Seven Warriors escrita por Naru


Capítulo 15
Tenho coragem de ser leal a você - parte 2




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O vento batia forte no rosto de Dylan. Os olhos estavam vermelhos devido ao choro e as bochechas, já molhadas pelas lágrimas, aparentavam estar manchadas pelas cinzas do local. As pupilas se perdiam na escuridão do olhar e os fios negros do cabelo se enrolavam entre eles. As roupas estavam surradas e sujas e os braços estavam presos neles mesmos, o deixando desconfortável. A atmosfera era catatônica e por mais que já tivessem corrido algum tempo, ele conseguia jurar que ainda era possível ouvir o fogo estalando as madeiras de sua casa recém queimada.

Ele tinha feito aquela pergunta como se a resposta pudesse ter uma explicação sobre o porquê de aquilo tudo ter acontecido. Porém, a resposta não fazia sentido nenhum em seu cérebro. Assim, ficou encarando alguns segundos o rapaz a sua frente, que sempre parecia sério e compenetrado, tentando forçar a mente para aquelas palavras terem algum significado, mas ele não encontrava nada.

"Você é Arthur da Coragem, um dos sete guerreiros celestiais."

― O que? ― finalmente respondeu exasperado ― Que merda é essa?

― Não é uma... merda. ― respondeu, hesitando em falar a última palavra. Dylan observou que ele havia jogado os óculos no chão ― Você perguntou quem você era, eu respondi. Agora podemos continuar?

Os olhos de Adrien, que normalmente sempre se concentravam na pessoa a quem ele dirigia as palavras, caminhavam de um lado para outro do quintal vizinho onde eles estavam, como se ele fiscalizasse a aparição de algo ou alguém por ali. Seus movimentos eram rígidos, em sinal de alerta. Assim, ele se aproximou do rapaz a sua frente para agarrá-lo com força pelo braço, mas ao que chegou perto, levou um chute na frente das coxas em sinal de repúdio.

― Eu nunca disse que continuaria seguindo se você me respondesse. Além disso, eu nem sei o que significa o que você disse. Arthur? Guerreiro celestial? Estamos em um livro de ficção adolescente agora? ― disse Dylan ele entre os dentes, pouco antes de virar novamente para o local de onde vieram ― Nós não devíamos ter corrido, a gente precisa voltar! Ela ainda pode estar viva, sabia? Nós ouvimos barulhos e saímos correndo, mas eu não vi ninguém entrar na casa! Eu não vi nada! Quem explodiu tudo? Eu não consigo entender o que está acontecendo aqui...

A voz embargada entregava ao outro que ele tinha voltado a chorar em desespero. Com isso, sem dar a chance de ser carregado mais uma vez, ele seguiu na direção de onde morava sem nem ao menos olhar para trás. Para a sua surpresa, após correr alguns passos e se afastar, sentiu que seus braços tinham se descolado, o que o fez ter um alívio para acelerar mais ainda. Porém, esse alívio logo foi extinguido ao que suas pernas se juntaram em um movimento involuntário, da mesma forma que tinha acontecido com seus membros superiores momentos atrás. Assim, acabou perdendo o equilíbrio, caindo de uma só vez com o rosto na grama.

Como anteriormente todas os acontecimentos tinham ocorrido muito rapidamente e seus pensamentos estavam todos em sua mãe, ele não tinha pensado muito sobre o fato de Adrien ter conseguido paralisar seus braços, e agora provavelmente suas pernas, apenas com um movimento de dedos. O que era aquilo? De início parecia que ele tinha amarrado seus membros com um laço. Ele lembrou de ver casos como aquele em sessões de hipnose de vídeos na internet. Será que Adrien tinha o hipnotizado e agora estava usando o mesmo truque para selar os movimentos de suas pernas?

― Nunca mais fuja de mim! ― Ele ouviu a voz enfática de Adrien ao seu lado ao que elevou a cabeça após a queda.

― Eu tenho que voltar! ― Dylan respondeu e tentou levantar, mas só foi possível erguer a parte superior do corpo, conseguindo apenas girar o tronco para ficar com as costas contra chão ― O que é isso? Para de fazer isso! Solte as minhas pernas! Que tipo de magia é essa? Para de me hipnotizar!

― Primeiro de tudo, para de gritar. ― disse Adrien, evidentemente bem exaltando, mas ainda utilizando um tom inaudível de voz. Ele rapidamente se aproximou e posicionou uma perna de cada lado do corpo de Dylan, colocando uma das mãos para tampar a boca do rapaz com força, deixando o outro murmurar embaixo de sua pele de forma abafada. A outra mão foi utilizada para agarrar ambos os braços do moreno, que já estavam posicionados para empurrá-lo. Então, continuou falando com o rosto bem próximo do outro, em um sussurro ― Segundo, isso não é hipnose, é uma arma invisível que eu posso manipular como uma corda. E se você me morder de novo agora ou ameaçar gritar mais uma vez, eu vou enrolá-la em um lugar que vai doer muito mais.

Dylan arregalou os olhos em uma expressão assustada e, após a ameaça, interrompeu os próprios atos, afinal, de fato estava se preparando para dar uma mordida na mão do rapaz.

― O que é isso?

Uma voz feminina e madura atravessou os ouvidos dos dois e fez com que eles girassem a cabeça para o lado. Uma senhora por volta de seus setenta anos, como entregavam seus cabelos brancos e rugas no rosto, os observava na porta dos fundos da sua casa. A mulher provavelmente saiu de sua residência para investigar o barulho da explosão e encontrou os dois caídos em seu quintal naquela posição nada favorável.

Antes que Adrien pudesse abrir a boca para dar uma explicação para a situação, ele endureceu a face e direcionou a atenção para o quintal da casa ao lado, parecendo ter visto algo que não o agradava. Assim, ele se abaixou e agarrou o corpo de Dylan por completo, fazendo força para ambos rolarem para o lado, onde havia um arbusto extremamente denso, escondendo-os no local.

Ele mantinha o corpo complemente pressionado no de Dylan, o impedindo de se movimentar, e olhava para o lado como se vigiasse o local e esperasse que algo repentinamente aparecesse. O outro, aproveitando que tinha finalmente os lábios livres, perguntou:

― Você pode me falar o que está acontecendo? ― disse em um sussurro, se lembrando da ameaça que tinha sofrido segundos antes.

Adrien virou o rosto próximo ao dele e o fuzilou com um olhar sério e firme, o que o fez entender rapidamente que era para ficar calado naquele momento. Então, indicou para que ele observasse a entrada do quintal. Alguns passos firmes pareciam vir daquela região e o portão foi aberto por dois homens que entraram por ali. Eles aparentavam estar fantasiados para alguma festa temática: ambos estavam com uma armadura.

Os homens provavelmente tinham idades próximas aos vinte anos. O primeiro utilizava uma armadura de bronze e tinha cabelos castanhos encaracolados, a pele era mais escura e tinha uma expressão meio perdida. O segundo utilizava uma armadura de prata, com alguns detalhes em laranja. O que mais chamava a atenção no segundo eram seus cabelos extremamente vermelhos e lisos, com alguns fios que cobriam a testa, em contraste com os olhos azuis vívidos. Ele tinha uma beleza angelical muito parecida com a que Adrien carregava. O que mais assustava era que ambos seguravam espadas grandes e imponentes em suas mãos e Dylan nunca tinha visto aquilo na vida.

― Eles não podem ter corrido para muito longe. ― disse o ruivo, com o olhar firme rodeando o local.

― A gente precisa voltar, a explosão...― iniciou o moreno ao seu lado, parecendo preocupado.

― O representante da Justiça que eu trouxe disse que todos os pontos de energia espiritual que entraram na casa desapareceram após a explosão. Aquela mulher matou sete dos nossos em segundos. ― Ele prendeu os lábios e fechou os olhos momentaneamente em aparente desgosto ― É incrível como ele continua trazendo morte por todo o caminho que percorre, não importa quantos anos se passem.

― É por isso que precisamos voltar. Precisamos reportar as famílias, falar com os guardiões e mais importante... você não pode continuar essa missão sem falar com o Alexander. Você sabe disso! É uma infração muito forte do código de vocês. ― disse o moreno, completamente inseguro. Ao que o outro o encarou de forma fria, ele se calou.

― Falar com o Alexander? Eu não me importo com o que o Alexander pensa. Afinal, você acha que o Adrien se saiu bem e sem ser descoberto com essa história por tantos anos com a ajuda de quem? ― disse ríspido ― E a garota que explodiu tudo, a Karyn, você sabe muito bem de quem ela é irmã. Você acha mesmo que eu posso falar com algum deles sobre isso? Todos eles acobertam aquele cara.

― Eles são amigos. Você costumava ser amigo dele também, desde crianças. ― disse, já fechando os olhos como se esperasse alguma rispidez do outro.

― Costumava! Como você esperava que eu continuasse amigo dele depois do que fez? E não venha me falar das circunstâncias, eu não ligo para as circunstâncias! Eu o avisei milhares de vezes sobre aquela situação e ele não ouviu. E eu não fui o único que avisou, todos avisaram! Mas as pessoas gostam de passar a mão na cabeça dele como se fosse um coitado. Eu estou cansado disso! ― Ele enterrou a espada que carregava no chão com certa força ― Eu perdi o meu pai e ninguém passou a mão na minha cabeça, mas ele...ele que é um assassino... tem pessoas se sacrificando por um monstro daqueles que deveria ter morrido há quase quatorze anos!

― Eu entendo o seu ponto, mas mesmo assim a gente precisa vo...

― Se você falar de novo que a gente precisa voltar, eu vou te renegar das obrigações com o clã da Honestidade e te colocar em exílio para viver em privação com os anjos. ― A ameaça fez o outro parar de falar facilmente ― O enviado da Justiça disse que a maioria dos que trouxemos já morreram, não adianta mais voltarmos lá. Mas ele sentiu duas energias muito fortes saindo da casa e vindo para cá. Energias tão fortes que só se equiparavam a minha. Aqueles dois estão em algum lugar por aqui!

― Com licença. ― disse, de forma educada, a senhora que estava no quintal observando toda a discussão. Ao notarem a presença dela, os dois se alarmaram e o ruivo retirou apressadamente a espada do chão quase apontando para a mulher ― Vocês dois estão estragando o meu jardim. 

― Hum... me desculpe! ― iniciou o moreno.

― Onde é a festa? E o que foi esse barulho todo minutos atrás? ― perguntou ela, fazendo-os se olharem e observarem seus próprios trajes, entendendo rapidamente do que ela estava se referindo ao falar em "festa". ― Agora entendi! Vocês quatro devem estar brincando de se esconder, certo?

― Nós quatro? ― perguntou o ruivo, ao que trocou olhares com o moreno ao seu lado.

Dylan sabia que de alguma forma os rapazes com armaduras eram justamente de quem eles estavam correndo e, por mais que não soubesse o porquê daquilo, entendia que eles não podiam ser encontrados ou algo ruim iria acontecer. Dessa forma, ele encarou Adrien alarmado, porém, o outro apenas respirou fundo e esticou dois dedos, encostando-os diretamente no chão e fechando os olhos. Uma luz em linha fina e azul brotou da ponta de seu toque, percorrendo suavemente o gramado onde estavam e seguiu em direção a senhora. Era muito imperceptível e Dylan evitou piscar para não perder todo o percurso que a luz fazia. Então, ao encontrar a mulher, a luz subiu por seu corpo e sumiu ao chegar ao topo de sua cabeça.

― Sim, vocês quatro! Havia dois jovens aqui agora, um de cabelo loiro diferente, parecia estrangeiro e um moreno com cabelos parecidos daqueles homens lá que cantam rock, aquelas músicas mais agitadas que não entendo bem.

― E para onde eles foram? ― disse o ruivo, sem conter a excitação na voz.

― Eles saíram correndo daqui tem alguns minutos, seguiram para a direita da rua. Vocês podem ir por ali. ― Então, ela apontou para o portão de saída do quintal, direcionando-os para o centro da cidade.

― Obrigado! ― disse o moreno.

O outro rapaz nem ao menos agradeceu, correu com toda a rapidez que conseguia na direção que a mulher tinha indicado, segurando a espada em sua mão direita. O que utilizava a armadura cor de bronze pareceu meio indeciso, mas seguiu os passos do outro logo depois. A mulher observou os movimentos a sua frente e olhou meio frustrada para o buraco recém feito pela espada em seu quintal.

― Esses jovens de hoje, sempre destruindo as coisas. ― suspirou ― Mas depois eu resolvo isso, preciso fazer comida. Por que eu vim aqui fora mesmo?

Com isso, ela seguiu para dentro da casa com uma expressão confusa, sem perceber que havia largado dois outros rapazes escondidos em seus arbustos. Dylan deixou uma respiração profunda sair por seus lábios, ele estava tenso por uma situação que nem ao menos entendia. Adrien ainda estava completamente jogado sobre o seu corpo e, gradativamente, começou a se afastar, olhando para os lados para garantir que não tinha mais ninguém vindo. Então, ele se sentou com as costas apoiadas na cerca que barrava os arbustos, Dylan fazendo o mesmo movimento logo depois, dessa forma, ambos continuavam escondidos.

― Quem são eles? ― perguntou Dylan.

― Pessoas que querem te fazer mal.

― Mas por que? ― Ele virou o rosto a Adrien ao fazer a pergunta e notou que o outro se sentia incomodado em responder.

― Eu prometo a você que conto tudo o que você quiser saber, nos mínimos detalhes, se correr para longe daqui comigo.

― Mas eles já foram, a gente não podia voltar lá e ver se conseguimos salvar ela?

― Você ouviu a explosão, já se passaram muitos minutos também. Se a gente voltar lá, todo o sacrifício que ela fez vai ser em vão. Outra coisa, com certeza tem alguém vigiando a casa e só esperando que a gente apareça para fazer um ataque surpresa. Aqueles dois não são os únicos. ― disse com uma voz séria.

― Essa coisa que você fez com os meus braços, depois com as minhas pernas... eu achei que era algum truque de hipnose, mas agora eu vi você fazer uma senhora falar algo que não tinha acontecido e nos livrar daqueles caras. ― Ele tentava racionalizar a situação, mas não encontrava uma resposta ― O que é isso? O que você é?

― Eu te disse, eu vou te contar tudo o que quiser saber. ― Ele se levantou e fez um movimento circular com os dedos, fazendo com que Dylan sentisse suas pernas livres de novo. Então, esticou uma das mãos na direção do outro que ainda estava sentado, o fitando com os olhos azuis mais brilhantes do que nunca ― Mas antes, preciso que você venha comigo. Deixe tudo para trás, confie em mim e venha comigo, por favor!

Dylan olhava o rapaz a sua frente, tentando entender que tipo de decisão tomar. Ele já tinha percebido que tudo aquilo estava além de seu conhecimento e de sua compreensão, e ele precisava das respostas para compreender o que tinha acontecido com a sua mãe. Do que eles estavam falando? Sobre o que tinham mentido? Que tipo de relação tinham? Quem eram aqueles homens com armaduras parecendo terem saído de algum filme medieval? E por que eles queriam machucá-lo? As respostas supostamente estavam com Adrien, o rapaz a sua frente que o chamava para ir embora dali. Ele não parecia ter muita escolha, então, fechou os olhos pensativo, escutando as palavras de sua mãe dançando em sua mente:

"Vá com ele! E confie nele a sua vida se precisar. "

― Ok, eu vou com você.


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