas lá não são verdadeiras chamas de raposa, você sabe, o domínio sobre as chamas não é a única habilidade das raposas... — e olhou de um lado para o outro, antes de revelar como quem contava um segredo — Também somos muito bons com ilusões.

Novamente o menino tengu arregalou os olhos.

—Quer dizer então que não são de verdade?

—Não.

—E não passa de uma ilusão?

—Exatamente.

—Mas... Por quê?! — o menino estava em choque.

A raposa deu um sorriso travesso, quase cruel.

—E por que mais havia de ser? É por diversão é claro. — confessou. — Vamos, vamos, não faça essa cara, sim? Só estou me divertindo um pouco, foi apenas mais uma pegadinha inocente...

—Mais uma? — o menino tengu o interrompeu — Então as outras coisas também foram culpa tua, eu sabia! Quando aqueles tengus perderam-se a caminho do velho poço, e não conseguiam encontrar o caminho de jeito nenhum!

—Aquilo foi muito divertido! — gargalhou o menino raposa — É uma de minhas ilusões favoritas, eu chamo de “volta da raposa”, quando prendo alguém nessa ilusão não importa o quanto tente nunca será capaz de encontrar a saída! — riu — Quando prendo alguém nessa ilusão, não importa quem seja, ficará perdido até que eu resolva libertá-lo! Do contrário apenas dará voltas e mais voltas sem conseguir encontrar a saída, pouco importa se é um caminho reto sem curvas que já conhece há décadas, sempre voltará ao mesmo lugar! Claro que eu não esperava que eles saíssem voando e escapassem da minha ilusão por cima, mas isso é justamente o que torna os tengus tão interessantes! — ele bateu as palmas da mão, de forma animada — São tão diferentes dos humanos!

—Eu sabia! — afirmou o menino pondo o vaso no chão — E quando aquele ganso que caçavam ficou gigante e passou a caçar os meus irmãos! Eu sabia que eras tu! Só podiam mesmo ser as pegadinhas de uma raposa!

Apoiando o rosto de lado numa mão o menino raposa analisou brevemente o menino tengu.

—Se sabia que era culpa minha, porque não contou a ninguém? — o pequeno tengu corou — Você era o único que sabia da presença de uma raposa na vila, por que não disse nada a ninguém?

—Por que... Os irmãos mais velhos são muito rigorosos nos castigos, nós pequenos tengus já estamos habituados, mas um filhote de raposa... E também eles são muito mais duros com quem não é de nossa espécie.

—Oh que fofo, ficou preocupado?

—C-cala-te! — exclamou corado.

 —Mas você é realmente diferente, não é? — a raposa questionou ainda o analisando — Pelo que pude observar até agora a gentileza não é algo muito recorrente entre os tengus.

—Ei! Você! — algum tengu gritou zangado de longe — Que está fazendo? Anda logo com essa água! Corra! Ou atiramos você no incêndio! Anda! Corre!

—Estou indo! — o garoto apressou-se a pegar o vaso, mas antes de sair correndo deu um último aviso à raposa: — É melhor que vá embora antes que te descubram! Vá!

Assim como a raposa tinha avisado, água nenhuma conseguiu apagar as chamas azuis que consumiam o dojo da vila continuaram queimando até depois do por do sol quando elas, inexplicavelmente começaram a baixa e desapareceram, sem deixar qualquer coisa queimada ou rastros de chamas que fossem... Apenas um dojo encharcado.

Apesar das advertências do pequeno tengu a raposa obviamente não foi embora.

Dias mais tarde houve uma comoção na vila.

—PEGUEM! PEGUEM A RAPOSA! — era o grito que se ouvia de um lado para o outro na vila.

Rindo e escapando de seus perseguidores um pequeno filhote de raposa branca corria pela vila, derrubando, vasos, cestos, tengus que tentassem apanhá-lo e o que mais houvesse no caminho ao mesmo tempo em que se desviava de lanças, flechas, redes e até pedras disparadas em sua direção na tentativa de derrubá-lo/apanhá-lo.

—NÃO A DEIXEM IR PARA FLORESTA! — bradavam — PEGUEM A RAPOSA! PEGUEM!

Parecia que nada seria capaz de apanhá-la, a raposa era esperta e rápida demais, quando o improvável aconteceu: um menino tengu — o mesmo que falara com a raposa nas vezes anteriores — carregando dois pesados fardos de madeira — algo inconcebível para uma criança humana — de repente cruzou o seu caminho.

—Sai! — gritou a raposa sem tempo de desviar-se.

O jovem tengu assustou-se e os dois trombaram, caindo um por cima do outro, derrubando toras de madeira recém cortada que rolaram pelo chão, e antes que a raposa pudesse se recompuser e se erguer uma mão grande e pesada a agarrou pelo cangote e a levantou as vistas de todos.

—Largue-me! — esperneou o filhote — Largue-me!

E enquanto debatia-se o corpo do animal transforma-se no corpo humano de um menino de longos cabelos prateados com orelhas de raposa no alto da cabeça vestindo um quimono púrpura escuro.

—Largue-me eu já disse! — esperneou o menino sendo levado para longe.

Ele foi atirado sem piedade para fora do vilarejo como um animal qualquer, sob o aviso expresso de nunca mais voltar.

—Se voltar nós o mataremos moleque! — advertiu o tengu que o jogara, cheio de desprezo na voz, cuspindo no garoto.

Sentado o garoto limpou o rosto com a manga do quimono.

E eles achavam mesmo que apenas isso o iria manter afastado?

Cerca de dez dias depois um tengu grande e forte com muitas cicatrizes e que gostava de andar por aí com o peito desnudo para exibi-las se irritou muito com um dos tengus mais novos, uma criança tão pequena que mal lhe chegava aos joelhos e nem sequer tinha a capacidade de esconder sua verdadeira aparência ainda.

—Estúpido! — bradou o tengu maior para a aterrorizada criança — Estas lanternas estão arruinadas!

—M-mas eu... Eu... — gaguejava o choroso menino.

—Quando desperdício você acha que causou?! — o grandalhão levantou a mão para golpeá-lo...

Quando algo saltou sobre o seu peito e o derrubou com força no chão.

—Ei brutamontes! — disse a raposa — Não acha que é muita covardia se meter assim com alguém tão menor e mais fraco que você? Além do mais, fui eu quem estragou todas as lanternas, caí em cima delas noite passada, agora tente me pegar estúpido!

E antes que o tengu pudesse fazer qualquer coisa, a raposa fugiu correndo, pisoteando-lhe a cara e indo se esconder na floresta.

—É A RAPOSA NOVAMENTE! — gritou o tengu que fora atacado — PEGUEM-NA! PEGUEM-NA!

Obviamente não conseguiram apanhá-la.

Para Gintsune todos os tengus pareciam iguais até então, os adultos eram orgulhosos, brutos e raivosos, não se importavam em erguer a mão e agredir criaturas menores e mais fracas, acreditavam que a única maneira de educar era pela força, por esse motivo as crianças menores eram todas assustadas e chorosas, e as crianças maiores já eram bruscas e orgulhosas, como sobreviventes,

E não havia espaço para gentileza ali.

Exceto por um tengu.

Aquele pequeno tengu que fora o primeiro a saber sobre a raposa e ainda assim não dissera nada a ninguém era diferente do resto de sua vila, ele recebia o mesmo tratamento duro de todos os outros, sendo constantemente espancado e maltratado em seu treinamento... E ainda assim, arranjara uma maneira de manter a gentileza dentro de si.

Três dias depois do último incidente com a raposa este pequeno estava lavando algumas roupas a beira do rio quando, cerca de meio metro a sua frente, a água do rio começou a borbulhar e quando ele se deu conta do que passava uma imensa cabeça de peixe saiu da água com a bocarra aberta pronto para devorá-lo inteiro.

No susto ele gritou e caiu para trás protegendo-se com os braços e as asas... Até que ouviu as risadas.

Quando teve coragem de espiar viu a cabeça encolhendo e mudando de forma até se tornar no menino raposa, submerso até os ombros e acabando-se de rir.

—É você de novo!

—Olá!

—O que ainda faz aqui? Se os outros te apanham...

—Não vão. — o garoto saltou da água transformando-se num filhote branco antes de pousar no chão, onde se sacudiu espalhando água para todos os lados.

—Argh! Pare com isso! — reclamou o menino tengu — Por que você continua aqui afinal?

—Hum... Como posso dizer? — a raposa branca sentou-se e coçou a orelha com a para traseira — Eu estava cansado de sempre jogar os mesmos jogos com os humanos, a coisa estava repetitiva, cansativa, sabe? Os tengus são agora minha nova distração, pelo menos até eu me cansar deles também. — E sorriu... Até perceber a expressão do tengu. — Ei, o que foi? Por que me olha assim?

—Você disse que joga com humanos? — o menino perguntou fascinado — Então você já viu humanos, certo?

—Bem, é claro. — respondeu confuso. — Você não?

O garoto sacudiu a cabeça.

—Não.

—Nunca?

—As crianças são proibidas de deixar a vila até a fase adulta, e nenhum humano jamais chegou aqui. — contou — Nós aprendemos sobre os humanos e o resto dos seres inferiores nas aulas, mas...

—Oh. — a raposa sorriu lentamente, ele bem que podia se aproveitar daquilo — E você gostaria que eu te falasse dos humanos?

O menino tengu arregalou os olhos.

—E você faria isso?!

—Ah sim, claro. — concordou ainda com seu sorriso perigoso — Mas antes... Que tal um pouco de comida?

—Certo! — o garoto concordou de imediato, levantando-se de forma atrapalhada — Eu já volto! Não vá embora! Eu já volto!

E na pressa de ir embora, até mesmo esqueceu-se da roupa que tinha que lavar.

Acima de sua cabeça havia um céu azul sem nuvens, e por meio segundo Gintsune acreditou que ainda estava à beira do rio esperando aquele tengu voltar com sua comida.

—Olhem, ela está acordando. — disse alguém — Ei, você está bem?

Olhando para o lado ele viu duas garotas e um garoto. Humanos.

Ah sim, agora Gintsune se lembrava, ele era Ayaka Shiori e estava dormindo no telhado da escola.

­—Eu estou. — sorriu brevemente se levantando — Só estava tirando um cochilo.

—Ah, que bom. — uma das garotas suspirou aliviada, pondo a mão sobre o peito — Nós a vimos aqui deitada e pensamos que algo tinha se passado.

—Eu estou bem. — garantiu e, reparando que traziam seus almoços, perguntou: — Já é hora do intervalo?

—Sim... Há quanto tempo você está aqui? — perguntou a outra garota.

—Algum. — respondeu levantando-se, e sorrindo para o trio agradeceu — Obrigada por se preocuparem comigo.

Ele girou nos calcanhares e desceu saltitando as escadas, se realmente era hora do intervalo, Yukari e as amigas deviam estar almoçando agora.

—Yukaaaaari eu estou com fome! Alimente-me! — reclamou jogando-se sobre as costas de Yukari e a abraçando pelo pescoço assim que chegou à sala.

Yukari imediatamente enrijeceu, parando de comer na mesma hora.

Essa era uma das várias vantagens de ser uma garota: garotas tinham muito mais liberdade para demonstrar carinho do que garotos, e Gintsune era alguém, geralmente, muito carinhoso.

—Ayakashi-chan! A professora estava procurando por você, e ela estava bem irritada! — Kaoru-chan o avisou.

Tal como havia imaginado ela e Yukari estavam almoçando juntas, assim como Aoi-chan, e as três haviam, inclusive, juntado suas mesas.

—Hã...? Mas por quê? Foi ela que me colocou para fora de sala. — reclamou ainda debruçado sobre Yukari. — E ainda ficou com o meu mangá.

Sentia a garota tremer sob si, certamente com ímpetos de afastá-lo a bofetadas e chamá-lo — sem nenhuma explicação plausível — de pervertido, mas ela certamente não estava disposta a fazer um escândalo ali na escola, especialmente por algo tão trivial quanto ser abraçada por uma colega de classe.

Ah, as vantagens de ser uma garota...

—Você foi colocada para fora justamente por ler mangá na aula. — Aoi-chan disse timidamente da ponta — E fugiu do castigo, devia ter ficado no corredor, segurando os baldes e pensando no que fez...

—Isso era chato. — disse — Por isso fui dormir no telhado.

Kaouru-chan riu de leve.

—E pensar que Ayakashi-chan fosse ser esse tipo de aluna rebelde!

Ainda abraçado à Yukari, Gintsune sorriu mudando de assusto:

—Ei, ei, Kaoru-chan, que gracinha o seu almoço! Oh olhe essas salsichas, parecem pequenos polvos! — apontou — De certeza que você não vai comer todas, vai?

E sem esperar resposta, já foi esticando o braço e pegando uma das salsichas por si mesmo e a comendo.

—Hmmmm, mas que delícia! — elogiou.

Um comportamento mal educado? Talvez um pouco, mas quem é que se importaria com isso quando quem o fazia era a tão adorável Ayakashi-chan?

Yukari. Ela se importaria.

Gintsune havia acabado de engolir a primeira salsicha. E estava prestes a pegar mais uma, quando a garota agarrou seu braço ainda em pleno ar e levantou-se para livrar-se do abraço de seu outro braço e levá-lo dali.

—Mas o que você está fazendo?! — silvou entre os dentes fechando a porta da sala ao saírem.

Gintsune a olhou inocentemente.

—Eu estava começando a almoçar. — respondeu.

—A comida de Kaoru! — reclamou indignada e num tom mais baixo o acusou — Não rouba mais da pousada, mas agora rouba de minhas amigas?!

—Pare com isso, foi apenas uma salsicha. — girou os olhos. — Por que está tão zangada? Eu preciso comer, sabe? E não estou fazendo mal a ninguém...

—Você não precisa comer diariamente! — ela afirmou em tom de acusação — Pode ficar até meses sem comer! Você mesmo me disse isso!

—E disse também que como porque gosto. — girou os olhos cruzando os braços. — Pare de se estressar sempre e por tão pouca coisa, Yukari, já lhe disse que isso vai deixá-la grisalha precocemente.

—Oras...!

—O que está acontecendo ali? — perguntou a interrompendo, olhando para além de Yukari.

Por reflexo, Yukari virou-se bem no momento em que uma garota de cabelos curtos channel, abria a porta dos fundos da sala e entrava com um obento em mãos.

—Aquela menina não é de nossa sala. — comentou Gintsune — Por que ela veio almoçar aqui?

—Ela não veio almoçar, veio trazer o almoço de Nishitake-kun.

—É mesmo? Por quê? — perguntou curioso já entrando novamente na sala.

E de fato a tal menina recém chegada estava entregando, muito feliz o seu obento a um corado até a raiz dos cabelos Nishitake-kun, sob as risadas mal disfarçadas dos amigos ao redor.

—Porque são um casal. — Yukari respondeu vindo logo atrás dele.

As sobrancelhas de Gintsune arquearam-se com surpresa.

—E as garotas sempre fazem o almoço dos namorados?

—Ah, sim, à vezes... — Yukari confirmou — E mesmo antes de namorarem também, é normal garotas darem almoços aos garotos de quem gostam, cozinhar é uma forma de demonstração de afeto muito comum... Ei, espere! O que você está armando?!

Perguntou dando-se conta, só tarde demais, da periculosidade do interesse daquela raposa.

—Ah! Aoi-chan, o que é isso? O que é? — a raposa ignorou-a por completo, virando-se e afastando-se aos pulinhos de volta para a mesa onde suas amigas comiam e puxando uma cadeira para se sentar ao lado de Aoi-chan.

Sem muita escolha ela arrastou-se de volta para seu lugar.

—Oh! Isso... — Aoi-chan reagiu surpresa — É carne de hambúrguer apenas...

—Mas e essas coisas verdes na carne? — Gintsune apontou.

Aoi-chan corou.

—Isso... Isso... — gaguejou segurando um pedaço da carne em questão entre os hashis — Quando eu era pequena recusava-me a comer pimentão, tem um gosto horrível, sabe? Então mamãe sempre o misturava à carne de hambúrguer para disfarçar melhor o gosto, eu já disse a ela que não precisa mais se dar a todo esse trabalho, não sou mais criança, mas ela...

Ela emudeceu automaticamente quando, repentinamente, Gintsune abocanhou a carne na ponta de seus hashis.

—É delicioso. — ele elogiou apoiando o rosto de lado numa das mãos — Posso comer mais?

Mas foi só quando a garota não lhe respondeu e ele ergueu os olhos que percebeu que não apenas ela, mas também Kaoru-chan e Yukari o olhavam em absoluto choque.

—O que houve? Por que estão... Oh! — de repente cobriu os lábios com as pontas dos dedos. — Isso de agora foi um beijo indireto, não foi? — colocar o ato em palavras pareceu deixar a garota ainda mais envergonhada, já que seu rosto começou a ferver, com tapinhas nos ombros Gintsune tentou confortá-la: — Ora, ora, Aoi-chan, não fique assim tão encabulada, sim? Foi apenas um beijo indireto entre garotas, não é nada demais... Ei vamos, um beijo indireto nem sequer é um beijo de verdade, há uma grande diferença, você sabe... — mas suas palavras de conforto só pareciam deixá-la cada vez mais vexada, suas últimas palavras, inclusive, quase fizeram sair fumaça das orelhas da garota, percebendo aquilo Gintsune não resistiu e dando um lento sorriso cruel perguntou: — Você sabe, não é Aoi-chan? Quero dizer, você certamente já beijou alguém, certo?

—E-e-eu... — a garota gaguejou nervosa como se a ponto de engolir a própria língua.

Apoiando o rosto sobre as duas mãos, gesto que deixou a mostra parte do fino aro prateado em volta de seu pulso, Gintsune prosseguiu na provocação:

—Você já beijou um garoto, não é mesmo Aoi-chan?

Ouviu um chiado furioso atrás de si, certamente Yukari prestes a mandá-lo calar-se, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa outra pessoa adiantou-se:

—Ayaka, pare de constranger a Nishiwake, esse trabalho é meu. — a representante de classe parou ao lado da mesa delas com as mãos nos quadris — Se está assim tão interessada nesse assunto por que não nos diz você se já beijou alguém?

—R-representante! — gaguejou Aoi-chan. — N-não precisa...!

—Você se refere a garotos ou garotas? — Gintsune perguntou sem se alterar.

A representante franziu o cenho.

—Garotos, é claro.

A essa altura Yukari já havia se conformado com a presença dele ali, estava obviamente aborrecida por ele ter feito de alvo a tímida Aoi-chan — e como ele poderia resistir? —, mas limitava-se a resignada comer seu arroz com a expressão fechada.

—Ah sim. — sorriu — Alguns.

—E garotas? — Kaoru-chan perguntou no auge da curiosidade.

—Também. — respondeu com naturalidade, Kaouru-chan e Aoi-chan coraram, e até mesmo a representante ficou com as bochechas levemente rosadas, em seu assento Yukari começou a tossir, Gintsune continuou: — Eu gosto de variar, sabe?

A tosse de Yukari tornou-se mais insistente e forte, entre chiados e olhos que começavam a ficar vermelhos ela largou os hashis e levou a mão ao peito, tossindo sem parar.

—Shibuya! Oi! Shibuya! — a representante virou-se preocupada para ela — Ela está engasgando! Rápido Shibuya, levante os braços, levante!

E já quando Yukari levantava os braços a representante apressou-se a lhe dar duas tapas em suas costas, mas a das tranças continuava tossindo compulsivamente e agora, Gintsune tinha quase certeza, o rosto estava até mesmo ficando um pouco azulado.

—Yuki! Yuki o que você tem?! — Kaouru-chan levantou-se preocupada.

Ainda tentando dar uma terceira e uma quarta tapa nas costas de Yukari a representante dispensou Kaoru-chan com um movimento de mão sem sequer olhá-la:

—Hongo vá rápido buscar algo para Shibuya beber!

—Estou indo!

—Eu também vou! — Aoi-chan apressou-se a dizer.

Mais do que imediatamente as duas levantaram-se e correram dali, abrindo espaço por entre o amontoado de alunos que já se juntava, todos curiosos com o que se passava.

Ao notá-los ali a representante rapidamente se virou para espantá-los:

—Circulando vocês todos! Vamos, circulando! Afastem-se ela precisa de ar! Afastem-se!

E tão logo obteve um pouco mais de espaço, mas não muito — diga-se de passagem — virou-se para cuidar novamente de Yukari, cujo rosto estava definitivamente se tornando azul.

E no meio de toda aquela comoção ninguém estava prestando atenção a Ayaka Shiori ou aos almoços das meninas...

Olhando cuidadosamente ao redor Gintsune foi, lentamente enfiando a mão dentro da blusa do uniforme de onde puxou seu cachimbo de cabo longo, deu mais uma olhada ao redor, e com apenas um movimento da mão o cachimbo tornou-se num refinado par de hashis negros com a figura de uma raposa prateada gravada em cada um deles.

A raposa sorriu de maneira astuta.

Kaoru-chan e Aoi-chan trouxeram cada uma um sabor de suco diferente, mas levou algum tempo até Yukari finalmente se desengasgar, e vários minutos se passaram depois disso até ela deixar de tossir e estar em condições suficientes para conseguir tomar um dos sucos.

Vendo que a confusão havia acabado o povo logo perdeu o interesse e começou a se dispersar.

—Poxa Yuki, não nos assuste assim. — Kaoru-chan suspirou aliviada, sentando-se novamente em seu lugar. — Que susto.

—Sim, que susto nos deu. — concordou Aoi-chan.

—Beba devagar. — aconselhou a representante.

Yukari sorveu mais um gole de seu suco antes de dizer:

—Desculpe tê-las preocupado assim... Mas agora já passou. — disse com uma voz que parecia arranhar a garganta — E nós perdemos uma boa parte do intervalo por causa de toda essa confusão minha, não é? É melhor terminamos logo de almoçar ou...

Mas quando baixou os olhos seu obento havia desaparecido, e não apenas o seu, como os de Kaoru-chan e Aoi-chan também, e lentamente o olhar das quatro meninas — inclusive da representante de turma — se dirigiu aos três obentos vazios empilhados bem diante de uma satisfeita Ayaka Shiori que, com um par de hashis na mão disse:

—O almoço estava realmente muito bom!

Gintsune não tinha idéia de qual fora a aula seguinte, mesmo porque, de uma forma ou de outra, ele acabou sendo expulso desta também logo na primeira metade da aula, parece que não apenas era proibido ler mangás durante a aula como também era proibido retrucar “de maneira pouco educada” quando lhe solicitado que prestasse atenção por mais de sete vezes seguidas, de forma que ele logo foi posto para segurar baldes de água no corredor novamente.

Ele podia ter simplesmente deixado os baldes ali e ido embora, como da última vez, mas dessa vez arranjou algo de mais divertido para fazer.

A aula já havia quase chegado ao fim quando uma das janelas da sala se abriu e um garoto colocou a cabeça para fora, possivelmente a mando da professora para checar se Ayak Shiori ainda estava ali ou havia fugido novamente — ou então apenas para ver se ela estava bem, afinal Shiori parecia uma garota tão frágil e tão delicada, certamente era uma crueldade deixá-la segurando aqueles baldes pesados cheios de água por tanto tempo no corredor.

Mas se surpreendeu com o que viu.

—Oh! Ayakashi-chan! Como está fazendo isso?! — exclamou.

Ao lado da porta Gintsune equilibrava um dos baldes cheios d’água sobre a cabeça, o outro estava equilibrado na ponta do pé com a perna bem esticada para frente, tudo sem derramar uma única gota no chão.

—É fácil. — respondeu com os braços erguidos para manter o equilíbrio. — Não é nem um pouco difícil. Mesmo.

Completou pondo as mãos nos quadris e virando o rosto para ele.

—Incrível Ayakashi-chan! — ele a elogiou, entusiasmado.

E já enquanto ele dizia isso outros rostos foram aparecendo enfileirados e um por cima do outro na janela, para ver o que se passava, inclusive a porta dos fundos foi aberta e mais alunos surgiram por ali.

A porta da frente também se abriu e Yukari franziu o cenho para ele, até que a própria professora saiu.

—Ayaka-san! — o repreendeu — O que pensa que está fazendo?!

Gintsune virou o rosto para ela.

—Segurando os baldes. — respondeu cinicamente — Como a senhora ordenou.

—Segure esses baldes direito agora mesmo! — a professora exigiu.

Girando os olhos Gintsune dobrou a perna para trazer o balde mais para perto ao mesmo tempo em que tirava o outro de cima da cabeça, e então se virou para ela com um balde em cada mão.

—Agora Ayaka-san...!

A professora já dizia em tom irritado, mas foi se calando a medida em que ouvia o sinal tocar, e franziu o cenho até decidir, uns poucos segundos depois, que agora ela era problema do professor da próxima aula e resignada retornou à sala para buscar suas coisas antes de ir embora.

—Puxa, essa foi por pouco Ayakashi-chan! — um garotou o cutucou no ombro — A professora estava mesmo uma fera.

—Oh, tenho certeza que logo ela esquece. — afirmou sorrindo, pondo os baldes no chão.

E então, percebendo um olhar sobre si ele virou-se, e ali estava Yukari olhando-o zangada com os braços cruzados.

—A escola é divertida, não é Yukari? — sorrindo ele apertou uma das bochechas da garota.

Afastando sua mão com uma tapa Yukari girou os olhos e voltou para a sala.

...

Com um suspiro exausto Yukari reclinou-se sobre o balcão na recepção da pousada, aquela raposa ainda ia pô-la louca!

Nunca imaginou que pensaria isso, mas era bem melhor quando ele simplesmente ficava a dar voltas pela cidade e a incomodava somente à noite com suas histórias inconvenientes, agora ele ia à escola com ela e ainda arranjava tempo para dar voltas na cidade e arranjar mais histórias com as quais incomodá-la à noite!

—Yuki?

Yukari ergueu-se rapidamente ao ouvir o chamado da mãe.

—Sim senhora?

A mãe havia parado ao pé das escadas carregando nos braços uma cesta com o que pareciam toalhas sujas.

—Está tudo bem? — perguntou.

—Está, está sim senhora. — respondeu de imediato.

A mãe ainda a olhou de forma preocupada por um momento.

—Tem certeza? — insistiu.

—Sim, sim, claro. — respondeu de imediato.

—Se estiver cansada eu posso substituí-la na recepção. — ofereceu — Eu só preciso levar estas toalhas...

—Não precisa mãe. — negou — Eu estou bem. Juro.

—Está bem. — a mãe cedeu com um suspiro — Mas não se esforce demais, certo Yuki? Não é bom passar uma imagem exausta a nossos convidados...

E justamente enquanto falava isso um trio de mulheres saiu do balneário feminino, todas usando yukatas e rindo entre si, Yukari e a mãe pararam o que estavam conversando e sorriram de forma educada para elas, que subiram as escadas ainda rindo e conversando entre si.

A pousada contava, atualmente com cerca de 103 hóspedes.

—Não se esforce demais, Yuki. — a mãe a avisou mais uma vez antes de ir embora.

Ao ver-se sozinha novamente na recepção Yukari voltou a suspirar.

De fato ela estava exausta, mas ainda que descansasse o dia todo ela continuaria exausta, e continuaria enquanto aquela raposa estivesse ali.

—Yuki!

Yukari voltou a erguer a cabeça, nem mesmo percebera que a baixara novamente, quando ouviu o chamado de Kaoru e deu um grande sorriso ao surpreender-se a vendo entrar na pousada ainda usando o uniforme escolar.

—Kaoru! O que faz aqui?

—Yo, Shibuya. — a representante de turma a cumprimentou entrando logo atrás — Faz algum tempo que eu não vinha aqui.

E atrás dela vinha, oh não, não, não.

A raposa.

—O que fazem todas vocês aqui? — Yukari perguntou agora pálida.

A representante explicou:

—Nishiwake ficou até mais tarde na biblioteca da escola hoje, e acabou encontrando a Ayaka por acaso dormindo atrás de uma das prateleiras mais ao fundo.

A raposa espreguiçou-se.

—Aquela escola tem tantos lugares bons para dormir! — exclamou satisfeito.

—As duas estavam saindo quando encontraram por acaso a mim e a Hongo, que tínhamos acabado de terminar as atividades do clube. — a representante continuou — E Ayaka sugeriu viéssemos todas aqui na casa de banhos.

O rosto de Yukari ficou ainda mais pálido.

—Vieram tomar banho? ­— perguntou em choque. — Aqui? Todas juntas? No banho público?!

—E para o que mais se vêm a uma casa de banhos, Shibuya? — a representante deu um peteleco na testa de Yukari.

—Eu convidei Aoi-chan também, mas ela disse que não era uma boa idéia. — a raposa deu de ombros — Bem, talvez na próxima.

É claro que Aoi-chan havia declinado um convite daqueles, ela era tímida e retraída, jamais se sentiria confortável num banho público, ainda mais porque em lugares como aqueles o uso de roupas de banho ou cobrir-se com qualquer toalha que fosse durante o banho era estritamente proibido.

—Vocês não podem tomar banho! — disse de repente.

E Kaoru, que mexia na bolsa a procura do dinheiro, parou o que estava fazendo para olhá-la.

—O que? Por que não Yuki?

Yukari olhou em pânico para as duas garotas e para a raposa entre elas, que a olhava de maneira curiosa com as mãos juntas atrás das costas.

—O que foi Yukari? — ele perguntou cheio de inocência e curiosidade. O falso! — Por acaso está chateada por que não a chamei também? Mas você pode vir também, será divertido!

E abriu um grande sorriso.

Yukari encheu-se de irritação, ele estava de novo com aquela conversa de pervertido querendo que ela tomasse banho com ele!

—A Shibuya é muito responsável com seu trabalho, Ayaka, ela nunca abandonaria seu posto para tomar um banho. — a representante de turma tomou a frente antes que Yukari pudesse dizer qualquer coisa, pondo o dinheiro sobre o balcão.

—Representante! — exclamou Kaoru — Não pode pagar por nós três!

—Eu não me incomodo de ela pagar por mim. — a raposa comentou.

—Deixa assim. — a representante acenou displicente com a mão e já começou a se encaminhar para o balneário feminino — De qualquer forma nenhuma de nós três trouxe toalhas ou acessórios de banho, e teremos que comprar alguns nas máquinas de venda.

—As maquinas de venda cobram em notas ou moedas? — a raposa perguntou seguindo-a juntamente com Kaoru.

—Ambos. — a representante respondeu.

Quase tropeçando com os tamancos de madeira Yukari deu a volta no balcão e correu para alcançá-las.

—Não podem tomar banho com ela! — gritou agarrando ao braço de Kaoru.

As garotas e a raposa se viraram a olhando como se ela fosse uma louca.

Bem, talvez não a estivessem olhando como se ela fosse louca, mas era certamente assim que Yukari as sentia olhando para ela.

—Por que não? — Kaoru perguntou surpresa.

—Porque ela... Ela... — Yukari olhou mais uma vez para a raposa e mordeu o lábio inferior.

—Yukari, você parece pálida. — a raposa comentou.

—Shibuya? Está tudo bem...?

A representante já estendia a mão para tocá-la quando, de repente, Yukari gritou:

—Ela não é uma garota de verdade!

O silêncio se fez presente entre as quatro, e, dando-se conta do que havia dito, Yukari lentamente soltou o braço de Kaoru.

—Eu... Eu...

—Não é uma garota de verdade? — Kaoru repetiu com os olhos arregalados — O que isso quer dizer?

—Ayaka, por acaso você é um travestir? — a representante perguntou sem preâmbulos.

—Travestir? — a raposa a olhou inocente, pondo uma mexa de cabelo atrás da orelha — O que é isso?

—Você sabe, são homens que se vestem de mulheres. — a representante respondeu e franziu o cenho — Na verdade alguns são muito fofinhos. Adoráveis.

—Oh! — a raposa uniu as palmas das mãos — Você quer dizer como os atores de teatro!

—Hum... Sim, ás vezes. — a representante concordou.

—Entendi. Então é esse o nome que usam agora. — a raposa concordou, não parecendo se importar com a estranheza que suas palavras despertavam — Mas não, sinto decepcioná-las, mas não sou um travestir.

—Então... — Kaoru o olhava cheia de curiosidade, e virando-se para Yukari perguntou: — Por que você está agindo dessa maneira, Yuki?

—Eu tenho minhas razões! — Yukari tentou pegar a raposa para afastá-lo de suas amigas.

Mas ele afastou-se uns dois passos recolhendo as mãos junto ao peito olhando-o da mesma forma inocentemente assustada com a qual a havia olhado no dia em que se apresentou na escola como Ayaka Shiori e tentou enganá-la com aquela falsa identidade.

—Eu não estou entendendo Yukari, por que está me tratando assim? — perguntou o cínico — É óbvio que sou uma garota de verdade!

—Não você não...!

—Yuki? — Kaoru a chamou hesitante. — Por que é que você está tratando desse jeito a Ayakashi-chan?

—Não...! É que eu...! Ela...! Ele...! — Yukari não sabia como se explicar.

—Tudo o que eu quero é tomar um banho agradável. — a raposa afirmou inocente — E é mais divertido tomar banho com outras garotas.

—Oras seu...!

—Shibuya. — a representante colocou a mão sobre o ombro de Yukari com o cenho franzido de preocupação — É óbvio que você tem estado sob muito stress, talvez devesse pedir uma folga aos seus pais.

—Não, eu...!

Mas era tarde demais e, impotente, Yukari assistiu a representante de turma e Kaoru entrarem no balneário feminino junto com a raposa.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Curiosidades Japonesas:

Segurar baldes no corredor:
Antigamente nas escolas japonesas, quando colocados para fora da classe os alunos eram obrigados a ficarem segurando baldes de água no corredor até que os professores os liberassem, atualmente isso não é mais feito, mas eu quis colocar esse detalhe na história mesmo assim.

Beijo indireto:
No Japão, beijar em público não é muito usual, bem como outros tipos de contatos físicos. Os japoneses mais conservadores olham o ato com reprovação. O gesto é visto com tamanha seriedade que se criou ali o termo “beijo indireto”, isto é, quando duas bocas tocam o mesmo objeto como um canudinho, ou um par de hashis, por exemplo. Afinal tais objetos contém sua saliva, e compartilhar a saliva é um ato bem intimo entre as pessoas.

Até 2020!



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