Seven Warriors escrita por Naru


Capítulo 16
Tenho coragem de ser leal a você - parte 3




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Dylan estava com seus pensamentos perdidos ao que olhava a vegetação em curso fora da janela; as paisagens passavam correndo por suas vistas e ele apenas encostava mais a cabeça no vidro. Adrien estava ao seu lado, dirigindo rapidamente o veículo em que se encontravam, a atenção presa na estrada a frente dos dois. Então, aparentando estar completamente cansado e entediado, ele virou a cabeça para o loiro e disse sem muito interesse:

 

― Você é um ladrão de carros.

 

― O que? ― Adrien não tirou a atenção da estrada a sua frente e parecia não ter entendido o que o outro tinha dito.

 

― Isso mesmo, um ladrão de carros. ― Ele se ajustou mais ao banco e esticou as pernas, apoiando-as no painel do veículo ― Quando você me disse para fugir com você, imaginei uma coisa diferente do que a gente roubando o carro do meu vizinho e dirigindo para longe de Delphos. E você fez isso com tanta facilidade... já tinha feito antes?

 

― Não. Mas não é tão difícil.

 

― Sim, para um criminoso. ― Ele desviou o olhar para o chão e disse a frase em um tom baixo, entortando a boca de forma descontente.

 

― Eu não sou... ― Adrien suspirou como se buscasse paciência e então encarou o outro ao seu lado ― Eu não sou um criminoso.

 

― Isso é o que todo criminoso fala.

 

― Você estava calado há pelo menos uma hora, o que aconteceu para ficar tão falante de repente? ― Ele voltou a atenção para a estrada a sua frente, o Sol reluzia forte naquele dia e de vez em quando atrapalhava sua visão.

 

― Eu estava tentando entender umas coisas.

 

― E entendeu? ― perguntou sério.

 

― Não muito, mas eu reparei uma coisa... ― iniciou Dylan observando a figura a sua esquerda ― Você está conseguindo enxergar? Você não usava óculos? Lembro que você se livrou dele do nada.

 

― Eu usava, mas não preciso usá-los se não quiser. Minha visão é perfeita. ― disse sincero, fazendo Dylan ficar confuso.

 

― Por que usava então se não precisava? ― Ele juntou as sobrancelhas em um gesto de dúvida e observou Adrien respirar fundo, alterando o semblante para um desenho melancólico.

 

― Karyn achou que ficaria bem em mim e que passaria mais credibilidade. ― Ele parecia ter evitado falar aquilo, pois sabia que o assunto voltaria a desatar a ferida que estava longe de ser cicatrizada.

 

― Karyn, você quer dizer...minha mãe? ― disse com a voz claramente embargada. Ele ainda não conseguia associar aquele nome Katy.

 

― Sim.

 

― Eu não consigo acreditar ainda no que aconteceu. Ela morreu e nos últimos momentos de vida disse que eu não era filho dela. ― Ele voltou a olhar para fora do carro, encarando o céu claro a sua frente com algumas lágrimas teimando em brotar de novo ― Por que ela faria isso? Por que ela se foi dessa forma? ― Ao não ouvir nenhum som de resposta, ele virou o rosto para Adrien e disse sério ― Você disse que eu teria respostas se viesse com você, então, é bom começar a respondê-las.

 

― Tudo bem. ― Ele virou o carro em uma curva mais crítica para começar uma subida e continuou ― Ela disse isso porque é verdade. Por mais que vocês tivessem uma relação de mãe e filho, ela não era a sua mãe de verdade, biológica.

 

― Então, eu sou adotado? ― perguntou com os olhos marejados.

 

― Não exatamente. Karyn foi sua mãe por três anos e meio apenas, antes disso vocês nem ao menos se conheciam.

 

― Oi? Do que está falando? Como pode ser uma coisa dessas? ― Ele parecia indignado com o que tinha acabado de ouvir e várias memórias de sua infância vieram a sua mente, ele lembrava-se perfeitamente de Katy, ou Karyn, desde que ele nem ao menos sabia falar direito ― Que absurdo é esse? Ela sempre foi minha mãe!

 

― Você deve estar lembrando de vários momentos com ela de quando era criança, certo? Deve estar pensando que o que eu disse não faz sentido justamente por isso, não é? ­― Ele segurou a marcha a sua direita e Dylan conseguia notar a ponta de seus dedos ficarem vermelhos ao que ele pressionava o material.

 

― Exatamente.

 

― Suas memórias não são reais. As verdadeiras foram retiradas da sua mente e memórias falsas foram colocadas no lugar, tudo o que você lembra de antes de chegar em Delphos é uma mentira criada e inventada por alguém. ― Ele jogou tais informações tão sérias de uma só vez, como se fosse menos doloroso dessa forma.

― O que? ­― Dylan parecia completamente indignado ao ouvir aquilo, porque de alguma forma, fazia sentido. Desde que chegara a Delphos, suas memórias pareciam confusas e enroladas. Porém, ao mesmo tempo, as lembranças com Katy eram perfeitas e isso ele não conseguia entender ― Se alguma parte disso é verdade, então me diz uma coisa, quem faria isso comigo?

― Eu fiz. ― respondeu sem hesitar, deixando o olhar fixo a frente do carro, como se quisesse evitar contato visual.

― Como é que é? ― Dylan tirou as pernas do painel do veículo e se ajustou em seu banco, olhando para o rapaz do seu lado em descrença.

― Eu fiz isso com você. Exatamente como alterei a memória daquela senhora pouco tempo atrás, eu alterei a sua por completo. ― Ele virou o rosto e encarou Dylan com os olhos azuis contendo uma expressão de culpa ― Eu fiz isso.

― Você...você... ― Ele se encurvou para frente e apoiou as mãos em seus joelhos, como se não soubesse o que fazer. Então, em um movimento rápido, desatou o cinto de segurança e disse em uma expressão de fúria ― Pare esse carro, agora!

― Eu não vou fazer isso. ― disse calmo.

― Pare agora! ― Ele apoiou a mão direita na porta do carro e encarou Adrien com uma expressão determinada ― Pare o carro agora ou eu vou sair, mesmo em movimento.

― Não faça algo tão irresponsável! ― disse ele com fúria na voz. Ao que Dylan não parecia estar apenas ameaçando, ele levou o veículo ao acostamento rapidamente e estacionou, parecendo frustrado ― Eu entendo a sua raiva.

― Entende? Então vamos, explica para mim, explica agora porque alguém teria feito algo assim comigo. ― Ele ainda segurava a porta do carro e continha uma expressão completamente atordoada em seu rosto.

― Eu não posso. ― Adrien sacudiu a cabeça quase imperceptivelmente em negação e fechou os olhos por alguns momentos, antes de voltar total atenção ao rapaz ao seu lado ― Eu não posso te dar uma explicação válida agora. Eu fiz o que achei o melhor.

― Melhor para quem? Para você? Porque eu não consigo entender em que mundo isso seria melhor para mim! ― Ele esfregou as mãos no rosto em completo descontentamento e deslizou-as para trás, levando todo o seu cabelo junto e prendendo momentaneamente os fios na região da nuca, antes de soltá-los de forma repentina, com a expressão mais perdida ainda ― Agora eu estou aqui, completamente sem rumo, sem entender o que está acontecendo! Isso tudo porque, aparentemente, alguém achou que era divertido fazer eu esquecer quem eu era e brincou de casinha com a minha vida! Isso é insano!

Dylan não aguentava mais a raiva que sentia em seu corpo, então, em um movimento rápido, abriu a porta do carro e saiu batendo-a com tanta força que foi capaz de fazer o automóvel balançar. Eles estavam na subida de uma estrada montanhosa que levava a outra cidade e ali, no acostamento, havia um descampado onde era possível ver uma boa parte do estado de Ohio ainda lá embaixo, em pequenas casinhas. Ele andou até aquele local e encarou a paisagem por um tempo, o Sol parecendo em seu auge naquele momento. Dessa forma, virou-se para trás e viu que o outro já havia descido do carro também e estava a poucos passos de distância dele, o encarando sério, pouco antes de comentar:

― Eu achei que você fosse fugir. ― Disse Adrien. Dylan ouviu aquilo e uma risada descontente saiu por seus lábios.

― Fugir... fugir para onde? O único lugar para onde eu fugiria está em chamas. A única pessoa para qual eu fugiria, morreu. Os meus outros amigos, eu tenho medo de fugir para eles porque, aparentemente, posso colocá-los em perigo também. ­ ― Ele se aproximou um passo do outro e o encarou sério, os cabelos voando por todo o seu rosto e fazendo um visual intrigante com aqueles olhos escuros ― Me diga, Adrien, para onde eu fugiria?

― Eu não sei.

― Apesar de ter visto com meus próprios olhos o que você fez com aquela senhora horas atrás, você sabe por que eu realmente acreditei com tanta facilidade que você roubou a minha memória e colocou outra no lugar? ― perguntou direto. Adrien apenas negou com a cabeça, sem ao menos piscar ― Porque você não fez o seu trabalho direito!

― Como assim? ― Suas sobrancelhas se encurvavam em completa dúvida.

― Eu sempre soube que algo estava errado. ― iniciou ele, deixando um sorriso levemente forçado em seus lábios ao que levava a atenção ao chão. Lembrando-se de alguns momentos da sua vida ― Eu não conseguia me lembrar das pessoas direito, dos meus amigos! Eu não tinha memórias de infância que poderiam se considerar realmente reais. Eu não lembro de nenhum aniversário sabia? Eu não lembro de nenhum número de conhecidos. Eu não lembro direito do meu primeiro dia de escola. Do dia que aprendi a andar de bicicleta ou a nadar. Tudo parece ter existido, mas como um borrão, sabe? Eu só conseguia me lembrar perfeitamente da minha mãe, apenas as memórias com ela são claras na minha mente. Me falaram que isso foi uma sequela do acidente. Mas nem ao menos teve acidente, não é?

― A gente teve que inventar isso. ― disse de forma singela, aparentando uma culpa nas feições.

― A gente teve que inventar...― repetiu sem tirar o sorriso estranho do rosto, enquanto fechava os olhos e negava com a cabeça. Assim, subitamente, ele agarrou as bordas de sua camiseta ― E isso aqui, ―Então, levantou a roupa, tirando-a por completo do corpo, jogando a peça no chão e encarando Adrien com uma expressão agora quase mórbida. Todas as suas marcas estavam expostas naquele dia claro e de Sol quente ― essas drogas de cicatrizes também não foram do acidente, certo? Que merda é essa? O que aconteceu comigo?

Ele não conseguia mais se conter e várias lágrimas começaram a escorrer por seu rosto enquanto ele encarava as marcas de sua pele, parecendo conter repulsa delas. Na verdade, ele agora tinha medo de saber a origem daquilo tudo, porque se não foi um acidente, o que poderia ter feito ele ficar daquele estado? Adrien olhava para todas as cicatrizes do corpo de Dylan com descontentamento, mas não parecia estar surpreso. Então, após alguns segundos, suspirou e disse:

― Isso... isso foi um dos motivos de eu ter alterado sua memória. Você acha mesmo que suportaria carregar uma lembrança de algo que te trouxe esse tipo de marca?

― Essas são as minhas lembranças! Cabe a mim somente saber se quero ou não tê-las! Você não tem o direito de se meter em algo assim!

― Você já parou para pensar que o tipo de coisa que causou isso, seja lá o que for, não traz consequências somente para o seu corpo, mas também para a sua mente? Já parou para pensar que talvez se você lembrasse disso, não estaria apto a estar aqui comigo, tendo essa conversa de forma tão clara? ­― Disse Adrien, fazendo Dylan gelar um pouco e prender involuntariamente a respiração. As palavras ditas faziam sentido de alguma forma, mas mesmo assim, tudo parecia muito vago.

― Eu quero saber o que aconteceu. ― disse com a expressão menos acusadora ― Eu posso não ter as memórias. Mas eu quero saber o que aconteceu! Saber o que houve não vai me trazer consequências.

― Você realmente quer saber? ― Ele parecia estar muito sério sobre aquilo.

― Sim. ― respondeu com os lábios levemente trêmulos, não parecendo mais ter tanta certeza sobre aquilo.

― Certo. ― Adrien suspirou e fechou os olhos, dando alguns passos para trás até se encostar com a parte da frente do carro, se apoiando ali e cruzando os braços como se pensasse na melhor forma de falar o que tinha que ser dito. Então, voltou a encarar o outro, pronunciando em um ritmo mais calmo ― Essas são marcas de tortura. Marcas de uma prisão. Marcas que foram feitas ao longo de dez anos.

― O que? ― Dylan parecia ainda mais confuso.

― Você foi preso por dez anos e torturado durante todo esse tempo. Só está vivo hoje porque foi resgatado.

― Resgatado? Por quem? Quem me resgatou? ― Dylan parecia ainda mais perdido naquele assunto ― Por que eu fui preso? O que aconteceu? Que tipo de prisão tortura alguém por tanto tempo? Onde eu fui preso? Onde você e minha mãe entram nessa história?

―Tsc. ― Adrien estalou os lábios em descontentamento e balançou a cabeça em negação, levando as mãos ao rosto e esfregando-o rapidamente, como se aquilo clareasse sua mente ― Não pode ser feito dessa forma. ― disse, voltando a observar o rapaz confuso a sua frente ― Você vai ficar com ainda mais dúvidas. Seja claro nas suas perguntas, e saiba que.... nem todas eu sei responder.

― Ok. ― disse ele, cruzando o olhar com o rapaz a sua frente. Então, levou as mãos aos cabelos soltos e prendeu-os atrás de suas orelhas em um ato involuntário, sentindo um vento bater em seu tórax descoberto. Assim, se aproximou de Adrien até ficarem a uma distância menor que um passo, o observando por inteiro de forma que o outro claramente ficou desconfortável ― Vamos começar com aquilo que é palpável agora. Quem é você? Melhor ainda, o que é você? O seu nome real é Adrien Warren?

― Adrien, somente Adrien. De onde nós viemos não existem sobrenomes, carregamos apenas o primeiro nome e o título de nossos clãs. ― Dylan se surpreendeu pois já tinha ouvido algum assunto sobre "não carregar sobrenomes antes" e lembrou que isso foi dito pelo homem que tinha invadido a lanchonete algum tempo atrás.

― Então, Warren foi inventado?

― Sim.

― Vocês falaram que o nome real da minha mãe é Karyn, não Katy. Você também me disse que meu nome real é... Arthur, certo? ― Adrien concordou com a cabeça ― Por que você também não mudou o seu nome?

― Porque você e Karyn estavam sendo procurados e não podiam continuar com o mesmo nome. Eu não era procurado por ninguém, eu não fugi de lugar nenhum.

― Ela também estava sendo procurada?

― Sim. ― respondeu Adrien, fazendo Dylan se surpreender e se aproximar anda mais do outro, sem perceber. O loiro se encostava no carro o máximo que podia.

― Ela estava na prisão também?

― Sim.

― Na mesma prisão que eu?

― Não exatamente.

― Isso me lembra da pergunta original. ― Ele voltou a observar toda a extensão do rapaz a sua frente e finalizou com os olhos escuros curiosos ― O que é você? Por que você acabou do lado de dois prisioneiros?

― Eu... ― iniciou Adrien, parecendo tentar encontrar as palavras certas.

Dylan estava muito próximo e ao observar por inteiro, notou que aquela era uma das primeiras vezes que Adrien parecia tão desarrumado, provavelmente devido aos acontecimentos anteriores. Os cabelos estavam desalinhados, reluzindo naquele dia ensolarado e a camisa, que sempre era completamente fechada, estava com os primeiros botões abertos, o que fez Dylan notar algo em seu pescoço. Ele cerrou os olhos para identificar melhor o que era e então, sem pedir permissão, colocou a mão na região exposta de Adrien, tão rápido que o outro não teve reação, e puxou para fora uma espécie de cordão.

― Isso... ― Ele observou a medalhinha que o outro carregava no pescoço e percebeu que parecia um brasão familiar muito pequeno. Era uma imagem de um cachorro e ele lembrava de já ter visto aquilo.

― Pare de sair tocando as pessoas assim! ― repreendeu Adrien, ao que tirou o objeto das mãos de Dylan e se afastou, indo em direção ao descampado.

― O gato. ― Dylan virou para onde outro tinha corrido, observando as suas costas ― Aquele dia que te encontrei na floresta... eu estava lá porque persegui um gato que estava machucado, eu o persegui por muito tempo e quando o perdi de vista, encontrei você, machucado. Agora reparando bem, vocês estavam machucados no mesmo lugar. Nem nos meus sonhos mais loucos eu teria conseguido associar os fatos, mas agora, depois de ter visto algumas coisas surreais e ter ouvido coisas mais estranhas ainda, eu estou começando a pensar. ― Adrien virou o rosto, deixando apenas o seu perfil ser visualizado ― Aquele gato usava o que eu achava ser uma coleira, com o brasão do seu cordão. Eu lembro bem porque na época achei engraçado um gato usando um símbolo de cachorro.

― Hum... ― Murmurou o outro. Dylan começou a andar em passos lentos para alcançá-lo.

― Eu vi aquele gato diversas vezes ao longo desses três anos. Gostava de imaginar que ele era meu protetor e que estava sempre me observando. Mas no fundo eu sabia que era mentira. ― Ele alcançou Adrien e se posicionou ao seu lado, ambos virados para a parte aberta do descampado, observando a cidade embaixo deles ― Agora parando para pensar melhor, talvez eu não estivesse tão errado. Certo? ― Ele virou o rosto e observou-o com uma expressão leve. Então, foi retribuído com um olhar singelo.

― Certo.

― O que é você? ― perguntou novamente, em um tom suave.

― Meu nome é Adrien, e assim como você, eu sou um dos sete guerreiros celestiais. Eu sou o Guerreiro da Lealdade.


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