Eu acabei não sendo atropelado por caminhão algum, mas ainda não tenho certeza se isso é bom ou ruim.
Havia chegado o momento de nos encontrarmos fora da escola. Mas não por acaso, mas porque queríamos isso. Estava muito nervoso, mas tinha que fazer isso. 
No meu surto de meia noite, eu acabei dizendo sim para o Arthur. Não entendi o porquê de eu ter aceitado até agora, foi como se um lado estranho e não usual do Nico estivesse querendo sair com tudo. Um lado que inesperadamente quer dar uma chance para o Arthur e, quem sabe, começar a se aventurar mais e deixar de ser tão certinho.
E esse lado do Nico queria estar bonito para o encontro também. Vesti meu moletom rosa claro, mesmo que Adrien tenha dito para eu não usar "essa coisa horrorosa". Até pensei em considerar sua opinião, mas depois que ele usou esse termo tão baixo para se referir ao meu neném, decidi simplesmente ignorar qualquer coisa que ele sugerisse daqui em diante. Tanto que quando o encontrei e ouvi:
— Ah não, não acredito que você vestiu mesmo essa merda!
Eu simplesmente ignorei e mudei de assunto. Toda vez que Adrien tentava falar sobre o encontro, eu desviava o assunto para ele e Emanuelle, que sempre funcionava. Tenho certeza de que se ele começasse a falar muito sobre esse encontro, eu desistiria.
Como era esperado, não consegui prestar atenção na aula em momento algum. Ora eu olhava para Arthur, que estava sentado no fundão como sempre, ora eu começava a pensar sobre o encontro que teríamos. E quanto mais eu imaginava, menos estranha essa ideia ficava e mais agradável se tornava. E mais expectativas eu criava.
A aula demorou a passar, mas enfim passou. E no momento exato em que ela terminou, o "você sabe quem" veio até mim.
— Oi. - ele cumprimentou 
— Oi. - disse de volta, arrumando minha mochila para podermos ir 
— Você fica bem de moletom rosa, está fofo.
Por um lado queria que Adrien pudesse ver essa cena só para eu esfregar em sua cara que meu moletom rosa é lindo sim. Mas por outro, eu não queria que ninguém mais visse esse momento, pois estava rosado de vergonha, quase da mesma cor de meu moletom. Eu definitivamente não estava esperando por um elogio logo de cara.
— Bem... Obrigado.
— Por nada. - Arthur sorri - Quando quiser, podemos ir.
— Ah, claro. - confirmei, terminando de guardar meu material - Onde nós vamos mesmo?
Ele tentou disfarçar, mas eu pude notar seu riso.
— Vou te dar seu dia de turista hoje. - ele disse
— Meu dia de turista? - questionei
— Si si, es ese. - ele arriscou um pouco de espanhol. Ele errou, mas a intenção até que foi legal - Você veio aqui para estudar, mas não deixa de ser um turista. Eu tenho que te mostrar alguns lugares.
— Tudo bem, então vamos ter meu dia de turista. - sorri, havia ficado empolgado para ver que ele havia preparado - Mas você precisa prestar mais atenção no espanhol.
— Como assim?
— Não é "es ese", assim significa "é esse". Acho que você queria dizer "es eso", que significa "é isso". - expliquei
— Uau, você fica muito sexy falando em espanhol. - fiquei muito vermelho, muito mesmo - Como se diz "dorme comigo essa noite?" em espanhol?
Nesse momento, fiquei mais vermelho do que jamais fiquei em toda a minha vida.
— Arthur, eu não vou dizer isso.

Não direi a ele que é "¿duerme conmigo esa noche?", pode ser muito perigoso.
 

— Ok, desculpa. - ele disse, surpreso. Será que essa estratégia geralmente funciona?
— Tudo bem...
E aquele silêncio pelo qual eu tanto pedi finalmente chegou, mas eu não foi nada agradável, muito pelo contrário.
— Podemos... Fingir que eu não disse aquilo? - Arthur coçou a nuca, bastante sem graça - Eu já queria sair com você há um tempo, não quero estragar isso porque fiz um comentário idiota.
— Tudo bem. - eu não iria esquecer daquilo tão cedo, mas não quero desistir do encontro agora - Vamos indo?
Ele sorriu largo. Era um sorriso maior e mais sincero do que os outros que havia visto, que eram mais irônicos, debochados e... Sedutores, eu não posso negar. Seus sorrisos são extremamente sedutores.
Naquele momento, senti-me em um encontro com o garoto dos meus sonhos, mesmo que esteja saindo apenas com o Arthur.

(...)

Arthur havia acertado em cheio no meu passeio de turismo: Musée du Louvre.
Eu adorei conhecer o museu e ao seu lado a experiência foi ainda melhor, a forma como ele me explicava tudo o que sabia sobre cada peça exposta no museu era cativante.
Arthur me surpreendeu muito não apenas ao se mostrar um grande conhecedor de arte, mas por também ser um artista, que se mostrou muito apaixinado por pinturas à óleo. Ele inclusive havia me prometido me mostrar suas obras quando fosse à sua casa. Se haviam segundas intenções nessa promessa? Talvez, provavelmente sim, mas eu realmente fiquei curioso para ver suas pinturas.
Estava tudo sendo incrível, mas um problema começou assim que saíamos do museu: Arthur tirou um cigarro de bolso.
— Você devia parar de fumar tanto. - falei antes que ele pudesse acendê-lo, torcendo para que ele tivesse piedade do meu pobre narizinho.
— Por quê? - felizmente ele teve compaixão e guardou o cigarro - Eu não vou nunca mais fumar com você por perto, eu prometo.
Respirei aliviado por pelo menos ele ter feito essa promessa, espero que ao menos isso ele cumpra. Mas ainda assim, não gostava da forma exagerada como ele fumava.
— Não é só por isso, Arthur. Você fuma muito, pode acabar tendo vários problemas de saúde, cigarro faz muito mal. - expliquei
— Eu sei, mas todos vamos morrer um dia, né? Prefiro aproveitar enquanto tô vivo.
Eu não acredito que essa é sua grande justificativa.
— Tudo bem você querer aproveitar a vida, mas fumando desse jeito você vai acabar, sei lá, com um câncer no pulmão.
— Nossa... - Arthur riu baixo - Eu fiquei até sem graça agora.
— Desculpa. - pedi, talvez eu realmente tenha exagerado um pouco - Mas pensa nisso, ok? Talvez não precise parar de fumar completamente, mas acho que você não precisa fumar todo dia também. - mordi o lábio inferior e olhei para o chão por um instante, logo voltando a encará-lo - Ou pelo menos se você reduzisse só a um cigarro por dia, talvez já fizesse alguma diferença. Adrien me contou que você fuma tipo, dois maços por dia, isso é muita coisa.
— Na verdade, eu preciso.
Fiquei surpreso ao ouvir aquilo, como alguém pode realmente precisar fumar tanto?
— Normalmente eu fumo por causa da ansiedade, é a única coisa que me acalma. - Arthur explicou, me deixando completamente surpreso. Agora não sentia mais raiva por ele fumar tanto, mas sim preocupação - Mas não conta isso pra ninguém, ouviu?
— Ouvi, pode deixar que eu não vou contar. - prometi - Mas ainda acho que você deve fumar menos. E agora acho que você deve fazer terapia.
— Eu fazia, mas acabei parando.
— Pois então você deveria voltar. Mas é só uma opinião do Nico, você quem sabe.
— Tudo bem. Acho que vou pensar nessa opinião do Nico.
Arthur sorriu, fazendo-me abrir um sorriso involuntariamente. No fim das contas, sair com Arthur havia sido melhor do que eu esperava.

(...)

Já fazia algum tempo que havia chegado em casa. Estava me dedicando a estudar, até que uma mensagem me distraiu.
De quem era? Claro, só poderia ser dele.
[18/2 20:26] Arthur: Hey. Hoje foi foda. A gente devia sair mais vezes, vamos marcar. Você estava uma gracinha hoje naquele moletom rosa
Soltei um riso, até que aquela mensagem era fofa.
[18/2 20:30] Nico: Você falando assim eu fico vermelho
[18/2 20:31] Arthur: Eu te adoro ver vermelho.
[18/2 20:32] Nico: Agora eu tô vermelho de verdade, antes eu tava brincando.
[18/2 20:32] Arthur: Besta
[18/2 20:33] Nico: Besta é tu.
[18/2 20:33] Arthur: Ah, é? T.T
[18/2 20:34] Nico: É, mas é um besta legal
[18/2 20:34] Arthur: Vou acreditar nisso. Mas então, você estava um fofo hoje. Você fica muito bem de rosa.
[18/2 20:35] Nico: Obrigado...
Vai lá, Nico. Retribua o elogio, isso não vai te matar.
[18/2 20:36] Nico: E você também fica bem de... Que cor você estava usando mesmo?
[18/2 20:38] Arthur: VOCÊ ESQUECEU?
Eu não consigo nem fazer um elogio direito, qual é o meu problema?
[18/2 20:39] Nico: Era preto?  Verde? Amarelo? Vermelho? Laranja? Era magenta, né?
[18/2 20:40] Arthur: Na verdade era azul marinho
[18/2 20:41] Gadinho Amanda: Certeza que não era magenta?
[18/2 20:41] Arthur: Não! De onde tirou isso?
[18/2 20:43] Nico: Não sei...
[18/2 20:43] Nico: Enfim... O importante é a gente sair de novo
Mesmo que eu tenha ficado envergonhado em alguns momentos, eu havia gostado muito de sair com Arthur.
[18/2 20:43] Arthur: É bom te encontrar fora da escola
[18/2 20:45] Arthur: Mas, Nico...
[18/2 20:45] Arthur: Deixa pra lá
[18/2 20:45] Nico: Agora eu tô curioso
[18/2 20:46] Arthur: Naaah, é besteira
[18/2 20:46] Nick: E a gente já falou tanta besteira hoje, pode falar
[18/2 20:47] Arthur: Você não sentiu algo a mais?
Senti meu coração acelerar naquele momento.
[18/2 20:48] Nico: Como assim?
[18/2 20:48] Arthur: É... Uma conexão? Ok, vou ser direito: eu quero ter algo com você, algo além de amizade.
Acho que vou vomitar de tanto nervosismo. Como é que o Arthur do nada fala uma coisa dessas? Não, não pode ser sério, ele deve estar querendo me fazer de trouxa, só pode ser isso.
[18/2 20:51] Nico: É sério isso? Você não tá brindando comigo, né?
[18/2 20:52] Arthur: Não tô.
[18/2 20:52] Nico: Ok... Isso é estranho...
[18/2 20:53] Arthur: Por quê?
Não irei responder porque eu realmente não sei explicar.
[18/2 20:53] Arthur: Sabe, eu venho querendo a algum tempo ter alguma coisa contigo. E eu acho que tentei dar umas jogadas, mas você não notou muito então.
Eu notei, afinal ele não fazia questão de ser discreto, mas em nenhum momento achei que fosse sério mesmo. Achei que Arthur fosse do tipo que flertarsse como todo mundo.
[18/2 20:54] Arthur: Eu tô vindo de te dizer que tem um bebê aqui muito carente precisando de carinho.
Não sei se acho isso ridículo, fofo ou assustador. Talvez um pouco dos três.
[18/2 20:55] Nico: Eu... Eu não sei o que dizer... Eu não esperava por isso
[18/2 20:55] Arthur: Tudo bem...
[18/2 20:56] Nico: Mas você tem certeza de que sou eu mesmo de quem você gosta?
[18/2 20:56] Arthur: É sério, eu não tô zoando ou algo assim
[18/2 20:58] Arthur: Você quer tentar algo?
[18/2 20:59] Nico: Eu não sei... Preciso de um tempo
[18/2 21:00] Arthur: Eu não sei porque te disse isso, eu só não quis ficar guardando, sabe?
[18/2 21:02] Nico: Eu entendo, só não precisa achar que tá errado por isso
[18/2 21:02] Arthur: Eu não tô num momento legal pra namorar e eu não sei se você entraria em algo mais... Sem compromisso... Comigo.
Isso foi um jeito de dizer que ele quer ficar comigo? Mas eu não sei se sirvo para isso, mesmo que seja o que pessoas normais fazem. Será que eu vivo mesmo em um fantástico mundo de algodão doce?
[18/2 21:03] Nico: Olha, eu ainda não sei, eu preciso de um tempo pra minha cabeça parar de rodar
[18/2 21:07] Arthur: Tudo bem... Eu entendo
Eu acho que vou ter um infarto, que vou parar de respirar e cair duro agora mesmo. Eu não estava preparado para isso. O que é que está acontecendo na minha vida?
[18/2 21:19] Nico: Oi...
[18/2 21:20] Nico: Oi...
[18/2 21:21] Nico: É...
[18/2 21:21] Nico: Tchau
[18/2 21:21] Nico: Até... Amanhã, né?
[18/2 21:21] Arthur: Nico... Desculpa. Só... esquece aquilo
[18/2 21:22] Nico: É melhor a gente fingir que nada aconteceu então. Boa noite.
Essa é sem dúvida a pior decisão que eu já tomei. O que raios eu estou fazendo? Parece que eu não sei mais pensar direito.
[18/2 21:22] Arthur: Nicolás...
[18/2 21:23] Nico: Desculpa, eu já vou indo
[18/2 21:23] Arthur: Ok...
Deixei o celular de lado imediatamente, pensando no que eu havia feito. Hoje havia sido tão bom, então por que quando ele propôs algo eu fiquei louco e fugi?
Às vezes eu só queria entender o que se passa na minha cabeça.