Eyes On Fire escrita por Emma Patterson


Capítulo 1
Prólogo - Verdadeiras Complicações




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Olhar em volta atentamente era uma rotina nesses tempos. Pelo menos quando se está sendo procurada por “policiais”.

Meus cabelos balançavam agitados pelo vento e alguns fios tentavam atrapalhar minha visão. Tudo tranquilo, mas todo cuidado era pouco, mesmo sendo primavera e ser meio dia em ponto, o sol brilhando límpido no céu perfeitamente azul e sem qualquer nuvem. Um lindo dia, um irônico dia para a minha realidade conturbada.

— Mãe, o que é aquilo? - um garotinho com seu sorvete perguntava para sua mãe distraída com seu celular enquanto eu passava ao lado deles na calçada.

Tudo normal se não fosse a direção em que o garoto apontava e como ele não era o único. Algumas pessoas estavam parando e apontando para o céu na direção oposta para a qual eu andava, e, os mais velhos tinham suas feições manchadas de temor e incredulidade. Virei-me lentamente encarando o céu outrora límpido. Aquilo era totalmente fora da minha zona de alarde continuo. Era totalmente mundano, mas também tão letal quanto o que me mantinha em alerta constante. Três mísseis se aproximavam, cada um com uma distância variada uns dos outros, mas era certo que um deles cairia bem em cheio na região em que me encontrava.

— Mas que porra... - não terminei a frase. Apenas olhei em volta, precisava me esconder e me proteger.

Parece absurdo o que você está lendo. Como pode alguém achar que pode simplesmente se esconder facilmente de um míssil. Um MÍSSIL! Bem, para pessoas simples sim, é um absurdo. A não ser que não seja como eu... De toda maneira, todos estavam estáticos de mais para reagirem, era algo totalmente improvável de se ver numa época e lugar em que um ataque de míssil só poderia acontecer em uma declaração explicita de guerra. Mas não estávamos em guerra, o mundo humano... Né?

Comecei a correr na mesma direção que seguia antes dessa pequena interferência, isso “acordou” algumas pessoas que em vão achavam que podiam se salvar também. O desespero começando a se alastrar à medida que iam tendo noção do que estava se aproximando e o fim inevitável naquela cidade medíocre. Continuei correndo e empurrando quem estivesse na minha frente. Eu podia ter uma estrutura mediana, mas era ágil e rápida, era fácil. Entrei em um beco que levava para os fundos de um restaurante qualquer. Mas na curva, inesperadamente até para mim, que estava em constante alerta – mais do que já estava sendo nesse belo dia ensolarado, trombei fortemente com alguém alto e idiota o suficiente para me atrapalhar. Consegui manter o equilíbrio mesmo meu nariz estando doendo pelo impacto com o peitoral do Idiota. Rosnei em leve agonia pela dor e o encarei.

Era um garoto, devia ter a mesma idade que eu. Cabelos castanhos e olhos castanhos. O rosto estava em completo choque. Não por ter se chocado com uma garota que parecia uma anã ao seu lado, mas pelo míssil vindo na direção da cidade. Bufei, desviei dele e corri para a porta dos fundos do restaurante. Existia uma despensa lá e seria perfeito para um abrigo improvisado. “Como?” é uma pergunta que devem estar se fazendo. Senti um aperto no meu pulso e um tranco me puxando para trás. Girei e usei meu corpo como peso para me soltar e dando uma boa distância do garoto. O olhei ultrajada.

— Se esconder não vai te salvar – falou agoniado. Ele estava tão assustado e era tão jovem, parecia ter a mesma faixa etária de quando me imortalizei.

Sorri em escárnio. Senti meus olhos marejarem, sentia aquela energia fluir pelo desafio.

— Correr pelas ruas vai ser melhor? – joguei num tom ácida, mas tranquila para toda aquela situação.

Ele me olhava em choque. Não podia perder mais tempo com aquela porcaria, apenas girei meus calcanhares e entrei no restaurante que agora estava vazio. Todos abandonaram achando que correr ou pegar seus carros seria suficiente para escapar.  Uma porcaria. Todos iriam morrer. Encontrei a despensa que estava destrancada, provavelmente alguém devia ter roubado algum mantimento... Seja quem tenha ou tenham sido, perderam tempo. Entrei rapidamente e antes que eu fechasse a porta fui impedida novamente. Olhei para cima encarando aquele mesmo garoto que agora estava determinado e me afastei confusa enquanto ele entrava também e fechava a porta e ligava a luz do pequeno recinto (uma observação: ligar a luz quando logo a energia seria destruída?). Sua respiração estava rápida e descompassada. Ele exalava desespero. O que não era para menos.

— Talvez você tenha se salvado sem querer, Idiota – falei olhando em volta suspirando aliviada por chegar no meu destino e poder iniciar a magia.

Ele finalmente me encarou, seus olhos irritados.

— Vamos morrer! - gritou.

Seus olhos castanhos brilhando em fúria. A Vida era forte nele.  Meus olhos começaram a arder mais, mas nada que não fosse natural para mim, o garoto mudou sua expressão para surpresa e se encostou na porta. Sorri satisfeita, podia sentir a energia fluir de dentro de mim para fora, pelas minhas veias, bombeando por todo o meu corpo. E a mesma energia por toda a minha volta entrando em mim.

— Se quer ter uma garantia melhor que vai sobreviver, é bom ficar mais próximo de mim – pisquei para ele e fechei os olhos inspirando e expirando lentamente.

A Magia era linda e pura, usá-la era como injetar todo tipo de entorpecente em um nível indescritível. Mentalmente ia recitando todas as runas de proteção física que conhecia e as intensificando rapidamente. Havia tempos que não usava magia, então meu armazenamento estava mais que em alta, tinha extra até para o palerma comigo. Senti seu corpo a centímetros do meu e sua respiração mais lenta e calma contra o meu rosto. Ele me observa, sentia seu olhar, mas não era nada comparado a magia em mim, à nossa volta. A euforia me dominava. Abri os olhos, o garoto me olhou ainda mais abismado, bem nos meus olhos, provavelmente porque deviam estar verdes incandescente. Ser uma bruxa era incrível, ainda mais A Bruxa.

Os gritos lá fora se intensificaram, o míssil estava perto. Olhei para o jovem rapaz a minha frente e fechei os olhos mais uma vez soltando todo o ar que havia prendido inconscientemente.

— Seu dia de sorte – falei baixo para ele e rindo levemente e então uma gigantesca onda de energia externa, além do recinto, se chocou conosco, principalmente com os escudos que criei. Sentia como se todos os meus ossos estivessem sendo triturados, meus pulmões comprimidos ao último. Meu cérebro parecia estar explodindo, pensei que tinha falhado e que pela primeira vez na minha existência a magia não tinha sido o suficiente e mais forte do que qualquer coisa como havia acreditado. Pela primeira vez entrei em pânico e em descrença. Tudo ao mesmo tempo em um milésimo de segundo.

Sabia que tinha que manter o controle ou morreríamos. Era um míssil! Um impacto que nenhuma bruxa havia tentado conter ou se proteger, não algo registrado. Respirei fundo e, da mesma forma que toda turbulência surgiu, ela desapareceu e um silêncio perpétuo, imaculado se instalou. Lentamente fui abrindo os olhos esperando ver a destruição plena. Um escudo oval feito de runas azuis neons cercavam nós dois, fortes e poderosas como deveriam e um pouco mais, mas aquilo não foi o que realmente me chocou, era magia, estava acostumada com isso, era natural. Mas sim o fato de que tudo estava perfeitamente intacto.

— Mas que porra...

Me afastei do garoto, me sentia tonta. Havida usado muita magia, e para duas pessoas, e fazia um bom tempo que não usava magia e uma quantidade tão grande e absorvido tanta energia exterior. Andei o mais rápido que meu corpo entorpecido se permitia e fui para fora pouco me lixando se algo podia acontecer. Se não havia acontecido uma explosão, o que mais poderia acontecer de surpreendente?

“Corri” (cambaleei especificamente) para fora e levando um choque ao ver como tudo estava em seu perfeito lugar. Tirando as pessoas que estavam na rua na hora do “impacto”, desmaiadas no chão tão imóveis que por um segundo pensei que estariam todas mortas. Meus olhos vagavam por todos os lados tentando achar alguma explicação. Então os vi, em cima dos prédios e saindo de todos os cantos à minha volta, encapuzados com mantos tão negros como carvão. Senti minha espinha gelar e minha cicatriz no pulso direito formigar só de lembrar... Eles estavam aqui... Mas não eram os mesmos dos quais eu fugia... Eles nem pareciam ter coincidência do que faziam... Vi um lampejo dos seus olhos escarlates e estavam enevoados por uma sutil linha purpura, fria e maligna.

Uma mulher esguia e alta, com um manto também negro como carvão saiu de um estreito beco à 10 metros de onde eu me encontrava. Lenta e tranquilamente caminhava. Passadas firmes e confiança a envolvendo. Seu rosto estava coberto pela sombra do grande capuz, mas seus longos cabelos platinados, quase brancos, caiam a sua frente indo até a altura da barriga. Senti meu corpo paralisar. Só conseguia mexer meus olhos, todos os meus movimentos congelados por uma força invisível. Poderia combatê-la, talvez, mas minha magia estava esgotada com aquele escudo físico e mental para duas pessoas, talvez tenha me enganado sobre ter muita reserva de energia ou... Aquela mulher era muito mais poderosa do que eu poderia imaginar. Ela exalava poder, um puro, antigo, poderoso. Encarava a figura feminina em completo pavor. Talvez ter ficado com a comunidade bruxa teria sido, definitivamente, muito mais seguro. Mas agora era tarde demais para se chorar escolhas erradas.

Dois metros de distância entre nós ela parou. Ergueu as mãos para retirar o capuz. Suas unhas longas e livres de qualquer esmalte. Então revelou seu rosto e nunca poderia tê-la visto em algum lugar na minha vida toda. Seu rosto pálido de mais, lábios vermelhos como sangue, porém os olhos eram verdes cintilantes típicos de uma herdeira da magia da Terra, o traço das Originais. Porém ainda mais fortes e sombrios que qualquer um vira alguma vez. A Magia borbulhava nela, ela respirava energia em um nível assustador... Era tanta força que explicava como ela controlava a criação mais irreparável das Bruxas. Os Vampiros. Seres incapazes de dominação, com uma magia única que nem a fonte que nos nutria de poder era capaz de controlá-los, porém eles conseguiam acessar essa magia muito mais fácil do que nós, Bruxas. Essa mulher era uma Incógnita.

— Minha cara, você é um achado único... - seus olhos gélidos me varriam em uma admiração que não tinha certeza se poderia ser boa... Minha consciência gritava que não era. - Bem, para a última colheita, tive um agradável resultado. Você e uma outra jovem, um pouco ignorante, mas nos tempos de hoje, é comum. Infelizmente.

Com um gesto sutil com o dedo indicador para qualquer um dos seres que dominava – algo que me chocava mais que qualquer coisa -, um deles se postou ao seu lado arrastando uma garota, talvez da mesma idade que eu, pele levemente azeitonada, olhos verdes naturais que também sinalizavam um claro sinal de aptidão forte com  a magia da Terra, cabelos lisos e castanhos, não devia ter mais do que 14 ou 15 anos. O terror lhe dominava e como eu, estava tendo seu corpo controlado.

— Deve estar cheia de perguntas sobre tudo isso, querida – seu sorriso largo mostrava todos os seus dentes perfeitos e brancos e deixando-a ainda mais aterrorizante. Eram afiados, eu podia perceber. - Teremos muito tempo para explicações...

Seus olhos brilharam num sutil tom rubro. Tremi. Eu sentia sua energia entrar em mim como espinhos, e se enraizarem como raízes grossas e firmes, gemi. Ela estava vendo tudo em mim, eu a sentia invadir minha mente. Quis chorar.

Com uma ordem silenciosa os vampiros se postaram a nossa volta, dois para me escoltar. Meus movimentos foram recobrados, porem sabia que se tentasse algo a morte seria rápida... Ou pior. Olhei sutilmente para trás, conseguindo ver apenas pela visão periférica o garoto escondido em baixo de um carro estacionado em frente ao restaurante que nos escondemos. Ele parecia chocado, não tinha certeza, mas sabia que ele tinha a famosa pose de tentar ser herói, o que significada que ele poderia ser louco e tentar me salvar. Mandei o olhar mais gélido em alerta que a posição me permitia para que ele não tentasse uma grande besteira. Senti seu olhar pesar sobre mim e virei novamente meu olhar para frente e então numa explosão de luz roxa fomos levados dali e o garoto em segurança havia ficado.


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Notas finais do capítulo

Só para constar, esse prólogo e a história em si, foi inspirado num sonho que tive, que tem o elemento inicial nele inspirado. Um míssil surgindo do nada para cair na cidade antes tranquila. ;) .



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