Eyes On Fire escrita por Emma Patterson


Capítulo 5
Capítulo 4 – O Teste


Notas iniciais do capítulo

Sei que falara que postaria toda semana, porém estou com a vida corrida, mas farei o possível para postar sempre que possível, como agora. Aproveitem a leitura, este capítulo ficou longo. Comentem e espero que gostem. :) .



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Sabe, se sentir verdadeiramente feliz e sortudo tão cedo era algo raro, sempre havia falhas nas coisas pelo mundo, e realmente tinha falhas na minha vida, mas com eles comigo, eu não as sentia com a dor que realmente deveria sentir.

 

Papai era ausente, ainda mais agora que se casou novamente com Margaret, indo viver com a filha dela, Louise, como se fosse filha dele com ela. Ele me mandara um cheque gordo no meu aniversário, mas não era a mesma coisa que ter sua presença como era a 5 anos atrás, ainda solteiro, e tentando ficar com mamão sempre que tinha a chance.

 

— Lizzie, presta a atenção! - Matt gritou levando uma bola de neve gorda no meio da cara. Gargalhei.

 

Ao mesmo tempo que tomava folego, recebi uma bolada de neve na cara também, escorreguei no gelo e cai de bunda no chão duro e coberto com crostas de gelo e neve. A dor foi ardida por conta do frio, mas não consegui parar de rir. Alex começou a rir, deixando seu lado competidora de lado e correu habilidosamente, como sempre era, em minha direção e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Encarei seus lindos olhos azuis elétricos que pareciam o oceano no dia mais ensolarado, a cor azul parecia ondular de fato.  Estiquei a mão direita e aceitei sua ajuda facilmente, não antes de sorrir travessamente e a puxar com toda a minha força. Meus olhos arderam.

 

Usei a energia da terra a nossa volta para me impulsionar para cima, girei meu corpo e fiz a gravidade puxar Alex para o chão e cair de cara em um punhado de neve ao nosso lado.

 

—Isso não é justo! - gritou indignada. Modo competitiva ON. Ri alto jogando a cabeça para trás.

 

—Querida, esse mundo não é justo. - Devolvi debochada e Matt se colocando ao meu lado com seu lindo sorriso de comercial de pasta de dente brilhando e, possivelmente, refletindo o branco da neve a nossa volta.

 

—------

 

Encarei o teto. Eu havia decidido dormir até o horário do teste, principalmente não tendo o que fazer no quarto tendo a companhia vigilante e implacável da Guardiã/Carrasco Alex Andrews.

Olhei pra meu bracelete de couro trançado no meu pulso esquerdo. Quem diria que minhas palavras aos 10 anos de idade seriam uma previsão do meu futuro. Mas como uma criança, em sua inocência de como o mundo de fato era, saberia que estaria dizendo uma verdade agourenta? Olhei para o lado. Alex estava em pé, com roupas de treinamento pretas e sob medida para o seu porte físico, prendia seus cabelos em um firme rabo de cavalo curto.

Um sonho de uma lembrança doce. Alex agora era bem mais alta que aos 10 anos, seu corpo era levemente curvilíneo, esguio, mas com músculos o suficiente para uma boa surra. Seus cabelos antes sempre longos em tom castanho escuro com pontas que sempre acobreavam com a queima do sol, agora estava na altura do ombro quando soltos e as ponta, por conta do corte, sumira o tom de cobre. Sua postura era tensa e seus olhos eram como os de uma coruja em alerta na noite, procurando um inimigo ou presa, o que viesse primeiro.

Me sentei na cama. Meus pés descalços tocando o chão de madeira polida, gélido. Neve.

Levantei e fui para meu guarda roupa trocar o uniforme que manti por roupas de ginastica da academia. Se Alex estava com esse tipo de traje e iria comigo para o teste como minha guarda costa, e meu teste, pela hora que vi no relógio/despertador na escrivaninha ao lado da cama marcava, então esse seria um teste físico e de habilidades. Já imaginava e mamãe também comentara algo no jantar da noite passada após um longo silêncio de palavras e apenas o som dos talheres nos pratos.

—Você se mexeu bastante dormindo. Pesadelo?

Sua voz estava normal, mas senti um tom de curiosidade com um leve toque de preocupação escondida. Parei na entrada do banheiro e olhei por sobre os ombros e inundei sua mente com a minha resposta.

Nada que precise se preocupar, Guardiã.

Entrei no banheiro e fechei a porta.

                                                                         *****

Matt bateu na porta do quarto, Alex o atendeu.

—Tudo bem? Você fechou o elo. - Seus olhos preocupados com a irmã.

Nosso elo triplo. Matt se ligava a ela, ela podia falar com ele em pensamentos e ela ler o que ele pensava ou sentia. Alex tinha o mesmo elo comigo, destinada a ser meu laço, minha protetora, eu podia ler sua mente e sentimentos, mas ela só podia ler o meu se eu permitisse. Porém eu podia acessar o Matt ao entrar na mente dela por ele estar ligado a ela, fechando nosso triangulo. Isso tudo, não importando a distância. Mas um saberia a localização do outro, assim que acessasse a mente do outro.

—Sim, tudo bem, estava meditando, filtrando magia para a prova de hoje. Não quis que ficasse vindo ver como estava o tempo todo. Tem que focar nos estudos. - Seu olhar era reprovador, parecia não querer que eu soubesse de algo.

—Não vou comer ela, Matt. - Provoquei passando pelos dois e saindo do quarto.

Meu elo com Alex estava aberto desde que acordei, para mostrar que minha guarda estava baixa depois de tudo. Bandeira branca. Então a mesma sabia que eu estava indo sair do quarto e não só me aproximando, mas Matt se esquivou de mim como se eu fosse eletrocuta-lo ou algo parecido.

—Nem a você... - joguei ácida.

Saí andando até o ginásio, onde seria o meu teste. Não me preocupei em esperá-los para ver se iam me seguir ou não, pois sabia que iriam. Meu humor não estava mais um dos melhores. Parecia que as coisas como estavam finalmente estavam caindo de fato sobre mim, minha mente finalmente processava que minhas atitudes tiveram consequências, que tudo tinha consequências. Nada mais era como quando tínhamos 10 anos, menos. Entrei na droga do ginásio enorme empurrando as portas da frente e meus punhos cerrados ao lado do corpo. Meus olhos logo focando na Srª Cuts no meio do mesmo, suas mãos atrás das costas, sua carranca fixa no meio da cara larga e de traços másculos e duros.

Tirando os olhos azuis piscina, continuava feia.

Contei 12 guardas da escola postos em volta da quadra central, 7 do Conselho, todos os membros do mesmo também estavam presentes, postos ao lado da diretora. Minha mãe não estava presente. Estranhei, mas me senti aliviada também.  Parei em frente a diretora e ergui meu queixo ao olhar para cima para poder encará-la nos olhos. Um verdadeiro armário, aquela mulher.

—Não se atrasou. - Soltou afiada. Nada da veia saltada, ainda.

—Para sua surpresa, suponho. - Respondi rispidamente.

Voilà, a veia na testa dera sinal de sua existência. Sorri.

—Podemos começar? Acho que não querem esperar, um ano já fora o suficiente. O que querem testar? - meu tom debochado e a provocação sobre meu tempo fora fez os presentes se irritarem com a minha audácia e petulância.

Elena era a que mais parecia querer voar em meu lindo pescoço fino e intocado. Sorri para ela educadamente, seu rosto começando a se avermelhar e seus olhos pareciam prontos para me pulverizar. Ah, como os dons de irritar da família Campbell, do meu pai, eram evidentes em mim. Irônico, não?

Alex e Matt se postaram ao meu lado e cumprimentaram o Conselho e a diretora com uma respeitosa reverência. Ambos formais em suas roupas esportivas e cabelos arrumados. Guardiões de elite, pareciam. Virei a cara para voltar a olhar a Srª Cuts que me lançava um olhar que gritava “Por que você não é assim?”. Quase mostrei a língua como uma criança pequena, mimada e verdadeiramente irritada. Com um sinal sutil das mãos, a diretora os dispensou para que se postassem juntos aos guardiões da escola que circulavam a quadra em que estávamos.

Você, srtª Campbell, será testada em cada elemento, onde supostamente teria que estar familiarizada perante a sua futura missão de Gema. Não será contada sua invocação das sombras – revolta transbordava de suas palavras, acho que ter habilidades invocatórias em um ano, e fora da nossa sociedade, não era aceitável, enquanto que ninguém conseguia invocar na academia em todos esses 20 anos da administração de Cuts –, antes, será testada fisicamente para vermos como esta seu desempenho físico depois de tão longa negligência. Por fim, terá uma luta corporal com seu guardião, Matthew Andrews, usando magia para auxiliar para analisarmos seu desempenho em possível combate.

Encarei Matt e o mesmo me olhava, frio. Ele estava me analisando, seus olhos olhando meu corpo, minha postura, as formas de me derrubar. O analisei de volta. Uma atitude padrão, observar seu inimigo, ver suas habilidades, falhas, chances de sucesso, de perda, como poderia afetá-lo ou ser afetada se acertada. Seus músculos estavam maiores, mais rígidos. Eu era pequena perto dele. O que era 1,65m perto de 1,85m de um homem forte e que estava treinando para ser um lobisomem. Voltei o olhar para a Srª Cuts e fiquei séria. Isso a agradou.

—Espero que aguente o tranco, srtª Campbell, mas quem sabe passar uma semana inconsciente na enfermaria lhe coloque o juízo e obediência que sua mãe não foi capaz de fazer ao ter misturado nosso sangue magico com um humano qualquer.

Fuzilei sem qualquer cuidado aquela mulher gigante, sentia a magia fluir e crescer em mim, meus olhos arderam, límpidos. Trinquei os dentes. Pela primeira vez que me vira desde que eu voltara. Pela primeira vez em minha existência fiz a senhora Cuts quase dar um passo para trás em hesitação, mas ela se controlou, tinha que se controlar perante o conselho, uma adolescente como eu não poderia ser um motivo de temor. Mas logo ela substituiu o olhar para a bruxa lutadora que era, senti colocar a sua magia para rodar, me colocar no meu lugar se fosse preciso. Quem poderia ser eu perante a Diretora da Academia, a nossa heroína de guerra, uma das maiores matadoras de vampiros? Lizzie Campbell-Brown era apenas o step de Receptáculo, uma substituta fajuta se comparada a verdadeira destinada a ser a Gema.

Dei um passo para trás, me controlando, fiz uma reverência em respeito. Cuts fez sinal para Matt se aproximasse. Todos do Conselho, nossa Diretora, Alex, foram se colocar nas arquibancadas, na primeira fileira. O telão da quadra, para os dias de jogos ou apresentações, estava ligado, Matt e eu éramos as estrelas. Sorri em deboche, Matt se colocava a minha frente, dois metros de distância.

—1º: Teste físico. Comecem! - gritou a Srª Cuts. Pulmões fortes ela tinha.

Matthew me olhou nos olhos de fato pela primeira vez em que nos reencontramos. Sorri gentil. Sua feição se transformou em gelo. Meu nariz retraiu-se.

—Resistência e condicionamento físico. Quero que faça 100 abdominais seguidas de 100 agachamentos. Depois 50 voltas, sem pausa para caminhada. Isso é o fácil para alguém que não está parada a 1 ano. - Sua voz estava mais rouca, máscula, e nada simpática.

—Aulas com o Stefan? - zombei. Era nosso antigo professor de Educação Física na Academia. Não sabia se ele ainda trabalhava aqui.

Não me alonguei, se eles queriam me fazer penar, ia mostrar que estavam equivocados. Comecei as series solicitadas. Matthew me analisando, observando se eu cometeria algum deslize, sinal de cansaço e fracasso a cada inspirada que eu fazia. Comecei tranquilamente, não exigindo muito do meu corpo, mostrando ritmo e disciplina. Deixei de focar nas pessoas a minha a volta, apenas sinais de possíveis alertas, como fora treinada desde criança. Eu estive fora, mas nunca fora uma aluna burra. Eu amava minha vida bruxa, a rotina magica, os treinos. Sentia meus músculos queimarem, a um tempo que não os sentia assim. Eles estavam vivos, recebendo tensão, e sentia o mesmo vindo de Matt, ele estava ficando nervosa a cada flexão que eu fazia, cada respiração firme e concentrada que dava. Meu foco era preciso.

Foi então que senti uma energia se aproximar. Desviei rolando no chão, e então outra investida mais forte, desta vez mais feroz. Meus olhos logo focaram em Elena. Seus olhos estavam brancos luminosos, levemente dourado. Um sorriso de satisfação querendo se formar.

—Obvio que não seria fácil. – Bufei rolando os olhos.

Logo vi, sutilmente, uma nuvem esbranquiçada de ar quente se aproximando mais rápida. Comecei a correr sem olhar para a minha plateia que já estava ciente do itinerário dos testes. Quase soltei um rosnado e continuei correndo. As 50 voltas seriam com uma perseguição (de certa forma pessoal) de uma nuvem de ar quente bem irritada. Continuei correndo, a nuvem bem quente ditando o ritmo. Segurei a minha língua para soltar todos os meus protestos e indignações. Elena estava intensificando, porque na decima quinta volta eu sentia meus pulmões queimarem de exaustão, não estava acostumada. Minhas pernas doíam, eu estava pingando de suor. Não era algo típico, de fato. Então algo estalou na minha mente, segundos antes de uma lufada de ar vir em minha direção pela frente para me queimar.

Magia ardeu, meus olhos queimaram e o ar quente foi varrido por ar frio. Fiz questão de (intencionalmente, mas eles não poderiam provar), fazer o ar de gelo ir na direção do Conselho e os outros, Elena quase caiu do seu acento quando foi empurrada para trás. Cuts a segurou rapidamente, outros membros, como Claus, arfaram estupefatos pela audácia de serem acertados, mas sabiam que foram eles que escolheram ficar na primeira fileira e estarem bem na reta do meu ataque, que culpa eu teria no calor do momento? Como havia dito, não podiam provar se era de propósito ou não. Continuei correndo. Não houve intervenção. O que percebi, foi que, não seriam teste separados, caso contrário, Elena não teria usado sua magia principal de Ar contra mim para me forçar mais tensão e ver minha resistência e nem teria me atacado de frente. Queriam ver meu condicionamento físico e magico e reações de combate ao mesmo tempo e foi na quinquagésima volta que girei meus calcanhares e desviei de Matt. Meu oponente de luta e o atingi em segundos com um murro flamejante.

— Se vai ser para valer contra mim, então que seja olho por olho.

Matthew veio com fúria, como se essa fosse a chance para descontar toda a raiva que nutriu por mim nesse ano que os abandonei e fugi. Por me culpar pelas consequências que ele e Alex passaram. E se tinha uma coisa que Matt não tolerava, era que Alex sofresse, e ele fazia questão de fazer a pessoa pagar, não importasse quem fosse. Mesmo sendo seu laço secundário. Eu. Meu punho fechou e energia bruta de Terra, minha finalidade principal, e deixei meus punhos duros como aço e atingi seu soco dirigido bem no meu rosto. Nossos punhos se chocaram em uma onda forte, não aliviei. Se ele fosse quebrar a mão, pouco me importava, queria ver dor em seu rosto, mas ele estava protegido também. Uma aura prateada o envolvia, veias saltadas pelos seus braços expostos pela camisa regata. Seus olhos estavam mais brilhantes. Quase cuspi em sua cara ao perceber o porquê. Ele era um iniciado... Já havia passado por uma ou duas seções de transformação em lobisomem. Saltei usando a manipulação da gravidade que provinha da terra, e me afastei bem. O analisei mais atentamente. Ampliei meu olfato. Ele fedia a cão molhado. Cuspi no chão, sem rodeios e sem conseguir me conter.

Matthew flexionou seus dedos, ele sentiu o impacto. Ele não era um lobisomem completo, não tinha a força desumana que atingiria no final do processo. Ele sentiu dor, sutil, mas sentiu. Depois que o efeito que ele invocou passasse, sua mão estaria quase fraturada. Sorri com a imagem. Isso o irritou, meu sorriso foi a bandeira vermelha para um touro em rodeio. O empurrei com ar e o obriguei a cair no chão com gravidade canalizada. Sussurrei algumas palavras antigas de runas da terra, e um escudo de runas verdes começaram girar a minha volta em todas as direções. Eu poderia prendê-lo, mas eu queria brincar com o cachorro. Era divertido, empoderador, era bom mostrar o que eu podia fazer, mostrar a todos que estavam enganados sobre mim, sobre acharem que eu era fraca, apenas um bode expiatório para sua fachada de sociedade estável.  Sentia todos tensos. Alex tentava entrar na minha mente, o que era inútil.

Apenas quando eu deixar.” - Sussurrei em sua mente. Ela se levantou, mas o olhar da diretora Cuts a parou antes de dar um passo sequer. Ela me temia, temeu no momento que não excitei em queimar Matt, e viu como senti prazer quando quis quebrar sua mão, eu permitira que ela lesse minha mente nesses momentos. Eu mostrara minha sadicidade.

A adrenalina da luta, a raiva pelos fatos acontecidos, a angustia, frustração. Nós dois, Matt e eu, as liberávamos agora. Seus olhos estavam brilhantes, excitados. Aumentei a pressão. Sentia ele tentar resistir ao meu poder de gravidade, a runas girando rápidas a minha volta, e quanto mais eu intensificava a gravidade, seu peso, mais as runas aceleravam, Matt estava tenso, seu corpo tremia por resistir, suas veias saltadas, seu maxilar estava travado. Senti uma onda de magia na minha direção. Mais vento de ar quente. Com um aceno sútil, dissipei a magia de ar. Ouvi arfares de surpresa. Realmente, o que fiz não era algo simples para alguém da minha idade e que passara longe e sem treinamento por um ano.

—Lizz! - Alex gritou.

Encarei Matt por longos dois segundos e o libertei com uma piscada de olhos e um beijo mandado ao longe. Um rosnado escapou de seus lábios. Tão veloz, ele veio para cima de mim, e antes que meus sentidos humanos pudessem perceber, ele me acertou um soco, sutilmente controlado, em meu rosto. Rezilince, sussurrei em minha mente para deixar meu rosto mais resistente e adaptável a mudanças repentinas. Cai ao chão com a força de seu golpe. Escutei arfares. Pessoas se levantando. Alex quase corria em minha direção.

A dor era aguda, ardida. Toquei meus lábios e senti o sangue. Me sentem com cuidado, e olhei meus dedos com unhas impecáveis. Uma gota vermelha, brilhante e linda. Hipnotizante. Era meu sangue. Meu sangue... Levantei os olhos e encarei Matthew. Ele estava arfante, eu via um toque de culpa em seu semblante, ele não controlava seus instintos animalescos tão bem quanto acreditava controlar. A quanto tempo eu não sangrava? Sorri de orelha a orelha e comecei a gargalhar e ele arregalou os olhos confuso com a minha reação. Eu o deixara me acertar, eu queria saber se ia mesmo me machucar e eu estava, definidamente, surpresa. Não achava que ela seria capaz de tanto, mas ela era. Claro que era. Tola eu que duvidara de suas capacidades. Ela me ensinara tudo que eu sabia agora, melhor do que essa droga de academia, melhor que minha mãe poderia ter me ensinado em minha infância. Ri alto e joguei a cabeça para trás. Meus cabelos soltos, sem o prendedor que se rompeu em meio a toda luta. Lambi meus lábios e senti o sabor ferroso, mas bem sutilmente doce... Essa foi a última vez que testaria as capacidades de Neila.

Todos estavam me olhando como se eu fosse doida. O que não era mentira. Matt continuava me olhando confuso. Balancei a cabeça e puxei uma lufada de ar para meus perfeitos pulmões.

—Sabe, faz tempo que não sentia uma dor física de verdade. - falei com sinceridade. - Mas, Matt, precisa de mais contra mim, principalmente sendo um lobinho filhote.

Debochei com um biquinho enquanto meu machucado ia cicatrizando com a minha magia de regeneração vinda da terra. Seus olhos se arregalaram. Não fazia esse tipo de magia antes, eu não tinha a capacidade. Antes eu só conseguiria sacrificando algum tipo de vida, planta ou qualquer outra coisa. Mas ela era limpa, vinha de mim mesmo, do meu poder, minha força vital. Magia branca e madura, difícil sem treinamento moral e físico unidos.

—Desde quando...?

Com um piscar de olhos normal, para lubrificar os olhos, uma bolha de água o suspendia a 5 centímetros do chão. Sem ar, e com frio, pois deixara a água a -1 grau. Uma aura de vento girava em volta da bolha na horizontal e chamas brincavam na vertical.

—Que posso fazer isso? E o pouco mais que demonstrei? - sorri – Vamos dizer que eu tenho um talento nato que descobri enquanto estava fora. Novos ares podem fazer uma grande diferença em nossas vidas.

Falei com malícia e sem ele ter tempo de reagir o atingi com um belo chute no estomago ao segundo posterior de desfazer o casulo e antes dele tocar o chão, o fazendo se curvar arfante e de dor e voar um metro de distância com a minha força provinda da terra, bruta e antiga. Rápida cheguei até ele usando runas combinadas e aprimoradas que aumentam a velocidade e girei meus punhos o socando bem no queixo, de baixo para cima o fazendo se lançar para trás. E antes que caísse no chão, girei minha mão direita e o fiz levitar no chão. Mais 5cm. Andei até ele, me abaixei e sussurrei em seu ouvido, apenas para ele e bloqueando Alex. Uma interferência que somente nós três notaríamos, e mais ninguém.

O que fez em mim, tudo isso que vocês me fizeram passar hoje, foi porque eu deixei. Você não tem ideia do que sou capaz agora.— Levantei cerrando o punho que o mantinha levitando e fiz runas o enrolarem, verdes como ácido. E numa força esmagadora, Matthew foi de encontro ao chão, fazendo o lindo piso se rachar, sua coluna doer, suas costas ficarem cheias de hematomas bem escuros, provavelmente pelo peso da gravidade que impus e sem ar por um tempo.

Andei até meus avaliadores e numa reverência elegante e formal, olhos em cada um deles disse ao mesmo tempo que libertava Matthew:

—Espero que essa pequena demonstração os satisfaça de minhas capacidades como reserva e que meu tempo fora foi útil de certa forma. Torçam para que eu não morra na minha coroação, não creio que haverá alguém mais capacitada do que eu ou além disso nas próximas gerações, não é mesmo? - pisquei. - Um bom fim de dia, para todos vocês, e peço que me permitam voltar ao meu quarto e me preparar para o jantar, estou faminta. Ah, mais uma coisa – encarei a Srª Cuts -, são aos humanos quaisquer que nossa doutrina foi construída, protegê-los e manter um mundo pleno para a vida, todo tipo, sem preconceitos. Porque antes de sermos bruxas, nascemos e somos humanas. Éramos humanas quando a Terra nos abençoou com a sua dadiva.

Todos estavam estáticos. Aflitos e nervosos. Cuts estava envergonhada ao perceber o que fizera. Xenofobia a espécie que um dia fora nossa origem e a qual juramos proteger em um tempo longínquo. De fato, nossa sociedade não se equiparava ao que um dia fora. O que restava era apenas restos acumulados de falhas de uma boa ideologia que dera errado.

—Um restante do dia a todos os presentes e obrigada pela atenção. – Falei formalmente e me retirei, passando por Alex que como em um estalo de volta a realidade e absorvido tudo, corria em direção ao seu irmão ainda caído no chão e se contorcendo de dores.

No fim não seria eu que precisaria passar um tempo na enfermaria para aprender o juízo necessário antes de se meter comigo.


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