Eyes On Fire escrita por Emma Patterson


Capítulo 2
Capítulo 1 – Casa


Notas iniciais do capítulo

Bem, consegui me manter fiel em postar mais um capítulo com intervalo de uma semana apenas. Agradeço a aqueles resolveram olhar pelo menos o capítulo de prólogo. Vou me esforçar para postar um capítulo por semana, mas não em dias especifico, pois quero que as coisas fluam.

Bem, tenham uma boa leitura e espero que gostem. Por favor, comentem no final o que acharam :) .

PS:. acredito que vão se surpreender depois de um prólogo tão cheio de ação e turbulento.



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Alô?— aquela voz levemente rouca e firme.

Silêncio. Minha respiração controlada. Ela repetiu o “Alô”, dessa vez impaciente.

— Mãe – falei. Silêncio novamente. Esperei tranquila.

Onde você está?— não estava autoritária, mas sim preocupada. Um aperto no meu peito se instalou. Sentia tanto a sua falta.

—Estou indo para casa – falei lentamente enquanto olhava a estrada passar velozmente pela janela do ônibus de viajem.

 

Voltei meu olhar para o meu colo e suspirei cansada. Seria tão perturbador quando eu chagasse. As perguntas, as broncas… A confusão. Seria muito mais fácil se eu nunca voltasse… Se eu nunca tivesse fugido para começo de conversa.

Quanto tempo?— dessa vez ela estava sendo prática, seu modo autoritário agindo. Sorri de saudade apesar de tudo.

— Três horas. Você vai me buscar na rodoviária. – era uma certeza. Até se eu não falasse, ela me acharia agora que eu estava acessível.

Sem gracinha— ameaçou, modo mãe agora. Suspirei.

— Se eu estivesse de gracinha, nem teria ligado. Não voltaria. - Silêncio – Até daqui algumas horas, mãe. Senti sua falta. - fui sincera.

Desliguei. Olhei para o aparelho em minha mão e deixei no modo avião. Não precisava de mais ninguém me perturbando. Pessoalmente seria melhor, acabaria logo. Olhei pela janela novamente e fiquei observando o sol nascer. Límpido e magnífico. Melancolia voltava a me inundar, fechei os olhos.

 

****

 

Sabe aquelas cenas tanto de filmes quanto de séries de TV onde uma penca de agentes armados e empacotados de coletes a prova de balas começa a surgir por todos os cantos e cerca o suspeito potencialmente perigoso? Bem, eu era o suspeito e por mais que tivesse vários humanos a minha volta naquela estação rodoviária eu podia distinguir a meia dúzia de bruxas para contenção em potencial, caçadores (humanos fortificados com laços de sangue enfeitiçados para proteção da sociedade Bruxa) à minha volta como os agentes para me capturar. Suspirei impaciente, algo que estava se tornando um habito constante por esses tempos para o meu gosto. Me sentei tranquilamente em um dos bancos espalhados pelo terminal e esperei pela minha mãe. Logo a vi. Não sozinha.

Gemi quando os reconheci. Tortura.

— Foi necessário – começou a linda e esplêndida Katherine Brown, minha mãe.

Levantei impaciente e olhei para cima para ver seu rosto. Minha mãe era incrivelmente alta, meu pai também, mas eu, de alguma forma, era considerada baixa para os padrões paternais hereditários.

— É o esperado depois de tudo – respondi, minha voz saindo estranhamente vazia.

Katie me encarou. Escaneando cada canto do meu rosto, meu corpo, certificando-se que eu estava inteira, tendo certeza que eu não estava com um sequer arranhão na unha. Seus olhos azuis gelo estavam impenetráveis e nem se eu quisesse conseguiria decifrá-los. Engoli em seco e olhei para trás dela, vendo aquelas duas muralhas, uma literal, me encarando como se eu fosse uma assassina serial killer e estivesse a poucos segundos de começar um massacre de inocentes bem aqui. Bufei.

— Não vou fazer nada idiota e…

— Mais do que já fez? - cortou fria e maldosa. Sr. ª Cuts. Um sobrenome ridículo para uma mulher tão influente e brutal.

— Bonnie… - alertou minha mãe. Se tinha uma batalha que eu um dia gostaria de contemplar era essa: Katherine Brown VS Bonnie Cuts.

— Você vira conosco. O Conselho quer fazer uma investigação e interrogação … – continuou ignorando minha mãe e uma familiar sensação de ira começou a me inundar.

— Não. Ela vai comigo para casa. Não tem necessidade disso. Por hora. – mamãe olhou para Benedict, o chefe dos caçadores da área de Seattle e a segunda muralha de prontidão atrás da minha mãe.

Gigante, monstruoso, precisamente, o cara era uma montanha de músculos com sua pele morena e careca. Os óculos escuros me impediam de ver seus olhos, mas não era menos eficiente para se sentir sua cara de poucos amigos. Desde que o conhecera quando criança e o associava ao agente social do desenho Lilo e Stitch.

— Já conversei com eles— o conselho ela devia estar se referindo—, concordaram em só começar isso depois que ela se restabelecesse em casa. Não é como se ela tivesse declarado guerra contra nós e se aliado com aquelas coisas.

Xeque-mate. Sorri em escarnio pelas costas da minha mãe para a Sr.ª Cuts enquanto mamãe estava com a cabeça virada para o Gigante Benedict. A costumeira veia na testa da Sr.ª Cuts saltava “feliz” me dizendo um “Olá” depois de um ano separadas. Por pouco não ri com esse pensamento. Não era um momento apropriado, claro. Eu tinha observado detalhadamente toda aquela curta conversa e saber que o Conselho logo queria me ver e só estava me dando uma leve “pausa” apenas me deixou mais agoniada. Eu estava, definitiva e claramente frita. Olhei para minha mãe em derrota. Senti minha cicatriz no pulso direito formigar em nervosismo, por sorte eu estava com uma camisa de manga comprida preta. A cor mais conveniente de todas. Precisava achar um jeito de escondê-la e evitar perguntas.

Benedict apenas assentiu e antes de mamãe me puxar delicadamente dali, senti o peso de seu olhar de caçador sobre mim. Benedict fora meu treinador de lutas favorito. A decepção era esmagadora demais para suportar encarar então desviei o olhar e segui Katie rapidamente. Em cada passo eu empurrava o sentimento de culpa dentro mim para cada vez mais fundo, para cada vez mais inacessível.

 

****

 

No estacionamento encontramos o seu carro, ela havia trocado nesse período de um ano que eu estava desaparecida. Muito mais moderno e bonito que o anterior. A ideia de que o outro poderia ter sido meu se não tivesse fugido me causou uma certa tristeza. Não ganharia um carro tão cedo, nem dela e nem do meu pai. Meu pai Gemi enquanto ela dava partida e saia cantando pneu, deixando o bando de “policiais” do mundo bruxo para trás, uma verdadeira Speed Racer. Me afundei no banco do passageiro e coloquei a mão direita sobre a testa e empurrei meus cabelos longos e loiros para trás em leve agonia.

— Sim, ele já sabe – falou indiferente. Eu a olhei de soslaio e sabia o quanto ela estava se controlando para não explodir com todas as verdades da minha inconsequente atitude.

— Ele estará em casa quando chegarmos? - perguntei temerosa, minha sobrancelha erguida.

Seu sorrisinho de canto estava em completa sintonia com o escarnio. Gelei.

— Para seu alívio. Não – assunto encerrado. Era isso que seu tom de voz declarava e eu obedeci olhando pela janela e pensando em formas de fuga que sabia que não funcionariam.

 

****

 

Morávamos em um condomínio humano comum onde Katie era síndica e todos a amavam e acreditaram fielmente na história de que eu tinha ido passar um tempo em um colégio interno na Europa (história que ela me informou durante o caminho pela estrada) e aproveitado para fortalecer o laço entre pai e filha já que meus pais eram divorciados desde que eu era um bebê e minha guarda era total de Katie. Meu pai havia se casado novamente com uma outra mulher que para minha total alegria, tinha uma filha de outro casamento e nós duas éramos melhores amigas, minha partida foi vista com belos olhos por ambas (vocês entenderam o sarcasmo, certo?)

— Qual é o nome do colégio interno mesmo? - perguntei mexendo no celular, jogando um jogo ridículo qualquer.

Levantei os olhos quando vi nossa casa se aproximando conforme íamos chegando. Continuava linda em seu tom salmão. Totalmente reconfortante como sempre fora. Sorri com saudades.

 

— Não importa. Não vão vir falar com você, não vai chegar nem sequer sair pelo bairro e de casa. - Cortou estacionando o carro de frente com a garagem, um sinal comum de que se sairia novamente. Me perguntei para onde poderíamos sair ainda hoje. Ela bateu a porta enquanto saia e abriu a porta para mim.

Sai levemente desnorteada. Senti uma onda magnética me envolver e meu corpo se moveu para a porta da frente em completa obediência com Katie. Isso me pegou em total surpresa e uma sensação de náusea me cobria, lutei, mas eu não podia contra Katherine

— Mãe… - choraminguei.

Katie abriu a porta e eu entrei obediente e me sentei em uns dos sofás da nossa bem decorada sala de estar, não porque queria, eu estava sendo controlada firmemente. Ser um boneco de cordas era algo que eu repudiava, mas eu a entendia completamente, era a hora de ser chicoteada. Meu corpo tombou no sofá da sala de estar, tão bem decorada como sempre. Arfei por tentar lutar internamente, minha coluna estava rígida. Resmunguei. Odiava poderes de manipulação, principalmente os de restrição física, os quais minha mãe era especialista ao influenciar as moléculas de água do corpo manipulado.

— Comece. Melhor começar por mim do que com o conselho, eles sim podem te destituir e, acredite, não vai ser nada agradável. - Senti a ameaça descer pela minha espinha.

A encarei nervosa. Minha mente bombardeando sobre por onde começar e o que começar.

— Liss, não vou pedir de novo. - Seus olhos faiscavam entre o azul e o verde.

— Eu estava cansada… - comecei e logo fui interrompida sem cerimonias.

— HA! Não me venha com essa, Liss, não sou uma tola novata nisso tudo. - Sua voz era cortante, ela não gritava, mas seu tom era tão perigosa quanto se estivesse.

A encarei, tudo vindo a minha mente. Eu sabia que seria mais ou menos assim quando eu voltasse. Sabia que não seria um mar de rosas, que encrenca deveria ser meu sobrenome e que tudo, tudo, tinha consequências.

— E eu muito menos – rosnei me levantando em pleno controle. - Por que nunca me contou? POR QUE? - gritei a surpreendendo um pouco. - Quer saber porque eu parti? Porque eu queria respostas que vocês nunca me dariam! Vocês iam continuar me deixando as cegas e sabendo só o que era conveniente para vocês! Meu Deus! Não seja hipócrita, mãe.

— Do que você…?

Dianna.

Vou deixar vocês cientes de algo. Deixar Katherine chocada e sem reação é algo completamente difícil, e eu achava que era impossível, até recitar aquele pequeno nome. E era algo que eu faria questão de deixar guardado na minha memória para relembrar sempre que pudesse e ser meu troféu mais precioso.

— Dianna, ela é a mancha da nossa família, os grandes Brown, a linhagem mais importe…– ri em escárnio e andando pela sala e a encarando em desafio. - Nossa família teve com Elizabeth I a benção de ser o receptáculo da Gema, nossa fonte de magia purificada, passado de geração em geração, sempre tendo um herdeiro qualificado, até chegar Dianna, a caçula das últimas Brown, e se envolver com a coisa mais suja que fomos capazes de cometer o erro de criar. Vampiros. Claro, não havia mais ninguém com habilidade natural para ser receptáculo da Gema quando Dianna pois tudo a perder morrendo ao dar à luz a uma “cria demoníaca”, como o conselho declarou às escondidas. Você foi a que sobrou, a linhagem restante e mais pura, não é hábil para ser uma portadora de poder puro, isso mataria qualquer um não qualificado, mas… Você acabou tendo uma herdeira. Convenientemente o destino deu seu jeito em ajudar essa família em decadência e a beira da extinção! - gritei aos nervos.

— Lizzie…

Lizzie— cantarolei – Ah, a perfeita Lizzie – a encarei fria—, eu tinha quase um ano na época, eu não era a herdeira, mas era a única mais próxima de ser porque é assim que funciona. Tem a Destinada, depois vem os descendentes seguintes e cada um mais próximo de se tornar receptáculo. E eu era. Não a qualificada, vamos ser claras, mas o mais próximo que sobrou já que você não poderia ter filhos novamente com toda a turbulência que foi a gestação comigo e como seria impossível engravidar de novo, papai também não era o seu preferido, te entendo, ele realmente foi uma bosta ao te trair, mas sabe, A Magia valia tanto para me colocar em risco de morte, assim, tão fácil? Eu não renego esse poder, eu amo ser uma Bruxa, mas acredite, odeio ser uma oferenda, nunca gostei dessa parte. Foi por isso que fugi, queria escapar disso, queria evitar minha morte, porque era ela que ganhava quando a cerimonia chegasse ao fim no dia da União. Mãe, como pode viver todos esses anos sabendo que me deu para a Morte como se eu não tivesse direito de escolha? - sentia as lágrimas transbordarem.

Katherine me olhava atônica, seus olhos e rosto estavam cobertos de remorso e tristeza.

— Eu me sentia morta. O que manteve e me mantêm é que sei um jeito de você não morrer. - A encarei espantada – É um jeito grosseiro, não qualificado e não é de primeira linha. Mas, como as Primeiras, às vezes se precisa fazer algo irreparável por uma causa maior. No caso para mim, essa causa é você. Eu Nunca, nunca permitiria que você fosse sacrificada. Você é minha única filha, a única que poderia ter… - sua voz estava falha, seus olhos cheios de lágrimas. Me contar aquilo não era algo que ela um dia pretendia, e nem era tudo que ela contava...

— Como pretende…?

— A pergunta certa é, por que voltou se não queria tudo isso? - xeque-mate. Katie voltava a colocar suas emoções num potinho e ficar no seu modo alerta de agente bruxa tão costumeiro.

A encarei por longos minutos, minha respiração lenta e controlada. Katie esperou pacientemente.

— Como você disse: às vezes se precisa fazer algo irreparável por uma causa maior.

 

****

 

Fim da conversa. Katie estava exausta com o que revelei saber e não me contaria o que pretendia fazer para me salvar da morte no ritual da Gema. Fui para o meu quarto e ela não insistiu em saber o que eu quis dizer com aquilo, talvez tenha entendido que eu aceitara a causa maior de tentar salvar nosso mundo e guardar a magia dentro de mim e manter nossa sociedade, talvez não tenha deixado seus sentimentos abalados num potinho como pensara. Também, acho que a última coisa que minha mãe esperava era que eu tivesse fugido porque descobrira que meu ritual para me tornar o receptáculo da Gema fosse destinado ao fracasso e que minha morte seria certa.

Não houve um jantar como era tradicional de antigamente.

Meu quarto se mantinha como eu havia deixado na minha última noite, naquele fim de semana prolongado pelo feriado de Ação de Graças no meio do semestre do primeiro ano do colegial. Cama arrumada, peguei só algumas peças de roupas praticas, não levei comida, podia roubar facilmente com as minhas habilidades. Não avisei nem meus melhores amigos, Alex e Matt – irmãos gêmeos destinados a serem meus protetores. Isso me fez lembrar o como devo ter os prejudicados. Minha volta os ajudaria a recuperar o prestígio de sua família de caçadores que devo ter os feito perder, porém... Seria o suficiente para ter o perdão deles depois de tudo que devem ter passado e suportado?

Joguei minha mochila surrada em um canto qualquer do chão e larguei o celular na cama. Deixei a luz apagada e apenas acendi uma vela vendo o fogo azulado invocado brilhar feliz, um contraste com a melancolia daquela casa. Tudo por dentro é diferente do lado externo. Fui até meu banheiro, também limpo e bem arrumado, as coisas exatamente como eu havia deixado. Mamãe manteve tudo conservado, limpou e colocou no mesmo lugar que eu deixará. Olhei no armário que ficava a baixo da elegante pia de porcelana rose e peguei uma toalha. Recém-lavada, observei, mamãe devia fazer a limpeza esperando minha volta, em agonia, medo... Sua única filha sumira, fugiu, especificamente.

Tirei aquelas roupas novas que não tinha um pingo de vontade de voltar a usar, liguei o chuveiro e deixei a água escaldante me envolver. Sentia todo a energia negativa e o cansaço escorrer do meu corpo e ir ralo a baixo. Não sei quanto tempo levei naquele banho. Mas foi o suficiente para acabar com a água quente. Desliguei e me enrolei na toalha. Não me preocupei se gastava toda água quente, era só aquecer a água da caixa com magia novamente. Economizava na conta de energia, acredite.

Abri meu guarda-roupa e o encarei. Minhas roupas de um ano atrás, todas estilosas e confortáveis. Mas deviam ser uns dois números menores agora, eu havia criado mais corpo e crescido uns dois centímetros a mais em todo esse tempo. Peguei um moletom verde-musgo, longo o suficiente para cobrir minha bunda e uma calcinha qualquer de algodão. A noite ia esfriar, era inverno, a mesma época na qual eu partira. Calcei uma meia grossa e longa e segui para a janela, fechar a cortinas. Me distrai olhando a vizinhança. Não havia mais aquelas crianças que corriam até tarde brincando de pique-esconde. Onde será que estavam? Ainda moravam no condomínio? Seus pais ricos se cansaram delas e as levaram para um colégio interno de verdade? Colégio… Isso me levou a lembrar do Conselho. Eu os veria em breve, seria “interrogada” para explicar minha fuga e se de alguma forma coloquei em risco nossa comunidade. Uma chatice.

Um barulho de algo vibrando me surpreendeu. Girei os calcanhares vendo a tela do celular piscar. Mensagem.

Estiquei o braço até a cama e peguei o leve aparelho, desbloqueei a tela com rapidez. Suspirei. Voltei a olhar pela janela e como a lua estava límpida naquela noite, as ruas claras mais pela sua grandiosidade do que pala iluminação artificial criada pelo homem. Seriam longos dias a se seguir, isso era fato.

 


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