As Serpentes do Som escrita por Goth-Lady


Capítulo 3
Cap.3 A Serpente Colorida




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Neonmachi era uma vila peculiar. Talvez fosse um crime chamá-la de vila, o mais correto seria chamar de cidade, metrópole ou até mesmo megalópole. Ela era tão grande, mas tão grande que seria preciso uma centena de milhares de homens para cercá-la. Com 63 distritos, Neonmachi é a capital do entretenimento.  

Seus prédios eram feitos de concreto, vigas de metal e vidro cujos telhados de concreto ou metal colorido brilhavam em neon durante a noite. A cidade tinha uma roda gigante inteiramente iluminada com neon, um teatro maior que o outro, cuja parte externa era iluminada com luzes e neon, os postes emitiam luz nas ruas, os centros de convenções também eram iluminados por luzes e neon, bares, clubes, bordéis e sinucas tinham placas de neon na porta, os cassinos eram todos trabalhados em neon e as boates tinham shows de luzes, fogo, água e neon. Até as praças e os parques da cidade aderiam ao neon durante a noite. Até mesmo os relógios das torres tinham neon cujo fundo era rosa, os números verdes fluorescentes, os ponteiros roxos e o ponteiro dos segundos era laranja.

O neon era a vida da cidade, o sangue que corria pelas veias, o ar que respirava. Não era a toa que podia ser utilizado como alquimia pelos alquimistas da cidade, porém também haviam pessoas que eram capazes de manipulá-lo, os conhecidos manipuladores de neon. Manipuladores estes que usavam o neon para colorir suas vidas e grafitar pela cidade, embora também servisse para o combate. Era fácil identificar um manipulador de neon, bastava procurar pessoas com roupas coloridas e chamativas, pois não havia algo que eles mais gostassem que não fosse cor. Uma dessas pessoas era Argella.

Argella era uma garota de pele negra, olhos castanhos e tinha o cabelo colorido preso em um rabo de cavalo lateral na direita. A parte que cobria a cabeça e a franja curta que dava formato de cuia eram de um vermelho cereja. No topo do rabo predominavam o lavanda e o rosa chiclete, abaixo estavam o vermelho cereja e uma mecha gorda de laranja meio cobre seguido por um tom de verde limão e um de verde grama, seguido por uma mecha de azul gelo, passando por um tom entre o roxo e o azul e finalizando com o roxo. Todo o rabo era um grande cacho com algumas mechas coloridas rebeldes para dar mais volume e movimento.

Suas roupas consistiam em um tomara que caia rosa claro, calça colada de cintura alta azul, cinto de correntes douradas, sapatos roxos uma jaqueta de um verde opaco e desbotado, um colar com um coração vermelho cereja e um anel em formato de serpente de olho de tigre.

— Vocês querem música?!

— Sim!

— Eu não ouvi direito!

— SIIIIIIIIIIIIM!

— O pedido de vocês é uma ordem!

Argella foi para trás da mesa e começou a tocar em volume alto. A música fez os presente vibrarem e dançarem enquanto um show de luzes coloridas e neon faziam parte de sua apresentação. Ela era conhecida em todas as grandes cidades como A Serpente Colorida devido à cor de seu cabelo e suas roupas coloridas, mas em Neonmachi e em alguns distritos da capital Kinzoku era conhecida como A Serpente de Neon.

Seu trabalho como DJ nas grandes boates de Neonmachi a tornaram conhecida e disputada por elas. Além de DJ, ela desempenhava o papel de mexer com luzes e neon durante a apresentação de outros DJs, além de mexer com o pirotécnico e efeitos de água.

A música ecoava pelas paredes, os corpos se mexiam em ritmo frenético, pulseiras de neon se agitavam nos braços e algumas bebidas eram vistas circulando pela pista. Argella dançava enquanto tocava, dava uma rebolada ou outra, sorria e se divertia o máximo que a mesa permitia. O encanto só acabou às cinco da manhã, mas a serpente teve que ir embora às seis.

O sol começava a nascer ao passo que os neons eram apagados. De dia as cores da cidade apareciam, à noite os neons brilhavam. Argella podia ver algumas pessoas andando pelas ruas, pois enquanto ela voltava para casa, outros estavam indo trabalhar. A vida em Neonmachi era assim, seus habitantes trocavam de turno durante o dia ou durante a noite, mas a cidade nunca dormia. A garota pegou um trem cujos neons estavam apagados e foi para casa. Os trens de Neonmachi tinham formato arredondado e eram de um verde fluorescente enfeitados com milhares de grafites de neon. À noite brilhavam, mas de dia eram apenas trens coloridos.

A primeira coisa que fez quando chegou em casa foi se atirar no sofá. Não era muito grande, na verdade era um apartamento bem modesto de uma suíte com varanda, uma sala e uma cozinha com conceito aberto e um lavabo que usava como lavanderia. Dumbo, seu familiar, um elefante muito pequeno que usava lenço vermelho e laranja, correu para perto da dona.

— Argie! Finalmente você voltou! A noite foi agitada?

— Muito. Por que amanhece tão cedo?

— Vai ter que começar a viver de dia. O Festival da Lua está chegando.

— Puts! Eu me esqueci completamente!

Argella correu para o quarto e começou a arrumar as malas desesperadamente. Sua sorte era que seu vestido estava em Chugo, mas ela o odiava, assim como sua roupa de viagem. Não que fossem feios, eram muito bonitos, mas o motivo era outro, eles eram marrons. A roupa ficava perfeita nela, a deixava com aparência mais durona e mais selvagem, mas ela trocaria por uma colorida sem pensar. O problema não era a cor em si ou as cores, o problema era que ela queria juntar várias cores diferentes em uma mesma roupa, mas ninguém vendia dessa forma. Já o vestido foi por culpa das irmãs que decidiram usar vestidos das cores dos olhos em todos os festivais que passariam em Chugo e a cor dos de Argella era castanha.

— Queria ter nascido com os olhos da Lyanna. – Sussurrou para si mesma.

Se recordava dos olhos da mais nova, mataria para ter iguais, mas no País do Mistério um assassino de parentes era amaldiçoado pelos deuses e pelos homens. Tal pensamento a fez se lembrar de suas irmãs e como estavam se saindo. As únicas que tinha vontade e disposição para visitar eram as gêmeas Rhaena e Daena, Mellario, Alannys e Trystane e Arianne, não por que eram suas preferidas, mas porque as cidades em elas moravam eram grandes e movimentadas.

Está certo que Kyandi não era grande, mas era bem movimentada, assim como sua vizinha Brute Diamond. Já Kinzoku, Sekitan e Kaikomachi eram três das quatro grandes cidades do País do Mistério, mas nenhuma era rica em neon como Neonmachi. Quando algum problema acontecia dentro do país, eram as quatro grandes cidades que resolviam. Quando eram as grandes que tinham problemas, elas mesmas se resolviam. Kinzoku, Sekitan, Kaikomachi e Neonmachi eram tão grandes que era preciso uma rede ferroviária de trens-bala ou apenas de trens para não só se movimentar entre seus distritos como também ajudar viajantes que estivessem entrando ou saindo da cidade, pois se o percurso fosse feito a pé, duraria três ou quatro dias para chegar aos portões.

— Vai ser legal ver todas juntas de novo.

— E os familiares também. Argella, não deveria dobrar suas roupas ao invés de socá-las na mala?

— Até faria isso, mas eu não tenho muito tempo. São cinco horas de viagem do Distrito 5 até o portão mais próximo e mais alguns dias até Chugo e o Festival da Lua está chegando! Mas o portão mais próximo é mais afastado de Chugo! Ah, cara, eu tenho que tocar amanhã também! Ou era hoje à noite? E eu estou morrendo de sono!

Dumbo estava acostumado com os surtos de exagero de sua dona. A Serpente Colorida era tão exagerada que fazia tempestade sem nem esperar o copo d’água.

— Ainda temos tempo, Argie. Vá dormir, deixa para arrumar as coisas depois. Eu cuidarei de tudo por aqui.

— Obrigada, Dumbo!

Ela se jogou na cama e dormiu feito uma pedra. Dumbo começou a reorganizar a mala, mas dessa vez, dobrando as roupas ao invés de socá-las.


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Notas finais do capítulo

Então pessoal, o que acharam de Neonmachi e sua serpente? Não foi inspirada em Las Vegas, não inicialmente.



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