Swimming Club escrita por Lis Sampaio


Capítulo 13
Capítulo 13




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Ainda era hora do almoço e Tina estava indo para a sala do conselho estudantil. Daquela vez não tinha sido chamada por Alice ou algo assim, estava indo por conta própria, já que fazia algum tempo desde que via a situação geral de Alex e por isso algo a preocupava.

Desde que entrara no assunto de Alexander na noite anterior com as amigas, não conseguia deixar de pensar nisso. Se o menino de piercing estava mesmo recebendo faltas ele não tinha chances de passar de ano, e isso seria no mínimo uma notícia péssima. Quer dizer, ele estava no terceiro ano, não podia simplesmente jogar fora o esforço dos últimos meses por causa de problemas com a galera do clube — Tina não podia deixá-lo fazer isso.

Bateu duas vezes na porta antes de entrar. Lá dentro haviam apenas duas garotas sentadas fazendo algo no notebook — mais especificamente Rise e Bianca, as duas diretoras culturais do grêmio — enquanto Luca andava pra lá e pra cá com alguns papéis e uma expressão perturbada.

Ao notá-la ali, o menino arqueou uma das sobrancelhas.

— Que milagre, você por aqui. — Disse, colocando os papéis sob a mesa de reuniões. — A Alice não está agora e... acho que por enquanto não temos nada importante a ser feito. Tem algum assunto pra tratar?

— Tenho, na verdade. — Tina pigarreou. — Sobre o Alexander... você sabe a situação geral dele? Eu precisava dar uma olhada numa coisa.

— Ah, certo, ali dentro deve ter alguma coisa sobre ele. — O menino apontou para uma gaveta, onde costumavam guardar as fichas de casos especiais. — Ouvi dos outros membros que os professores mandaram as observações semanais hoje.

— Okay...

A menina então buscou no lugar indicado, dentre as pastas e os papéis, algo que pudesse ter a ver com o amigo. Numa das divisórias, encontrou uma folha branca, com um título em letras maiúsculas, escrito: ALEXANDER CAMPSHIRE - FALTAS E OBSERVAÇÕES.

Na mosca.

Lendo o conteúdo do papel, Tina não sabia se realmente ficava orgulhosa por ver que a frequência do garoto nas aulas estava aumentando ou se se sentia mal porque sua hipótese em relação às faltas estava se mostrando certa. Nas observações, uma letra apressada e difícil de se entender – que provavelmente pertencia à Alice — dizia: "O aluno continua sem comparecer às atividades do clube". É, seu afastamento não tinha sido passado ao conselho estudantil e pelo visto nem à diretoria.

— Achou o que queria? — Luca questionou, e Tina assentiu.

— E tenho uma pergunta também. — Falou. — O afastamento de membros de um clube precisa sempre ser comunicado, né?

— Bom, geralmente é comunicado, mas afastamentos são complicados. — Respondeu, dando de ombros. — É quase uma suspensão, então o aluno, sendo comunicado ou não, fica com faltas e é prejudicado por isso.

— Então não faz diferença?

O garoto negou com a cabeça.

— Que droga... — A menina suspirou. — Assim fica difícil de ajudar o Alex...

— Ele foi afastado do clube dele? — Rise, que prestava atenção na conversa, questionou.

— Sim, por isso não está indo. E pelo visto eu não vou consegui ajudar ele a tempo se ele continuar sem poder comparecer às atividades. — Deu de ombros, derrotada.

— Bom... mas você sabe que ele pode trocar de clube, não? O afastamento dele pode ser um bom motivo pra uma transferência temporária. — A menina de óculos sugeriu.

Foi então que uma ideia surgiu à cabeça de Christina. Alex estava precisando de um clube, e ela sabia muito bem que clube estava atrás de membros... Mas como daria essa sugestão a ele sem entregar todo o esquema? Não conseguia pensar em mais nada, senão se aproximar falando: "E aí Alex, ouvi dizer que você pode repetir de ano se continuar faltando no clube de atletismo, o que acha de ingressar no clube de natação? Nós precisamos de membros". Seria uma cena no mínimo esquisita.

— Eu acho que tive uma ideia, mas precisaria da ajuda de alguém aqui do conselho. ¬— Tina disse. — Senão eu vou estragar tudo e o Alex nunca mais vai querer olhar na minha cara.

Luca suspirou.

— Não sei se Alice vai gostar muito de ter a gente se intrometendo nos seus assuntos, Nolace. — Ele falou. — Mas eu posso ver o que nós podemos fazer.

— Certo, eu só preciso que alguém chame o Alex aqui e avise pra ele que ele não pode ficar tanto tempo sem cumprir atividades do clube. Simples. Aí ele vai comentar comigo quando conversarmos, eu vou sugerir que ele ingresse no clube de natação e...

— Espera. — Bianca, tirando a atenção de seu notebook, disse. — Por que vai chamar ele para o seu clube? Natação não tem nada a ver com atletismo.

Tina deu de ombros.

— Meu clube está precisando de membros. — Explicou. — Eu nem tenho tanta certeza se ele vai aceitar, mas qualquer coisa eu o ajudo a procurar outros clubes temporários, não tem problema. É melhor isso do que ele ficar sem clube.

— Certo... — Luca resmungou. — Eu me encarrego de falar com o delinquente. Só não vá achando que pode sair pedindo favores assim sem mais nem menos, Nolace, Alexander Campshire é um problema seu.

A menina suspirou, assentindo. Logo seu celular vibrou no seu bolso, com uma mensagem de Jessica:

"Já estamos todos comendo, você não vem?"

Ah, certo, o clube de natação tinha combinado de almoçar junto de novo pra comemorar a volta de Jessica ao time. Ela precisava se apressar antes que todos fossem pra aula.

— Bom, eu já vou, tenho que ir comer. — Falou. — Obrigada pela ajuda pessoal. Prometo compensar vocês por isso.

Dito isso, saiu apressadamente pela porta, acenando aos colegas de grêmio. Luca balançava a cabeça em desaprovação.

— Christina sendo Christina...

Xx

— Nós definitivamente temos que fazer uma festa de despedida pra Rachel. — Henry falou enquanto todos comiam. O clube finalmente estava completo, mesmo que naquela hora faltassem apenas alguns minutos para o fim do horário de almoço.

— Acho que não precisa disso, gente... — Rachel coçou a nuca.

— Festa? — Natalie questionou. — Eu apoio. Altos comes e bebes, não perderia isso por nada.

— Essa é uma ótima ideia. — Tina exclamou, deixando seu copo grande de chá verde sob a mesa. — Poderíamos ver com o Vermont pra liberar o clube num domingo, aí a gente fazia uma festinha legal

— Isso soa como se fosse uma festa infantil, Tina. — Jessica gargalhou. — Eu só vou se tiver bebida.

Todos da mesa lançaram um olhar indignado à menina.

— Olha lá, a auxiliar do treinador com ideia errada. — Henry caçoou.

Jessica riu.

— É brincadeira. — Acalmou os colegas. — Mas algumas garrafas de bebida não cairiam mal...

— Não mesmo. — John deu de ombros.

— Só que até parece que o mal-humorado ia deixar a gente levar bebida pra dentro do clube. — Jamie disse.

— Ainda mais porque acho que isso é meio ilegal. — William pigarreou. — Somos menores de idade e estamos dentro da escola.

— Já te disseram que você é muito estraga prazeres? — Jessica mostrou a língua ao menino de cabelos escuros. — Mas de toda forma, nós nem teríamos como comprar a bebida e entrar com ela aqui.

Os outros assentiram.

— Bom, nos resta o refrigerante. — Tina falou, ouvindo alguns suspiros de descontentamento. — Ah gente, refrigerante não é tão péssimo assim.

— Eu nem bebo refriegerante. — A auxiliar do time fez uma careta.

— Fresca. — William, do outro lado da mesa, disparou. A garota o fulminou com o olhar.

— E lá vamos nós... — Natalie suspirou, arrancando risadas do restante do time.

O tempo foi se passando e aos poucos, com a ida e vinda do papo entre os adolescentes, o clube de natação foi se despedindo e indo fazer suas respectivas coisas antes que o sinal batesse. Logo restaram na mesa apenas Natalie e Gabe, que terminavam de tomar silenciosamente suas bebidas um de frente para o outro.

Gabe ainda estava desconfortável com toda aquela situação. Com seu olhar distraído perdido em algum ponto entre a porta do refeitório e as grandes janelas, ele não conseguia deixar de pensar a respeito do quanto tinha sido babaca com as pessoas ao seu redor nas semanas anteriores. Nunca tinha tido aquela sensação de culpa antes mesmo em tanto tempo de vida, e era essa a parte estranha. Por algum motivo, tinha a impressão de que isso vinha do convívio excessivo com Natalie nos últimos dias — o que era assustador, afinal havia apenas uma pessoa no mundo inteiro que conseguira ter toda aquela influência positiva sobre si.

Mas era óbvio que o garoto nunca admitiria pra ninguém que estava arrependido de suas palavras duras, e muito menos pediria desculpas, como Natalie sugerira no clube. Seu orgulho não o deixava fazê-lo, e ele mesmo não via motivo nisso. Quer dizer, ninguém realmente o perdoaria no final das contas, e as coisas continuariam as mesmas.

Gabriel só acordou quando ouviu Natalie pigarrear, provavelmente para chamar sua atenção.

— Hã... tá tudo bem? — Ela perguntou, o fitando enquanto bebia seu suco no canudo.

O menino deu de ombros.

— Sim. — Mentiu.

Natalie arqueou uma das sobrancelhas.

— Não é o que a sua expressão diz.

— E o que ela diz, então?

— Que você está pensando no que eu te falei hoje mais cedo.

Gabe a fitou, pasmo. Na mosca. Por acaso aquela menina era algum tipo de telepata?

— Uou, pela sua cara é isso mesmo. — Ela deu mais um gole no suco, despreocupada. — Hm... parece que alguém sabe que eu estava certa desde o começo.

Ele revirou os olhos, bufando.

— Pode começar a lição de moral então, sabe-tudo.

Natalie riu, e Gabe se mostrou realmente incomodado com aquilo. Ela estava zombando dele?

— Você é muito idiota. — Disse, sincera. — Não é mais fácil ir logo pedir desculpas pro pessoal do clube? Está sofrendo por nada, as coisas podem ser resolvidas.

— Eu não estou sofrendo. — Disse, num tom indignado. — Não deveria concluir coisas assim, você não sabe de nada sobre mim.

— Nem preciso. Você é muito óbvio, dá pra ver na sua cara. — Deu de ombros. — Mas é o seguinte, você não precisa ser tão orgulhoso, ok? Eu não te conheço bem, mas um mês é tempo o suficiente pra perceber que você usa isso como forma de se defender dos outros.

Gabe massageou as têmporas. Ótimo, mais uma coisa pra lista de coisas que ele não queria admitir: que Natalie estava certa.

— O que você sugere então? — Questionou, suspirando, usando aquele seu tom de derrotado.

— Que você largue todo esse orgulho que não serve pra nada e vá tentar uma aproximação dos outros. Pelo menos tente falar com a Jess. Você é o cara que consegue medalhas em competições, por que não conseguiria fazer uma coisa simples assim?

— Você sabe que são coisas completamente diferentes. Eu não nasci pra "me reconciliar" com as pessoas. — Fez aspas com os dedos.

— E nasceu pra ser rude com elas e falar coisas que não devia?

— É provável.

Natalie revirou os olhos.

— Fala sério, para de ser cabeça dura.

— Eu, cabeça dura? Olha quem fala. — Gabe disse, num tom acusador. — Você não tem nenhuma moral pra falar de mim, Campbell.

— Ah, cala a boca, Gabriel. — Ela bufou. — Não fuja do assunto, estamos falando de você.

— Não quero falar sobre isso mais. Você me irrita.

— Você me irrita bem mais e mesmo assim eu estou querendo te ajudar. — Disse seriamente, e depois de um longo suspiro compartilhado, voltou a falar: — Qual o problema em jogar o orgulho fora pelo menos um pouquinho? É melhor do que ficar eternamente se martirizando por isso, eu acho.

— Olha, eu não sei. Medo, talvez? Não quero ser ridicularizado, e eu sei que isso vai acontecer. Senão, vou ser ignorado. Como eu poderia lidar com isso sendo o capitão do time?

— Como pode ser o capitão do time sem se esforçar pra manter uma boa relação com outros membros? Você nos conhece tão mal a ponto de achar que poderíamos te ridicularizar, Gabe. — Falou, direta. — Eu acho que já te disse isso, mas o seu maior problema não é ser mal julgado pelas pessoas, e sim jugar todos mal e achar que vão fazer o mesmo com você.

Aquelas palavras deixaram Gabe em silêncio. Tinham sido um verdadeiro tapa na cara, daqueles que nunca levara em toda a história de sua vida.

Natalie então finalmente terminou seu suco, a tempo do sinal para a aula bater. Ela se levantou da mesa.

— Acho que você deveria pensar bem no que eu falei. — Disse. — E começar se desculpando com a Jessica.

E dito isso, saiu andando, deixando menino de cabelos pretos para trás, sentado ainda com a mesma expressão desacreditada.

Xx

O período de aulas passou voando. Logo estava todo o clube de natação reunido na entrada do prédio principal, esperando a primeiranista que cuidava da publicidade dos times de basquete e handebol chegar. Jessica tinha falado com a garota para pedir ajuda no meio de uma das aulas e ela não hesitou em concordar a ajudar no serviço, por isso todos combinaram de encontrá-la ali no final da aula.

A figura ruiva e cheia de sardas espalhadas pelo rosto chegou correndo na direção do grupo assim que os viu. Ela tinha um sorriso aparentemente feliz demais para quem estava indo prestar um serviço pra outro clube.

— Ah, Lucy — Jess cumprimentou quando a menina chegou perto o suficiente deles. — Não sei se você já conhece o clube de natação, mas caso não saiba quem são, esses são Gabe, Natalie, Tina, Henry, John, Jamie e...

— William. — A garota completou, feliz da vida. Jess arqueou uma das sobrancelhas. — É, eu sei disso. Acabei assistindo a última competição de vocês, e, bom, só decorei o nome do William. — Coçou a nuca.

Mesmo curiosa com aquela fala, Jessica preferiu não dizer nada.

— Viu só? — William cochichou à Jessica. — Eu sou um astro.

A loira revirou os olhos. Voltou então sua atenção aos outros membros do clube.

— A gente fica onde? — Tina questionou. — Eu, John, Jamie e Henry vamos só pendurar os cartazes.

— Sei lá. — Ela deu de ombros. — Quando terminarmos o trabalho, a gente chama vocês. Não dá pra ficar esse monte de gente junta na biblioteca.

Os quatro então assentiram.

Logo o primeiro grupo adentrou ao prédio principal. Foram até a biblioteca, onde Lucy lhes disse que faria o design do cartaz num dos computadores de lá, e se sentaram numa mesa grande e redonda.

A discussão sobre o cartaz foi longa. Enquanto Natalie e Jessica queriam algo mais elaborado, William preferia uma coisa mais simples, e Gabe só queria algo bem sofisticado para combinar com a imagem do time. Opiniões vão, opiniões vem, e ao final das contas acabaram decidindo que seria melhor se fizessem mais de uma versão do cartaz com ajuda de Lucy.

Mesmo com todo o clima descontraído, Jessica, que parecia estar liderando o grupo, não conseguia deixar de se sentir incomodada com algumas coisas a respeito da menina de cabelos ruivos. Uma delas era ela parecer estar constantemente, hã... flertando com William.

Não que William fosse importante o suficiente para que ela estivesse se sentindo incomodada com o flerte descarado de Lucy, mas era estranho estarem todos trabalhando e os dois de papinho. Pelo menos isso era o que gostaria de se convencer.

— O que acha dessa imagem, Will? — A garota de sardas perguntou num tom doce ao garoto ao seu lado, que fez Jessica querer vomitar. Ela não sabia ser mais discreta? — Pensei em colocar com essa fonte. Ficaria bom, não acha?

William deu de ombros.

— Não entendo bem dessas coisas. — Falou. — Acho que está bom.

— Ah, se quiser eu posso te ensinar a combinar as fontes agora. É super simples. — Se inclinou um pouco para o lado tirando os olhos do computador e fitando o nadador.

Jessica pigarreou.

— Não acho que temos muito tempo pra isso. — Se intrometeu no diálogo, com um sorriso simpático.

Lucy pareceu querer jogá-la numa fogueira naquele momento. O seu olhar definitivamente estava declarando guerra.

— Acho que temos tempo o suficiente, auxiliar. — Ela disse, também sorrindo. — Tenho certeza que o William aprende bem rápido.

— William não é muito inteligente, sinto em lhe dizer.

Will a encarou, com um olhar em falsa indignação.

— Fala sério, magrela, eu sou mais inteligente que você. — Mostrou a língua.

— Duvido bastante disso. — Ela lhe lançou um olhar desafiador a ele.

Do outro lado da mesa, Gabe e Natalie se entreolharam, revirando os olhos. Até eles já tinham percebido toda a cena de ciúmes.

— Vocês vão terminar de fazer isso ou não? — Natalie perguntou, apoiando os cotovelos na mesa. — O pessoal tá esperando a gente finalizar isso pra poderem colar pela escola.

— Certo... — Lucy suspirou.

Continuaram fazendo os três cartazes diferentes, e em mais algum tempo, todos estavam prontos. É claro que as investidas da ruiva do primeiro ano não pararam, mas daquela vez elas tinham o apoio de William, que tinha percebido o quanto Jessica ficava incomodada com aquilo.

Todos os cartazes foram impressos num piscar de olhos, e várias cópias foram feitas para realmente poderem espalhá-los por todo o campus. Cansados e satisfeitos com o trabalho, o grupo se deteve em sentar um pouco antes de irem entregar os papéis ao restante do pessoal. A única que ficou de pé foi Jessica, que saiu andando pela biblioteca — não aguentava mais ver aquela melosidade toda entre Will e a primeiranista que aparentemente a detestava.

Procurava livros de mitologia numa das grandes prateleiras ao fundo do lugar, quando percebeu que mais alguém estava ali. Se virou e se surpreendeu ao encontrar William encostado numa prateleira, a fitando com um sorriso debochado. A loira imediatamente fechou a cara.

— O que você quer? — Perguntou, séria, sem tirar os olhos dos livros.

— Nada, só queria conversar um pouquinho com minha querida colega de clube. — Se aproximou um pouco, parecendo estar segurando a risada por algum motivo que não interessava à furiosa Jessica.

— Ótimo, Natalie está lá na mesa. — Disse, curta e grossa. — Embora eu ache que você vá conversar bem mais com a ruivinha ali.

— Está brava? — Ele questionou.

— Não. Por que eu estaria?

— Sei lá, aí é com você. — Deu de ombros.

Jessica pensou um pouco. É mesmo, por que estava tão brava com ele? Não tinha motivo, nenhum motivo, mas não conseguia simplesmente tratá-lo normalmente. Sua natureza a impedia de fazer isso, depois de ver o garoto flertando tão descaradamente com uma menina do primeiro ano.

Foi então que, no meio do silêncio, Will não aguentou mais e começou a gargalhar.

Jessica o olhou surpresa, fazendo sinal para que parasse de rir.

— Seu idiota, isso é uma biblioteca. — Ralhou. — Por que está rindo alto?

— Desculpa, desculpa... — Disse, ainda se recuperando da risada. — É que você fica tão engraçada com ciúmes. Não sabia que era do tipo ciumenta.

A loira fitou o colega de clube, desacreditada em tais palavras.

— Você pirou. — Cruzou os braços em frente ao peito, numa posição defensiva. — Sua autoestima é tão boa a ponto de achar que eu teria ciúmes de você?

— Bom, é o que está parecendo. — Ele riu, e então se aproximou um pouco mais da menina, colocando uma das mãos apoiadas na prateleira acima de sua cabeça. Aquela proximidade toda a fez engolir a seco. — Pode admitir, eu sou irresistível.

— Quer apanhar? Sai daqui. — Tentou empurrá-lo, mas o menino não se moveu.

— Que fofinha, ela estava com ciúmes. — Caçoou, apertando uma de suas bochechas.

Jess deu um tapa em sua mão, e aquilo o fez rir novamente.

— Bom, quer saber de uma coisa? — Questionou, sorrindo para a menina. — Eu ainda prefiro você, loirinha.

O coração de Jessica por pouco não pulou para fora do peito naquela hora, suas bochechas ferveram e sua única reação foi finalmente conseguir empurrá-lo e sair dali. William, atrás dela, ria com a situação. Para o azar da menina, aquela sua expressão envergonhada conseguia ser ainda mais adorável que seu rosto bravo.

Depois de algum tempo, o grupo finalmente deixou a biblioteca carregando os cartazes prontos. William, Natalie e Lucy foram na frente com os primeiros modelos, enquanto Jessica e Gabe carregavam com alguma dificuldade o restante das coisas logo atrás.

O que Natalie tinha falado não saíra da mente de Gabe desde o horário do intervalo. Deveria mesmo ao menos falar com Jessica?

Bom, talvez jogar o orgulho fora alguma vez não fosse ruim. Ele sabia que aa loira ainda guardava algum ressentimento sobre si, e aquilo definitivamente o incomodava bem mais do que antes, principalmente a tendo de volta no clube. Talvez, ser odiado por uma pessoa amada por todos fosse uma das piores sensações que poderia ter.

No meio do corredor, o garoto pigarreou.

— Hã... Jessica. — Ele chamou, e a menina parou no meio do caminho.

— Hm? — Perguntou. Parecia distraída com alguma coisa.

O menino engoliu a seco.

— Bom, eu queria te pedir desculpas por ter sido idiota com você nas primeiras semanas e ter causado um grande problema. — Disse. Seu lado maduro e não orgulhoso gritou mentalmente pela vitória. — Eu sou o capitão e não deveria ter falado aquele tipo de coisa pra você.

A menina pensou um pouco, antes de sorrir e responder:

— Tudo bem, Gabe, faz parte. — Disse, dando de ombros. — Fico feliz que tenha se preocupado com isso.

— Então... estou perdoado? — Perguntou, tentando usar seu tom o mais descontraído possível.

— Está perdoado. — Disse. — Só tente não fazer isso com as pessoas de novo. Palavras realmente podem machucar.

Ele coçou a nuca.

— Eu... prometo que vou me esforçar.

xx

— Cola direito isso aí, Henry! — John exclamou, ao longe, enquanto o menino de cabelos cacheados prendia um cartaz num dos quadros de avisos do prédio de dança.

— Eu tô colando direito! — Henry exclamou de volta.

— Não tá não, olha como isso tá torto! — O menino de cabelos loiros então se aproximou, ajeitando corretamente o papel que o colega tinha em mãos. — Agora sim tá certo.

Henry revirou os olhos.

— Nada a ver, seu cego. Estava certo antes.

— Claro que não! — Bufou.

— Jamie, dá pra mandar esse aí parar de reclamar da minha colagem de cartaz?

Um pouco ao longe, Jamie observava a cena segurando a risada. Estavam há algum tempo colando os cartazes feitos pelos colegas, e aquela era a talvez décima vez que Henry e John brigavam por causa disso. O menino de olhos pequenos entendia todo o estresse, na verdade ­— ficar colando cartazes por aí não era uma tarefa tão legal assim.

— Ei John, quem se importa se estiver um pouco torto? — Deu de ombros, bem-humorado, enquanto colava um cartaz azul chamativo numa das pilastras próximas. — A gente tem que terminar isso rápido, ainda precisamos ir deixar um desses nos outros clubes.

— Ah, então vai lá, oras. — John deu de ombros. — Você pode ir com a Tina colocar os cartazes nos clubes pra lá, e eu e o Henry colocamos nos clubes pra cá, não sei pra quê ir todo mundo junto.

Jamie coçou a nuca, assentindo, e também percebendo que as coisas seriam bem mais fáceis se tivessem feito assim desde o início. Seu olhar então se voltou para a menina de cabelos curtos que tentava sem muito sucesso achar a ponta de sua fita adesiva, completamente distraída. Ele não sabia bem o motivo, mas Tina estava com aquele olhar vago desde mais cedo, parecia estar fazendo tudo em modo automático – o que definitivamente não era uma coisa que acontecia com frequência.

Ele se aproximou dela, pigarreando, e a menina se assustou. Aparentemente não tinha ouvido nada que John sugerira.

— O que foi? — Ela perguntou, finalmente tirando os olhos do rolo de fita.

— Nós dois vamos na frente, prender os cartazes pra lá. — Falou.

Jamie esperava uma daquelas reações engraçadas de Christina, como ficar vermelha de repente ou se afobar com o diálogo, mas ela apenas disse:

— Ah, certo.

E então se levantou, juntando os cartazes sob o banco logo ao lado para irem.

Tina definitivamente não estava normal. Ele, mesmo não sendo um amigo próximo, a conhecia tempo o suficiente pra saber que dificilmente ficava baixo-astral assim. Aquele olhar vago preocupava Jamie, ao mesmo tempo em que o intrigava fortemente; o que faria a morena ficar tão apreensiva?

Certo, apreensão. Esse era o sentimento que Tina tinha estampado no rosto e que poderia ser lido facilmente por qualquer um, mas o motivo dele ainda era uma incógnita.

Saíram juntos em direção ao prédio de artes marciais sem trocar uma palavra. Ouvia alguns suspiros derrotados saírem da boca da menina vezes ou outras, mas definitivamente não sabia o que lhe dizer. Um "está tudo bem?" seria o suficiente? Sabia que não, afinal, era óbvio que a colega de clube daria alguma desculpa esfarrapada e então voltaria a parecer um zumbi desanimado.

Quando Christina se aproximava da primeira pilastra do baixo edifício, Jamie pareceu receber o dom divino da impulsividade e finalmente a deteve, parando à sua frente. Ele cruzou os braços em frente ao peito e a fitou de cima a baixo, enquanto a menina arqueava uma das sobrancelhas, sem entender.

— O que foi? — Questionou.

— Eu que te pergunto. — O menino de olhos pequenos disse. — O que aconteceu, Nolace?

— Hã... não aconteceu nada. — Ela deu de ombros. — Por quê?

— Por quê? — Jamie repetiu a pergunta, num tom de voz levemente indignado. — Olha, eu diria que você não é muito boa em disfarçar a cara de preocupada.

Tina não conseguiu dizer nada, desviando o olhar de Jamie e fitando seu par de tênis verdes.

— Com esse silêncio, eu vou considerar que eu estou certo. — Falou, e então a viu afastar os cabelos para trás das orelhas e suspirar, voltando a olhá-lo.

— É, está. — Sorriu de canto, sem humor.

— Quer falar sobre isso?

— Não tem muito o que falar. — Deu de ombros. — É só algo sobre o Alex.

Jamie pensou um pouco, se lembrando da figura de óculos que conhecera durante o jogo e voltara a ver outro dia, na cantina.

— Ah, o amigo que o conselho estudantil te fez fazer. — Comentou vagamente. — E que tipo de problemas? Está afim dele?

Tina corou, e imediatamente balançou a cabeça negativamente. Jamie riu com a reação.

— O quê, então?

— Problemas de clube. — Suspirou.

— Então conte-me tudo. Vou ser seu psicólogo hoje. — A puxou pra um banco próximo, se virando de frente para a menina.

Tina riu baixo.

— Não sei se eu deveria falar isso pra você, mas o Alex meio que foi afastado do clube dele. Por causa disso ele está recebendo muitas faltas e pode acabar repetindo ou sendo "convidado a se retirar da escola" — Fez aspas com os dedos. — e aí, como eu sou quase uma espiã, eu tive que pedir pra uns caras do conselho estudantil falarem com ele sobre isso, pra que eu pudesse sugerir que ele fosse pro nosso clube.

— É uma boa jogada. — Observou. — E...?

— E eu não sei se ele realmente vai ligar pra esse problema do clube. Quer dizer, é uma coisa importante de verdade, mas o Alex é tão desmotivado, eu tenho medo que isso tudo o faça desistir de vez e...

Jamie riu baixo, a interrompendo. Tina o encarou, curiosa.

— O que foi?

— Você gosta dele, Tina?

A menina arqueou uma das sobrancelhas, e seu rosto pálido logo ganhou uma cor rosada novamente.

— De novo essa pergunta? Eu já disse que não. — Desviou o olhar dele, fitando o chão vagamente, provavelmente pensando em algo que só ela mesma entendia. — Já tenho problemas de mais com gostar de garotos...

— Certo, então você gosta de outra pessoa, mas por que essa preocupação toda com o Alex? É por causa do conselho estudantil?

— Claro que não, Crowley. É porque ele é meu amigo e eu me importo com ele. — Disse, simplista, mesmo que seu tom de voz não fosse tão convincente. — Eu não sei você, mas eu não curto muito ver meus amigos sendo expulsos da escola.

— Certo, certo... — Falou ainda com um tom bem-humorado, sem acreditar muito naquela resposta. — Mas voltando ao assunto... eu tenho quase certeza que ele vai aceitar sua proposta de ir pro clube de natação.

— E por que você acha isso?

— Porque, bom, você acha mesmo que alguém conseguiria deixar isso tudo pra lá tendo a supermotivada Christina Nolace como amiga? — Questionou, com um sorriso.

Tina riu baixo com aquilo, coçando a nuca.

— Nunca se sabe. — Deu de ombros.

O menino revirou os olhos.

— Ah, fala sério, desde quando você é pessimista assim?

— Desde sempre, Jamie. — Riu.

— Então acho que eu preciso conversar mais com você, porque eu não me lembro disso. — Cruzou os braços.

— Não é como se você conversasse tanto assim comigo né, então não vou discordar. — Deu de ombros.

Os dois riram e então seus olhares se encontraram. Jamie sorriu vagarosamente, e jurou ver os olhos de Tina brilharem por alguns segundos, antes dele dizer:

— Não sou a pessoa mais confiável do mundo pra dizer isso, mas vai dar tudo certo, ok? Relaxa e vamos terminar nosso trabalho aqui antes que fique muito tarde pra você ir falar com seu amado Alex.

Tina deu um empurrão de leve em Jamie, que caiu para o lado, rindo.

— Valeu pelo conselho. — A menina falou, dessa vez mais timidamente.

— Por nada. Você parecia estar precisando bastante.

Ela suspirou, assentindo.

Os dois logo se levantaram do banco, com os cartazes em mãos, e Jamie olhou para a menina ao seu lado, sorrindo na tentativa de passar alguma confiança. Não demoraram para voltar ao serviço em alguns minutos, e agora com uma Christina definitivamente bem-humorada — e também com o incrível sentimento de descrença de que aquela conversa com Jamie tinha acontecido.

 


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