Swimming Club escrita por Lis Sampaio


Capítulo 12
Capítulo 12




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Vermont batucou os dedos na mesa de madeira.

— Deixa eu ver se entendi. — Começou a dizer calmamente. — Quer voltar a estar com a gente, sendo meu braço direito, mas sem nadar?

Jessica respirou fundo. Tinha acabado de explicar para o homem a função que William lhe tinha recomendado e temia, pela expressão do treinador, que ele não lhe aceitasse ali de volta.

— É... exatamente isso. — Falou, tentando não deixar transparecer todo o receio que tinha em sua voz. — Eu acho que não vou conseguir nadar por algum tempo, mas eu não quero mais ficar longe do clube. Talvez eu seja um fardo por não participar das competições como os outros, mas prometo compensar isso com meu trabalho duro em todo o resto.

— Hm...— Ele ficou em silêncio por alguns segundos, com uma das mãos no queixo liso. — Eu diria que um pedido como esses, vindo de você, é bem surpreendente. A forma que você saiu do meu escritório da outra vez fez eu realmente pensar que tinha absoluta certeza na sua decisão, embora fosse precipitada.

— E eu tinha, tinha certeza absoluta que nunca mais ia entrar nesse ginásio novamente. — Foi sincera. — Mas todo esse tempo longe do clube me fez pensar melhor em tudo que aconteceu, e também me fez perceber que, mesmo que me encaixe em outras coisas também, meu lugar é com o restante do time... eu acho.

Vermont sorriu e assentiu.

— Não vou discordar dessa afirmação. — Falou, sem tirar o sorriso do rosto. — Olha, Jessica, eu posso te dizer que isso veio numa hora bem... oportuna. Estou realmente precisando de um ajudante há algum tempo, e agora, às vésperas da competição do final do ano, tudo ficou mais corrido e está cada vez mais difícil lidar com todo o trabalho. Está disposta mesmo a arcar com essa função?

— Estou, treinador. — Ela disse, com uma agitação no peito.

— Certo, então só precisamos cuidar da sua transferência de volta e tudo pronto.

Jessica imaginava nunca ter dado um sorriso tão satisfeito em toda sua vida. Embora um lado seu ainda temesse que tivesse feito uma grande besteira, o seu lado esperançoso e alegre falava mais alto no momento. Aquela aura contente não passou despercebida por Vermont, que também parecia mais feliz com aquilo.

— Bem vinda de volta ao time de natação, Jess.

Enquanto isso, William andava em círculos pelo corredor do clube. Tinha ido até lá para esperar por Jess, mas não imaginava chegar e ouvir sua voz num diálogo dentro do escritório com Vermont. Pelo visto a loira tinha sido mais rápida que ele, o que, embora devesse deixá-lo aflito, o deixava realmente feliz também. Ela de verdade estava dando um grande passo para superar o próprio trauma.

Quando a porta se abriu, Will ficou estático ao ter a visão de Jessica saindo com um belo sorriso no rosto. Não sabia se o pulo que seu coração deu era por causa do possível significado que aquela expressão poderia ter ou se era porque estava vendo simplesmente um dos sorrisos mais bonitos do mundo à sua frente, mas uma onda de felicidade tomou conta de si. Ele se aproximou da garota, que não lhe deu tempo de fazer qualquer pergunta, apenas disparou afobadamente:

— Vermont me aprovou como auxiliar. Eu estou no clube de novo, Will.

William sorriu abertamente.

— Isso é sério?

Jessica então assentiu, alegre, e o menino a puxou instintivamente para um abraço, bagunçando seus cabelos. Ela corou com aquilo, mas não deixou de sorrir antes de discretamente abraçá-lo de volta. Não era um abraço inesperado que a faria mudar de humor tão cedo.

— Eu realmente estou feliz que tenha conseguido. — Falou o garoto de cabelos escuros, se afastando e coçando a nuca, um pouco acanhado pelo o que fizera.

— Acho que... eu devo isso a você. — Jess disse, sincera, ajeitando seus fios loiros. — Eu não sou o tipo de pessoa que dá o braço a torcer tão fácil, mas eu tenho que dizer que se não fosse nossa conversa de hoje mais cedo... bom, talvez eu não tivesse me sentido tão motivada a voltar.

William riu.

— Não somos os melhores amigos do mundo, mas quando precisar, pode contar comigo.

— Eu sei disso. — Jessica sorriu.

Mais uma vez o coração do nadador acelerou. É, pensou, o problema definitivamente era o sorriso.

Xx

— Fala sério, você ainda não contou pra ele? — Natalie questionou surpresa, com os pés para o alto jogada numa das camas bagunçadas.

Tina, Rachel e Natalie estavam no dormitório conversando. Tinham tido um dia duro de treino, e depois de jantarem juntas, decidiram subir para matar tempo não fazendo nada.

— Não... — Tina, deitada no tapete do quarto, suspirou. — E nem vou. Acho que já somos próximos o suficiente para ele me odiar o resto da vida se souber de uma coisa dessas.

— Concordo. — Rachel disse, puxando a cadeira de rodinhas de uma das mesas de estudos mais para perto. — Inclusive não sei o motivo de você não ter contado no início de tudo. Seria bem mais fácil.

Tina revirou os olhos.

— Claro que eu chegaria no garoto dizendo: 'Oi, tudo bem? Eu não te conheço, mas o conselho estudantil me mandou aqui para fazer amizade com você, descobrir seus problemas e contar tudo pra eles pra eu poder voltar e recuperar o meu cargo'. — Ironizou.

— Nossa Tina, pensando bem, você se aproximou do Alex com intenções bem manipuladoras e egoístas. — Natalie refletiu após aquela fala.

— Oh, obrigada. Isso alegrou meu dia — Falou, sarcasticamente, e Natalie balançou a cabeça.

— Vamos supor, se ele descobrir, o que você vai fazer?

— Ele não vai descobrir, Natalie.

— É uma suposição. E se acontecesse dele descobrir?

— Já falei que isso não vai acontecer. Além do mais, isso tudo foi só no comecinho, eu realmente me importo com o Alex agora. — Falou, sincera. — Ele é um dos amigos mais importantes que eu tenho, e eu não quero perder ele pra uma verdade não tão importante.

Rachel suspirou, girando sua cadeira.

— Então vai continuar mentindo?

— Mentir e omitir são coisas diferentes. — Piscou. — E eu estou omitindo para ajudar ele.

— Bom, mas pelo menos essa sua ajuda está surtindo algum efeito? — Natalie questionou.

Tina pensou um pouco.

— Em parte sim... — Disse. — Ele tem ido pras aulas e, bom, isso é um grande passo. O problema é o clube...

— Ele não vai ao clube?

A menina de cabelos curtos negou com a cabeça.

— Está afastado, mas acredito que... bom, se o conselho estudantil não foi notificado disso, então deve ter sido algo estabelecido entre eles. Então ele continua recebendo faltas nas atividades do clube. — Pensava alto. — Faltas no clube reprovam?

Rachel assentiu.

— Sim, é o mais importante nessa escola. — Respondeu. — Como está ajudando alguém desmotivado sem saber disso?

— É que ninguém nunca me falou algo do tipo, não tinha como saber disso. — Se defendeu, e então chacoalhou a cabeça. — Agora... bom, vamos mudar de assunto. Não quero vocês me dando sermão sobre o Alexander.

A menina de cabelos curtos se revirou no tapete, apoiando a cabeça nos cotovelos e olhando para Rachel com certa expectativa. A negra levantou uma das sobrancelhas, curiosa sobre o que viria a seguir daquela expressão.

— Qual é a sensação de ser tão boa na natação a ponto da maior escola de esportes do mundo te chamar pra estudar com eles? — Questionou.

É, Rachel já deveria imaginar que Tina perguntaria algo assim.

— Você é tão exagerada. — Revirou os olhos. ­— Eles não me "convidaram". Eu me inscrevi no programa de bolsas, foram liberadas algumas vagas e eu fui uma das escolhidas, oras.

— Mesmo assim — Natalie falou. — é quase como se tivessem te convidado pra estudar lá. Muita gente se inscreve nesses programas de bolsa, não é como se você fosse uma escolhida de meia dúzia.

Rae deu de ombros. Não concordava muito com o contexto criado pelas outras duas amigas, mas sabia que dificilmente conseguiria convencê-las do contrário.

— Você não respondeu minha pergunta. — Tina falou, levantando e abaixando as sobrancelhas. — E aí, qual a sensação?

— Acho que por um lado é medonho e triste. Eu vou pra outro país, e vou sentir muita falta de vocês e tal... ­— Respondeu, pensativa. — Mas por outro lado é realmente incrível e surpreendente que eu tenha conseguido uma bolsa lá, e por isso eu não posso desperdiçar essa chance. Acho que vai ser uma coisa boa pro meu futuro.

— Você "acha"? — A menina de cabelos curtos perguntou, indignada. — Isso vai ser tipo o maior passo da sua vida.

— Vai mesmo. — Natalie concordou. — Inclusive tenho a impressão de que você vai conhecer vários caras bonitos lá. Já pensou, você namorando com um norueguês rico?

Tina arregalou os olhos, como se estivesse considerando aquela possibilidade para a vida da amiga.

— Rachelzinha linda do meu coração, se você ficar milionária, não se esqueça das suas queridas amigas que te amam tanto.

Rachel riu, assentindo.

— Pode deixar. — Falou.

Continuaram conversando sobre as aleatoriedades de sempre. Rachel acabou comentando que provavelmente contaria ao treinador sobre sua transferência no dia seguinte, e que finalmente tinha conseguido conversar sobre o assunto com os pais, que foram completamente a favor de sua decisão e prometeram que iriam visitá-la quando possível.

Foi depois de algum tempo que a porta do dormitório 23 foi aberta, e Jessica entrou por ela, com um sorriso de orelha a orelha e um olhar distraído. As três garotas a fitaram, curiosas pela expressão.

— Hmmm, alguém tá com cara de quem viu o passarinho verde. — Natalie comentou com um tom brincalhão.

— Oi? Eu? — Jessica questionou, como quem não sabe de nada. Não precisavam de muito pra saber que ela estava tentando disfarçar alguma coisa. ­— Não é nada disso.

— O que aconteceu, então? — Tina perguntou. — Você está bem mais feliz do que o costume.

— Não aconteceu nada, oras. — Falou, fingindo desinteresse, embora o sorriso custasse a sumir de seu rosto. Ela estava em frente ao seu guarda-roupa, quando pegou uma toalha e se virou novamente para as amigas. — Vou tomar banho agora, estou super cansada.

Dito isso, a loira correu para o banheiro e trancou a porta. Tina, Rachel e Natalie se entreolharam.

— Definitivamente aconteceu alguma coisa muito boa. — Tina afirmou.

— Suspeito que isso tenha a ver com o meu irmão. — Natalia comentou, pensativa. — Mas é só uma impressão.

— Será? — Rachel questionou. — Não acho que seria só por isso...

Tina deu de ombros.

— O que quer que seja, logo logo a gente descobre. Conheço a Jess há tempo o suficiente para saber que ela não vai esconder isso da gente por tanto tempo.

E dito isso, o trio mudou de assunto. Ficaram jogando conversa fora por um tempo e em pouco tempo Jessica saiu do banho e se juntou a elas, que fizeram questão de não perguntar mais nada sobre o assunto omitido antes. Mesmo depois do horário do toque de recolher, Rachel também continuou ali com as outras amigas, e assim se iniciou mais uma daquelas festas do pijama involuntárias costumeiras para o time de natação feminino, que durou tempo o suficiente até todas caírem no sono.

Xx

Naquela manhã de dia B, Vermont parecia ter uma expressão mais suave em seu rosto do que nos outros dias. Aquilo definitivamente surpreendeu o time de natação quando chegaram vestindo suas roupas de nado, prontos para o aquecimento antes de entrarem na piscina. O único deles que sem dúvidas já imaginava o motivo do clima leve era William, que guardava internamente um sorriso satisfeito se lembrando do que prometera para Jessica na noite anterior: não contaria nada a ninguém sobre as boas notícias.

— É impressão minha ou você está mais feliz hoje, treinador? — John questionou sem papas na língua.

O homem alto, vestido com a costumeira regata da escola e uma bermuda, pigarreou.

— Eu estou? — Questionou.

— Está. — Henry disse, com um sorriso zombeteiro. Sua expressão de sempre. ­— Arrumou uma namorada?

Todos lançaram um olhar repreensivo ao primeiranista, embora também segurassem a risada com alguma dificuldade. Jamie, ao lado do menor, lhe deu um empurrão de leve.

— Que foi? — O menino de cabelos cacheados questionou, rindo.

Vermont suspirou.

— Cada dia que passa, vocês me parecem ainda mais crianças. ­— Revirou os olhos, cruzando os braços em frente ao peito. — Acho que preferem o treinador mal-humorado, não?

— NÃO! — Todos exclamaram um pouco desesperados, arrancando gargalhadas do técnico.

É, ele estava definitivamente mais bem-humorado do que o esperado. Que tipo de notícia poderia tê-lo deixado feliz assim? Talvez a hipótese de Henry pudesse estar certa...

Vermont, percebendo a confusão dos nadadores, fitou o relógio e olhou ao seu redor, finalmente focando na porta de vidro fosco a poucos metros - a mesma que dava acesso ao corredor. O ato não passou despercebido pela observadora Natalie, que cochichou para as duas amigas ao seu lado:

— Ele parece estar esperando alguém.

Tina arqueou uma das sobrancelhas.

— Será que ele vai apresentar a namorada pra gente? Ia ser engraçado.

— Fala sério — Jamie se aproximou e abaixou o rosto em direção às meninas, para poder voltar a dizer em voz baixa: — acham mesmo que o Vermont ia conseguir uma namorada?

Tina, que se assustou com a intromissão de sua paixonite na conversa, pigarreou. Seu rosto estava levemente vermelho.

— Ah, não acho impossível... — Falou Rachel, dando de ombros. — Ele é bonito e relativamente jovem, arruma uma namorada fácil.

— O único problema é o mal humor de velho. ­— O menino de olhos pequenos acrescentou, rindo.

Antes que pudessem prolongar a conversa, Vermont voltou a atenção aos nadadores. Ele limpou a garganta e melhorou sua postura.

— Antes de começarmos o aquecimento, preciso dizer uma coisa importante a todos vocês. — Falou e os adolescentes se entreolharam com curiosidade.

— Você está namorando! — John exclamou e os outros riram.

— Eu ainda não entendi porque são tão obcecados assim com a minha vida pessoal, mas não, não é isso. — Riu. — O nosso clube ganhou um novo membro, que vai trabalhar como meu auxiliar por algum tempo. Tenho certeza que vocês vão gostar dela, porque bom, vocês já a conhecem.

E assim que disse tais palavras, a porta de vidro foi aberta, e de lá saiu Jessica vestida com um uniforme parecido com o de Vermont e com um sorriso no rosto. Ela se aproximou do grupo, que em sua maioria estava em choque, e acenou.

— Espero que me aceitem aqui de novo. — Foi o que falou antes de uma euforia geral começar no ginásio.

Todos cercaram a menina de cabelos loiros, agora presos num rabo de cavalo, e começaram a disparar perguntas e felicitações — com exceção de Gabe, que continuou apenas parado junto ao grupo sem saber muito bem o que fazer. O capitão do time não sabia se tinha muito direito de dizer algo àquela que saiu justamente por sua causa.

— Fala sério, eu não acredito que você não nos contou que estava voltando! — Tina disse.

Natalie, ao lado da menina de cabelos curtos, riu.

— Agora sua cara de ontem faz sentido. — Falou.

— Desculpa galera, eu quis fazer uma surpresa. — Riu, coçando a nuca.

— E põe surpresa nisso. — John exclamou. — Não acredito que finalmente você está de volta ao time. Sentimos sua falta.

— Muito a sua falta. — Henry confirmou. — Muito muito muito mesmo. Você é tipo nossa mãe.

— Eu concordo com essa afirmação. — Jamie, atrás de todos do grupo, falou. — Bem vinda de volta, Jess.

Então lágrimas ameaçaram a brotar dos olhos da agora nova auxiliar do time e ela abriu um grande sorriso emocionado, tentando não chorar. Nunca pensou que tivesse tanta importância assim ali dentro e também não imaginava que ouviria aquele tipo de palavras vinda dos seus tão preciosos amigos, por isso seu peito se aquecia com aquele momento.

— Eu também senti falta de vocês. — Falou, sincera.

Aquela frase fez com que todos se juntassem para um clichê abraço coletivo. Natalie, que olhava a cena de fora dela, virou seu olhar para o capitão do time parado a nem meio metro de distância. Ela se aproximou dele, notando sua expressão um pouco cabisbaixa.

— Não vai se juntar ao abraço? — Perguntou, e o garoto balançou a cabeça negativamente.

— Não acho que eu tenha esse direito. — Falou, dando de ombros.

Natalie revirou os olhos.

— Você e essa sua mania de achar que não tem direito de nada...— Disse. — Se você está assim porque se arrependeu das idiotices que você falou, deveria pedir desculpas. É isso que as pessoas normais fazem.

E então ela se afastou dele, voltando para perto do grupo e se juntando ao abraço coletivo a pedido de John, que a puxou lá para o meio junto com os outros.

Quando todos os nadadores decidiram se separar, notaram a figura alta e de olhos claros os fitando de braços cruzados e balançando a cabeça em reprovação.

— Não queria cortar o momento emoção de vocês, mas não acham que está na hora do treino? — Questionou.

— Ah, fala sério, treinador. Para de ser velho. — Tina reclamou, rindo. — Deixa a gente aproveitar.

— Está querendo uns minutos extra na piscina, Nolace? — O homem questionou, colocando as mãos na cintura e fitando Tina com um olhar de reprovação.

— Não, senhor. — Ela desviou o olhar e fez sua costumeira expressão de quem nunca disse nada.

Não demorou para o grupo se dispersar, voltando a conversar normalmente e indo em direção à área onde faziam os aquecimentos. Os únicos ainda ali eram Jessica e William. Os dois se entreolharam com um sorriso.

— Mandou bem, loirinha. — William disse, bagunçando o cabelo dela. — Foi realmente uma entrada triunfal, digna de óscar.

Jessica deu uma cotovelada de leve no colega de clube, rindo.

— Idiota. — Falou, ajeitando os cabelos como de costume. — O que você tem com o meu cabelo? Já é uma droga pra deixar ele certinho, e você vem faz questão de bagunçar.

— Você fica brava quando eu faço isso. — Falou, com um sorriso bobo em seus lábios bem desenhados. — E é legal te deixar brava. Você fica adorável.

Dito isso, ele saiu andando em direção aos colegas de time. Jessica sentiu suas bochechas esquentarem com aquelas palavras, e imediatamente balançou a cabeça para voltar aos seus sentidos. Desconcertante, como sempre.

O treino correu bem no restante do tempo que tiveram. Jessica foi quem coordenou o aquecimento conforme as ordens de Vermont, e também ajudou a marcar os tempos e monitorar os percursos. Era bom para a menina estar de volta, mas ainda assim sabia que não era e mesma coisa de antes — e nem tinha como ser. Porém, sentia que devia aproveitar bem aquela posição dentro do time e dar todo apoio o possível para seus colegas que treinavam tão duro para a competição.

Durante o tempo que os nadadores tiveram de descanso, Rachel decidiu ir falar com o treinador sobre sua transferência. Todos obviamente ficaram sabendo também, o que gerou uma comemoração geral a favor da melhor nadadora do time, que estava prestes a dar um enorme passo na sua carreira como esportista.

— Então estamos perdendo nossa melhor competidora? — Vermont se perguntou em voz alta. — Não sei como faremos para substituir sua presença na competição, Rachel, tem certeza que não há como adiar um pouco sua ida?

— Não tenho certeza disso, mas acho que não. — Disse, com um sorriso tristonho. Estava sentada na borda da piscina com o restante do time, que por sinal estava todo encharcado e ainda com as roupas de treino. — Eu realmente queria competir com vocês.

— Bom, há um jeito pra tudo. — Tina falou, otimista. — Se você mandar um email talvez, ou a escola mandar uma notificação...

— É difícil mesmo assim. — Gabe finalmente se pronunciou na conversa do time. Todos o fitaram. — A Wild Winters é uma escola muito rigorosa.

— Não corta meu barato. — A menina protestou. — Vamos ter esperanças.

O treinador pareceu pensativo.

— Por via das dúvidas, melhor transferirmos as modalidades que Rachel está inscrita para outras pessoas por enquanto. — Disse. — Natalie se encarrega disso? Você foi a melhor na competição interna, acho que está pronta pra isso.

Natalie assentiu, um pouco hesitante. Vermont, por sua vez, deu um longo suspiro, olhando para cada um dos membros do time.

— Acho que nosso time está precisando de mais gente. — Comentou. — Poucas pessoas parecem interessadas no clube de natação. Só temos um primeiranista aqui, por exemplo. E agora, que nós vamos perder Rachel, vai ficar ainda mais vazio.

— Os primeiranistas estão todos nos times de futebol e basquete. — Henry observou, coçando a nuca.

— Acho que deveríamos fazer algo, então. — William disse.

— Tipo o quê? — Jamie questionou.

— Sei lá, colar alguns cartazes avisando que precisamos de membros. — Deu de ombros.

— É uma boa. — Jessica assentiu. — O quadro de avisos do prédio principal sempre tem anúncios assim, poderíamos colocar lá.

Tina, que apenas ouvia a conversa, olhou para os amigos indignada.

— Gente, fala sério, cartazes? Pedindo membros? — Questionou. — Não acham isso um pouco... sei lá, desesperado demais?

Todos olharam para a menina de maiô, intrigados.

— Então fala aí uma coisa melhor, boazona. — Henry caçoou.

— Eu sei lá, estava pensando em algum evento no clube pra chamar a atenção do pessoal. Uma apresentação de nado sincronizado, uma peça de teatro na água, competição de saltos... qualquer coisa.

— Não temos verba pra esse tipo de coisa, Tina. — Jessica falou. — Teríamos que falar com o conselho estudantil antes, e eu duvido que eles liberariam alguma coisa sabendo que você está no clube.

A morena suspirou.

— Suas ideias não são tão ruins, mas acho melhor começarmos com algo menos caro. ­— Gabe disse, com seu costumeiro tom de capitão do time.

— Exatamente. — Vermont concordou. — Se conseguirmos uma pessoa já é lucro. Se não funcionar, partimos pras coisas maiores.

Todos se entreolharam, assentindo.

— Então eu posso ver isso do cartaz mais tarde, talvez na hora do jantar. — Jessica se prontificou. — Talvez seja bom eu falar com alguém das equipes de publicidade dos times pra ajudar a elaborar um cartaz bem feito.

— Ótimo, Jess. — Vermont sorriu. — Então... Gabe, Natalie e William, vocês vão com ela para ajudar a fazer os cartazes. Tina, John, Jamie e Henry vão pendurar eles. E Rachel... eu te deixo livre dessa. Você deve ter muita coisa pra fazer ainda, não?

Rachel assentiu. Realmente estava muito ocupada, já que teria que ir atrás de sua transferência, mandar um email para a Wild Winters avisando sobre sua decisão e ainda começar a ajeitar suas coisas no quarto.

— Certo, então finalizando nosso momento de socialização, voltem para a piscina. — O treinador de olhos claros falou, rindo ao ouvir todos os resmungos dos atletas.

Xx

— Eu vou na frente então. — Tina disse, no vestiário feminino. O time tinha acabado de se arrumar depois do fim do treino, todas prontas para ir almoçar com o restante dos membros que as esperavam do lado de fora do clube. — Tenho que ir ver um negócio com o conselho estudantil.

— Certo, mas não demora muito, ou vamos chamar Thais pra ficar no seu lugar. — Natalie caçoou, fazendo a garota de cabelos curtos revirar os olhos enquanto saía do lugar.

— Vamos já também? — Jessica questionou, fitando as duas amigas aguardando uma confirmação. Natalie assentiu.

— Ah, antes de ir eu tenho que falar com o Eric. — Rachel disse, colocando a mochila nas costas. — Vai ser rápido, então podem ir na frente que eu alcanço vocês.

— Hm... — Jessica sorriu com um olhar sugestivo para a menina baixinha. — Você e esse Eric aí hem, que casal.

Rachel balançou a cabeça negativamente, rindo.

— Não é nada disso. — Falou. — Ele é meu amigo, sua shipper compulsiva.

— Bom título, mas eu nem faço essas coisas... — Riu, fazendo as outras duas a olharem com aquela cara de "fala sério". — Ok, talvez eu faça um pouquinho. Mas a verdadeira shipper compulsiva é a Tina, não eu.

— Christina é outra doente. — Rachel falou, balançando a cabeça em desaprovação.

— Jess tá mais pra maliciadora de amizades. — Natalie disse num tom pensativo.

— Isso, agora tá certo. — A loira fez um sinal de joínha. — Mas enfim, vamos logo porque os meninos estão esperando a gente. E vem rápido, viu, Rae.

— Vão botar a Thais no meu lugar também?

As outras duas gargalharam e assentiram, antes de saírem juntas do vestiário.

Rachel suspirou. É, momentos como aqueles só a faziam pensar cada vez mais no quanto iria sentir falta de suas amigas malucas quando estivesse fora do país. Era óbvio que ela faria outras amizades, mas sabia que nada seria como a ligação que tinha estabelecido com as outras três.

Saiu do vestiário e felizmente encontrou Eric logo de cara. O rapaz de cabelos compridos estava tirando as raias da piscina, quando ela se aproximou com um sorriso no rosto.

— Ah, nadadora, você está aqui. — Ele falou ao notar sua presença, sorrindo. — Pensei que todos já tinham ido embora.

— É, na verdade todos foram embora. Eu fiquei porque precisava falar com você, e bom... só te encontro por aqui. — Deu de ombros.

Eric riu, terminando de tirar a última raia e deixando ela na borda da piscina. Ele então voltou o olhar à menina baixinha, inclinando a cabeça para o lado.

— E o que é que quer falar comigo? — Questionou, bem humorado, se sentando no chão e fazendo sinal para que a garota se sentasse também.

Ela fez o mesmo, e afastou o cabelo para trás da orelha, com um sorriso alegre.

— Uou, me parecem boas notícias.

— E são. — Confirmou a menina. — Eu... bom, tomei minha decisão. Vou mesmo para a Wild Winters.

Eric pareceu espantado com aquela ótima notícia, e não hesitou em exclamar:

— Isso é ótimo! — Disse. — Quer dizer, tirando fato de que você vai ficar um tempo afastada. Mas fora isso... estou realmente feliz por você, nadadora.

— Bom, eu diria que você me ajudou bastante nesse tempo. Obrigada por me aguentar pedindo conselhos no seu horário de trabalho. ­— Riu.

— Digamos que matar trabalho pra conversar não foi um sacrifício tão grande, acredite. — Ele sorriu para ela. — Bom, e quando você parte?

— Não tenho certeza ainda, mas provavelmente saio da escola na próxima semana. Ainda tenho que ver minha família antes de viajar, então é provável que eu passe alguns dias com eles e só depois pegue o avião.

— Tão cedo assim?

— É... — Suspirou, rindo. — É o jeito.

Eric colocou uma das mãos no ombro da menina.

— Vai valer a pena, acredite. — Sorriu reconfortantemente. — Eu acho que já te disse pra não esquecer do seu amigo que limpa a piscina, né?

Rachel assentiu.

— Eu dificilmente me esqueço das pessoas, acredite. — Riu.

— Vou querer um discurso dedicado a mim quando ganhar uma medalha nas olimpíadas. — Brincou. — E tem que ser um discurso bem bonitinho, viu?

— Pode deixar, já vou começar a planejar ele. — Entrou na brincadeira. — Bom, acho que era só isso que eu tinha pra falar. Meus amigos estão me esperando pra comer, tenho que alcançar eles antes que comprem os sucos sem mim.

— Certo, vai lá.

Os dois então se levantaram, e antes que Rachel saísse, o rapaz olhou em seus olhos, dizendo:

— Você tem um futuro incrível pela frente, nadadora.

 


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